quarta-feira, 11 de maio de 2016

Darwin e a deficiência







Estava aqui lendo “Darwin: Retrato de um gênio” de Paul Johnson e descobri duas coisas: uma é que sou polímata (estudo várias ciências), outra coisa (que seria a segunda) é que a teoria da evolução darwinista, poderia explicar muitas coisas que os médicos e profissionais estabeleceram como verdade absoluta. Sabe aquele papo que o médico chega para sua mãe, muitas vezes para seu pai, diz que você vai depender deles por toda a vida? Isso é uma previsão – é um ato de prever, mas não poderia ser encarado como algo certo como a previsão do tempo – que o médico faz por encarar que por causa da deficiência o sujeito pode ter dificuldade para fazer tarefas cotidianas, mas não é um fato e sim, uma hipótese. Não estou defendendo esse tipo de medico, pois são devastadores para quem não conhece o que é de fato e o que é hipótese (como se tivéssemos uma escola de verdade para ensinar isso), e sim, dizendo que as pessoas querem promessas de um futuro confortável e que podem controlar dentro da sua vida, mais ou menos, sem muitas perspectivas.

Antes de entrar no mérito do meu pensamento, talvez devo explicar algumas coisas antes, quero explicar duas coisas dentro do que disse o que é fato e o que é hipótese. Fato é aquilo que é real, um conhecimento que não pode ser mudado ou alterado por coisa nenhuma e que pode trazer a uma verdade a realidade onde vivemos. A nível de exemplo, o sol vai nascer amanhã é um fato, é uma verdade inalterado até o Sol se extinguir mais ou menos, daqui 5 bilhões de anos. Mas uma caneca está em cima da mesa já não é um fato, pois a caneca pode não está em cima de uma mesa, pode estar no chão, pode estar em cima de uma cadeira, pode estar em um outro lugar. É uma verdade alterada conforme uma circunstância que levam a caneca estar em cima da mesa ou não, diferente do caso de o Sol nascer todo o dia, pois o Sol estará acima das circunstancias que levam nascer ou não.  O Sol nascer todo os dias é um fato, inalterado, preciso, já a caneca estar em cima de uma mesa é uma hipótese que vai depender das circunstancias que levam a alguma coisa ser possível ou não. O mesmo é o médico (porque acham que acima deles só Deus, principalmente, da AACD), que diz aos país que o seu filho vai depender deles pelo resto da vida, não pode ser encarada como um fato, e sim, uma hipótese. Porque não é um fato depender da família por toda a vida, isso vai depender do desenvolvimento, depender das sequelas, depender de um monte de circunstancias que vão levar ou não, a dependência da família pelo resto da vida, mas isso ficou encrustado dentro da sociedade como se não fossemos capazes de criar vínculos ou ter uma vida feliz e saudável.

Com isso podemos dizer que muitas coisas mudaram quando foram mostradas hipóteses sobre a origem dos seres vivos que por razões obvias, Charles Darwin ajudou a desenvolver e inúmeras descobertas fosseis, colaborar para comprovar a veracidade da hipótese. Porém, também colaborou com o preconceito não só racial, mas o preconceito dos seres humanos que tinham de alguma maneira, alguma deficiência. Até a década de 70, muitos países esterilizavam pessoas com deficiência mental, graças, a uma ideia distorcida da teoria darwinista do mais forte. Então vamos lá: não é o mais forte (na questão de força mesmo), que sobrevive ao ambiente, mas o mais habito dentro da adaptação dentro de um ambiente. O que é o mais apto? Se fosse pelo mais forte, por exemplo, o homem de Neandertal iria vencer por causa da sua força, mas foi a capacidade do homo sapiens (homem sábio), que melhor adaptou em todos os ambientes terráqueos (até mesmo os mais frios). Pois, mesmo que o cérebro do homem de Neandertal seja maior e com isso tenha uma capacidade maior de inteligência, o homem sapiens desenvolveu a habilidade de compreender o conhecimento, entender a sua realidade que está em volta dele e se adaptar a essa realidade. Se o homem de Neandertal podia levantar objetos pesados o sapiens poderia entender o ambiente, poderia entender da capacidade de levantar ou não o objeto e criar técnicas funcionais para levantar esse mesmo objeto. Se o homem de Neandertal enterrava seus mortos (possivelmente, com cerimonias rusticas), os sapiens criaram cerimonias sofisticadas, porque a nossa espécie é consciente e tinham a razão e a sensibilidade. Embora há antropólogos que acreditam que a sexualidade dos homens primitivos eram rusticas, o sapiens desenvolveu o afeto que fez ele até de uma maneira ou de outra, ter filhos híbridos com os neandertais.

Dentro de uma perspectiva muito mais ampla, estamos numa sociedade e não numa floresta, pois, o corpo social evoluiu e temos meios muito mais eficientes de alimentação e moradia. Claro, nem todos podem ter isso, existem pessoas que não tem o básico, mas isso não é uma questão biológica e sim, uma questão moral, pois a ciência até doenças curam, mas há uma mínima parcela que domina esses meios. Isso não tem a ver com meios ideológicos, mas é um meio que podemos ver claramente a relação de dominador e dominado dentro de uma ótica muito mais moral do que biológica. Porque se enxergarmos de uma ótica biológica, nossa espécie venceu os outros hominídeos no requisito de adaptação, na maneira de lhe dar com o mundo que evoluímos. Hoje já não se mata pessoas com deficiência – o nazismo foi milhares esterilizados e exterminados – pelo menos na maioria das vezes (na Síria com a chegada do ISIS, pessoas com deficiência são assassinadas), pois a moral nesse sentido evoluiu e não porque biologicamente somos evoluídos. Somos seres morais e isso é muito evidente quando vimos esse ponto.

 Somos seres morais porque desenvolvemos a consciência (razão/sensibilidade), que nos tirou, talvez, das cavernas por ter pelo outro afeto. As famílias foram morando nas aldeias fixas graças as técnicas de plantio, as cerimonias, os parentes moravam em volta e o clã poderia viver muito mais estabilizado e seguro. A evolução e adaptação fácil (graças ao entendimento), levou ao homem o desenvolvimento de regras e culturas para levar o mais jovem aprender aquilo que os mais velhos descobriram como o certo a se fazer. Grandes cidades – como a Grécia e o império de Roma – desenvolveram a educação (na Grécia paideia e em Roma educare) que eram técnicas de assegurar os costumes e as culturas dos seus antepassados. Em Roma as verdades contidas no “educare” eram diferentes na “paideia” grega, pois, o termo “paideia” vem de “paidós” que significava criança e “idea” que significava, ensino. No conceito atual ficou como “criação de meninos” que segundo Jeager, filólogo alemão que escreveu o livro “Paideia”, além da cultura a criança deveriam aprender o espirito grego vigente. Mas estamos falando de Atenas, a cidade democrática, mas no mundo grego, não teria chance para pessoas deficientes. Embora, há algumas evidencias (muito provavelmente, por causa dos soldados mutilados) pinturas de cadeiras de rodas rudimentares que leva a hipótese de serem ideias primitivas de algo tão novo (a primeira foi na Alemanha lá pelo século 16).

Por que fizemos toda essa viagem dentro da evolução humana e porque isso tem muito a ver com o cenário da inclusão das pessoas com deficiência? A ideia mesmo de inclusão dos deficientes é recente e não tem nenhuma base nem sociológica (estudo da sociedade) e nem filosófica (que estuda a ética e a moral) dentro do cenário, apenas, clinico que faz o debate ser muito pobre e cair novamente no erro que eu disse, ao invés de pensarmos que o ser humano venceu por adaptar ao meio, ele venceu porque o mais forte prevaleceu. Mas como podemos mudar isso num modo objetivo? Educação. As pessoas com deficiência também são humanas e se adaptam ao meio que se colocam dentro das possibilidades que tem, pois, o ser humano inventou meios de locomoção e meios para adaptar os sentidos para algo além da sua possibilidade. É diferente um macaquinho deficiente que o bando tem o instinto de deixar ali para não atrapalhar o bando, outra é um ser humano deixar uma criança com deficiência ali por atrapalhar uma sociedade (que muitas famílias ainda o fazem e que poderíamos chamar de psicopatia por razões diversas), porque temos a consciência (razão/sensibilidade) que quer proteger, quer cuidar, quer arranjar uma maneira de reverter por sermos ainda animais que criamos morais para melhor nos adaptarmos ao mundo. Se na Grécia ou em Roma era permitido matar deficientes, hoje já não é mais (em alguns casos se mata psicologicamente) permitido porque evoluirmos e agregamos ao corpo social mudanças importantes. Hoje um deficiente se vive 60 anos em média, antigamente vivia menos e com muito mais limitações, mas há muitas limitações ainda culturais que veremos.

Somos, querendo ou não, herdeiros de uma educação francesa graças ao imperador Dom Pedro II e que não houve mudança quanto a isso, quando Duque de Caxias, programou um Estado republicano. Até meados dos anos 50, as escolas eram todas para a elite do país, os mais pobres deveriam ficar ignorantes para ficar mão de obra reserva dentro de um capitalismo arcaico (o Brasil sempre foi e é atrasado em um monte de coisa nesse sentido), que visava explorar pela ignorância essa parte pobre que morava nas periferias e vinham de imigrantes de fora que vieram por causa da fome europeia e claro, graças aos descendentes dos escravos negros que foram libertados e largados a própria sorte. Se um profissional não quisesse abrir mão do alto salário por causa do estudo, o empresário tinha aquela reserva para contratar até dois usando a ignorância para enganar o trabalhador e fazer ele trabalhar para cuidar da família. Diante desse cenário todo – que o comunismo e nem a socialdemocracia resolveram – a educação foi aberta para todos e essa educação foi colocada como uma educação positivista de Comte. Mas além do positivismo – muitos vão dizer que nossa educação é religiosa, mas o Brasil nunca foi totalmente religioso – o nosso país sempre colocou Rousseau como um meio para o fim dessa exploração e que levou a educação como vimos hoje. Para nossa cultura só aquilo que vemos é a verdade de fato, não temos aquilo de pesquisar, aquilo de procurar saber e buscar o conhecimento, mas só aquilo que temos e que podemos ter interessa. Para a nossa sociedade, a ciência é a resposta até mesmo para a pobreza, pois, as desigualdades são fruto de uma evolução e essa evolução não pode ser alterada. A grosso modo, se desenvolveu um pensamento político metafisico onde se tirou a teologia cristã da salvação por meio do espirito santo ou a graça, depende da conotação cristã, e substituiu pela salvação em ter e não ser. Para nós o SER não é mais importante do que TER, porque vamos sempre deixar nós de lado por causa de coisas externas que possivelmente, tragam a felicidade. Aí entra Rousseau, o homem não é feliz por causa do seu viés social e é mal por causa da sociedade que o obriga serem maus. Um menino assalta, por exemplo, não é por causa do vicio ou da índole dele duvidosa, mas a sociedade que o oprime e o obriga a fazer isso (a sociedade ama muito ser assaltada).

Lembra o que o médico diz ao nossos pais na dependência por toda a vida ou que o médico da AACD diz que fez o que pôde (até levar o dinheiro do seu pai) para melhorar seu estado? Pois bem, esse é um pensamento positivista que só por meio cientifico se pode nos melhorar, mas que a observação mostra muito mais do que nosso comportamento ou nossa opinião. Para um médico que estudou em uma USP, UNICAMP, nas UNIs da vida, as opiniões e sentimentos dentro da deficiência não valem nada. Só observar a filosofia dessa entidade que não aceita deficientes presidindo movimentos e nem conselhos de todo porte, porque ainda se tem a sequela da distorção da teoria darwinista que vê a nós como seres mais fracos e seres menos adaptados ao meio e que isso faz de nós dependentes deles. Só assistir 5 minutos do Teleton para enxergar isso, apelam para uma inclusão metafisica (num ato de publicidade muito parecido com as igrejas caça niqueis), que se você der 5 reais, eles melhoram um dedão do pé da criança, se você der 50 reais, eles melhoram o corpo das crianças e se derem 100 reais, eles te consertam todinho e te dá (assim dizem), uma cadeira de rodas nova. Acontece que eles não molharam, não fazem da sua vida mais confortável e não dará cadeira de rodas a torto a direito sem o SUS pagar, mas essa é a ideia da metafisica deles, que sem eles não há salvação. A ideia positivista que só vamos melhorar a humanidade com os meios científicos e só, só vão incluir (no caso da AACD eles só usam isso como retorica), através do melhoramento das condições da criança e a ética e a moral que se dane, que os sentimentos dela que se dane, que as promessas que não se cumpriram que se dane, pois, fizeram o melhor possível para a criança com deficiência melhorar. Mas no fundo, bem lá no fundo, o conceito que somos seres mais fracos continua e é jogado pela mídia como sendo uma verdade.

Por que será que a maioria das pessoas chegam até nós e perguntam se nós saímos sozinhos? Por que será que as pessoas ainda sentem pena ou dizem que se fossem acometidas de alguma deficiência, morreriam? Primeiro, num modo estético onde é visível a nossa limitação, e é agravada, com a inclusão metafisica da salvação (a visão da filosofia teletoniana). Pois, a maioria das pessoas com deficiência confundem inclusão com salvação, mas se olharmos bem no fundo, somos pessoas que nascemos dentro de uma sociedade. Essa ideia de exclusão é uma ideia muito esquerdista (entrando no mérito ideológico) dentro do petismo que criou um pensamento assim: “Olha, vocês são excluídos da sociedade e não tem solução além de apoiar a nossa solução, a nossa salvação e que iremos te incluir”, levando muitos a acreditar nessa promessa de incluir pessoas que já são incluídas e só faltam gritar e se impor dentro da sociedade. Mas antes de tudo, o preconceito é algo moral e não tem nenhuma base ideológica social, porque não é a sociedade que excluir, mas as próprias pessoas com deficiência que não se vê como tal. Claro, que existem pessoas que de alguma forma, criaram uma imagem que todas as pessoas cadeirantes são paraplégicas (graças a desgraça daquela novela ridícula), que todas as pessoas surdas falam a língua de LIBRAS, que todo cego usa bengala, que todas as pessoas com paralisia cerebral têm sequelas graves e outras que se eu enumerar, vai ter um livro todinho. Mas as pessoas com deficiência, criaram umas prioridades que não fazem ela enxergar que são deficientes e ponto, usamos cadeira de rodas com orgulho ou não, mas usamos e ponto. São o que chamávamos na FCD (não sei se chamam ainda) de “mimadinhos”.

Segundo lugar, há enraizado no modo muito restrito na nossa cultura (em parte da linha aristotélica da igreja romana), que a felicidade está na perfeição, como se a perfeição fosse uma coisa que existe. Já viram arvores perfeitas em sinal de igualdade? Não existe felicidade inata, não existe perfeição inata, não existe uma igualdade inata (que para mim, o importante é o respeito), o que existe são seres que vivem socialmente, que tentam conviver com as diferenças e evoluíram por criar instrumentos para superar as dificuldades. Estou aqui em cima de uma cadeira de rodas criada para locomovemos, escrevendo num notebook um texto para um blog na internet, pessoas no mundo inteiro podem ler minhas opiniões graças a evolução tecnológica de superação de uma dificuldade. Mas moralmente, não tivemos tantos progressos, pois, ainda confundimos justiça com barbárie, confundimos igualdade com melhoramento, confundimos isolamento com proteção. Afinal, porque aquele cadeirante (o termo é errado, mas é prático) está ali atrapalhando minhas compras, meu almoço de família, se existem as “AACDs” da vida que podem cuidar desse “coitado”? Por que ele está no meio do “meu” culto que quero louvar a Deus em paz e ele fica aí no meio? Entenderam, caro leitor, que a discussão da inclusão deve ser discutida com um pensamento orgânico (que se sente na carne mesmo) e não com um pensamento de pessoas que só tem o estudo e não a pratica?

Essa ideia distorcida e levada ao extremo não é uma coisa só do Brasil, com a falta de uma discussão com pessoas que vivem isso, aparecem pessoas como o biólogo Richard Dawkins e diz que ter uma criança com síndrome de down é imoral. O que devemos seguir como moral ou imoral? Como devemos nos portar diante de tantas ideias distorcidas e que levam as pessoas a terem uma posição tão ignorante com tanto estudo? Tudo isso que eu escrevi foi apenas uma amostra o quanto o pensamento darwinista foi distorcido, foi jogado num contexto muito diferente o que deveria ser, que o mais apto pode sobreviver, mas que somos todos da espécie humana.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo. 

2 comentários:

  1. Achei interessante sua reflexão.
    Eu tenho um blog onde falo sobre capacitismo (exclusão contra deficientes). Tenho um artigo que talvez te interesse:

    http://gaguejandofluentemente.blogspot.com.br/2015/11/capacitismo-2-breve-historico.html

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