domingo, 29 de maio de 2016

A essência dos libertários







Meu colega Miranda resolveu me desbloquear e me presenteou com a leitura de mais um texto dele “Libertário não morre” onde ele argumenta que quem defende o capitalismo, na verdade, defende aquele que oprime o ser humano. Vamos lá a refutação.

Já no primeiro parágrafo ele escreve: “o termo “Libertário” parece ter adquirido nos últimos tempos uma conotação bem distinta.”. Não, não houve uma conotação distinta, talvez houve uma distorção dentro do que seria ser um libertário em sua essência. Se o Miranda ou outro olhar no Michaelis online vai ver a seguinte resposta: “Que, ou o que é partidário da liberdade. ”, ou seja, ser um libertário é ser um partidário daquilo que é a liberdade, mesmo que essa liberdade seja vender ou oferecer bens e serviços dentro do mercado econômico. o que acontece que temos que definir o que seria liberdade de fato e se essa liberdade realmente existe, pois, mesmo o porquê – como disse Sartre – somos presos em nossas escolhas e vou mais longe do existencialismo, somos presos em ideais que não são nossos, somos presos em um ESTADO que não garante a nós o bem estar que promete, mesmo que este ESTADO, seja governada pela esquerda (a princípio a esquerda defende uma humanização). Mas eu concordo com Deleuze que não existe governo de esquerda, porque a esquerda não pode apenas idealizar um programa, e sim, usar a percepção para realizar um programa analisando o contorno do problema. Por exemplo, se fez o bolsa-família para dar a cada família ter o que comprar com o dinheiro, mas tem que analisar o todo do problema (que a própria esquerda lá fora analisa e o próprio Marx, analisou a fundo. Prova cabal que a esquerda brasileira não leu Marx), que é melhorar a qualidade de vida das pessoas da região. Estrutural, melhorar o saneamento básico, melhorar a saúde, melhorar a economia da região, melhorar tudo em sua volta.

Assim, na essência, não só existe repressão não só com o capitalismo (que se torna “selvagem” por causa do ESTADO), mas a burocracia estatal que inibe o melhoramento da sociedade como um todo. A título de exemplo, vamos pegar um exemplo de um deficiente que precisa de uma cadeira de rodas (pois estou ultimamente, com esse dilema), que não pode ficar sem cadeira de rodas porque precisa se movimentar e andar com ela. Por que elas são tão caras? Primeiro existem impostos, imposto do material, imposto da usinagem, imposto dos parafusos, imposto dos componentes de plástico, imposto da montagem, imposto da solda, imposto da tinta da pintura e até, imposto do transporte. Existem direitos trabalhistas, existem o pagamento do empregado que usina e monta os componentes, existe o transporte da fábrica a loja e existe o imposto em cima da venda. O capitalismo é o culpado ou o ESTADO que sempre quando dá canetada, transforma tudo em desordem?

Mas adiante o Miranda escreve: “Eu sempre me defini como libertário. Porém sempre soube que ser libertário não se reduzia a acreditar que vivemos desde já sob uma condição em que nossas escolhas individuais sejam autônomas e livres para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e livre. Sempre soube que para ser libertário era imprescindível que eu fosse também de esquerda, pois que as estruturas sociais a que somos submetidos e coercitivamente obedecemos referem-se à manutenção de privilégios de classes que usurpa as condições reais do exercício de uma liberdade mais ampla. ”

Então, nos EUA o libertarianismo (que Rothbard chamou de anarcocapitalismo), é de esquerda porque se acredita em ser uma mudança social dentro do que é. Ou seja, para eles a esquerda não é só socialista/comunista – como na Europa também – mas também, tudo aquilo que prevê mudanças daquilo que aí está que a grosso modo, dês da Revolução Francesa, a esquerda tem como ideal. Existe os libertários que seguem o que realmente é, uma liberdade irrestrita do mercado e a liberdade como um bem econômico e social (que concorda com o Miranda em uma liberdade mais ampla) e ser contra qualquer violência (existe o Pacto de Não Agressão o PNA). E existe o libertário “birrinha” ou se preferir, “modinha”, que não entendeu o contexto, não entendeu a base do libertarianismo na essência e defende coisas que até eu tenho vergonha alheira.  Não se atentaram na questão que Rothbard disse no seu artigo “Direita e Esquerda” que os conservadores usurparam o liberalismo para melhor “vender” uma liberdade que não existe, uma liberdade que só visam seus próprios lucros e não o bem-estar social (palavras do autor).

Miranda escreve mais adiante: “De uns tempos para cá o termo “libertário” parece estar se vinculando a uma ideologia que chama a si mesma de Libertarianismo. Essa ideologia parte de alguns pressupostos básicos que se confirmam reciprocamente”.

Não chama a si mesmo de libertaianismo, talvez pelas minhas pesquisas, é uma tradução do termo em inglês “libertarianism” que a grosso modo visa sim a liberdade plena. Mas como toda ideologia, daí concordo com Nietzsche, carrega algo daquilo que ele chamava de uma negação do mundo como ele é e começamos a inventar coisas que não existe.

“1O pensamento de esquerda é um pensamento estatista que retira, via Estado, as liberdades individuais e premia a incompetência oferecendo assistencialismo que atrasa o progresso; ”

Não, o Miranda não entendeu. Claro, que dentro do libertarianismo há uma leva de conservadores perdidos que pensam que só porque não vai existir o ESTADO os seus estabelecimentos haverão de dar mais lucros, mas isso só são as pessoas que na essência não entenderam o que é ser libertário. O que se acredita que a esquerda quer um mundo individual que o ESTADO igualara todos os seres humanos, acabando com a individualidade de cada ser humano. Que o ESTADO controlara tudo, que o ESTADO vai regular tudo e que o ESTADO é o grande regulador social que acabara com a guerra de classes. Mas será que o problema está nas diversas classes sociais e não será que essas classes são produto não do capital, nas do próprio ESTADO? O capitalismo só vai vender e oferecer mais bens e produtos quando há procura, pois, bens e produtos precisamos no nosso dia a dia. Até o Miranda precisa de um computador bom para escrever suas ideias, interagir dentro das redes sociais, ou seja, quanto mais oferta mais demandas para vender e um melhor preço. O grande problema é o ESTADO e sua regularização com tudo, pois, isso tem que vir com a conscientização social e não, na canetada.

“2O progresso só é possível a partir da liberdade empreendedora que distribui riqueza gerando emprego, conforto e crescimento econômico; ”

Sim, não entendo o que isso tem de tão “opressor”, que que é o básico de uma economia prospera. O sistema liberal não é o “monstro” que pintam a esquerda trotskista, o que há é uma distorção do liberalismo clássico que dá margem a esse tipo de aberrações conceituais.  Liberalismo não é sinônimo de conservadorismo, mas é sinônimo de liberdade da pessoa fazer o que quiser e o que desejar para seu próprio sustento e os seus, não tendo de pagar impostos, não tendo de pagar para sindicato e não tendo que dar aquilo que por si já é um direito natural.

 “4Política e economia são coisas distintas e não fazem parte da mesma estrutura. A economia deve ser livre e a política deve existir apenas para garantir essa liberdade, portanto o Estado deve ser o mínimo possível para garantir que as pessoas livres possam negociar e se relacionar entre si sem nenhum tipo de coerção, privilégios ou dificuldades. ”

Política, na sua definição moderna (porque política vem do grego politikon que eram cidadão livres que cuidavam das polis), é a arte ou o ato de governar a nação ou as províncias dessa nação (que aqui no Brasil chamamos de Estado). Para se governar tem que saber ver não só o ponto, mas o problema como um todo e esse todo tem muito a ver com a economia e toda a infraestrutura que precisa essa nação (os básicos são: educação, saúde, melhoramento de vida, infraestruturas como estradas, hidroelétricas, moradia, esgoto e etc). O Miranda e alguns libertários confundem o libertarianismo com o liberalismo e até, indo um pouco mais longe, o neoliberalismo. Isso que está no ponto é um neoliberalismo que defende o ESTADO mínimo, ou seja, o ESTADO só haveria o executivo para governar e ajustar as leis, portanto, não havendo nenhuma empresa (alguns defendem só o banco central, mas a grande maioria, privatizar tudo). O libertarianismo não defende que a política é distinta da economia – porque só um “Zezinho” pode defender que a política é distinta da economia – mas a extinção no ESTADO (a política institucionalizada) para ter uma autonomia melhor dentro da economia que não difere do anarquismo (por isso, Rothbard vai chamar de anarcocapitalismo). A grosso modo, tudo que for econômico vai passar a ser livre, vai haver mais concorrência, vai haver melhor preço e você vai poder escolher melhor onde quer trabalhar. Na essência, tanto no anarquismo como no libertarianismo, os jures são realmente populares que não prendem ou mata – dependendo do crime, claro – mas pode isolar ou banir o infrator da comunidade. Como disse, salário não é renda, não haverá impostos e nada repreensivo.

O próximo parágrafo vou dividir em dois:

“1 - Não cabe na cabeça dos libertários atuais, anarcocapitalistas ou congêneres, que as estruturas sociais a que nos submetemos já estão a serviço de um sistema cuja lógica privilegia e direciona a liberdade de uns enquanto coage e determina a realidade opressiva de outros. ”

 Cabe sim e é a razão dos libertários existirem, porque é a base da contestação de um libertário e um anarquista. Acontece que existem e sempre vai existir, aqueles que vão colocar conceitos pessoais dentro da ideologia em si mesmo e não vai seguir a regra. Eu particularmente, não acho a virtude do egoísmo, como muitos adoram apoiar que é uma teoria da Ayan Rand, tão libertário assim. Mas ter a liberdade de escolha e ter o direito natural de propriedade do seu próprio corpo, ter a propriedade da sua casa, ter a propriedade dos seus bens e ter o pleno direito a defesa (que é negado dentro do ESTADO), pois, preservara o bem primordial, seu corpo.

“2 - Não fazem a menor ideia do quanto o sistema retira toda razão de fins, todo pensamento sobre o que queremos no futuro e nos transforma em seres isolados que tem no outro apenas um meio para sua prosperidade pessoal; subsumidos pela razão de meios, instrumental, calculante. ”

Então, o sistema não retira nada, mas o que está por trás do sistema que é o ESTADO. Por que isso? Imagine uma ilha onde os governantes gostaram de ser governantes e não querem mais sair do poder, esses governantes começam a criar ideologias para separar o povo, religiões, começam a dizer para os agricultores e outros produtores, que se querem produzir mais e contratar trabalhadores, vão ter que pagar tributos. Esses tributos são para garantir a segurança, mas os produtores dizem para quê. Os governantes criam maneiras de dizer que sem aquilo a pessoa não vive, que ele deve fazer de tudo para ter aquilo e quem não pode, começa a roubar, começa a criar narcótico para colocar prazer onde não tem prazer e os produtores não querem ser roubados, querem que sua família sejam protegidas e os governantes criam a polícia, criam defesa da ilha, pois, a outra ilha pode atacar aquela ilha e os mesmos governantes jogam ameaças na outra ilha e dizem que foi lá que veio, que justifica o exército.

Agora imagine a mesma ilha sem esses governantes, cada um escolhe onde quer atuar, não há nada que impeça que o indivíduo abra seu próprio negócio, não há nada que impeça que o indivíduo escolha se quer uma família ou quer apenas um companheiro (no caso dos homossexuais). Não há nada que impeça até de você acreditar em Deus ou não, de ter guerras, porque a guerra pararia a produção e são muito caras e essa é a essência, se todos cuidarem da sua parte, não haverá nada a se preocupar e nem roubar, não haverá nada a não trabalhar para o indivíduo. Essa é a visão verdadeira do anarquismo e o anarcocapitalismo, quem prega o egoísmo me parece que não entende muito de antipatia e simpatia e iria perder muito num sistema desses.

“A Liberdade, por definição, é algo que não se pode conceber pela metade ou em partes. Ou ela é plena ou não é Liberdade. Se em alguma situação alguém é mais livre que outro, então ali, naquela situação, não há liberdade. Parece ser algo simples, mas não é. Os neo-libertários parecem acreditar que a busca de liberdade é algo pessoal, individual, mesmo que sua conquista signifique submeter o outro para ser exercida. Há um contrassenso nisso, sem dúvida. Mas quando esse contrassenso é coletivizado como anda acontecendo, cria-se uma situação esquizofrênica na sociedade. É o que estamos assistindo. ”

Nisso eu concordo com o Miranda e é uma das minhas divergências dentro do que se chama libertarianismo de hoje, pois, muito me agrada a teoria de Murray Rothbard que o libertarianismo na verdade é um anarcocapitalismo. Ou somos libertados por completo e não temos amarras nem mesmo conservadoras, ou se respeita o PNA (Pacto de Não Agressão), ou não tem libertarianismo e é historinha para boi dormir. Porque liberdade ou é inteira ou não é, se é pela metade então não é liberdade.  Mas por outro lado, o mesmo Rothbard, disse que o libertarianismo é uma teoria política e não moral, pois, foram feitas a partir do alicerce econômico e por economistas e arrisco dizer que o conjunto moral poderia ser feito com alicerces existencialistas da linha de Nietzsche e a educação transformaria homens em não mais ressentidos ou niilistas. Por outro lado, claro que é uma questão de evolução social que não cabe nos dias de hoje, pois, o homem é a medida das coisas que constrói até a partir das ideologias que o escraviza e o prende.

E para terminar só uma adentro, as pessoas de esquerda adoram coisas que igualam, mas só enxergam também num sistema econômico e não no sistema moral. As pessoas são iguais? Sendo a humanidade anarquista não seriamos muito mais igualitários? Um ponto para a reflexão.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo. 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

A verdadeira espiritualidade







«A palavra 'Cristianismo' é um equívoco - no fundo existiu somente um único cristão e esse morreu na cruz. O 'Evangelho' morreu na cruz. » [Nietzsche, O Anticristo, § 39. °]

Nunca fui uma pessoa que não acreditasse em uma divindade, mas não tenho uma crença cega. Ao meu ver, inventaram uma doutrina em cima dos ensinamentos de Jesus e inventaram sua própria metafisica, que aliás, não era a mínima metafisica que Aristóteles projetou para si mesmo, uma metafisica para o consolo daqueles que eram ressentidos com sua vida. Na verdade, Roma dominou o mundo mais uma vez com sua própria metafisica cínica, não de Diógenes (o cínico) ou seu mestre Antístenes que era discípulo de Sócrates, mas o cinismo de pessoas cultas que deixaram uma doutrina seria e espiritualizada em mero escarnio estoico daquilo que foi o judaísmo messiânico. Como disse o filósofo Nietzsche, o único cristão morreu na cruz porque ninguém quis seguir sua doutrina verdadeiramente, mas colocaram sua própria e quando colocaram sua própria, a divinização e toda a espiritualidade ali contida, foi quebrada no mesmo modo que dizem Adão fez comendo o fruto do pecado (só essa parte do Gênesis daria um capítulo de um livro inteiro). Mas os fatos estão aí: deturbaram a espiritualidade jesuítica para garantir sua própria soberania junto aos povos ressentidos contra Roma, que sem eles perceberem, dominaram eles sem armas e sem morte, mas apenas, a morte espiritual.

O que a cantora gospel Ana Paula Valadão disse não me surpreende, porque a própria psicologia tem dito que criticamos aquilo que somos, criticamos aquilo que nos incomoda. Posso, sem medo de errar por ser publicitário, dizer que esse boicote ao comercial da C&A é dar poder aonde não se tem nenhum poder, pois, quem é homossexual não foi influenciado por nada e sim, nasceu com isso dentro de si mesmo. Primeiro vamos ao comercial: pessoas correndo nuas num campo (ao que parece, são casais) e mulheres vestem roupas de homem e homens vestem roupas de mulheres e correm ao que é um abismo, lá em baixo está roupas como se fossem estandartes (bandeiras de guerra). Na verdade, se fomos interpretar a fundo, quer dizer que somos iguais e não são roupas que nos define, lá em baixo do abismo (quando olhamos de cima) estão os estandartes de guerra que são da guerra de gêneros. E ao meu ver, não ataca a família tradicional (com os amantes e tudo), isso apenas questiona a imposição social do que é para a menina e o que é para menino e nada vai abalar nada, só é uma outra maneira de enxergar o que é habitual e não o que realmente é. Vários cantores de rock tem uma postura desse porte e são muito bem casados, como o vocalista do Twistter Sister que começou vestindo as roupas da namorada que acabou sendo sua esposa. Essas pessoas questionaram o posicionamento do macho-alfa que manda, que as vezes, abusa da sua autoridade para bater na mulher ou nos filhos. As pessoas têm que se sentir homens e mulheres para si mesmo, tem que se tornar homens e mulheres para si mesmo e não porque a sociedade quer ou exige, pois, cada um faça da sua vida o que quiser e o caminho da salvação, não é por essas falácias que vamos trilhar o caminho verdadeiro.

Como disse no começo do texto, colocaram dentro da doutrina de Jesus uma metafisica que não existe e muito pior, colocaram a mesma moral judaica que ele repudiava. Jesus mesmo disse que o que sai da boca no homem é muito mais prejudicial, do que o que entra da boca do homem mencionando a lei judaica de comer porcos e que não faz o menor sentido. O que o espiritualismo tem a ver com o que você come? O que Deus tem a ver é com o que você age para seu próprio crescimento e seu caminho até o cume da evolução – que para nós é um mistério – porque é muito mais do que essas resoluções morais meramente humanas. Poderíamos chegar a cantora e perguntar: quem é a pessoa que se encontra encarnada em uma cantora gospel? Ora, ela poderia responder ser uma mulher que é cristã e louva a Deus. Primeiro temos que definir o que é cristão para depois definir o que é louvar a Deus (aliás, não gosto muito do termo Deus por ser usado muito aleatoriamente).

O termo cristão é derivado do termo Cristo que tem uma longa tradição de significado, que ao longo da história do cristianismo, foi se adaptando ao que está escrito dentro do evangelho (mais precisamente, no novo testamento). Na verdade, o nome Jesus Cristo não é o verdadeiro nome de Jesus e sim, um título que deram ao mestre igual ao que deram ao príncipe Gautama chamando ele de Buda (o iluminado). Cristo vem do latim “christus” que por sua vez deriva do termo grego “khristós”, mas segundo diz a tradição, os evangelhos foram escritos em grego e assim, o termo “khristós” quer dizer o “ungido”. E o termo “ungido” deriva do hebraico “mashiach” que quer dizer “messias” e assim sendo, esse termo Cristo acaba sendo “Messias” ou se preferir, Jesus o messias. Na verdade, todo esse significado foi (como disse lá em cima), uma romanização daquilo que era um judaísmo messiânico, ou seja, havia um judaísmo tradicional mosaico que seguia todas as designações de Moisés e existia um judaísmo que seguia os desígnios de Jesus (Yeshua) que por ele ser chamado de “o ungido” ou “o messias” ficou messiânico. Só quando Roma começa a se cristianizar, começa a criar sua própria teologia e metafisica (que muitas vezes, não existiu dentro dos evangelhos), se começa a se chama Jesus Cristo. Na realidade, seus discípulos o chamavam de rabi (mestre) e na época, não existia o nome. Então, mesmo se você for protestante, você usa uma designação teológica de Roma, pois, ser cristão não é a pura essência dos ensinamentos de Jesus e sim, uma metafisica teológica construída para o convencimento da maioria que eram pessoas humildes que tinham um ressentimento de viver na pobreza, viver na miséria e não tinha explicação nenhuma o porquê dessa miséria. Muitas vezes, esse convencimento era forçado e tinham obrigatoriamente que acreditar na igreja e não nos seus próprios questionamentos. Se alguém perguntasse: se Deus é bom, por que nasci assim tão pobre? Um padre poderia responder que era designo de Deus e que a sua alma iria ser salva.

Mas havia um porem: como poderíamos ser salvos se somos eternos pecadores? Lembrando sempre que ser pecador é estar em falta com Deus em atos ou pensamentos, se você pensar em coisas luxuosas eram coisas pecaminosas, se fizesse coisas que iriam contra os desígnios do divino, iriam todos queimar no inferno (na verdade esse inimigo teve que ser construído para melhor construir uma contrapartida da salvação e para explicar o mal). Até hoje se você quiser ser salvo você tem que ir à igreja (do grego ekklesias que quer dizer comunidade), e louvar a Deus para ser salvo e você se redimir dos seus pecados. Se a criança nasceu naquele momento em que ela pecou? Vão dizer que é herança de Adão, mas se fomos ir além, Jesus anula todo pecado do mundo morrendo por todos. Não é assim que diz a teologia? Então por que a criança, eu, os outros seres humanos, tem pecado ainda? Porque temos que ainda louvar o nome de Deus para ele nos perdoar e isso só pode ser feito numa igreja e diante um sacerdote, com uma pregação e todo um ritual, que só faz ser um ritual para religar nós a Deus. Mas por que devo louvar a Deus, se Deus é o próprio louvor? Sim, se fomos analisar na essência, o termo “louvar” tem o significado de glorificar, elevar, enaltecer, pois, enaltecemos o nome de Deus nas alturas. Mas Deus já é a glorificação da criação, aliás, o termo “Deus” nem pode explicar a natureza de uma consciência além do tempo, além da realidade e a matéria, pois, não podemos dizer “quem é Deus”, porque Deus não pode ter personalidade, nem dizer “o que é Deus”, porque Deus não pode ser um objeto. O “louvor”, nesse especifico caso, seria um termo vazio, porque você não pode enaltecer aquilo que já é enaltecido.

Assim sendo, muitas pessoas nem sabem o que estão dizendo, porque não questionam ou não põem a prova o que o ritual religioso está dizendo ou pregando, apenas repetem. Assim, indo um pouco além, o que Jesus disse dessa moral toda? Por que tanto dizem os cristãos que são a favor da família tradicional? Há uma frase interessante de Nietzsche (que era de uma família de pastores e estudou muito o evangelho) disse no seu livro Além do Bem e do Mal: “Jesus disse aos seus judeus: <<A Lei era para os servos – amai a Deus como eu o amo, na condição de seu filho! Que importa a nós, filhos de Deus, a moral! >>”. Claro que Jesus não disse isso, é uma interpretação do filósofo, mas uma interpretação de muitos ensinamentos de Jesus que dizia para deixarmos tudo e seguirmos ele, não largar os objetos, e sim, largar conceitos. Em outro vídeo a mesma cantora gospel diz que é a favor da família tradicional (que os cristãos medievais construíram para a procriação de trabalhadores no feudo), mas resta saber qual o conceito de família estamos falando, onde na maioria das vezes, o homem tem várias amantes, bate na mulher, judia dos filhos, arregaça toda a estrutura psicológica dos próprios filhos e diz ser devoto de Jesus. O que Jesus diria a isso? Em uma passagem clássica dentro do evangelho, mais precisamente em Mateus: “Enquanto, Jesus estava pregando à grande multidão, do lado de fora, sua mãe e seus irmãos procuravam falar com Ele. Então alguém o avisou: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e desejam falar-te”. Jesus, entretanto, respondeu ao que lhe trouxera a informação: “Quem é minha mãe e quem são os meus irmãos? ” E, estendendo a mão na direção dos discípulos, afirmou: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. ”. A resposta de Jesus é clara, pois, a vontade do “pai” (em aramaico ábba) que está no céu é o amor e a união. Quem arrebenta a família, quem discrimina as outras religiões, quem discrimina o outro que é diferente, está pregando realmente o amor? Em nenhum momento Jesus ensinou moral nenhuma, ele ensinou um caminho para a verdadeira espiritualidade, uma verdadeira essência daquilo que realmente o ser humano pode descobrir em si mesmo.

Eu não acredito em morais de idealismo que possam regular o ser humano e sua sociedade, pois, temos que aceitar o mundo como ele é, aceitar as pessoas como elas são e não é um comercial de roupas que vai mudar a cabeça de um jovem heterossexual, não vai ser um ensinamento que vai mudar seu conceito, mas sim, sempre melhorar o que temos de bom em nós: o amor a verdadeira realidade.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escrito e filósofo. 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Direitos Humanos para quem? (Dizeres sobre a SNPD e a pasta dos Direitos Humanos)






Quando Kant escreveu sobre a dignidade humana, o fez com a moral que é atribuída por ele mesmo, ou seja, pela moral protestante. Alguns vão se espernear por ainda acharem que a filosofia transforma as pessoas céticas ao ponto de serem ateias – no sentido de não acreditarem em alguma divindade – mas o fato dele (Kant) de fato ter atribuído a isso a moral cristã protestante, não vai invalidar seu trabalho. O que acontece é que existem sutis diferenças entre os protestantes brasileiros e os protestantes de fora que fizeram da religião algo confuso – embora goste do Pr Caio Fabio em muitas coisas que diz, não concordo que os evangélicos são a parte do protestantismo que todos nós sabemos, que esse termo foi cunhado graças a bíblia de baixo do braço e a pregação do evangelho – pois, lá fora se segue muito a doutrina luterana e a calvinista e sua moral profunda e Kant, por ir todo domingo de manhã a igreja, herdou essa moral protestante.

A grosso modo podemos dizer que a dignidade humana só pode acontecer quando ela não é atribuída de valor (valor monetário mesmo), pois, se você é pago para matar uma pessoa ou matou para pegar algo que não é seu, privou o outro a vida e moralmente, você violou a primeira dignidade que a pessoa pode ter em direito: a vida. Os protestantes acham que devemos seguir o ESTADO porque estamos sujeitos as regras sociais atribuída a ele, ou seja, as regras sociais são para serem seguidas e se existe o ESTADO é porque Deus determinou que ocorresse. Crenças a parte, Kant colocou a questão moral numa forma universalizada ao ponto de repensarmos certos aspectos dentro de vários assuntos, que na época não eram pensados e que hoje são graças a essa parte da filosofia. Isso ganhou muito mais força quando acabou a segunda grande guerra – que se fomos calcular entre a primeira e a segunda foram apenas uns 21 anos – onde o nazismo matou milhões de pessoas por um ideal que era fruto de uma grande distorção do darwinismo chamado de darwinismo social. Graças a essa crença, muitos deficientes mentais e deficientes físicos sofreram eugenia ou esterilização, por causa que se acreditava que eram deficiências que passavam de pais para filhos. Algumas deficiências realmente têm traços genéticos de genes retrativos, ou seja, esses genes sofreram modificações do passado remoto ou não (ainda nossa tecnologia não é avançada o bastante para isso) que por razões de combinações vão ativar a deficiência. Mas isso não quer dizer que duas pessoas podem ter filhos com a mesma deficiência, pois, a ciência trabalha com probabilidade e não com certezas absolutas, portanto, acabam sendo só apenas crenças.

Sendo assim, somos os únicos animais que temos uma moral no sentido muito restrito dentro do termo, pois, é relativo aos costumes que estamos inseridos dentro dos valores que recebemos dentro desses valores. Mas para Kant a moral passa por dois ramos a crenças e os desejos que levam a ação, ou seja, se uma dessas duas sentenças estão acima do que a razão manda, então, estamos nos opondo ao que chamamos de racionalidade onde a moral passa. Voltamos ao exemplo do matar, se matamos para roubar moralmente estamos tirando uma vida por um objeto que não é nosso (que Kant ira dizer que são maus fins e que até a felicidade, muitas vezes, também usa disso), e segundo a lei moral, deve ser punido com rigor segundo a regra estabelecida. Mas qual regra deveríamos seguir para uma pessoa que matou por um objeto? Vários argumentos podem ser usados como: se matei uma pessoa por um tênis, por exemplo, é que puseram em minha cabeça que aquele tênis trará para mim a felicidade. Mas privei de uma pessoa inocente do direito de ter sua vida, conquistar seus sonhos, ter uma vida tranquila e uma família (quando não tem filho e está indo ou voltando do trabalho), porque acreditei que aquilo era o objeto que traria minha felicidade, um publicitário ficaria feliz por esse poder, mas não é tão simples assim. Isso queiram ou não, tem a ver com valores aprendidos dentro dos traços onde vive, a educação que se formou (mesmo que não teve nenhuma, como ter um pai bêbado e uma mãe ausente), e até mesmo, tem um traço objetivo da cultura inserida na sua própria moral. Assim podemos perguntar: se a justiça deve ser igual para todos, por que um nazista deve ser punido com o enforcamento e um serial killer, não? A total psicopatia é a mesma, só mudou o modo de executar o tal extermínio. O mesmo poderíamos dizer que é um político corromper SUS, pois, ele estará matando no mesmo modo que os nazistas ou um serial killer, que muitas vezes, a corrupção pode ser psicopatia.

A grosso modo, podemos afirmar que ser um humano não basta ser um ser racional, pois, em várias raças de primatas existem traços rudimentares de racionalidade pelo instinto, mas só a raça humana tem a consciência. Consciência é o que nos difere do chipanzé, pois, o chipanzé tem apenas uma noção daquilo que quer pegar pelo instinto e o ser humano percebe a importância do objeto e percebe a sua vontade de pegar ou não aquele objeto. A consciência é o fenômeno de se alcançar certos objetos e objetivos analisando seus fins por nós mesmos, ou seja, a partir de nós a realidade além da nossa própria realidade. A moral tem um papel muito importante dentro da consciência e deve ser analisada como tal, dentro da crença (todo ser humano tem uma) e todo desejo que tenhamos. Não há razão nenhuma de acreditarmos que a moral é um instrumento para a avaliação, mas um meio para medir uma ação enquanto ação por ela mesma. O que mata não é a vontade da arma segundo sua moral, mas quem a usa que tem a moral (razão + crença + desejo=ação) e os valores que usa para cometer a ação em si mesma.

Definirmos o que é consciência e passamos a ver que animais tem certa consciência, mas não tem razão. A nível de exemplo, podemos pegar um chipanzé – que é primo biológico do homem – se ele come uma banana é porque os nutrientes da banana fazem ele ter energia para reproduzir, correr e fazer tudo que ele faz, há uma necessidade. O ser humano não, ele sempre vai achar um motivo para querer a banana, porque ele tem o desejo de que aquilo lhe trará prazer (como algo que gosta), acredita que aquilo é gostoso (no sentido de já ter experimentado ou alguém experimentar) e a razão de comer a banana (que é a mesma do chipanzé, mas nós sabemos o que trará a banana). Se alguém acha que aquilo trará prazer e felicidade, como um tênis, vai querer um tênis e vai fazer de tudo para ter esse tênis. Existem o caminho de fazer o bem e o justo (assim acreditava Kant), que trabalhando e vendendo o fruto do seu trabalho você terá quantos tênis você quiser, mas existe outro caminho que é o caminho mau, o caminho de roubar de alguém o tênis e até matando o outro. Se pode também vender entorpecentes ilícitos (drogas), que é uma forma de matar o outro passivamente, entre outras maneiras, até se prostituir (que é uma forma de dar um valor a si mesmo vendendo o seu corpo em troca de um bem, que no caso, o dinheiro) que é uma forma de violência. Mesmo eu sendo um libertário (que tanto chamam de anarcocapitalista), existe regras claras dentro da sociedade que devem ser mantidas (que mesmo em um regime anarquista, devem ser seguidas para a harmonia social).

Primeiramente, existem normas sociais que definem a moral muito mais do que regras do senso comum, como não matar. Já na Mesopotâmia, que começa o ESTADO em si mesmo, já havia um código que os cidadãos deveriam seguir conforme foram escritos que hoje são chamados de Código de Hamurabi (referente ao 18º rei) que está no museu do Louvre. Talvez, muito provável que sim, Moises estudou esses códigos e se não estudou, os códigos de leis do Egito eram inspirados nesse condigo mesopotâmio (que para mim, não exclui de forma nenhuma o lado espiritual desses códigos que são reflexo da evolução moral de cada etnia). O que acontece é que todo código de lei dentro de uma comunidade é um código para manter a paz e a harmonia – assim dizem as pessoas e os teóricos – para melhor viver e conviver um ao outro. Quando nós, seres humanos, estávamos nas cavernas, matávamos bebes para manter os clãs e não ter muitos indivíduos (por causa das condições e a comida escassa). Já na Grécia antiga ou no império de Roma, se matava só os bebes imperfeitos, fracos e de pouca serventia para a comunidade. Já em Roma era uma escolha como direito “pather”, nas polis gregas, isso dependia muito das leis de cada cidade-estado. A título de exemplo, na cidade-estado de Esparta as crianças eram jogadas em um abismo se fosse deficiente, fraca ou com qualquer outro defeito físico, por motivos militares. Dentro da doutrina judaico-cristã mais precisamente em Levítico 21; 18-21:  “Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada, ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado. Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor; defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus. ”, que mostra que nenhuma dessas pessoas não poderá nem ser sacerdote, nem prestar as devidas prestações de contas “espirituais” a Deus. Ora, para esses povos (talvez, para dar um refúgio moral que não havia na pré-história humana), a deficiência era um castigo divino e em algumas comunidades, hindus, indígenas, entre outras, eram tidos como pressagio ruim.

Para provar que essa visão não mudou muito, só voltarmos no tempo dos nazistas e analisar o que faziam com as pessoas com deficiência. A eugenia norte-americana que era uma distorção das teorias darwinistas, as muitas pessoas com deficiência que não podem nem mesmo serem padres, não podem adorar a Deus por sermos impuros. Qual política inclusiva deu certo dentro da humanidade até hoje? Até hoje não houve avanços dentro da educação, dentro da reabilitação e saúde, dentro do transporte, dentro da acessibilidade e tinha a secretaria das pessoas com deficiência que deveriam cuidar desses assuntos. Porque a inclusão, seja lá o motivo que for, é motivada por razões morais e não clinicas e essas razões morais fazem de nós seres mais ou menos, seres em evolução. Qual a razão de se inclui? Razão de sermos seres humanos. O que acreditamos que seria a inclusão? Acreditamos que a inclusão é um meio de reconhecimento dessa humanidade que está em nós. Qual o desejo de se incluir dentro de uma sociedade? O desejo de sermos vistos como seres humanos, membros sociais, membros de um seguimento que nunca foi reconhecido como tal. Isso se chama consciência e essa consciência nos fazem seres humanos.

Ser um humano é reconhecer no outro um membro social, reconhecer no outro um ser da nossa própria espécie. Isso se chama ser consciente e ser consciente é estar dentro do ambiente social e fazer desse ambiente social uma maneira de convivência única, justa, que faça do ser humano um ser que se importa com o outro. Um macaco não se coloca no lugar do outro, mesmo que ele seja solidário em alguns momentos, mas só o ser humano pode sentir o que o outro sente, a dor da perca de um ente querido. Sem dúvida que há sentimentos entre os animais, mas o ser humano tem a consciência do afeto que está sentido pelo outro. Então, podemos afirmar que o ser humano diferencia de todos os animais em matéria do outro, mas é o único que pode fazer atrocidades tendo consciência dessas atrocidades. Mesmo dentro da psicopatia, ramo muito interessante para entender vários aspectos do ser humano ilógico e tem a ver até na corrupção, há uma consciência dentro do seu ato e sabe muito bem o que vai e o que está ou que estará fazendo. Kant acreditava, como os iluministas, que a razão era o “divisor das aguas” entre a minoridade que fariam diferença da maneira que fazemos essas escolhas, e também, herdou o pensamento de Rousseau que o ser humano é influenciado pelo meio onde vive e que a natureza o homem era bom. Em parte, tudo isso é verdade, a razão nos faz seres que temos um diferencial, mas não é pela razão somente que nos faz seres humanos. A razão nos faz seres que escolhemos o que achamos ser certo, porque ela nos faz analisar aquilo é ou não é justo e vai ou não afetar o outro.

Não que o meio possa não influenciar a razão humana e não que a razão possa melhorar o ser humano, mas existem coisas muito além da razão e a sociedade humana. Tribos indígenas também faziam guerras, pesquisas arqueológicas dizem que o ser humano tinha conflitos antes mesmo de se inventar as cidades (sociedades rurais). Pode-se provar que a visão de bondade e maldade depende muito da visão subjetiva de cada um (que podemos chamar de moral), pois, em Esparta, por exemplo, matar uma criança deficiente era a coisa certa a se fazer e hoje, se alguém ou algum governo fizer isso, será condenado por atrocidade. Por isso, quando um nazista foi levado a julgamento, não foi por causa de uma simples retaliação de ter matado pessoas inocentes, eles mataram milhões de seres humanos numa guerra e inocentes também. Eles mataram o que era ter o direito de ser um humano e viver nas condições que esse ser humano poderia viver, seja lá o que acredita e as condições físicas que nasceram, ou as condições que escolheram, é um direito básico. Como eles próprios que escolheram seguir Hitler e seu partido, escolheram seguir seus ideais e nada tem a ver com influência, tem a ver com escolhas e o próprio Sartre disse que somos condenados a sermos livres por essas escolhas. Um menino que escolhe roubar não é influenciado e sim, faz uma escolha dentro daquilo que te faz pensar o que é a felicidade, que o ESTADO diz que ele é livre para acreditar nisso. Mas ele pegou algo que o outro que trabalhou comprou, ele pegou do outro algo que não lhe pertence, uma propriedade que não é a sua propriedade e sim, do outro. Pode ser um narcotraficante, pode ser um assassino, pode ser um ladrão, ele não quer conviver em uma sociedade, ele quer subir pelo modo mais fácil, um modo mais preguiçoso. Mas não tem paz nenhuma, sempre acha que está sendo perseguido por aquilo que fez, não pensou antes de fazer, não teve a consciência porque estava querendo fazer o que achava ser certo, mas não era. No anarquismo, que os libertários também defendem, existe o PNA (Pacto de Não Violência) que é um pacto social que mantem ordem e harmonia dentro de uma sociedade sem a coerção pela violência. Se um sujeito matou, isola ele na sociedade, expulsa ele do convívio social por ele ter privado do direito natural da vida.

Se alguém violou um outro ser humano, atentou contra seu corpo, no anarquismo e os libertários, o corpo é uma propriedade privada que tem a ver com as regras que determinam a minha escolha. Mesmo que for permitido que o sujeito cometa o suicídio, não há razão nenhuma para cometer isso porque não há razão para se sentir preso em um problema, não existira motivos maiores. Não existe contas a pagar, não existe regras a seguir, não existe nada que possamos chamar de motivos maiores. Só a título de exemplo, uma pessoa com deficiência dentro de um anarquismo ou libertarianismo, poderia abrir seu negócio e ganhar a vida como outro qualquer; receber ajuda voluntaria, receber transporte voluntário, pagar por isso como outra pessoa qualquer. Por que? Porque não haverá restrição do ESTADO diante da vontade humana, porque o ESTADO exclui e ao mesmo tempo, cria pastas (entenda-se secretarias) para incluir o que ele mesmo exclui diante do discurso de igualdade e desigualdade. São meras artimanhas políticas para dizer que estão fazendo, que estão tendo alguma política pública para nós, pessoas com deficiência. Daí a minha pergunta (que muitos chamaram de retorica) que postei no meu Facebook dias atrás: qual secretaria funciona mesmo? Qual secretaria que cuida dos direitos das pessoas com deficiência funcionam? Nenhuma secretaria. Não estou falando de ideologias (entenda-se direita e esquerda), estou falando em poder de tomar a decisão certa e tomar medidas cabíveis contra aquilo que está denunciando. Na sua essência, o direito em ser um humano é natural, um direito básico, mas que não pode ser confundido com o direito de violentar o outro, excluir o outro e quebrar regras sociais. Assim, mesmo que o ESTADO e todo o seu cerne te convença que aquele tênis é o suprassumo da felicidade e que se você não tiver não será feliz, a escolha é sua como vai conseguir esse tênis. Ou violando um ser e roubando, ou simplesmente, no modo certo no seu direito de conseguir no modo sem violência. Toda a violência é errada, seja ela qual for.

O mesmo é com as pessoas com deficiência, não há razão de incluir porque somos, na essência, incluídos socialmente. O discurso está errado, não é incluir as pessoas deficientes dentro da sociedade, mas ter campanhas para as próprias pessoas com deficiência mostrar que podem ser consideradas seres humanos, que existem apenas limitações. Para isso não precisamos de secretarias, precisamos de ações e regras que sejam pela vontade, convencimento e muita sabedoria. Talvez, Kant concordaria comigo.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo. 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Darwin e a deficiência







Estava aqui lendo “Darwin: Retrato de um gênio” de Paul Johnson e descobri duas coisas: uma é que sou polímata (estudo várias ciências), outra coisa (que seria a segunda) é que a teoria da evolução darwinista, poderia explicar muitas coisas que os médicos e profissionais estabeleceram como verdade absoluta. Sabe aquele papo que o médico chega para sua mãe, muitas vezes para seu pai, diz que você vai depender deles por toda a vida? Isso é uma previsão – é um ato de prever, mas não poderia ser encarado como algo certo como a previsão do tempo – que o médico faz por encarar que por causa da deficiência o sujeito pode ter dificuldade para fazer tarefas cotidianas, mas não é um fato e sim, uma hipótese. Não estou defendendo esse tipo de medico, pois são devastadores para quem não conhece o que é de fato e o que é hipótese (como se tivéssemos uma escola de verdade para ensinar isso), e sim, dizendo que as pessoas querem promessas de um futuro confortável e que podem controlar dentro da sua vida, mais ou menos, sem muitas perspectivas.

Antes de entrar no mérito do meu pensamento, talvez devo explicar algumas coisas antes, quero explicar duas coisas dentro do que disse o que é fato e o que é hipótese. Fato é aquilo que é real, um conhecimento que não pode ser mudado ou alterado por coisa nenhuma e que pode trazer a uma verdade a realidade onde vivemos. A nível de exemplo, o sol vai nascer amanhã é um fato, é uma verdade inalterado até o Sol se extinguir mais ou menos, daqui 5 bilhões de anos. Mas uma caneca está em cima da mesa já não é um fato, pois a caneca pode não está em cima de uma mesa, pode estar no chão, pode estar em cima de uma cadeira, pode estar em um outro lugar. É uma verdade alterada conforme uma circunstância que levam a caneca estar em cima da mesa ou não, diferente do caso de o Sol nascer todo o dia, pois o Sol estará acima das circunstancias que levam nascer ou não.  O Sol nascer todo os dias é um fato, inalterado, preciso, já a caneca estar em cima de uma mesa é uma hipótese que vai depender das circunstancias que levam a alguma coisa ser possível ou não. O mesmo é o médico (porque acham que acima deles só Deus, principalmente, da AACD), que diz aos país que o seu filho vai depender deles pelo resto da vida, não pode ser encarada como um fato, e sim, uma hipótese. Porque não é um fato depender da família por toda a vida, isso vai depender do desenvolvimento, depender das sequelas, depender de um monte de circunstancias que vão levar ou não, a dependência da família pelo resto da vida, mas isso ficou encrustado dentro da sociedade como se não fossemos capazes de criar vínculos ou ter uma vida feliz e saudável.

Com isso podemos dizer que muitas coisas mudaram quando foram mostradas hipóteses sobre a origem dos seres vivos que por razões obvias, Charles Darwin ajudou a desenvolver e inúmeras descobertas fosseis, colaborar para comprovar a veracidade da hipótese. Porém, também colaborou com o preconceito não só racial, mas o preconceito dos seres humanos que tinham de alguma maneira, alguma deficiência. Até a década de 70, muitos países esterilizavam pessoas com deficiência mental, graças, a uma ideia distorcida da teoria darwinista do mais forte. Então vamos lá: não é o mais forte (na questão de força mesmo), que sobrevive ao ambiente, mas o mais habito dentro da adaptação dentro de um ambiente. O que é o mais apto? Se fosse pelo mais forte, por exemplo, o homem de Neandertal iria vencer por causa da sua força, mas foi a capacidade do homo sapiens (homem sábio), que melhor adaptou em todos os ambientes terráqueos (até mesmo os mais frios). Pois, mesmo que o cérebro do homem de Neandertal seja maior e com isso tenha uma capacidade maior de inteligência, o homem sapiens desenvolveu a habilidade de compreender o conhecimento, entender a sua realidade que está em volta dele e se adaptar a essa realidade. Se o homem de Neandertal podia levantar objetos pesados o sapiens poderia entender o ambiente, poderia entender da capacidade de levantar ou não o objeto e criar técnicas funcionais para levantar esse mesmo objeto. Se o homem de Neandertal enterrava seus mortos (possivelmente, com cerimonias rusticas), os sapiens criaram cerimonias sofisticadas, porque a nossa espécie é consciente e tinham a razão e a sensibilidade. Embora há antropólogos que acreditam que a sexualidade dos homens primitivos eram rusticas, o sapiens desenvolveu o afeto que fez ele até de uma maneira ou de outra, ter filhos híbridos com os neandertais.

Dentro de uma perspectiva muito mais ampla, estamos numa sociedade e não numa floresta, pois, o corpo social evoluiu e temos meios muito mais eficientes de alimentação e moradia. Claro, nem todos podem ter isso, existem pessoas que não tem o básico, mas isso não é uma questão biológica e sim, uma questão moral, pois a ciência até doenças curam, mas há uma mínima parcela que domina esses meios. Isso não tem a ver com meios ideológicos, mas é um meio que podemos ver claramente a relação de dominador e dominado dentro de uma ótica muito mais moral do que biológica. Porque se enxergarmos de uma ótica biológica, nossa espécie venceu os outros hominídeos no requisito de adaptação, na maneira de lhe dar com o mundo que evoluímos. Hoje já não se mata pessoas com deficiência – o nazismo foi milhares esterilizados e exterminados – pelo menos na maioria das vezes (na Síria com a chegada do ISIS, pessoas com deficiência são assassinadas), pois a moral nesse sentido evoluiu e não porque biologicamente somos evoluídos. Somos seres morais e isso é muito evidente quando vimos esse ponto.

 Somos seres morais porque desenvolvemos a consciência (razão/sensibilidade), que nos tirou, talvez, das cavernas por ter pelo outro afeto. As famílias foram morando nas aldeias fixas graças as técnicas de plantio, as cerimonias, os parentes moravam em volta e o clã poderia viver muito mais estabilizado e seguro. A evolução e adaptação fácil (graças ao entendimento), levou ao homem o desenvolvimento de regras e culturas para levar o mais jovem aprender aquilo que os mais velhos descobriram como o certo a se fazer. Grandes cidades – como a Grécia e o império de Roma – desenvolveram a educação (na Grécia paideia e em Roma educare) que eram técnicas de assegurar os costumes e as culturas dos seus antepassados. Em Roma as verdades contidas no “educare” eram diferentes na “paideia” grega, pois, o termo “paideia” vem de “paidós” que significava criança e “idea” que significava, ensino. No conceito atual ficou como “criação de meninos” que segundo Jeager, filólogo alemão que escreveu o livro “Paideia”, além da cultura a criança deveriam aprender o espirito grego vigente. Mas estamos falando de Atenas, a cidade democrática, mas no mundo grego, não teria chance para pessoas deficientes. Embora, há algumas evidencias (muito provavelmente, por causa dos soldados mutilados) pinturas de cadeiras de rodas rudimentares que leva a hipótese de serem ideias primitivas de algo tão novo (a primeira foi na Alemanha lá pelo século 16).

Por que fizemos toda essa viagem dentro da evolução humana e porque isso tem muito a ver com o cenário da inclusão das pessoas com deficiência? A ideia mesmo de inclusão dos deficientes é recente e não tem nenhuma base nem sociológica (estudo da sociedade) e nem filosófica (que estuda a ética e a moral) dentro do cenário, apenas, clinico que faz o debate ser muito pobre e cair novamente no erro que eu disse, ao invés de pensarmos que o ser humano venceu por adaptar ao meio, ele venceu porque o mais forte prevaleceu. Mas como podemos mudar isso num modo objetivo? Educação. As pessoas com deficiência também são humanas e se adaptam ao meio que se colocam dentro das possibilidades que tem, pois, o ser humano inventou meios de locomoção e meios para adaptar os sentidos para algo além da sua possibilidade. É diferente um macaquinho deficiente que o bando tem o instinto de deixar ali para não atrapalhar o bando, outra é um ser humano deixar uma criança com deficiência ali por atrapalhar uma sociedade (que muitas famílias ainda o fazem e que poderíamos chamar de psicopatia por razões diversas), porque temos a consciência (razão/sensibilidade) que quer proteger, quer cuidar, quer arranjar uma maneira de reverter por sermos ainda animais que criamos morais para melhor nos adaptarmos ao mundo. Se na Grécia ou em Roma era permitido matar deficientes, hoje já não é mais (em alguns casos se mata psicologicamente) permitido porque evoluirmos e agregamos ao corpo social mudanças importantes. Hoje um deficiente se vive 60 anos em média, antigamente vivia menos e com muito mais limitações, mas há muitas limitações ainda culturais que veremos.

Somos, querendo ou não, herdeiros de uma educação francesa graças ao imperador Dom Pedro II e que não houve mudança quanto a isso, quando Duque de Caxias, programou um Estado republicano. Até meados dos anos 50, as escolas eram todas para a elite do país, os mais pobres deveriam ficar ignorantes para ficar mão de obra reserva dentro de um capitalismo arcaico (o Brasil sempre foi e é atrasado em um monte de coisa nesse sentido), que visava explorar pela ignorância essa parte pobre que morava nas periferias e vinham de imigrantes de fora que vieram por causa da fome europeia e claro, graças aos descendentes dos escravos negros que foram libertados e largados a própria sorte. Se um profissional não quisesse abrir mão do alto salário por causa do estudo, o empresário tinha aquela reserva para contratar até dois usando a ignorância para enganar o trabalhador e fazer ele trabalhar para cuidar da família. Diante desse cenário todo – que o comunismo e nem a socialdemocracia resolveram – a educação foi aberta para todos e essa educação foi colocada como uma educação positivista de Comte. Mas além do positivismo – muitos vão dizer que nossa educação é religiosa, mas o Brasil nunca foi totalmente religioso – o nosso país sempre colocou Rousseau como um meio para o fim dessa exploração e que levou a educação como vimos hoje. Para nossa cultura só aquilo que vemos é a verdade de fato, não temos aquilo de pesquisar, aquilo de procurar saber e buscar o conhecimento, mas só aquilo que temos e que podemos ter interessa. Para a nossa sociedade, a ciência é a resposta até mesmo para a pobreza, pois, as desigualdades são fruto de uma evolução e essa evolução não pode ser alterada. A grosso modo, se desenvolveu um pensamento político metafisico onde se tirou a teologia cristã da salvação por meio do espirito santo ou a graça, depende da conotação cristã, e substituiu pela salvação em ter e não ser. Para nós o SER não é mais importante do que TER, porque vamos sempre deixar nós de lado por causa de coisas externas que possivelmente, tragam a felicidade. Aí entra Rousseau, o homem não é feliz por causa do seu viés social e é mal por causa da sociedade que o obriga serem maus. Um menino assalta, por exemplo, não é por causa do vicio ou da índole dele duvidosa, mas a sociedade que o oprime e o obriga a fazer isso (a sociedade ama muito ser assaltada).

Lembra o que o médico diz ao nossos pais na dependência por toda a vida ou que o médico da AACD diz que fez o que pôde (até levar o dinheiro do seu pai) para melhorar seu estado? Pois bem, esse é um pensamento positivista que só por meio cientifico se pode nos melhorar, mas que a observação mostra muito mais do que nosso comportamento ou nossa opinião. Para um médico que estudou em uma USP, UNICAMP, nas UNIs da vida, as opiniões e sentimentos dentro da deficiência não valem nada. Só observar a filosofia dessa entidade que não aceita deficientes presidindo movimentos e nem conselhos de todo porte, porque ainda se tem a sequela da distorção da teoria darwinista que vê a nós como seres mais fracos e seres menos adaptados ao meio e que isso faz de nós dependentes deles. Só assistir 5 minutos do Teleton para enxergar isso, apelam para uma inclusão metafisica (num ato de publicidade muito parecido com as igrejas caça niqueis), que se você der 5 reais, eles melhoram um dedão do pé da criança, se você der 50 reais, eles melhoram o corpo das crianças e se derem 100 reais, eles te consertam todinho e te dá (assim dizem), uma cadeira de rodas nova. Acontece que eles não molharam, não fazem da sua vida mais confortável e não dará cadeira de rodas a torto a direito sem o SUS pagar, mas essa é a ideia da metafisica deles, que sem eles não há salvação. A ideia positivista que só vamos melhorar a humanidade com os meios científicos e só, só vão incluir (no caso da AACD eles só usam isso como retorica), através do melhoramento das condições da criança e a ética e a moral que se dane, que os sentimentos dela que se dane, que as promessas que não se cumpriram que se dane, pois, fizeram o melhor possível para a criança com deficiência melhorar. Mas no fundo, bem lá no fundo, o conceito que somos seres mais fracos continua e é jogado pela mídia como sendo uma verdade.

Por que será que a maioria das pessoas chegam até nós e perguntam se nós saímos sozinhos? Por que será que as pessoas ainda sentem pena ou dizem que se fossem acometidas de alguma deficiência, morreriam? Primeiro, num modo estético onde é visível a nossa limitação, e é agravada, com a inclusão metafisica da salvação (a visão da filosofia teletoniana). Pois, a maioria das pessoas com deficiência confundem inclusão com salvação, mas se olharmos bem no fundo, somos pessoas que nascemos dentro de uma sociedade. Essa ideia de exclusão é uma ideia muito esquerdista (entrando no mérito ideológico) dentro do petismo que criou um pensamento assim: “Olha, vocês são excluídos da sociedade e não tem solução além de apoiar a nossa solução, a nossa salvação e que iremos te incluir”, levando muitos a acreditar nessa promessa de incluir pessoas que já são incluídas e só faltam gritar e se impor dentro da sociedade. Mas antes de tudo, o preconceito é algo moral e não tem nenhuma base ideológica social, porque não é a sociedade que excluir, mas as próprias pessoas com deficiência que não se vê como tal. Claro, que existem pessoas que de alguma forma, criaram uma imagem que todas as pessoas cadeirantes são paraplégicas (graças a desgraça daquela novela ridícula), que todas as pessoas surdas falam a língua de LIBRAS, que todo cego usa bengala, que todas as pessoas com paralisia cerebral têm sequelas graves e outras que se eu enumerar, vai ter um livro todinho. Mas as pessoas com deficiência, criaram umas prioridades que não fazem ela enxergar que são deficientes e ponto, usamos cadeira de rodas com orgulho ou não, mas usamos e ponto. São o que chamávamos na FCD (não sei se chamam ainda) de “mimadinhos”.

Segundo lugar, há enraizado no modo muito restrito na nossa cultura (em parte da linha aristotélica da igreja romana), que a felicidade está na perfeição, como se a perfeição fosse uma coisa que existe. Já viram arvores perfeitas em sinal de igualdade? Não existe felicidade inata, não existe perfeição inata, não existe uma igualdade inata (que para mim, o importante é o respeito), o que existe são seres que vivem socialmente, que tentam conviver com as diferenças e evoluíram por criar instrumentos para superar as dificuldades. Estou aqui em cima de uma cadeira de rodas criada para locomovemos, escrevendo num notebook um texto para um blog na internet, pessoas no mundo inteiro podem ler minhas opiniões graças a evolução tecnológica de superação de uma dificuldade. Mas moralmente, não tivemos tantos progressos, pois, ainda confundimos justiça com barbárie, confundimos igualdade com melhoramento, confundimos isolamento com proteção. Afinal, porque aquele cadeirante (o termo é errado, mas é prático) está ali atrapalhando minhas compras, meu almoço de família, se existem as “AACDs” da vida que podem cuidar desse “coitado”? Por que ele está no meio do “meu” culto que quero louvar a Deus em paz e ele fica aí no meio? Entenderam, caro leitor, que a discussão da inclusão deve ser discutida com um pensamento orgânico (que se sente na carne mesmo) e não com um pensamento de pessoas que só tem o estudo e não a pratica?

Essa ideia distorcida e levada ao extremo não é uma coisa só do Brasil, com a falta de uma discussão com pessoas que vivem isso, aparecem pessoas como o biólogo Richard Dawkins e diz que ter uma criança com síndrome de down é imoral. O que devemos seguir como moral ou imoral? Como devemos nos portar diante de tantas ideias distorcidas e que levam as pessoas a terem uma posição tão ignorante com tanto estudo? Tudo isso que eu escrevi foi apenas uma amostra o quanto o pensamento darwinista foi distorcido, foi jogado num contexto muito diferente o que deveria ser, que o mais apto pode sobreviver, mas que somos todos da espécie humana.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo. 

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Sendo didático na explicação do texto “Caso ATENDE”










Vou explicar uma certa confusão que se deu no meu artigo do“Caso ATENDE” que algumas pessoas ainda não entenderam ou entenderam que eu estive apenas criticando algumas amigas que lutam na área da sexualidade. Seria muito incoerente da minha parte um libertário ser contra que as pessoas agirem e acharem o que é melhor, mesmo que esse “melhor” não seja o que a maioria da sociedade vê como importante. A questão é que se temos que lutar pela inclusão das pessoas com deficiência e nessa luta tem que haver uma certa ordem prioritária, porque quando você lê um livro não podemos começar do segundo capitulo, sem ao menos, começar na introdução e no primeiro capítulo. É importante? Talvez para certas pessoas que não se encontraram ainda no mundo, mas que não deveria ser uma grande luta, porque como disse no outro artigo, é muito do fórum pessoal e não concordo que as pessoas devam se preocupar com isso.

Outro ponto que disseram é que eu confundi e misturei as coisas, mas acho que as pessoas não me entenderam na questão. O que é melhor fazer primeiramente? Como eu sou técnico de informática (em alguma coisa me serve esses cursos), vou colocar em formas algorítmicas: podemos começar de forma da vida, temos hoje o direito de ter uma vida e usufruir da vida que é nos dada como um direito. Se isso é verdade ou não, se temos mesmo direito a essa vida ou não, ficaria numa outra discussão que não cabe aqui, porém, alguns anos atrás não estaria aqui escrevendo esse texto e sim, internado em uma das várias entidades que existiam em muitas décadas atrás. Mas com o advento do social-nacionalismo alemão (vulgo nazismo), se repensou a questão individual que poderíamos ser respeitados como seres humanos. Então, somos seres humanos e se somos seres humanos, a priori (independente da experiência), somos inclusos dentro da sociedade e somos vistos (pelo menos, na teoria) como homens e mulheres que institivamente, tem e sentem sua sexualidade. Por isso acho desnecessário, essa coisa das pessoas com deficiência irem em busca, quase de forma sistemática, da sexualidade perdida, porque a sexualidade está em você mesmo. E não só a sexualidade, porque não somos um bando de primatas querendo copular um com o outro, porque não temos só o instinto e sim, uma consciência que nos remete a uma certa prioridade entre o certo e o errado. A moral não é você ser “recatado e do lar” (que é um direito, também, de cada um), mas vai dizer se o homem pode ou não tocar em uma mulher ou vice-versa, ou se aquilo vai depender de uma certa conduta ética de respeito com o outro no sentido da vontade do outro. No mesmo modo que acho que ninguém deve ser “recatada e do lar” numa forma engessada, os outros também não tem obrigação de ser “devasso e da rua” como forma de quebrar tabu, pois, certos tabus são necessários para nos defender de certos indivíduos que devem ter “problemas”.

Depois de sermos respeitados como seres humanos e podemos viver, temos que ter um tratamento para melhorar nossa qualidade de vida. Quem nasceu com certa deficiência, vai ter esse tratamento (se a fila das entidades andar), dês de muito novinho para reverter no máximo as sequelas dessa deficiência. No caso de quem ficou paraplégico ou tetraplégico, ou alguma outra doença como o ELA, existe o tratamento que não deixa a pessoa piorar aquilo que já está ruim. Temos esse tipo de tratamento dentro das instituições públicas ou privadas? Não. Se for público, já está “falido” e ainda, existem erros e filas intermináveis que segundo constam, não podem ser agilizadas por causa da burocracia estatal que o próprio governo faz para fazemos desistir. Fora que é lei o ESTADO comprar aparelhos para pessoas com deficiência e essa lei não funciona, não temos nem o direito de ter uma cadeira de rodas decente. Mas para chegar a esse tratamento precisamos de quê mesmo? Transporte para o responsável ter como levar a pessoa com deficiência para o tratamento, daí a importância de fiscalizarmos o transporte acessível no país inteiro, pois além do tratamento de reabilitação (no qual não concordo com o termo), ainda nos levam no lazer, na escola (educação) e no trabalho (lei de cotas). Temos transporte acessível de qualidade? Não temos no sentido de ter um treinamento adequado dos condutores ou que o transporte em si mesmo tem um certo tratamento especial, temos nas coxas e ainda acham, que estão fazendo um favor.

Se somos seres humanos que temos a capacidade da vida, percebemos o mundo e temos o direito à vida, a ter um tratamento de habilitação e no caso dos paraplégicos, de reabilitação, transporte para ir nesse tratamento, por que isso não é feito? Por que ainda insistem em não priorizar primeiro a temos uma vida, liberdade para viver e desfrutar da humanidade que temos, amenizar nossa incapacidade motora ou de outros módulos com um tratamento digno e um transporte para isso?  Poderemos transar sem uma vida para desfrutar, sem um tratamento para amenizar nossa deficiência ou transporte para ir até o local? Zumbi, torto e preso não vai transar mesmo. Mas tem mais ainda, pois, o ESTADO que vocês tanto amam (se pudessem ficariam transando com ele a vida inteira), não cumprem as próprias leis que constroem e que colocam como pseudo-prioridades dentro da sua agenda (que sabemos não ser verdade).

A verdade é que não só o serviço público de habilitação e reabilitação é mais ou menos, fraco e não tem um suporte muito rigoroso. Só a título de exemplo, se pegarmos uma AACD da vida e fazer uma crítica no sentido de análise profunda, vamos constatar que mesmo todo o nome que essa entidade tem e foi construído nesses, mais ou menos, sessenta anos, não fazem jus ao tratamento que dizem fazer. Na verdade, não fazem nem 10% daquilo que mostram no programa que comove todos vocês (a mim nem um olhar triste arrancam). Primeiramente, te olham na cara e dizem que você não vai andar (não que isso não seja verdade, mas pelo que são pagos para isso e a incompetência descomunal que temos que aguentar, deveriam nos carregar no colo), depois de nos abrir todinho, depois dão uma educação mais ou menos, uma fisioterapia mais ou menos, nos colocam para trabalhar para receber em dois e em dois meses (isso tudo com nossos pais pagando), operam nossas vistas e elas voltam como eram, nem detectam uma escoliose fácil de se ver a olho nu. Compram e entregam cadeiras de rodas de má qualidade ou nem entregam (com o dinheiro do SUS), não tem Raio X, não tem ginecologista (sendo ter urologista), não tem nem ao menos respeito com seus pacientes e ainda, acham que sem eles não vivemos. Ora, claro que eu sou o chato da história e que tudo isso eu tirei dos contos de fadas da minha cabeça e a prioridade de toda pessoa com deficiência que se prese é transar. O deficiente pode estar na cama, todo torto e nem uma cadeira de rodas para usar, não faz nada na vida para ter uma cabeça boa (porque essa coisa de Cinquenta Tons de Cinza é coisa de gente carente que tem sérios problemas psíquicos), não quer saber nem ao menos de política e das leis que tem direito, mas transar ele não abre mão. Mas nós temos que aguentar transporte de quinta, médicos de quinta categoria, uma cidade porcaria sem nenhuma calçada acessível, pessoas na cama com dor porque as entidades do naipe de uma AACD têm muito papo e pouca ação e as pessoas preocupadas com exposições eróticas (que nem sabem de onde vem o termo), querem saber das paraolimpíadas e numa porcaria de guerra política que eu não vejo diferença nenhuma entre esquerda e direita. Calma que não acabou.

Se temos o direito de nascer, se temos o direito de ter um tratamento de saúde, de habilitação e reabilitação e transporte para isso, transporte de qualidade, temos direito a educação. Educação é um direito básico de todo ser humano – pelo menos assim diz a ONU – onde a criança tem o direito de ser inserida dentro da sociedade e conhecer a cultura da comunidade e seus ancestrais ensinaram ao longo dos séculos. Se pensamos muito intimamente, sem ideologias inúteis e religiões que nada acrescentaram o ocidente, toda cultura que temos vem da necessidade de criar aprendizados para melhor vivemos dentro dessa mesma sociedade. Ora, se temos o direito de sermos vistos como seres humanos (nosso DNA é 100% humano, garanto), por que raios não podemos estudar em uma escola regular com as outras crianças? Porque sem a educação – porque acharam que deveríamos ter cotas para trabalhar e não para estudar, isso remete a incompetência de alguns movimentos – não teremos como ser aptos aos trabalhos e a lei de cotas, será inútil. Porém, quem não quer seu filho educado? Quem não ser conhecer e participar do momento histórico? Mas num país que um Museu da Inclusão só abre de semana, num país que acha que pessoas com deficiência é boa para receber benefício, ser no máximo telemarketing, ser palhaço de circo ou algo desse gênero, pensa que não queremos estudar e não temos que estudar, porque se escrevem tantas bobagens nas redes sociais, devem estar felizes. Rirem da condição mais deprimente que se encontram, então, dane-se se ganham essa miséria. É a decadência de um sujeito que pensa, somos decadentes ao ponto de ser otimista por causa de coisas que não temos, coisas que não vamos lutar, coisas que não priorizamos. Ali no chão pisaram num deficiente, limpe os sapatos.

Temos o direito à vida, direito a saúde, direito a transporte, direito de ir e vir, direito a educação, agora, temos o direito ao trabalho digno. Já que nascemos, já que aguentamos inúmeras operações e fisioterapias, já que estudamos e aguentamos professores reclamando de salário e que não sabem lhe dar conosco, nada melhor que, ter o direito de trabalhar e ter seu próprio dinheiro para fazer o que quisermos. Como poderemos viajar para as praias acessíveis? Como fazemos para comprar nosso próprio carro? Como fazemos para comprar camisinha para transar? Como faremos para comprar nossa própria cadeira de rodas? Como fazemos para convidar o novinho ou a novinha para a lanchonete? Primeiro é saber que você está vivo, segundo é que você venceu os médicos chatos da AACD e que te arrumaram mais ou menos (em alguns casos, pioraram muito), depois que você estudou pra caramba, depois que você fez aquele TCC que deixou você pior que o Jon Snow no final da 5º temporada do Game of Throne, e o principal, trabalhar. Aristóteles, assim dizem, dizia que era melhor dar um oficio para os “inválidos” do que o governo sustentar. Ele tem razão, mas o empresário brasileiro não pensa aristotelicamente, pensa muito utilitariamente, se o cara está numa cadeira de rodas, então, ele não funciona. Querem deficiente que anda bem, que escuta bem, que fala bem, tenha boa aparência, tenha uma boa habilidade e o principal, tenha experiência. Se o Sr Paulo Skaf explicar como se consegue experiência sem a menor noção o que é trabalhar eu agradeço, pois deve ter algum segredo secreto para ser experiente já na universidade. Claro, nós pessoas com deficiência somos muito mais cobrados do que os outros, pois, somos os “heróis da superação”.

Agora entenderam que uma coisa está ligada a outra? Não dá para pensar em sexualidade sem o direito à vida, sem o direito a saúde e habilitação e reabilitação, sem transporte, sem educação e sem trabalho. Todos esses itens são itens que dignificam o homem e mais incluem o ser humano a ser e se sentir ser humano. A sexualidade é um outro aspecto de identificação como uma identificação de responsabilidade e respeito ao companheiro, mas não pode ser caracterizado como um meio a inclusão. Aliás, o esporte que é tão cultuado no nosso meio não pode ser um fim, pois, nem todo mundo pode fazer esporte, nem todo mundo quer fazer esporte. Quem lembra de escritores com deficiência? Quem lembra de pessoas que fazem diferença a não ser no esporte? Temos poetas com deficiência, temos escritores com deficiência, deputados com deficiência, temos professores com deficiência, entre outras coisas, que nesse século superamos, mas há um apelo ainda, no requisito físico. Parece que as pessoas com deficiência têm uma grande necessidade de fazer só esporte e só pensar em transar, só olhar nos grupos desse porte, fotos, procura, identificação, mas não há meios se você se sente vazio, você se sentir um nadinha coisa nenhuma. Quem vai olhar para o nada? Quem vai olhar para pessoas que pedem desculpas para pedra que tropeçaram?

Enquanto isso, vans capotam ou batem, pessoas ficam de cama, pessoas não tem cadeiras de rodas para andarem, não existe uma ordem dentro da agenda dos movimentos e ongs, há o que achamos o certo e deixamos a coisa rolar que não é assim. Fora que alguns paladinos da inclusão já estão escrevendo inglês, espanhol, alemão, francês e só falta escrever em português, estudar e virar gente senão, o segmento das pessoas com deficiência vai estagnar em promessas vazias e não quero ficar em promessas vazias, sinto muito.

Tomem vergonha na cara e leiam coisa de verdade, uma história de um casal como vocês, O Caminho.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo.