terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Casal com deficiência e a minha filosofia do ‘NÃO’





"O que diz sua consciência? – ‘torne-se aquilo que você é"
– Nietzsche – Gaia Ciência, §270


Amauri Nolasco Sanches Junior


Os hipócritas herdarão a Terra e isso é fato. A questão é que a hipocrisia foi introduzida pela extrema-esquerda (ultraesquerda) com seu politicamente correto, porque todo mundo, agora, quer um mundo melhor. Mas, vou muito além disso. O filósofo Luiz Felipe Pondé — indo na linha do filósofo Nietzsche —nos diz, que a secularidade das democracias liberais, estão fazendo com que os fundamentalistas aumentem porque enquanto os secularistas têm poucos filhos, os fundamentalistas religiosos estão tendo mais filhos. No darwinismo, a espécie que melhor se adapta e reproduz mais tem mais chance de ficar e dominar o ambiente. Isso assusta. Será que os fundamentalistas religiosos vão vencer? Talvez. Só sei, concordando com o Pondé, que vamos ser lembrados como mimados, ressentidos e covardes no futuro.
Mimados porque não podemos falar nada que as pessoas se ofendem. Tudo virou um grande preconceito, até mesmo, dentro de obras literárias que são usadas mitologias e lendas, que tentam mudar, para sentir o valor confortável. Fui expulso de um grupo de literatura, porque um dos membros cismou que o livro do autor britânico, J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis, é uma obra racista. Que mostra uma ignorância muito grande da mitologia germânica-escandinava onde os Orcs eram daquela maneira, eram seres que viviam na escuridão, como os anões também tinham aquelas características. E a obra foi escrita durante a Segunda Guerra Mundial, caracterizando mais do que um mero preconceito — coisa de gente que abraça árvore — mas o poder que estava em jogo e o anel, que mostrava a verdadeira face de cada um que usasse ele, mostra o anel da hipocrisia. Por isso mesmo os hipócritas vão herdar o mundo. O politicamente correto vai minando todos os polos de discussões e obrigando a você a ter uma visão única do mundo e o bom, claro, que seja da esquerda cirandeira. Eles também não vê — ou não querem enxergar — que o mundo ficou um pouco mais rico, muito mais pessoas têm smarthphones, ou estão na internet. Por isso mesmo está um inferno. As pessoas relativizam tudo em nome daquilo que acreditam e mudam tudo conforme seus interesses diversos. Porém, temos mais coisas do que reis do século XVI, sem dúvida nenhuma.
Ressentidos porque vê nos fortes e bem-sucedidos, inimigos e aqueles que querem seu mal. Nem sempre é verdade. Aquele que hoje tem fama e um pouco de bens a mais daqueles que não tem esses bens, nem sempre querem que os mais pobres vão se ferrar. Outros podem até querer, porém, não falam. O pastor Caio Fábio em uma entrevista a um canal no YouTube, disse que o bispo Edir Macedo disse a ele que queria pegar peixe que nada na bosta. Porque os que pensam e tem senso crítico, não caem nas conversas de um pastor. Ele tem razão. Ai entra Nietzsche e a análise crítica. Porque vou seguir uma religião que, como um placebo, te dará uma falsa sensação de ser bem-sucedido se muitos não tem nenhuma religião e o são? Será que é a sensação de estar com ele verdadeiramente sem nenhum intermediário ou é a luta e a resiliência de persistir com aquilo que você quer? O ressentido nega sua vida em nome do outro, não aceita o mundo como ele é, tem ódio do destino.
Covardes porque não assumimos o que somos. Nietzsche, parafraseando o poeta Píndaro, nos convida a sermos nós em plenitude extrema e deixar as pessoas falar o que querem, porque as pessoas gostam de criticar tudo. Ainda mais, quando você tem uma cultura mesquinha como a nossa, que não aguenta ver as pessoas bem sucedidas. Nietzsche diria que as pessoas que deixam o espírito de rebanho são pessoas nobres, espíritos raros que não tem medo daquilo que é bom e belo. O bom de Nietzsche não é o bom bunda mole cristão (da parte hipócrita, claro) que nega sua vida para ter uma felicidade em um outro mundo, e sim, um bom nobre que sabe que ser gentil, educado e fazer coisas boas, não agrega coisas para si em uma outra vida. O próprio Jesus Cristo disse que se orarmos, temos que fazer em silêncio. Talvez, por isso mesmo, escrevo meus textos sem dizer nada. Porque os covardes adoram mostrar o poder para os outros, mas, quem tem o silêncio tem o verdadeiro poder.
Com tudo isso — mais meu aprendizado ouvindo o Gasparetto — eu adotei a filosofia do “NÃO”. Não retroalimento pessoas mimadas, ressentidas e covardes por acharem que tem razão, porque não tem. Não assisto série da modinha. Não ouço musica da modinha. Não vou na religião da modinha. Não tenho políticos de estimação (nem direita e nem esquerda). Não tenho ídolos. Gosto de bandas. Gosto de alguns políticos. Gosto da espiritualidade como um todo. Gosto das pessoas. Isso inclui amigos e parentes. Não é que as pessoas são conhecidas que vou se seletivo e vou defender até a morte. Não vou. Digo não do mesmo jeito e não venero nada. Ai que pega o namoro entre pessoas com deficiência, a veneração que alguns deficientes têm da família e amar e venerar tem duas conotações muito diferentes. Venerar não é amar. Viver grudado um no outro não é amar. Você todo dia dizer que ama, você está autoalimentando na pessoa uma importância a mais que ela não tem. Eu não dizia toda hora para minha mãe que eu amava ela, e ela, sabia muito bem meu amor por ela. Aliás, nunca ela ensinou a pedir benção, pois, quando perguntei o porquê, ela disse que preferia o respeito que tínhamos por ela. E tínhamos.
Um casal com deficiência passa coisas que não se deveria passar, pois, o preconceito (mesmo velado) é muito comum no nosso país atrasado em tudo. Claro, um casal é uma escolha e nada pode ser forçado, mesmo o porquê, quando é forçada alguma coisa, entramos no relacionamento tóxico. Odeio esses termos, mas, mesmo eles, as vezes são necessários. Acontece, pelo menos para mim, que um relacionamento tóxico não é feito só do casal, também tem a família. Por causa da deficiência, muitos membros da família entram em uma neurose que não existe, porque não houve ainda nenhum sofrimento ou qualquer casamento. Se houver, conheço muito amigos que casaram, são cadeirantes e vivem bem. Acho que essa neurose é devido nosso atraso educacional, nossa cultura atrasada que vive ainda no século dezenove, onde as pessoas achavam que nós, deficientes, eramos incapazes até mesmo de ter sentimentos. De se virarmos. De achar meios de se sustentar, mesmo quando não houver vagas de emprego. Capacidade todos temos. Isso nos fez sair das savanas africanas — o homem nunca morou nas cavernas, isso era um mito, pois, as cavernas eram usadas para fins religiosos — e desbravar outras terras, por nós nos adaptarmos rápido.
A covardia é epidêmica e vai se espalhar muito mais rápido do que qualquer vírus. Como dizem, “o que não te desafia, não te faz mudar” e fim de papo.