Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
A polarização acontece quando achamos que existem meios para
a igualdade e não existem meios para essa igualdade. Mas, existe a igualdade? Sempre
lembrando, que dentro da filosofia (a busca do saber), o problema é uma
situação que existe outras alternativas dentro de uma determinada situação. Podemos
fazer a seguinte reflexão: existem duas flores iguais? Existem dois cachorros
iguais? Existem duas pessoas, mesma sendo gêmeas, iguais? Podemos afirmar que
não, cada flor se desenvolve de maneiras diferentes, cada cachorro terá uma
característica que determina a sua raça, cada pessoa vai criando o seu caráter
único dentro dos valores que aprenderam. A questão tem a ver com a dialética
hegeliana que prevê uma tese, uma antítese e uma síntese, que Marx e Engels
usaram muito a vontade de maneira de caber em suas análises sociais.
O que os socialistas não enxergam – isso já veio dês de Marx
– é o SER como individuo consciente da sua própria escolha, que levara para o
caminho do sucesso, ou levara o caminho do fracasso. Não acho que o problema da
igualdade seja somente de ser ou não explorado, porque a exploração é um
conceito muito relativo e podemos até dar um exemplo simples: se eu quero comer
macarrão com molho, minha noiva pode querer comer nhoque, porque cada um está
consciente da sua decisão. Mas se, hipoteticamente, eu fizesse ela comer
macarrão ou ela fizesse eu comer nhoque, ficaríamos em igualdade, mas tanto eu
oprimi ela, quanto ela me oprimiu. O problema aí é: qual o sentido da
igualdade? A pergunta se torna obvia quando perguntamos: qual o sentido
(ennoia) de algo? Em grego atual, o sentido das coisas ficaria: “ennoia
(sentido) tós pragmáton (coisa) ”. Na expressão “sentido de”, há um significado
de não capacidade sensorial humana, que é uma ordem, imanente ou transcendente
de cada coisa. Então, quando se diz que algo tem sentido, esse algo tem uma
ordem que emana ou transcende os nossos sentidos e que nem sempre – no sentido
desse algo – é o que ele é. Sempre algo pode não ser aquilo que nos mostra ou
aquilo que nos falam. Assim, estamos falando que o “sentido de”, é uma
transcendência daquilo que está na nossa vontade e aqui que remonta a consciência
da nossa escolha.
Mas ainda não respondemos o “sentido da igualdade”, porque
ainda não definirmos o que seria igualdade. Etimologicamente, o termo igualdade
vem do latim aequalitas, que tem o
significado “aquilo que é igual” ou “semelhante”. Assim, “aquilo que é igual” é
a ausência de diferença daquilo que não precisa ser igual, então, todas as
partes são totalmente, possuem o mesmo valor. Ora, quando definimos que
igualdade seria algo de padronização daquilo que deveria ser apenas individual,
compreendemos que o sentido (aquilo que imana), é exatamente padronizar um
comportamento único e uma classe dentro da sociedade. A dialética é simples:
existe a classe operaria (tese), a classe da elite (antítese) e só vamos ter
justiça (realmente, Marx nunca falou em igualdade), quando houver a revolução
(síntese). Mas será que era isso mesmo
que Hegel quis dizer com a dialética do senhor e o escravo? Claro que não.
Hegel coloca como pressuposto a prisão do senhor dentro de uma dependência,
porque depende do escrevo, e a liberdade do escravo que não depende de ninguém;
mas é obvio que há a condição de humilhação e desprezo ao ser humano, mas o
senhor repreende para exatamente, demostrar a sua fraqueza diante da
dependência. Para Hegel, a igualdade seria a quebra dessa dependência e hoje
vimos muito isso, dependência do Facebook, dependência religiosa, dependência
ideológica e por aí vai.
Mas ainda não respondemos o que seria o “sentido da
igualdade”, porque tudo aquilo que tem um sentido, expressa esse sentido dentro
de uma ótica do seu valor. Ele emana além da realidade e traz a solução dentro
da essência do termo “igualdade”. Ora, tudo que traz “igualdade” traz
padronização e tudo que traz padronização traz o que Hegel trouxe com sua
dialética do senhor e do escravo, a dependência do senhor em ter o escravo,
assim, igualizando os escravos para melhor caber na sua dependência e na sua acomodação.
Marx inverteu isso, disse que para o proletariado ter liberdade, ele deve
igualiza a sociedade para todos caberem dentro dessa padronização. Quem é o
senhor do escravo para Marx? O ESTADO. O ESTADO depende do proletariado e agora
faz toda uma gama de coisas para controlar esse proletariado, fazendo controle
burocráticos, fazendo policias especializadas de controle, fazendo uma lei de
coerção, fazendo toda uma gama de coisas para assegurar toda a dependência.
Seria como se todo mundo devesse comer macarrão, porque todos têm o direito de
comer macarrão, nada de nhoque, porque o nhoque quer
dizer desigualdade e a desigualdade faz com que haja uma guerra de classe.
Um outro problema muito mais embrenhado nessa “igualdade” é
a ideia do fetichismo que podemos dar as pessoas ou objetos. Um fetiche de algo
é a admiração exagerada que damos a esse algo, ou seja, se compro determinada
coisa (objeto) eu não compro porque eu quero, eu compro porque eu tenho um
fetiche sobre aquilo. Ora, ai que está o erro de Marx e dos marxistas, em
confundir desejo com vontade e isso vai em encontro do Ser. Eu não como uma
macarronada, por exemplo, porque eu tenho um fetiche sobre a macarronada – se
tenho uma admiração forte pela macarronada eu tenho uma psicopatia grave, aliás
– eu como a macarronada, porque eu gosto do gosto do molho e da consistência do
macarrão. Aquilo que gostamos está dentro da vontade, porque a vontade está
além do desejo, ela tem a ver com a natureza da consciência que aquilo vai te
deixar um pouco mais satisfeito. A satisfação tem a ver com o justo, o que eu
gosto ou que eu não gosto, a única razão de eu escolher algo, é a análise do
que eu tenho vontade e o que desejo. Eu vou no banheiro porque eu tenho
vontade, não porque eu desejo.
Mas ainda não respondemos o “problema da igualdade” que só
poderia ser respondido com o universal, aquilo que é intangível (aquilo que
pensamos ser real) e o tangível (aquilo que podemos ver e tocar). A igualdade é
algo intangível porque todos os seres humanos não são iguais, porque temos o
ser que existe enquanto SOU – podemos reparar que Descartes, no seu “penso logo
existo”, decreta que todo ser humano que percebe que existe comprova a sua
existência – ou seja, enquanto eu sou com minha existência eu percebo que não
sou o outro. O problema é quando me colocam em pé de igualdade do outro
enquanto individuo único, assim, eu sou um e o outro é o outro. Se tenho
vontade é um decreto de mim mesmo, então, a vontade é tangível, existe enquanto
algo que busco com meu querer. Mas, o desejo é algo intangível que não pode ser
tocado, porque não é real, não é algo concreto. Mas você pode me perguntar:
Amauri, um tênis é algo que se pode tocar e podemos desejar ele? Posso
responder que sim, o tênis em si mesmo, é concreto e, portanto, tangível. Só
que eu posso querer da melhor marca e não de uma marca simples, o que vai
determinar meu desejo e da vontade, é a marca, a marca vai ser o fator
intangível. Mas isso não é fetiche? Pode ser que sim. O desejo faz todo um
mundo fantasioso para querer o melhor tênis para, pensarmos, que ficaremos
felizes. Mas ainda sim, eu posso querer um Adidas do que um “chineizinho”,
porque eu trabalhei para ter o Adidas, o desejo sempre é aquilo que eu posso e
quero escolher. Tenho desejo tudo aquilo que não tenho a necessidade ou apenas
é um desejo naquele momento, mas mesmo assim, se trabalhei ou tenho uma grande
soma por causas familiares, ainda sim, eu tenho o direito de ter.
Agora, a vontade é algo mais tangível, porque mexe muito
mais com que necessitamos. Se tenho vontade de comer é porque tenho uma vontade
de saciar a minha fome, alimentar meu corpo que necessita de vitaminas para
continuar funcionando e esses alimentos, tem que ser essenciais. Há vontade de
comer arroz, feijão ou carne, porque isso é a vontade de nutrir necessita para
dar nutrientes ao meu sangue. Claro, que podemos até argumentar que nem todo
mundo pode comprar um arroz e feijão, porém, não é igualando aquele que pode
que o problema vai ser resolvido, igualando só vai aumentar o problema. E na
essência da consciência de cada um, cada ente (usando o termo de Heidegger), tem
sua vontade particular de saciar sua fome e comprar aquilo o quanto quiser,
porque cada ente é um unipolar. Na verdade, se pensarmos antropologicamente, foi
um erro virarmos agricultores e gerarmos o ESTADO, porque na verdade não somos
feitos – porque ainda somos coletores-caçadores – para se fixar. Marx ficou tão
alucinado de colocar a dialética no socialismo, que não prestou atenção a
Darwin e ver que a desigualdade é algo evolutivo. Nós não evoluímos moralmente,
evoluímos tecnologicamente.
Tecnologicamente dará para manter uma pessoa com
deficiência, por exemplo, mas moralmente, sempre se acha que elas estão
atrapalhando o bando. A questão não é o proletariado e o capitalista, o
socialista o capitalista, o religioso ou o ateu, a questão é o ser na questão
moral entre a vontade e o desejo, entre fazer e não fazer. Você não pode mudar
o SER porque ele é o que ele é, você pode mudar na educação (mostrar a
realidade), você pode mudar no exemplo, mas você não pode coibir um desejo ou
uma vontade. Você pode mostrar que a criança não pode ter tudo que quiser – mesmo
o porquê, a vida mostrara por si mesmo – você pode mostrar que o amigo de
cadeira de rodas não é um amigo do outro mundo, ser diferente não é sinônimo de
estranho. As experiências socialistas mostraram que igualar desejos e vontades
de todos, não é a solução, uma hora, aquilo “explode”. A igualdade enquanto
seres sociais comunitários que desejam igual, que sentem igual, que fazem tudo
igual, é apenas uma metafisica, algo, completamente intangível.