sábado, 15 de fevereiro de 2020

A inclusão seletiva e a percepção kantiana



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“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.”

(Lucas 14:26)

A muito tempo uma questão vem causando em mim um certo incomodo que é a inclusão seletiva. Mas o que é seletivo? Só darmos uma “googada” vamos ver que o termo seletivo seria aquilo que fazemos como seleção, ou seja, selecionamos algumas coisas para acabarmos defendendo aquela posição. Também, podemos chamar de escolhas seletivas, escolhas que fazemos de modo mais atento e de forma mais cuidada. Por outro lado, se diz que é também um processo ou um agente que pode afetar alguma coisa e não, outras coisas. Não há nada de errado você ser seletivo em algumas questões. Eu, por exemplo, tenho seletividade musical, posso ouvir outros gêneros, mas, eu escolhi rock porque é o gênero que me identifico. Ser eclético acaba sendo aquilo que chamamos, de pessoas que querem agradar todo mundo para não serem rejeitado na “turminha”.

Porém, há um outro problema nessa questão da seletividade: ao mesmo tempo uma seletividade é subjetiva – vou tocar no assunto logo – ela também pode influenciada por causa do meio. Grosso modo, a seletividade pode ser um processo que afeta uma coisa (podemos colocar como uma decisão) e não afeta outras, como foi dito já. Podemos defender aquilo ou alguém que temos uma afetividade mais ligada e não defender aquilo que não somos. Isso, queiramos ou não, cria um conflito com o significado de inclusão. Inclusão, de um modo geral, é o ato de incluir e acrescentar e assim, adicionar coisas ou pessoas em grupos e nucleão que antes não faziam parte. Ou seja, socialmente, a inclusão pode representar um ato de igualdade entre os diferentes indivíduos que estão em uma determinada sociedade. Fazendo assim, que a ação de incluir pode permitir que todos os indivíduos tenham o direito de serem integrados a participar das várias dimensões do seu ambiente, sem sofrer qualquer tipo de discriminação e preconceito. De um modo geral, você não pode selecionar o que quer incluir ou a quem exigir o respeito.

O que eu ouço quando converso com amigos é que temos que ter paciência, temos que transcender os degraus e ter aquilo como uma vitória. Outro dia, um amigo de muito tempo, chegou a me dizer que se eu quisesse voltar com a minha ex-noiva, eu tinha que aceitar as humilhações da família dela. Ora, se queremos que o padeiro nos respeite e que acessibilize a padaria, temos que começar dentro da nossa própria casa. Se queremos que nossas reivindicações tenham efeito na esfera política, temos que fazer reivindicações na esfera familiar. Existe muitas pessoas que são dependentes? Muitas pessoas são dependentes e a própria família, como modo de dominação já que eles não dominam os que andam, aproveitam dessa dependência. As mulheres com deficiência são as que mais sofrem nesse processo, porque estamos numa cultura machista onde as mulheres devem ser repreendidas e sufocadas em sua vontade. Além do mais, mulheres com deficiência são mais vulneráveis, sejam fisicamente, seja afetivamente. A chantagem emocional é muito mais eficaz.

Daí entra na questão da subjetividade. O filosofo Immanuel Kant (1724 – 1804), dizia que existe 3 faculdades: a primeira é a faculdade de conhecer (ciência), que seria a objetiva e universal; a segunda é a faculdade de apetecer (ética), que também seria uma faculdade objetiva e universal e a terceira, que é a faculdade de julgar (estética), que é a faculdade subjetiva e universal. Podemos dizer que a primeira (conhecer/ciência) é a faculdade que gera a razão e é limitada pela a representação – na filosofia (no qual, Kant se refere) a representação seria uma entidade que está por outra entidade, ou seja, uma coisa que esta por outra coisa. Ora, o modo de ser da representação é “estar por” que significa, quando há representação, há uma coisa, o “representante”, que esta por outra coisa, o “representado. Sendo que a representação, seria uma relação entre o representante e o representado. Na segunda, a razão é determinada por parâmetros da ação, já que é incondicionada, ou seja, não depende de nenhuma experiencia. Na terceira e última, podemos dizer que a subjetividade percebe (assim juntando as duas e as unem) a beleza na obra humana. A questão subjetiva de Kant, é o sentimento de prazer e desprazer que podemos exprimir juízos de gostos e a reflexão das nossas faculdades, na mesma ordem que ordenou Kant.

O que Kant fez foi distinguir a coisa em si (noúmenos) e a aparição (fenômeno).  Pois, esta distinção pode evidenciar que o homem só pode ser possível conhecer aquilo que aparece na mente, jamais em si mesma (seja por ideias inatas, seja pela ideia como cópia exata da sensação). Ora, o fenômeno é uma representação que esse sujeito sofre quando algo te modifica. Não posso conhecer aquilo que me afeta, mas, apenas sei que sou afetado por aquilo no qual posso criar uma imagem. Isso implica em vários desdobramentos.

No primeiro momento, o ânimo percebe algo das sensações porque temos muitas formas próprias para essa percepção. A nossa sensação – que Kant chama de intuição – vai ser determinada a priori (sem a experiência) pelas formas da nossa sensibilidade que estão no nosso espaço e o tempo. Podemos observar, que esse espaço e o tempo não são mais qualidades inerentes aos objetos e sim as condições anteriores a essa experiencia que possibilitam que estas ocorram. Trocando em miúdos, para Kant a nossa mente não é uma cera passiva que é moldada, como pensava o filosofo inglês John Locke (1632 – 1704), ela (a mente) é capaz de organizar o material que recebe da sensação segundo as formas do espaço e do tempo.

No segundo momento, o animo ordena e classifica coisas segundo uma serie de categorias que não são intuídas, mas deduzidas do intelecto. A ciência (conhecimento) do intelecto em geral é a lógica. A logica transcendental é a doutrina que estuda a origem dos conceitos e se ocupa especificamente dos conceitos a priori que se referem aos objetos que, nesse caso, não são mais meramente dados e sim pensados. Somente a sensibilidade é intuitiva. O intelecto é discursivo e por isso seus conceitos são funções que unificam, ordenam, sintetizam o múltiplo dado em uma intuição, em uma representação comum: isso significa pensar, e pensar é fazer julgamento, assim sendo, pois, o intelecto, a faculdade de julgar (que não é a razão). Porém, a grande sacada de Kant está na questão que o fundamento desse objeto – que podemos chamar de fenômeno – está no próprio sujeito, ou seja, a unidade do objeto na experiencia (intuição perceptiva) está construída dentro de cada um, por que? Porque há uma unidade sintética (uma unidade) do sujeito pensante.

Por que disse tudo isso? Porque a base do pensamento moderno e pós-moderno em muitas aéreas, principalmente, jurídica, é kantiana. Porque, o próprio Kant, vai dizer que a educação vem de berço e então, se temos uma sociedade que discrimina, que enxerga as pessoas com deficiência como pessoas doentes e incapacitada, é culpa da educação familiar que não educou para incluir certos nichos. Na questão das faculdades da mente, ficou bastante claro que temos que conhecer (temos a ciência da questão) assim, seremos mais objetivos, sempre apetecer (tendo ética) e fazer julgamentos mais justos. Aí entra a questão da subjetividade, pois, o julgamento subjetivo tem a ver com o estético, ou seja, aquilo que te dará prazer e o que não te dará prazer. Um familiar ou um amigo te dará prazer porque você conhece, um desconhecido não te dará prazer porque você não lhe conhece. Por exemplo, é mais fácil você exigir do padeiro uma padaria mais acessível do que um familiar ou um amigo. Uma CEO de uma dessas consultorias que dizem empregar pessoas com deficiência, que é cadeirante, preferiu comer num restaurante inacessível porque estava com amigos e não queria dispensar o jantar. Ora, ela preferiu sentir o desconforto de comer de mal jeito, sem opções do que contrariar os amigos ou parecer a “bonitinha”. Ela fez um julgamento subjetivo muito mais sentimental do que racional – mesmo o porquê, esse tipo de paladino da inclusão vive desse jeito – porque poderia ter desmarcado e comido em um outro mais acessível.

Uma outra coisa no juízo estético, é a questão do apego. O versículo que postei no começo, tem a ver com se apegar ao que você não pode ter como seu. Você não pode controlar o sofrimento de qualquer ser humano. Você não pode controlar o amor de ninguém e não pode achar, que os exemplos que a vida te mostrou, são leis universais. Uma mãe de uma pessoa com deficiência não pode proibir um amor só porque acha que sua filha ou seu filho, vai sofrer porque vai sofrer de qualquer maneira. A maioria dos suicídios ou tentativas de suicídios das pessoas com deficiência, são relacionadas com a culpa que a própria família alimenta com a visão que as pessoas com deficiência não podem se defender. Porque há um julgamento estético que se aprendeu a muitos milênios, que pessoas com deficiência não eram viáveis em uma sociedade, pois, iriam sofrer, não iriam produzir e não podiam se reproduzir. Com o avanço tecnológico, podemos ter cadeiras de rodas ou outros aparelhos muito melhores, se sabe que nós temos sentimentos, se sabe que podemos sim reproduzir e trabalhar. Porém, se continua o apego, se continua a inclusão seletiva e se continua a questão que, para alguns valem para outros não.

Amauri Nolasco Sanches Junior
Publicitário, técnico de informática e filósofo


#bolsonaro

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Casal com deficiência e a minha filosofia do ‘NÃO’





"O que diz sua consciência? – ‘torne-se aquilo que você é"
– Nietzsche – Gaia Ciência, §270


Amauri Nolasco Sanches Junior


Os hipócritas herdarão a Terra e isso é fato. A questão é que a hipocrisia foi introduzida pela extrema-esquerda (ultraesquerda) com seu politicamente correto, porque todo mundo, agora, quer um mundo melhor. Mas, vou muito além disso. O filósofo Luiz Felipe Pondé — indo na linha do filósofo Nietzsche —nos diz, que a secularidade das democracias liberais, estão fazendo com que os fundamentalistas aumentem porque enquanto os secularistas têm poucos filhos, os fundamentalistas religiosos estão tendo mais filhos. No darwinismo, a espécie que melhor se adapta e reproduz mais tem mais chance de ficar e dominar o ambiente. Isso assusta. Será que os fundamentalistas religiosos vão vencer? Talvez. Só sei, concordando com o Pondé, que vamos ser lembrados como mimados, ressentidos e covardes no futuro.
Mimados porque não podemos falar nada que as pessoas se ofendem. Tudo virou um grande preconceito, até mesmo, dentro de obras literárias que são usadas mitologias e lendas, que tentam mudar, para sentir o valor confortável. Fui expulso de um grupo de literatura, porque um dos membros cismou que o livro do autor britânico, J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis, é uma obra racista. Que mostra uma ignorância muito grande da mitologia germânica-escandinava onde os Orcs eram daquela maneira, eram seres que viviam na escuridão, como os anões também tinham aquelas características. E a obra foi escrita durante a Segunda Guerra Mundial, caracterizando mais do que um mero preconceito — coisa de gente que abraça árvore — mas o poder que estava em jogo e o anel, que mostrava a verdadeira face de cada um que usasse ele, mostra o anel da hipocrisia. Por isso mesmo os hipócritas vão herdar o mundo. O politicamente correto vai minando todos os polos de discussões e obrigando a você a ter uma visão única do mundo e o bom, claro, que seja da esquerda cirandeira. Eles também não vê — ou não querem enxergar — que o mundo ficou um pouco mais rico, muito mais pessoas têm smarthphones, ou estão na internet. Por isso mesmo está um inferno. As pessoas relativizam tudo em nome daquilo que acreditam e mudam tudo conforme seus interesses diversos. Porém, temos mais coisas do que reis do século XVI, sem dúvida nenhuma.
Ressentidos porque vê nos fortes e bem-sucedidos, inimigos e aqueles que querem seu mal. Nem sempre é verdade. Aquele que hoje tem fama e um pouco de bens a mais daqueles que não tem esses bens, nem sempre querem que os mais pobres vão se ferrar. Outros podem até querer, porém, não falam. O pastor Caio Fábio em uma entrevista a um canal no YouTube, disse que o bispo Edir Macedo disse a ele que queria pegar peixe que nada na bosta. Porque os que pensam e tem senso crítico, não caem nas conversas de um pastor. Ele tem razão. Ai entra Nietzsche e a análise crítica. Porque vou seguir uma religião que, como um placebo, te dará uma falsa sensação de ser bem-sucedido se muitos não tem nenhuma religião e o são? Será que é a sensação de estar com ele verdadeiramente sem nenhum intermediário ou é a luta e a resiliência de persistir com aquilo que você quer? O ressentido nega sua vida em nome do outro, não aceita o mundo como ele é, tem ódio do destino.
Covardes porque não assumimos o que somos. Nietzsche, parafraseando o poeta Píndaro, nos convida a sermos nós em plenitude extrema e deixar as pessoas falar o que querem, porque as pessoas gostam de criticar tudo. Ainda mais, quando você tem uma cultura mesquinha como a nossa, que não aguenta ver as pessoas bem sucedidas. Nietzsche diria que as pessoas que deixam o espírito de rebanho são pessoas nobres, espíritos raros que não tem medo daquilo que é bom e belo. O bom de Nietzsche não é o bom bunda mole cristão (da parte hipócrita, claro) que nega sua vida para ter uma felicidade em um outro mundo, e sim, um bom nobre que sabe que ser gentil, educado e fazer coisas boas, não agrega coisas para si em uma outra vida. O próprio Jesus Cristo disse que se orarmos, temos que fazer em silêncio. Talvez, por isso mesmo, escrevo meus textos sem dizer nada. Porque os covardes adoram mostrar o poder para os outros, mas, quem tem o silêncio tem o verdadeiro poder.
Com tudo isso — mais meu aprendizado ouvindo o Gasparetto — eu adotei a filosofia do “NÃO”. Não retroalimento pessoas mimadas, ressentidas e covardes por acharem que tem razão, porque não tem. Não assisto série da modinha. Não ouço musica da modinha. Não vou na religião da modinha. Não tenho políticos de estimação (nem direita e nem esquerda). Não tenho ídolos. Gosto de bandas. Gosto de alguns políticos. Gosto da espiritualidade como um todo. Gosto das pessoas. Isso inclui amigos e parentes. Não é que as pessoas são conhecidas que vou se seletivo e vou defender até a morte. Não vou. Digo não do mesmo jeito e não venero nada. Ai que pega o namoro entre pessoas com deficiência, a veneração que alguns deficientes têm da família e amar e venerar tem duas conotações muito diferentes. Venerar não é amar. Viver grudado um no outro não é amar. Você todo dia dizer que ama, você está autoalimentando na pessoa uma importância a mais que ela não tem. Eu não dizia toda hora para minha mãe que eu amava ela, e ela, sabia muito bem meu amor por ela. Aliás, nunca ela ensinou a pedir benção, pois, quando perguntei o porquê, ela disse que preferia o respeito que tínhamos por ela. E tínhamos.
Um casal com deficiência passa coisas que não se deveria passar, pois, o preconceito (mesmo velado) é muito comum no nosso país atrasado em tudo. Claro, um casal é uma escolha e nada pode ser forçado, mesmo o porquê, quando é forçada alguma coisa, entramos no relacionamento tóxico. Odeio esses termos, mas, mesmo eles, as vezes são necessários. Acontece, pelo menos para mim, que um relacionamento tóxico não é feito só do casal, também tem a família. Por causa da deficiência, muitos membros da família entram em uma neurose que não existe, porque não houve ainda nenhum sofrimento ou qualquer casamento. Se houver, conheço muito amigos que casaram, são cadeirantes e vivem bem. Acho que essa neurose é devido nosso atraso educacional, nossa cultura atrasada que vive ainda no século dezenove, onde as pessoas achavam que nós, deficientes, eramos incapazes até mesmo de ter sentimentos. De se virarmos. De achar meios de se sustentar, mesmo quando não houver vagas de emprego. Capacidade todos temos. Isso nos fez sair das savanas africanas — o homem nunca morou nas cavernas, isso era um mito, pois, as cavernas eram usadas para fins religiosos — e desbravar outras terras, por nós nos adaptarmos rápido.
A covardia é epidêmica e vai se espalhar muito mais rápido do que qualquer vírus. Como dizem, “o que não te desafia, não te faz mudar” e fim de papo.

domingo, 24 de novembro de 2019

O paradoxo da Frida Kahlo


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fotos de Frida Kahlo em seu último ano de vida (Fonte: Razões para Acreditar)


Eu sou minha única musa, o assunto que conheço melhor.
Frida Kahlo




Quem conhece a biografia da Kahlo – pintora e artista mexicana – sabe que ela era deficiente. Ela sofreu um acidente quando estava em um ônibus que lhe causou várias sequelas e a ida dela para uma cadeira de rodas. Isso nunca lhe impediu de ser pintora ou ativista politica – sim, ela era comunista – e ser uma mulher desejada. Mas, algum tempo, alguns grupos de pessoas com deficiência vem denunciando a imagem de Frida como uma mulher sem deficiência, coisa que nunca aconteceu. Camisetas e todo ripo de quinquilharia que não faz o menor sentido ter uma Frida completamente, normal. Eis a reflexão sobre a estética conservadora – platônica-aristotélica – de uma base da perfeição que faz ver uma harmonia. Mas existe perfeição no meio natural?
A questão é a origem desse julgamento que tem o nome de estética e também, o que é a deficiência (ou a definição dela). Conforme está no Wikipédia, o termo estética deriva do grego “ainsthesis” que tinha o significado: percepção, sensação e sensibilidade. Seria o ramo da filosofia que estuda a natureza, a beleza e os fundamentos da arte. O papel da estética é estudar como o ser humano julga e também, como percebe do que a humanidade considera como belo e a emoções produzidas pelos muitos fenômenos estéticos e como as diferentes formas que o ser humanos fazem arte e as técnicas para tal. Também estuda a essência da obra e da arte em si mesma e a sua criação em relação entre a matéria e as muitas formas dessa mesma arte. Por outro lado, a estética em si, pode ter um outro fim, ou seja, como se ocupar do sublime (aquilo que é belo) ou da privação da beleza (aquilo que é feio). Ora, algo sublime vai muito além do belo e sim, tem a ver com aquilo se apresenta como inexcedível perfeição material, moral ou intelectual elevado. Beira a perfeição divina da metafísica. Para o grego, a verdadeira beleza não está no mundo (como realidade), mas está além daquilo que é perfeito e essa noção começa com Platão.
Para Platão todas as coisas da realidade que vimos e muitas vezes, tocamos, são meras cópias e as verdadeiras estão no mundo das ideias. Porque, para o filósofo, não existe um círculo perfeito ou outra coisa além da perfeição e nem no mundo natural isso acontece. Se observarmos uma flor, cada pétala dela estará milimetricamente ou maior ou menor do que a outra, mostrando que não há igualdade entre as pétalas. No mesmo modo, e pudermos medir um favo de mel onde as abelhas constroem (hexagonal), vai existir milímetros de diferença entre um e o outro. Ou seja, Platão junta a teoria de Heráclito (filósofo Pré-Socrático) que dizia que tudo muda e a filosofia de Parmênides (outro Pré-Socrático) que nada muda. Assim, as formas são meras cópias daquilo que está no mundo das ideias, ou melhor, lá na imaginação ou em uma outra dimensão (que seria um pleonasmo). Portanto, quanto mais conhecimento acumulamos, mais alcançamos a perfeição. Assim, Platão vai colocar a estética (percepção) no logos – o autor da Wikipédia erra porque o termo “logos” não é lógica e sim, razão – ou seja, vão colocar como forma racional onde o conhecimento vai sublimando a forma. Se irmos além, até faz sentido se a colocarmos um fator da evolução do universo a informação, mas, a beleza enquanto formato corporal, tem a ver com outros fatores (acho que a genética é um meio de informação).
Só que Platão foi interpretado muito erradamente pelos teóricos frades da idade media, porém, antes disso temos que explorar Aristóteles. Se para Platão o belo (sublime) passava pelo “logos” - razão enquanto saber - para Aristóteles a estética tinha a ver com a ética (mais um erro do autor do Wikipédia que colocou moral, sendo que o grego o termo e nem o significado não existiam), porque a ética tem a ver com o caráter e o caráter tem a ver com o bom e o belo. A questão da verdadeira bondade vem desde Sócrates (mestre de Platão), porque o filósofo sempre dizia que o conhecimento deixavam o ser humano bom, justo e que a maldade não existe e sim, é a ignorância que deixava o ser humano sem ética. Aristóteles vai pegar o fio da miada de Sócrates e dizer que o ser humano fica mais ético com o conhecimento, e a felicidade está na ética.
Foram os padres da igreja que vão colocar o Mundo das Ideias como o paraíso e vão dizer que o ser humano perfeito é aquele que busca e está no paraíso divino e aquilo que não é belo, não tem a perfeição – como os outros deuses – são coisas ruins e são empregados de Satanás. Resumindo o soneto, não entenderam Platão. Ou nas melhores das hipóteses, interpretaram como acreditaram ser certo (como todo fanatismo). Então, começou a se pensar, que todo mundo que não apresentasse beleza ou era um demônio ou não tinha alma, porque a verdadeira forma estava na alma. Mas o “logos” platônico era o “logos” muito além da alma como critério meramente humano e sim, uma sublimação que vai além das aparências. No meu período de estudos metafísicos, só duas doutrinas religiosas superam essa sublimação, o espiritismo e o budismo (vamos dizer que algumas doutrinas esotéricas e as religiões afro). Não quero me aprofundar, pois, o texto não é sobre. Mas, voltando aos frades cristãos estudiosos de Platão, não entenderam nada. Veio a ética aristotélica e de novo, não entenderam nada sobre, a felicidade era ser moral e não ético por causa da nossa matriz romana. Moral veio do latim “mos” que no plural ficava, “more”, que era uma tentativa de traduzir o grego “ethos” que queria dizer num primeiro momento, morada do homem, depois, se mudou para caráter. Já os romanos, vão traduzir como modo de costume ou costume. Ora, para se dominar uma população seria melhor o caráter de cada um ou o costume coletivo?
Ou seja, os estudiosos medievais – na maioria são monges e frades da igreja romana – vão querendo colocar a estética como uma intenção de estudar independentemente os outros ramos dentro da filosofia. No âmbito do belo – sempre lembrando que para esses estudiosos o belo só é o que está no paraíso – dois aspectos têm maior destaque: primeiro, a estética começou como uma teoria e se torna uma ciência por causa do “logos” e por causa do “ethos”, ou seja, por causa da razão e por causa do caráter ou se preferir, por estarmos na era medieval, o costume. Dai, a estética vai ser colocado como algo como valores primordiais para o ser humano, ser verdadeiro, ser belo e bom. O centro dessas discussões era um certo tipo de julgamento de valor que se enuncia as normas gerais do belo.
Depois que passa alguns períodos da nossa história – como a cisma protestante – a estética passa a assumir uma característica também como uma parte da metafísica do que seria belo – lembra da ideia do sublime? – que vai se esforçar a responder de onde viria a fonte original de todas as belezas sensíveis. Isso seria o reflexo da parte inteletível da matéria (do platonismo), a manifestação sensível das ideias (do hegelismo) e o belo natural e o belo arbitrário (intrínseco do ser humano).
Então, a deficiência é uma má-formação dentro da ideia da sublimação da estética da igreja romana, já Platão e Aristóteles pensavam como todos da sua época, pessoas com deficiência tinham que morrer. Há muito tempo – depois não encontrei mais – eu li que eramos considerados como pessoas misteriosas e não se sabia o porquê, sermos limitados e por isso, diferentes. Pessoas deficientes eram caladas e tinham corpos distorcidos e isso deveria assustar os seres humanos da antiguidade. Por outro lado, haviam deficiências eram consideradas divinas e alguns oráculos – na maioria mulheres – eram cegos na Grécia e os povos celtas, algumas pessoas com deficiência eram druidas. Há até uma tradição, que Homero, na verdade, era cego e declamava seus poemas que muito mais tarde, foram escritos. Na verdade, nem todas as pessoas com deficiência eram mortas, muitas vezes, apenas eram mortas as das elites como os espartanos que, obviamente, não poderiam ter deficiência.
Deficiente vem do termo latim “deficiens” que vem do verbo “deficiere” que tem o significado “desertar, se revoltar e falhar”, do sufixo DE (Fora), mais o FACERE (Fazer e realizar). Sempre lembrando, que o sufixo DE também é de negação, ou seja, deficiens quer dizer não realizar, não fazer ou incapacitado. Mas, no mundo romano, as pessoas com deficiência eram mortas se o chefe da família quisesse. Portanto, ou eram deixados para morrer, ou eram fonte de renda de quem cuidasse dessas crianças, ou seja, elas pediam esmolas nas portas dos templos, nos coliseus e na idade media, nas igrejas. Depois, com o avanço das ciências e a tecnologia, a cadeira de rodas foi inventada, os aparelhos foram aparecendo e se aperfeiçoando. Porém, as pessoas com deficiência eram internadas por pensar que a deficiência era uma doença. Então, a cadeira de rodas ficou com o estigma de doença e de limitação daquilo que não tem lugar dentro do que seria, como imagem social, uma pessoa saudável. Para os medievais – assim como os gregos – pessoas saudáveis são pessoas harmoniosas e as pessoas menos saudáveis são as pessoas menos harmoniosa.
Ai temos um paradoxo da Frida Kahlo, pois ao mesmo tempo ela era uma grande pintora e uma ativista politica – sim, ela era comunista e dizem teve caso com Trotsky – ao mesmo tempo, sua verdadeira imagem é de uma mulher incapacitada. Uma mulher numa cadeira de rodas venderia camiseta? Ou uma mulher jovial numa bicicleta venderia mais camisetas? Claro que vai ser a camiseta que a Frida Kahlo está em pé em uma bicicleta, porque assim, parece saudável. A questão é o estereótipo da cadeira de rodas como um sinal de doença, sinal de fraqueza e sinal de santidade e não é. Para nós, pessoas com deficiência, é apenas um instrumento de locomoção e de liberdade. Sim. Muitas pessoas com deficiência não gostam da expressão liberdade, mas, se não fosse a cadeira de rodas, estávamos presos em uma cama. Como a Frida ficou bastante tempo graças a dores terríveis que ela tinha e que culminou com seu enfraquecimento de saúde. Porém, não deixou de ser a grande artista que foi.

https://juninhoideias23.tumblr.com/post/189251020905/bolsonaro-lamenta-morte-de-gugu-liberato-no


terça-feira, 19 de novembro de 2019

O Fascismo das Redes Sociais



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Por Amauri Nolasco Sanches Junior




A cadela do fascismo está sempre no cio.

Bertolt Brecht





Brecht tem razão, o fascismo sempre está a espreita e hoje, uma sociedade pós-industrial, onde as redes sociais mandam e desmandam no mercado, não tem a ver tanto com o regime italiano idealizado e liderado pelo Benito Mussolini (1883 – 1946). A ideia do fascismo é uma ideia de uma união como um feixe com vários feixes – por causa de um instrumento romano (republica) para castigar alguém ou abrir o caminho – onde uma causa é a união de várias causas. Mas, qual a causa que as pessoas estão lutando? Nenhuma. Porque um povo que não tem uma cultura histórica, não pode fazer nenhuma discussão ou escrever numa rede social. As pessoas não gostam de mim – principalmente, no meio das pessoas com deficiência – porque sempre fiz essa crítica, pois, não se pode inciar nenhuma discussão se não tiver um estudo histórico e daquilo que se quer discutir e daquilo que se quer mudar (e saber escrever, claro).
O que acontece é que as redes sociais estão muito chatas, porque você não pode escrever nada sem ser denunciado. Meu blog Resistência foi denunciado por causa da minha opinião sobre a briga entre Pitty e a Lexa, que a funkeira acusa a produção da Pitty de machismo e essas coisas. Aliás, segundo a Lexa, as duas conversaram e ficou esclarecida a história e acho as duas uma gracinha. Ponto. Não sei se teve motivações de fãs, não sei se teve motivações ideológicas (porque eu chamei a Lexa de feminazi e a Pitty de Passa Pano), mas, não posso mais escrever e postar nada no blog Resistência. As motivações que levaram as pessoas denunciarem meu blog – por isso estou ressuscitando o Clube das Rodas de Aço – a questão é silenciar o outro por causa da sua opinião, e ter opinião, é complicado hoje em dia. Pois, eu sou aquela leva de filósofos (sim, tenho diploma de filósofo) que não tenho nada de estimação, nem politico, nem religião, nem banda, nem nada, e pode me chamar de isentão que estou me fodendo com a sua opinião sobre mim.
Não é só o blog Resistência não foi o único que foi bloqueado no Facebook (que a rede social está ficando muito chata), escrevi a reportagem “Stedile, coordenador do MST, diz que Bolsonaro irá 'para o lixo da história'” e meu perfil está bloqueado até 3 fevereiro de 2020. Será que é porque tem a ver com a crítica do líder do MST? Não sei. O problema, que sempre teve coisas desse tipo nas periferias das cidades grandes e no interior e que as redes sociais, potencializaram isso tudo no máximo. O povo gosta de se meter na vida do outro, porque todo mundo tem uma fórmula mágica para ser feliz, mas, nem sempre esse povo cuida da sua própria vida. O Orkut acabou porque o povo encheu o saco na questão de spam – que a maioria nem sabe o que significa até hoje – e o Orkut começou a fazer regras para agradar esse nicho, o outro nicho saiu e nem um e nem o outro ficaram no Orkut. Vai acontecer no Facebook, além do fato deles começaram a tirar algumas coisas para forçar uma demanda a assinar seus serviços. Lógico, mesmo o Orkut teve regras comerciais, do mesmo modo, o Facebook (junto com o Instagram e o WhatsApp), tem também. Quanto deve ganhar o Facebook de anúncios de grande jornais ou grande mídias? Os pequenos blogs não tem nem chance nessa briga.
Além do cybercapitalismo – acabo de criar o termo – tem o fascismo que outrora era visível e hoje, não é mais. Depois do término do socialismo soviético, as ideologias socialistas (aqui não estou me referindo só o socialismo marxista, mas, um conjunto de membros de uma sociedade), começaram a ser descritas, hora como utopias que não deram certo, hora como ideias que devem ficar nas prateleiras da história. Claro, que ainda existem pessoas que acreditam no socialismo-comunista, assim como, existem pessoas que acreditam no fascismo e no nazifascismo (pasmem, que existem negros nazifascistas por ai). Mas, na sua essência, esse tipo de ideologia ficou na virtualidade e esse é o perigo. O povo tende a essas ideologias sempre quando há uma crise, pois, Mussolini sobe ao poder depois da crise de 29 (1929), Hitler (que não era alemão e não tinha nada a ver com os alemães) subiu ao poder no meio de uma crise. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), nasceu da revolução de 1917, porque a Rússia dos Romanov não saiu dos feudos medievais e por mais que o socialismo lenista-stalinista tenha matado milhões de pessoas, ele foi um catalisador para industrializar a Rússia. Claro, isso não justifica, de maneira nenhuma, tudo que Stalin fez.
A questão é virtualizar esse tipo de ideologia. Por quê? Aristóteles – que viveu no século três antes de Cristo (Atenas de Péricles) – dizia que toda ideia é uma coisa virtual, ou seja, tem a potencialidade de ser real. Uma amizade virtual, por exemplo, tem a potencialidade de ser uma coisa real. Um namoro virtual, tem a potencialidade de ser um namoro de verdade. E ai que mora o perigo, porque quando você joga ideologias como qualquer uma dessas (comunismo, nazismo, fascismo e etc) na virtualidade, você potência a serem reais e não estou protegendo nenhuma.
Mas o que é a liberdade? A liberdade não existe quando você acha sempre que o outro é errado e você está certo, mas, no final da história, são dois idiotas brigando por causas que o oprimem. Porque tivemos uma educação infantilizada que dependemos sempre de algo para viver, seja um deus-pai para lhe guiar espiritualmente, seja um governante-pai que vai te ajudar a ter onde morar, a empresa-mãe que provem seu sustento. Mas, no final das contas, seja lá que ideologia que você segue ou religião, sempre é para te foder. Porque isso tudo existe, para separar mesmo o povo e não enxergar o obvio. E no mais, o blog é meu e escrevo o que eu quiser.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Por que que nada muda na inclusão de pessoas com deficiência?






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Amauri Nolasco Sanches Junior (aqui)


Quando nós olhamos o nosso país, temos a impressão que ele é um amontoado de culturas velhas e que não quer ver o futuro. Países lá fora, já perceberam – isso é a coisa mais inteligente que poderiam ter feito – que dois alicerces movem para o progresso: educação, com um ensino bom e não, matérias que acham ser importante; e o bem-estar social, como saúde, emprego e uma casa para morar. Porque, se você tiver uma saúde boa, você trabalha mais e ajudar a crescer a economia. Se tivemos emprego, compramos mais e a “roda” econômica gira e o país tem mais credibilidade dentro da economia global. Se não temos nem casa e nem um saneamento básico – alguns lugares aqui, as pessoas andam com os fossos abertos – temos mais estabilidade dentro das famílias e não temos índices de criminalidade e nem de outras atividades ilícitas. Isso é básico e não precisava ficar aqui falando isso. Mas, os nossos governantes têm prioridades de cunho próprio para se preocuparem.

Por que estou falando isso? Porque sempre temos que escrever isso para lembrar que nós, pessoas com deficiência, não nascemos a parte da sociedade. Nós estamos dentro da sociedade como qualquer ser humano. Nós somos seres humanos. Mas, temos um defeito que a minha noiva alertou, não sabemos o que seguirmos e não tem nada de novo dentro da luta da inclusão das pessoas com deficiência. E isso dentro da política, é muito nocivo e muito preocupante. Porque se você disser que defende a inclusão, todos os movimentos vão defender a inclusão e nós, como movimento efetivo, estamos sempre reivindicando a deputados e senadores, que dizem lutar pela causa. O que há de novo? Não temos e temos uma aversão – não eu, mas, todo o segmento das pessoas com deficiência – a lerem, a escreverem, a planejarem estruturas dos movimentos e reivindicações que estamos a anos tentando conseguir. A questão é que estamos patinando sempre nas mesmas coisas. Sempre achando que eu vou fazer, minhas ideias estão certas, a minha luta é adequada, mas, não há nada que os movimentos não tenham dito antes. Sempre aparece pessoas achando que é inédito lutar pelas pessoas com deficiência e não é, há movimentos aqui, que são movimentos mundiais de 70 anos de luta. Mesmo assim, temos sempre que perguntar: o que há de novo na luta por uma inclusão das pessoas com deficiência efetivamente?

Ora, o novo “barato” da vez, que me chegou por intermédio de alguns colegas, é o Inclusão de Rua. Segundo a boca a boca – como tudo aqui no Brasil – é um movimento que traz as pessoas com deficiência para a rua idealizado por um jornalista social. Primeiro temos que perguntar: qual a finalidade desse movimento? Como me responderam já, uma tomada de consciência. Ora, meu movimento junto com a minha noiva, a Irmandade das Pessoas com Deficiência, fazem exatamente a mesma coisa, saímos para passear e, no entanto, começamos a conscientizar as pessoas no intuito de respeitar a diversidade. A FCD (Fraternidade das Pessoas com deficiência e doentes), fazem o mesmo, passeiam e mostram as pessoas com deficiência para a sociedade. Entre outros movimentos, que fazem a mesma coisa a anos, e que a maioria não quer participar, porque temos um viés político e a maioria, só quer o “oba, oba”. Outra pergunta muito importante é: que jornalista social fez esse movimento? Qual a intenção de ele fazer o movimento e quem ele é? Fica parecendo que as pessoas nos usam – não estou dizendo que é o caso dele, mesmo o porquê, eu nem sei quem é o moço – para melhorar a sua imagem, ou para reforçar a imagem de pessoas que só querem passear e ir em balada (ou coisa parecida).

A questão vai muito além do que sair na rua. Existem pessoas que não saem nem na janela para tomar um sol. Não tem um tratamento médico adequado, existem ainda no Brasil (provavelmente, em outros locais da América Latina), que trancafiam pessoas com deficiência e até, amarram essas pessoas nas camas. Essas instituições foram denunciadas numa reportagem (aqui), que uma ONG internacional (Human Rights Watch), visitaram abrigos que cuidam das pessoas com deficiência física (que não é novidade). Sem nenhuma novidade. Existe isso muito no Nordeste, onde a religiosidade é muito acirrada – não estou falando que não existe em outras localidades – pessoas com deficiência são acorrentadas em suas casas por causa, da vergonha dos pais de terem uma pessoa com deficiência como filho. São crenças. Muitos abrigos – não só para pessoas com deficiência – usam essas crenças para ganharem dinheiro e prestigio como abrigos que cuidam dos “coitados” que não podem se locomoverem. O que fazemos como movimento? Nós não lemos. Nós somente, nos preocupamos com marketing pessoa – que não tem nada de errado – mas, não traz nada de novo na luta das pessoas com deficiência. Somente aquela opinião formada sobre tudo, como diria Raul Seixas. Então, eu prefiro ser uma “metamorfose” ambulante e dizer que sim, mudo de ideia, mas, não saiu do meu foco.

Curiosamente, eu vi dois vídeos bastante interessantes. Um é o chargista, Mauricio Ricardo, que ao falar do ódio virtual estar saindo do mundo virtual e refletir no mundo real, do dia a dia, deu um exemplo do cadeirante. Disse que para o cadeirante subir no elevador (ele disse rampinha), o motorista tem que o ajudar a subir e muitas vezes, as pessoas ficam reclamando e é verdade. Várias vezes, eu e minha companheira, presenciamos, pessoas reclamando de a van descer o cadeirante na rua, porque as calçadas estão irregulares – o tesão do brasileiro de fazer degrau – reclamam, que a van para numa vaga que ela deve sim, parar, porque é a vaga pera pessoas com deficiência. O que me chamou mais atenção foi: um cara que não está engajado na luta das pessoas com deficiência, sabe disso e fala para todo os seus seguidores, o porque os canais que estão engajados não falam? Vou deixar o vídeo (aqui).

O outro vídeo, foi da Mariana Torquato no seu canal “Vai uma mãozinha aí? ”, que respondeu um internauta com deficiência, dizendo que não havia se encontrado. Ela disse que também não tinha se encontrado com sua deficiência, pois, como não tem um dos braços – com má formação congênita – pensava que iria crescer de novo. Com o passar do tempo e com a conversa que ouviu a tia e a mãe dela, sobre vagas em concursos públicos, a ficha caiu e ela (Mariana), ficou muito mal por causa disso e a pouco tempo ela se aceitou. Ora, quantas pessoas com deficiência, não se aceitam e quase se suicidam? Quantas pessoas conseguem cometer o suicídio? Tanto é, que teve aquele filme patético, que cometeram suicídio por causa da sua paraplegia (no filme a culpa da deficiência é do próprio protagonista). Que reforça o que sempre disse: se você não se assumi o que você é, o que você tem, como você se locomove, não adianta você fazer milhares de movimentos que não vai adiantar nada. O vídeo (aqui).

Por fim, não menos importante, é a imagem que fazem das pessoas com deficiência que, reforçam tudo aquilo que eu disse. Não somos nem “anjos” e muito menos, “demônios” e caráter, não é sinônimo de deficiência. Por que estou dizendo isso? Porque existe uma imagem – muito difundida na igreja católica e protestantes – que as pessoas com deficiência são “coitadas” e isso é reforçado com campanhas como o Teleton. Onde as pessoas com deficiência precisam ser assistidas, que as outras pessoas que não tem deficiência, devem tutorear tudo que as pessoas com deficiência fazem. Como fui paciente da entidade, sei muito bem, que a AACD (Associação a Assistência a Crianças Deficientes), além de sub proteger quem fez tratamento lá, não tratou direito (muitas pessoas sofrem dores crônicas e problemas sérios por falta de um tratamento de verdade), não teve nenhum aparelho de verdade, porque sempre deu uma desculpa que não tinha Raio X ou outra coisa. Sempre tratou a mulher com deficiência, como meninas eternas (não tem ginecologista) e também, não deu um tratamento psicológico de verdade. Faziam terrorismo psicológico com os pais, dizendo que seu filho não vai andar, que seu filho desenvolveu o que tinha para desenvolver e ainda, mostra mentiras. Eles não têm trabalho nenhum de inclusão e nunca vão ter, porque ganham com a dependência das pessoas com deficiência, e ganham porque todo mundo paga, ninguém faz nada lá de graça.

A falta de maturidade vem da sub proteção da família e como isso pode refletir dentro da sociedade. Muitas pessoas com deficiência, acabam aceitando o fato de serem bajuladas como “coitados” por pura acomodação, seja familiar, seja institucional. Tem pessoas cadeirantes, que aceitam serem internados, que aceitam serem colocados em quartinhos nos fundos, que aceitam prêmios de consolação. A zona de conforto é gostosa, é confortável, é confortável abraçar causas já prontas. Mas, aí vem de novo a indagação: o que há de novo? Quando você vê que as pessoas não compartilham ou leem notícias que cadeirantes, literalmente, estupraram a amiga por causa de uma opinião dela (não sei em que contexto), podemos ver o quanto ainda temos o nosso estereótipo de “coitados” ou de “santos” que não podem ser mexidos. Deixo a reportagem (aqui). Isso é sim, herança deixada dentro de crenças e dentro da imagem de uma pessoa com deficiência dependente, imatura, que não sabe o que está fazendo. Sabe sim. Muitos cadeirantes engravidam moças e usam as deficiências como escudo para não assumirem, muitos cadeirantes cometem delitos e a cadeira de rodas não é “régua”, para medir caráter.

Fora que os postos de saúde não tratam as pessoas com deficiência direito, sempre jogando a culpa da doença como consequência. Como uma dor de dente tem a ver com a deficiência? Como um posto de saúde não pode tratar uma coisa tão seria de forma tão secundaria? Se pagamos temos entidades como a AACD, se vamos nas redes publica temos médicos que não dão importância para sua dor. Então, como um Inclusão na Rua pode ajudar as pessoas com deficiência trazendo uma nova visão? Porque, insisto, sair, passear, trazer consciência dentro de uma perspectiva nova, não estou vendo. Tudo é bem velho. Acho que usarei uma outra música do Raulzito com o Marcelo Nova, “tem muita estrela para pouca constelação”.

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domingo, 17 de junho de 2018

As cadeirantes estupradoras





Amor sob vontade 

Essa semana uma reportagem do “Globoesporte”, que confirma o que sempre disse nos meus textos sobre o segmento das pessoas com deficiência: cadeira de rodas não é parâmetro de caráter. A ética é primordial dentro de qualquer grupo e direito tem muito a ver, com deveres também. O caso aconteceu em fevereiro de 2017 e só esse ano a vítima relatou o acontecido. Que ao meu ver, deve ser apurado do mesmo modo se qualquer pessoa fizesse isso, inclusive, com prisões.

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Como disse, o caso aconteceu em fevereiro de 2017, quando acabou um treno da equipe Gladiadoras/Gaadin - Grupo de Ajuda dos Amigos Deficientes de Indaiatuba – que fica no interior de São Paulo. As jogadoras cadeirantes envolvidas, Lia, Denise, Geisa e Gracielle Silva, usaram um “pênis” de borracha para abusar de uma companheira. Gracielle era coordenadora do time na época e se suicidou no fim de maio. O fato aconteceu assim: jogaram a vítima no chão e usaram o órgão de borracha para abusarem. O vídeo circulou pelo whattsapp e pelas redes sociais. O advogado da Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas (CBBC) disse que o caso está sendo investigado e caso comprove o crime, há uma previsão mais concreta sobre o banimento das abusadoras, que, para mim, se há um vídeo não tem como negar.

As coisas para mim estão mais esclarecidas, não muito, na reportagem do “O Globo”, porque a reportagem do “Globo Esporte” estava completamente, vagabunda e confusa. Por que acontece isso? primeiro, porque as pessoas tem um tabu enorme de falar das pessoas com deficiência, como se fosse um crime. Uma cultura teletoniana (vinda do Teleton), que mistura uma cultura capacitista e uma cultura vitimista, católica cristã medieval. Ora, porque não tratar de igual realidade qualquer crime feito por uma pessoa cadeirante? Qual a diferença? A campanha “nós fodemos”, foi levada ao extremo.


Uma das envolvidas, disse que o “pênis” de borracha era dela e era apenas uma brincadeira. Mostra a incapacidade madura social que a maioria dos cadeirantes levam a vida. A maioria não lê. Não estuda nada e ainda, só pensa em sexo. Claro, que tem explicações psicanalíticas para isso. Vivemos numa sociedade judaico-cristã onde o sexo é um tabu por ser pecado, por ser errado e temos que não amar e sentir Deus, mas, teme-lo como se fosse um monarca no alto de um trono jogando punições. Os que tem razão são os homens, são os reis da casa, são os provedores, e as mulheres, devem ser submetidas a eles. Tudo que saem disso, ou é do demônio ou é de esquerda comunista (como a liberdade fosse errado), e isso, está na sociedade ocidental, a mais de mil anos (contando a conversão romana). Imagina isso para um cadeirante ou outra deficiência? A repreensão social e a margem de um preconceito perante o sexo, são bem maior do que o resto da sociedade. Começamos a sair para o mundo desde os anos 90 e isso é fato. Com isso a repreensão é bem maior e o libido do cadeirante é uma libido inexistente para a sociedade, que por experiência própria, existe sim.

Por outro lado, não quero parecer aqui que estou dando álibis as jogadoras, que acabaram com suas carreiras – uma até se matou- por causa de uma brincadeira idiota. Aliás, esta história de brincadeira é papo furado, porque se batesse na cara da outra cadeirante com o “brinquedo” ou fizessem outra coisa, mas, houve a penetração sem o consentimento e isto é estupro. Se houve estupro, houve crime. Se houve crime deve ser punido e isso, implica várias coisas jurídicas. Além do mais, há uma conduta anarcocapitalistas (libertário), do Princípio da Não Agressão (PNA). Esse princípio diz, que todas as pessoas são proprietárias de seu próprio corpo físico assim como todos os recursos naturais que elas colocam em uso através do seu corpo antes de qualquer um o faça. Isso implica o seu direito de empregar estes mesmos recursos como lhe convém até o ponto que isto afete a integridade física da propriedade do outro ou delimite o controle da propriedade de outro sem seu consentimento. É um princípio ético interessante na qual, eu concordo plenamente. Meu corpo não pode ser violado, porque as condutas naturais no qual tenho pleno direito de me expressar, foram impostas. No caso da vítima, ela foi violada no direito de querer ou não ser penetrada com o “brinquedo”.

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A questão é complexa, mas, vale uma reflexão. Eu venho falando desde a campanha da Kika de Castro de mostrar pessoas com deficiência pelados ou a campanha “Nós fodemos”, que temos que fazer uma coisa mais madura. Claro, temos todo o direito de expressamos nossa sexualidade, mas, a maioria de nós (pessoas com deficiência), e nossos pais, ainda não estão preparados. Sair de uma repressão sem uma devida educação, transforma uma conscientização em bestialidade e começam brincadeiras desse tipo dentro do segmento de pessoas com deficiência. Pessoas com Síndrome de Down, que são estereotipados como incapazes mentalmente, são muito mais maduros e seus pais tem muito mais capacidade de lhe dar com essas coisas, do que um cadeirante que não tem nenhuma deficiência intelectual. Essa “brincadeira” por parte das cadeirantes, mostra o quanto não querem ler e nem pesquisarem nada. 


Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

sábado, 5 de maio de 2018

Reflexões sobre a verdadeira acessibilidade



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Esse segmento das pessoas com deficiência me dá preguiça, mas, essa preguiça é no sentido de ter que explicar coisas tão obvias, como acessibilidade. Ter que explicar que a questão da acessibilidade não é só uma questão de inclusão de pessoas com deficiência, mas, explicar que uma rampa é sim um meio para uma gestante subir melhor, ou uma mãe subir com um carrinho de bebê. Além disso, muitas pessoas não pensam nos idosos que também, podem ter bastante facilidades, com rampas ou vias mais acessíveis.

Me deparei com o pensamento: “não queremos asfalto novo e sim, calçadas novas e acessíveis”, como se um asfalto novo, não fosse uma solução, mais ou menos, viável. Claro que é. Minhas costas – não só as minhas, mas da minha noiva e de uma grande parcela de pessoas com deficiência – doem ao passar com a van do ATENDE nos buracos de uma Sapopemba. Mas, sempre fazem frases de efeito para chamar atenção ou passar vergonha, porque as calçadas nada têm a ver com as ruas bem asfaltadas e isso, foi dito por uma conselheira do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Aliás, o CMPD está sendo, muitas vezes, usado de uma maneira ideológica para fazer uma política só social, mas, a política é um conjunto.


Além de acabar com a sua coluna, vai sempre danificar carros e qualquer transporte (tanto o ônibus como as vans acessíveis ou não), que os cidadãos de uma cidade usam e têm o direito em ter. Duas questões poderíamos deixar aqui na reflexão: essa pessoa acha que não tem mais ninguém na cidade além das pessoas com deficiência? As pessoas não podem desejar asfalto de boa qualidade para poder ter uma um transporte até melhor? Ora, por outro lado, as calçadas são arrumadas conforme os moradores e os donos de comércios que cuidam dessa calçada. Há multa, mas, deve ter denúncias para tal (no mesmo modo a Lei de Cotas de empresas, mas é tema para um outro texto). Portanto, se você não denuncia esse tipo de calçada, é mais do que óbvio, que a prefeitura não tem como multar o dono da casa ou comercio que arrumou essa calçada.

Ainda acho que é estranho, uma pessoa que gosta e “milita” no segmento da pessoa de deficiência, deve pensar muito além do que o paradigma de sempre. Que paradigma? O paradigma de pessoas que enxergam as pessoas com deficiência como pessoas que não podem fazer, não podem pensar e tem sempre um “paladino” da inclusão como suporte. Só que esses “paladinos” são pessoas que misturam os segmentos, acham que o mundo tem só as pessoas com deficiência e ainda, as pessoas com deficiência deveriam repensar essa atitude. Por que deve seguir outro segmento? Por que não tenho que expor minha opinião contra a maioria? Meu intuito é a reflexão, porém, por falta de estudo da maioria de quem tem deficiência, sempre ficamos à mercê de interpretações erradas e sem o menor, propósito. Tudo na vida é um pensamento, até a nossa realidade.

Mas o que seria uma realidade?

Existem milhares de pessoas com deficiência que não tem dinheiro, não tem emprego – antes do governo Temer (que era vice-presidente da Dilma), já existiam desempregados com deficiência com estudos e qualificados – sempre nenhuma condição de comprar nem um parafuso da sua cadeira de rodas (ou outro aparelho), e nem o próprio aparelho. Eu acho que inclusão não é ir nas baladas, não é em encher a cara em barzinho, não é ir em show de cantor brega ou não, não é ir nos SESCs da vida ou até mesmo, ir nas passeatas ou desfiles (como carnaval, orgulho gay, marcha para Jesus e etc). Inclusão é olhar para o lado e falar um “oi” para uma criança espantada com sua cadeira, é ir comprar o que você mesmo o que você deseja, é ter ética e seriedade nas atitudes que toma. É namorar uma pessoa e ser sério com essa pessoa, casar e ensinar coisas verdadeiras para os filhos. Se não te empregarem, procurar maneiras dignas de sustento e sobrevivência. Porque eu acho que a questão das pessoas com deficiência é ter sempre na cabeça que o mundo não é um playground eterno, um dia vai ter que crescer. Um dia vai ter que sofrer. Um dia vai ter que resolver os problemas. Um dia vamos ter que “crescer”.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News


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