Estava aqui lendo “Darwin: Retrato de um gênio” de Paul
Johnson e descobri duas coisas: uma é que sou polímata (estudo várias
ciências), outra coisa (que seria a segunda) é que a teoria da evolução
darwinista, poderia explicar muitas coisas que os médicos e profissionais
estabeleceram como verdade absoluta. Sabe aquele papo que o médico chega para
sua mãe, muitas vezes para seu pai, diz que você vai depender deles por toda a
vida? Isso é uma previsão – é um ato de prever, mas não poderia ser encarado
como algo certo como a previsão do tempo – que o médico faz por encarar que por
causa da deficiência o sujeito pode ter dificuldade para fazer tarefas
cotidianas, mas não é um fato e sim, uma hipótese. Não estou defendendo esse
tipo de medico, pois são devastadores para quem não conhece o que é de fato e o
que é hipótese (como se tivéssemos uma escola de verdade para ensinar isso), e
sim, dizendo que as pessoas querem promessas de um futuro confortável e que
podem controlar dentro da sua vida, mais ou menos, sem muitas perspectivas.
Antes de entrar no mérito do meu pensamento, talvez devo
explicar algumas coisas antes, quero explicar duas coisas dentro do que disse o
que é fato e o que é hipótese. Fato é aquilo que é real, um conhecimento que
não pode ser mudado ou alterado por coisa nenhuma e que pode trazer a uma
verdade a realidade onde vivemos. A nível de exemplo, o sol vai nascer amanhã é
um fato, é uma verdade inalterado até o Sol se extinguir mais ou menos, daqui 5
bilhões de anos. Mas uma caneca está em cima da mesa já não é um fato, pois a
caneca pode não está em cima de uma mesa, pode estar no chão, pode estar em
cima de uma cadeira, pode estar em um outro lugar. É uma verdade alterada
conforme uma circunstância que levam a caneca estar em cima da mesa ou não,
diferente do caso de o Sol nascer todo o dia, pois o Sol estará acima das
circunstancias que levam nascer ou não.
O Sol nascer todo os dias é um fato, inalterado, preciso, já a caneca
estar em cima de uma mesa é uma hipótese que vai depender das circunstancias
que levam a alguma coisa ser possível ou não. O mesmo é o médico (porque acham
que acima deles só Deus, principalmente, da AACD), que diz aos país que o seu
filho vai depender deles pelo resto da vida, não pode ser encarada como um
fato, e sim, uma hipótese. Porque não é um fato depender da família por toda a
vida, isso vai depender do desenvolvimento, depender das sequelas, depender de
um monte de circunstancias que vão levar ou não, a dependência da família pelo
resto da vida, mas isso ficou encrustado dentro da sociedade como se não
fossemos capazes de criar vínculos ou ter uma vida feliz e saudável.
Com isso podemos dizer que muitas coisas mudaram quando
foram mostradas hipóteses sobre a origem dos seres vivos que por razões obvias,
Charles Darwin ajudou a desenvolver e inúmeras descobertas fosseis, colaborar
para comprovar a veracidade da hipótese. Porém, também colaborou com o
preconceito não só racial, mas o preconceito dos seres humanos que tinham de
alguma maneira, alguma deficiência. Até a década de 70, muitos países esterilizavam
pessoas com deficiência mental, graças, a uma ideia distorcida da teoria
darwinista do mais forte. Então vamos lá: não é o mais forte (na questão de
força mesmo), que sobrevive ao ambiente, mas o mais habito dentro da adaptação
dentro de um ambiente. O que é o mais apto? Se fosse pelo mais forte, por
exemplo, o homem de Neandertal iria vencer por causa da sua força, mas foi a
capacidade do homo sapiens (homem sábio), que melhor adaptou em todos os
ambientes terráqueos (até mesmo os mais frios). Pois, mesmo que o cérebro do
homem de Neandertal seja maior e com isso tenha uma capacidade maior de
inteligência, o homem sapiens desenvolveu a habilidade de compreender o
conhecimento, entender a sua realidade que está em volta dele e se adaptar a
essa realidade. Se o homem de Neandertal podia levantar objetos pesados o
sapiens poderia entender o ambiente, poderia entender da capacidade de levantar
ou não o objeto e criar técnicas funcionais para levantar esse mesmo objeto. Se
o homem de Neandertal enterrava seus mortos (possivelmente, com cerimonias
rusticas), os sapiens criaram cerimonias sofisticadas, porque a nossa espécie é
consciente e tinham a razão e a sensibilidade. Embora há antropólogos que
acreditam que a sexualidade dos homens primitivos eram rusticas, o sapiens
desenvolveu o afeto que fez ele até de uma maneira ou de outra, ter filhos
híbridos com os neandertais.
Dentro de uma perspectiva muito mais ampla, estamos numa
sociedade e não numa floresta, pois, o corpo social evoluiu e temos meios muito
mais eficientes de alimentação e moradia. Claro, nem todos podem ter isso,
existem pessoas que não tem o básico, mas isso não é uma questão biológica e
sim, uma questão moral, pois a ciência até doenças curam, mas há uma mínima
parcela que domina esses meios. Isso não tem a ver com meios ideológicos, mas é
um meio que podemos ver claramente a relação de dominador e dominado dentro de
uma ótica muito mais moral do que biológica. Porque se enxergarmos de uma ótica
biológica, nossa espécie venceu os outros hominídeos no requisito de adaptação,
na maneira de lhe dar com o mundo que evoluímos. Hoje já não se mata pessoas
com deficiência – o nazismo foi milhares esterilizados e exterminados – pelo
menos na maioria das vezes (na Síria com a chegada do ISIS, pessoas com
deficiência são assassinadas), pois a moral nesse sentido evoluiu e não porque
biologicamente somos evoluídos. Somos seres morais e isso é muito evidente
quando vimos esse ponto.
Somos seres morais
porque desenvolvemos a consciência (razão/sensibilidade), que nos tirou,
talvez, das cavernas por ter pelo outro afeto. As famílias foram morando nas
aldeias fixas graças as técnicas de plantio, as cerimonias, os parentes moravam
em volta e o clã poderia viver muito mais estabilizado e seguro. A evolução e
adaptação fácil (graças ao entendimento), levou ao homem o desenvolvimento de
regras e culturas para levar o mais jovem aprender aquilo que os mais velhos
descobriram como o certo a se fazer. Grandes cidades – como a Grécia e o
império de Roma – desenvolveram a educação (na Grécia paideia e em Roma
educare) que eram técnicas de assegurar os costumes e as culturas dos seus
antepassados. Em Roma as verdades contidas no “educare” eram diferentes na
“paideia” grega, pois, o termo “paideia” vem de “paidós” que significava
criança e “idea” que significava, ensino. No conceito atual ficou como “criação
de meninos” que segundo Jeager, filólogo alemão que escreveu o livro “Paideia”,
além da cultura a criança deveriam aprender o espirito grego vigente. Mas
estamos falando de Atenas, a cidade democrática, mas no mundo grego, não teria
chance para pessoas deficientes. Embora, há algumas evidencias (muito
provavelmente, por causa dos soldados mutilados) pinturas de cadeiras de rodas
rudimentares que leva a hipótese de serem ideias primitivas de algo tão novo (a
primeira foi na Alemanha lá pelo século 16).
Por que fizemos toda essa viagem dentro da evolução humana e
porque isso tem muito a ver com o cenário da inclusão das pessoas com
deficiência? A ideia mesmo de inclusão dos deficientes é recente e não tem
nenhuma base nem sociológica (estudo da sociedade) e nem filosófica (que estuda
a ética e a moral) dentro do cenário, apenas, clinico que faz o debate ser
muito pobre e cair novamente no erro que eu disse, ao invés de pensarmos que o
ser humano venceu por adaptar ao meio, ele venceu porque o mais forte
prevaleceu. Mas como podemos mudar isso num modo objetivo? Educação. As pessoas
com deficiência também são humanas e se adaptam ao meio que se colocam dentro
das possibilidades que tem, pois, o ser humano inventou meios de locomoção e
meios para adaptar os sentidos para algo além da sua possibilidade. É diferente
um macaquinho deficiente que o bando tem o instinto de deixar ali para não
atrapalhar o bando, outra é um ser humano deixar uma criança com deficiência
ali por atrapalhar uma sociedade (que muitas famílias ainda o fazem e que
poderíamos chamar de psicopatia por razões diversas), porque temos a
consciência (razão/sensibilidade) que quer proteger, quer cuidar, quer arranjar
uma maneira de reverter por sermos ainda animais que criamos morais para melhor
nos adaptarmos ao mundo. Se na Grécia ou em Roma era permitido matar
deficientes, hoje já não é mais (em alguns casos se mata psicologicamente)
permitido porque evoluirmos e agregamos ao corpo social mudanças importantes.
Hoje um deficiente se vive 60 anos em média, antigamente vivia menos e com
muito mais limitações, mas há muitas limitações ainda culturais que veremos.
Somos, querendo ou não, herdeiros de uma educação francesa
graças ao imperador Dom Pedro II e que não houve mudança quanto a isso, quando
Duque de Caxias, programou um Estado republicano. Até meados dos anos 50, as
escolas eram todas para a elite do país, os mais pobres deveriam ficar
ignorantes para ficar mão de obra reserva dentro de um capitalismo arcaico (o
Brasil sempre foi e é atrasado em um monte de coisa nesse sentido), que visava
explorar pela ignorância essa parte pobre que morava nas periferias e vinham de
imigrantes de fora que vieram por causa da fome europeia e claro, graças aos
descendentes dos escravos negros que foram libertados e largados a própria
sorte. Se um profissional não quisesse abrir mão do alto salário por causa do
estudo, o empresário tinha aquela reserva para contratar até dois usando a
ignorância para enganar o trabalhador e fazer ele trabalhar para cuidar da
família. Diante desse cenário todo – que o comunismo e nem a socialdemocracia
resolveram – a educação foi aberta para todos e essa educação foi colocada como
uma educação positivista de Comte. Mas além do positivismo – muitos vão dizer
que nossa educação é religiosa, mas o Brasil nunca foi totalmente religioso – o
nosso país sempre colocou Rousseau como um meio para o fim dessa exploração e
que levou a educação como vimos hoje. Para nossa cultura só aquilo que vemos é
a verdade de fato, não temos aquilo de pesquisar, aquilo de procurar saber e
buscar o conhecimento, mas só aquilo que temos e que podemos ter interessa.
Para a nossa sociedade, a ciência é a resposta até mesmo para a pobreza, pois,
as desigualdades são fruto de uma evolução e essa evolução não pode ser
alterada. A grosso modo, se desenvolveu um pensamento político metafisico onde
se tirou a teologia cristã da salvação por meio do espirito santo ou a graça,
depende da conotação cristã, e substituiu pela salvação em ter e não ser. Para
nós o SER não é mais importante do que TER, porque vamos sempre deixar nós de
lado por causa de coisas externas que possivelmente, tragam a felicidade. Aí
entra Rousseau, o homem não é feliz por causa do seu viés social e é mal por
causa da sociedade que o obriga serem maus. Um menino assalta, por exemplo, não
é por causa do vicio ou da índole dele duvidosa, mas a sociedade que o oprime e
o obriga a fazer isso (a sociedade ama muito ser assaltada).
Lembra o que o médico diz ao nossos pais na dependência por
toda a vida ou que o médico da AACD diz que fez o que pôde (até levar o
dinheiro do seu pai) para melhorar seu estado? Pois bem, esse é um pensamento
positivista que só por meio cientifico se pode nos melhorar, mas que a
observação mostra muito mais do que nosso comportamento ou nossa opinião. Para
um médico que estudou em uma USP, UNICAMP, nas UNIs da vida, as opiniões e
sentimentos dentro da deficiência não valem nada. Só observar a filosofia dessa
entidade que não aceita deficientes presidindo movimentos e nem conselhos de
todo porte, porque ainda se tem a sequela da distorção da teoria darwinista que
vê a nós como seres mais fracos e seres menos adaptados ao meio e que isso faz
de nós dependentes deles. Só assistir 5 minutos do Teleton para enxergar isso,
apelam para uma inclusão metafisica (num ato de publicidade muito parecido com
as igrejas caça niqueis), que se você der 5 reais, eles melhoram um dedão do pé
da criança, se você der 50 reais, eles melhoram o corpo das crianças e se derem
100 reais, eles te consertam todinho e te dá (assim dizem), uma cadeira de
rodas nova. Acontece que eles não molharam, não fazem da sua vida mais
confortável e não dará cadeira de rodas a torto a direito sem o SUS pagar, mas
essa é a ideia da metafisica deles, que sem eles não há salvação. A ideia positivista
que só vamos melhorar a humanidade com os meios científicos e só, só vão
incluir (no caso da AACD eles só usam isso como retorica), através do
melhoramento das condições da criança e a ética e a moral que se dane, que os
sentimentos dela que se dane, que as promessas que não se cumpriram que se
dane, pois, fizeram o melhor possível para a criança com deficiência melhorar.
Mas no fundo, bem lá no fundo, o conceito que somos seres mais fracos continua
e é jogado pela mídia como sendo uma verdade.
Por que será que a maioria das pessoas chegam até nós e
perguntam se nós saímos sozinhos? Por que será que as pessoas ainda sentem pena
ou dizem que se fossem acometidas de alguma deficiência, morreriam? Primeiro,
num modo estético onde é visível a nossa limitação, e é agravada, com a inclusão
metafisica da salvação (a visão da filosofia teletoniana). Pois, a maioria das
pessoas com deficiência confundem inclusão com salvação, mas se olharmos bem no
fundo, somos pessoas que nascemos dentro de uma sociedade. Essa ideia de exclusão
é uma ideia muito esquerdista (entrando no mérito ideológico) dentro do petismo
que criou um pensamento assim: “Olha, vocês são excluídos da sociedade e não tem
solução além de apoiar a nossa solução, a nossa salvação e que iremos te
incluir”, levando muitos a acreditar nessa promessa de incluir pessoas que já são
incluídas e só faltam gritar e se impor dentro da sociedade. Mas antes de tudo,
o preconceito é algo moral e não tem nenhuma base ideológica social, porque não
é a sociedade que excluir, mas as próprias pessoas com deficiência que não se vê
como tal. Claro, que existem pessoas que de alguma forma, criaram uma imagem
que todas as pessoas cadeirantes são paraplégicas (graças a desgraça daquela
novela ridícula), que todas as pessoas surdas falam a língua de LIBRAS, que
todo cego usa bengala, que todas as pessoas com paralisia cerebral têm sequelas
graves e outras que se eu enumerar, vai ter um livro todinho. Mas as pessoas
com deficiência, criaram umas prioridades que não fazem ela enxergar que são deficientes
e ponto, usamos cadeira de rodas com orgulho ou não, mas usamos e ponto. São o
que chamávamos na FCD (não sei se chamam ainda) de “mimadinhos”.
Segundo lugar, há enraizado no modo muito restrito na nossa
cultura (em parte da linha aristotélica da igreja romana), que a felicidade
está na perfeição, como se a perfeição fosse uma coisa que existe. Já viram arvores
perfeitas em sinal de igualdade? Não existe felicidade inata, não existe perfeição
inata, não existe uma igualdade inata (que para mim, o importante é o
respeito), o que existe são seres que vivem socialmente, que tentam conviver
com as diferenças e evoluíram por criar instrumentos para superar as
dificuldades. Estou aqui em cima de uma cadeira de rodas criada para
locomovemos, escrevendo num notebook um texto para um blog na internet, pessoas
no mundo inteiro podem ler minhas opiniões graças a evolução tecnológica de superação
de uma dificuldade. Mas moralmente, não tivemos tantos progressos, pois, ainda
confundimos justiça com barbárie, confundimos igualdade com melhoramento,
confundimos isolamento com proteção. Afinal, porque aquele cadeirante (o termo
é errado, mas é prático) está ali atrapalhando minhas compras, meu almoço de família,
se existem as “AACDs” da vida que podem cuidar desse “coitado”? Por que ele
está no meio do “meu” culto que quero louvar a Deus em paz e ele fica aí no
meio? Entenderam, caro leitor, que a discussão da inclusão deve ser discutida
com um pensamento orgânico (que se sente na carne mesmo) e não com um
pensamento de pessoas que só tem o estudo e não a pratica?
Essa ideia distorcida e levada ao extremo não é uma coisa só
do Brasil, com a falta de uma discussão com pessoas que vivem isso, aparecem
pessoas como o biólogo Richard Dawkins e diz que ter uma criança com síndrome de
down é imoral. O que devemos seguir como moral ou imoral? Como devemos nos
portar diante de tantas ideias distorcidas e que levam as pessoas a terem uma posição
tão ignorante com tanto estudo? Tudo isso que eu escrevi foi apenas uma amostra
o quanto o pensamento darwinista foi distorcido, foi jogado num contexto muito
diferente o que deveria ser, que o mais apto pode sobreviver, mas que somos
todos da espécie humana.
Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo.
Achei interessante sua reflexão.
ResponderExcluirEu tenho um blog onde falo sobre capacitismo (exclusão contra deficientes). Tenho um artigo que talvez te interesse:
http://gaguejandofluentemente.blogspot.com.br/2015/11/capacitismo-2-breve-historico.html
obrigado
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