sexta-feira, 27 de abril de 2018

A verdadeira inclusão escolar



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O filósofo romano Sêneca tinha uma frase que era: “Omnis enim ex infirmitate feritas est” que em português, fica assim: “A maldade provém de alguma fraqueza”. Ou seja, pessoas maldosas sem nenhuma virtude da verdadeira bondade no sentido de ter o conhecimento, mas, é tão fraco e prepotente nesse conhecimento, que acha que sabe além daquilo que sabe. Acaba se auto alienando da sua própria ignorância. Sêneca era da escola estoica, e essa escola – onde a igreja absorveu bastante da sua filosofia – era bastante interessante no sentido de achar que certos assuntos eram perca de tempo e gastaríamos nossa energia, mais ou menos, sem nenhum sentido. Porque você não vai mudar aquilo, esse sentido é o que é e como se diz hoje em dia: “aceita que dói menos”.

Mas voltamos ao motivo do meu texto. Em um grupo sobre deficiência – se eu não me engano, era um grupo de Mielomeningocele – vi um vídeo e uma foto de um menino chorando e resolvi ler o post que a mãe escreveu revoltada com o ocorrido. A professora teria dito – depois de flagrar o menino com deficiência conversando – que mesmo com sua doença, ela não iria “passar a mão na sua cabeça”. Quando você imagina uma pessoa preconceituosa, imaginamos uma pessoa que não tem conhecimento nenhum e que o motivo desse preconceito, é justamente, a questão da sua própria ignorância. Porém, é uma professora e professores ao invés de criticar o ESTADO ou dizer tal bobagem – mesmo o porquê existe milhares de cursos pela internet ou não – deveriam ler sobre o assunto e não ficar com “desculpinha esfarrapada” de falta de tempo, porque para ir em manifestações contra a prisão do “messias” da esquerda, encontra. Claro, que não são todos os professores que são assim, nem todos os professores não estudam a questão. Mas, existem aqueles que ainda acham que crianças com deficiência deveriam ir para “classes especiais”, só que as “classes especiais” deixam um déficit muito grande dentro do aprendizado dessas crianças (experiência própria).

Então, a fala da professora seria um julgamento sem nenhum critério dentro da questão da deficiência (que chamamos de preconceito), se encaixa muito bem com a fala do filósofo Sêneca. A maldade humana é a fraqueza do ser que julgar saber e não sabe o que é a essência da virtude – como a ignorância socrática e a verdadeira bondade sem se preocupar com uma imagem de si mesmo – e a essência daquilo que deveria saber e não sabe. A questão paira não na questão da bronca em si mesma – mesmo o porquê, ele estava conversando – mas, a questão é a diferenciação do aluno e ter chamado ele de doente. Como se tivesse uma doença e que a professora, ter que deixar bem claro, que não iria ter “pena” dele por causa de uma “doença” que ele não tem. Ou seja, uma suposta doença.
Sêneca, assim como os estoicos, iria dizer que o importante ao ser humano é sempre saber quando lutar, quando convencer, ter a honestidade, ter uma vida modesta e não querer mudar aquilo que não pode ser mudado. Aliás, a virtude estoica e a verdade e como eram seguidores de Sócrates de Atenas, eram extremamente, intelectualistas. Portanto, a verdade deve ser dita, mesmo que isto doa. Portanto, a verdade é que nossos professores (nem todos, claro), tem um discurso de proteção das minorias, que na verdade, não corresponde ao que vimos na pratica. Chamam os jovens de burro, chamam muitas jovens de vagabunda (já li isso), fica pregando ideologia ao invés de dar aula, fica reclamando do salário toda hora. E também, fica dizendo essas bobagens que vimos a mãe relatar. Se perdeu a noção da palavra educação, que começa com a paideia grega, passa para o educere latino. Nossa raiz (como língua latinizada e cultura também) como descendentes da cultura latina, deveríamos saber que educere vem da junção de EX (fora) e DUCERE (guiar, instruir e conduzir), ou seja, quando educamos alguém ou nos educamos, estamos trazendo para fora aquilo que está dentro de nós. Sem se prender em questões estéticas ou morais, sem se prender em questões ideológicas e religiosas.
A verdadeira educação inclusiva é exatamente o oposto que esta professora fez, educar é trazer para fora, então, mostrar as crianças e os jovens que a deficiência não é uma doença. Uma deficiência é uma falta, mas, nunca um contagio por algum vírus ou uma bactéria. Trazer as crianças, que a deficiência não nos faz menos humanos e elas podem se aproximar.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

sábado, 14 de abril de 2018

As pessoas com deficiência e os vídeos “bonitinhos”



Descrição: um homem com deficiência recebendo comida na boca por um funcionário da rede Giraffas 


Estava aqui escrevendo meu livro e dado momento, entrei no Facebook e me dei conta de uma Live de um companheiro de segmento das pessoas com deficiência, fez por causa de uma matéria do site Extra, teria destacado. Até pensei que fosse com ele a questão e resolvi ver o vídeo – que foi apagado, se não tivesse visto iria ter ficado no limbo – e escutando esse meu amigo falar, eu vi que não se tratava dele, propriamente, mas de um caso que aconteceu no sábado dia 7. Onde um funcionário do restaurante Giraffas, de um shopping de Salvador (BA), ajudou um homem com deficiência a comer a sua comida e foi filmado pela mulher que iria buscar a comida para o rapaz. A mulher, que segundo o site Extra, tem o nome Laurinha Victória, além de ter filmado, disse ao rapaz:
 “Essa é a verdadeira caridade, que coisa linda.  Que gesto lindo você está tendo .. Deus lhe abençoe. ”

Não quero ter nenhum, o que chamamos na filosofia, juízo de valor da Laurinha. Porque a mulher, talvez, estava fazendo o que todos fazem, enxergam as pessoas com deficiência como coitados, como pessoas que precisam ser carregadas no colinho e cantar cantigas de ninar para elas. Mas, quero explicar a Laurinha e aos demais que acham esse ato de caridade o que seria caridade.

Caridade vem do latim “caritate”, que pode ser: amor a Deus, amor ao próximo, a benevolência, ter bom coração, ter compaixão, ter beneficência ou ESMOLA (guardem esse significado no rodapé).  Deriva do termo também em latim, “Caritas”, que tem o significado de afeto ou amor, que tem a origem de um termo grego antigo que era “châris” que seria o mesmo que “graça”. A caridade pode ter o entendimento como um sentimento ou uma ação altruísta de ajudar alguém sem buscar de qualquer recompensa. A pratica da caridade pode ser um indicativo muito forte de uma elevação moral e uma das práticas que mais se caracteriza a essência da bondade humana, sendo, com alguns casos, chamada de ajuda humanitária. Temos afins: amor ao próximo, bondade, indulgencia, perdão, compaixão. (Tirado do Wikipédia as informações).

Vamos ao que interessa. Feita a explicação de caridade já fica bem mais fácil explicar qual a diferença de caridade e ter boa vontade, que sim, faz a diferença. Na Idade Média – tem vários filmes sobre – existiam as caridades dos nobres na porta das igrejas e haviam milhares de deficientes se arrastando nas suas escadarias. Eram crianças abandonadas que eram alimentadas e criadas ou por moradores de rua (que seriam as cidades em volta do castelo do rei), ou pela própria igreja a pedir esmolas na porta das missas. Ai que está, caridade também tem o significado de ESMOLA. Esmola é uma pequena quantia de dinheiro dada a um pedinte por caridade. Em várias religiões, é considerado como um ato caridoso feito aos necessitados, pode significar também uma concessão a uma graça ou favor. Nas religiões abraâmicas, as esmolas são dadas para beneficia os pobres. No budismo, as esmolas são dadas por leigos para monges e freiras para conseguir méritos e bênçãos e assegurar a continuidade monástica. (Informações tiradas da Wikipédia)

Com certeza a questão é confusa porque nem sempre as pessoas têm noção de alguns significados do termo e além disso, a questão pode ser agravada com a mídia. Eu como sou uma pessoa que acredito no ser humano, acredito que a intenção da Laurinha Victória, não foi ruim (acho eu, né?), só acho, que a gravação do vídeo foi desnecessária. Porque acho que esse tipo de vídeo alimenta uma visão, que ainda, é muito forte dentro da nossa cultura de nos ver como coitadinhos, numa visão, clara, de capacitismo. Mas, quem realmente alimenta essa visão capacitista dentro da ótica social? A mídia. Qual é o intuito de um site de notícia, como o Extra, de usar a postagem de uma mulher que gravou um funcionário ajudando uma pessoa com deficiência? Daí eu remeto a um outro questionamento, não menos importante: por que a mídia não mostra outras situações que não são de imagens piegas? Por que as pessoas não se interessam?

A questão é mais ou menos assim, você escreve tragédia (eu escrevo e eu sei), é um reboliço tremendo, como se aquilo seja de uma importância máxima. Quando você escreve coisas positivas e sem nenhuma tragédia, as pessoas começam a ignorar. Até mesmo a minha manchete chamada “Funcionário dá comida ahomem com deficiência e gera polêmica”, foi ignorada como uma manchete menor. Ou porque não tem um nome fofinho, ou não tem um nome trágico. Sim. Deve ter um nome fofinho ou trágico e não para por aí, a questão vai muito além, deve ter vídeo motivadores. Somos vistos além de coitados, além de temos limitações, somos exemplos de superação. Devemos mostrar força, garra, vontade e que somos a real conjuntura de um ser humano que venceu as dificuldades da vida. Eu não compartilho vídeos piegas, vídeos de pessoas se machucando, e sim, vídeos educativos ou pesquiso sobre o fato. A imagem que fazem de nós, chega a ser patética e desumana.

O mais trágico é que essas mesmas pessoas – não todas elas, claro – param nas vagas do estacionamento reservadas, não respeitam filas preferenciais e nem acentos para pessoas com deficiência. E muito além disso, não respeitam nossa privacidade. Eu acho um “porre” ter vídeos mostrando coisas que todo mundo faz, e vem com esse ar piegas. Não acho valido e condeno esse tipo de coisa.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News