sábado, 5 de maio de 2018

Reflexões sobre a verdadeira acessibilidade



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Esse segmento das pessoas com deficiência me dá preguiça, mas, essa preguiça é no sentido de ter que explicar coisas tão obvias, como acessibilidade. Ter que explicar que a questão da acessibilidade não é só uma questão de inclusão de pessoas com deficiência, mas, explicar que uma rampa é sim um meio para uma gestante subir melhor, ou uma mãe subir com um carrinho de bebê. Além disso, muitas pessoas não pensam nos idosos que também, podem ter bastante facilidades, com rampas ou vias mais acessíveis.

Me deparei com o pensamento: “não queremos asfalto novo e sim, calçadas novas e acessíveis”, como se um asfalto novo, não fosse uma solução, mais ou menos, viável. Claro que é. Minhas costas – não só as minhas, mas da minha noiva e de uma grande parcela de pessoas com deficiência – doem ao passar com a van do ATENDE nos buracos de uma Sapopemba. Mas, sempre fazem frases de efeito para chamar atenção ou passar vergonha, porque as calçadas nada têm a ver com as ruas bem asfaltadas e isso, foi dito por uma conselheira do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Aliás, o CMPD está sendo, muitas vezes, usado de uma maneira ideológica para fazer uma política só social, mas, a política é um conjunto.


Além de acabar com a sua coluna, vai sempre danificar carros e qualquer transporte (tanto o ônibus como as vans acessíveis ou não), que os cidadãos de uma cidade usam e têm o direito em ter. Duas questões poderíamos deixar aqui na reflexão: essa pessoa acha que não tem mais ninguém na cidade além das pessoas com deficiência? As pessoas não podem desejar asfalto de boa qualidade para poder ter uma um transporte até melhor? Ora, por outro lado, as calçadas são arrumadas conforme os moradores e os donos de comércios que cuidam dessa calçada. Há multa, mas, deve ter denúncias para tal (no mesmo modo a Lei de Cotas de empresas, mas é tema para um outro texto). Portanto, se você não denuncia esse tipo de calçada, é mais do que óbvio, que a prefeitura não tem como multar o dono da casa ou comercio que arrumou essa calçada.

Ainda acho que é estranho, uma pessoa que gosta e “milita” no segmento da pessoa de deficiência, deve pensar muito além do que o paradigma de sempre. Que paradigma? O paradigma de pessoas que enxergam as pessoas com deficiência como pessoas que não podem fazer, não podem pensar e tem sempre um “paladino” da inclusão como suporte. Só que esses “paladinos” são pessoas que misturam os segmentos, acham que o mundo tem só as pessoas com deficiência e ainda, as pessoas com deficiência deveriam repensar essa atitude. Por que deve seguir outro segmento? Por que não tenho que expor minha opinião contra a maioria? Meu intuito é a reflexão, porém, por falta de estudo da maioria de quem tem deficiência, sempre ficamos à mercê de interpretações erradas e sem o menor, propósito. Tudo na vida é um pensamento, até a nossa realidade.

Mas o que seria uma realidade?

Existem milhares de pessoas com deficiência que não tem dinheiro, não tem emprego – antes do governo Temer (que era vice-presidente da Dilma), já existiam desempregados com deficiência com estudos e qualificados – sempre nenhuma condição de comprar nem um parafuso da sua cadeira de rodas (ou outro aparelho), e nem o próprio aparelho. Eu acho que inclusão não é ir nas baladas, não é em encher a cara em barzinho, não é ir em show de cantor brega ou não, não é ir nos SESCs da vida ou até mesmo, ir nas passeatas ou desfiles (como carnaval, orgulho gay, marcha para Jesus e etc). Inclusão é olhar para o lado e falar um “oi” para uma criança espantada com sua cadeira, é ir comprar o que você mesmo o que você deseja, é ter ética e seriedade nas atitudes que toma. É namorar uma pessoa e ser sério com essa pessoa, casar e ensinar coisas verdadeiras para os filhos. Se não te empregarem, procurar maneiras dignas de sustento e sobrevivência. Porque eu acho que a questão das pessoas com deficiência é ter sempre na cabeça que o mundo não é um playground eterno, um dia vai ter que crescer. Um dia vai ter que sofrer. Um dia vai ter que resolver os problemas. Um dia vamos ter que “crescer”.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News


e-mail: amaurij@gmail.com
@FilosofoAmauri