domingo, 30 de abril de 2017

O problema da igualdade





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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

A polarização acontece quando achamos que existem meios para a igualdade e não existem meios para essa igualdade. Mas, existe a igualdade? Sempre lembrando, que dentro da filosofia (a busca do saber), o problema é uma situação que existe outras alternativas dentro de uma determinada situação. Podemos fazer a seguinte reflexão: existem duas flores iguais? Existem dois cachorros iguais? Existem duas pessoas, mesma sendo gêmeas, iguais? Podemos afirmar que não, cada flor se desenvolve de maneiras diferentes, cada cachorro terá uma característica que determina a sua raça, cada pessoa vai criando o seu caráter único dentro dos valores que aprenderam. A questão tem a ver com a dialética hegeliana que prevê uma tese, uma antítese e uma síntese, que Marx e Engels usaram muito a vontade de maneira de caber em suas análises sociais.

O que os socialistas não enxergam – isso já veio dês de Marx – é o SER como individuo consciente da sua própria escolha, que levara para o caminho do sucesso, ou levara o caminho do fracasso. Não acho que o problema da igualdade seja somente de ser ou não explorado, porque a exploração é um conceito muito relativo e podemos até dar um exemplo simples: se eu quero comer macarrão com molho, minha noiva pode querer comer nhoque, porque cada um está consciente da sua decisão. Mas se, hipoteticamente, eu fizesse ela comer macarrão ou ela fizesse eu comer nhoque, ficaríamos em igualdade, mas tanto eu oprimi ela, quanto ela me oprimiu. O problema aí é: qual o sentido da igualdade? A pergunta se torna obvia quando perguntamos: qual o sentido (ennoia) de algo? Em grego atual, o sentido das coisas ficaria: “ennoia (sentido) tós pragmáton (coisa) ”. Na expressão “sentido de”, há um significado de não capacidade sensorial humana, que é uma ordem, imanente ou transcendente de cada coisa. Então, quando se diz que algo tem sentido, esse algo tem uma ordem que emana ou transcende os nossos sentidos e que nem sempre – no sentido desse algo – é o que ele é. Sempre algo pode não ser aquilo que nos mostra ou aquilo que nos falam. Assim, estamos falando que o “sentido de”, é uma transcendência daquilo que está na nossa vontade e aqui que remonta a consciência da nossa escolha.

Mas ainda não respondemos o “sentido da igualdade”, porque ainda não definirmos o que seria igualdade. Etimologicamente, o termo igualdade vem do latim aequalitas, que tem o significado “aquilo que é igual” ou “semelhante”. Assim, “aquilo que é igual” é a ausência de diferença daquilo que não precisa ser igual, então, todas as partes são totalmente, possuem o mesmo valor. Ora, quando definimos que igualdade seria algo de padronização daquilo que deveria ser apenas individual, compreendemos que o sentido (aquilo que imana), é exatamente padronizar um comportamento único e uma classe dentro da sociedade. A dialética é simples: existe a classe operaria (tese), a classe da elite (antítese) e só vamos ter justiça (realmente, Marx nunca falou em igualdade), quando houver a revolução (síntese).  Mas será que era isso mesmo que Hegel quis dizer com a dialética do senhor e o escravo? Claro que não. Hegel coloca como pressuposto a prisão do senhor dentro de uma dependência, porque depende do escrevo, e a liberdade do escravo que não depende de ninguém; mas é obvio que há a condição de humilhação e desprezo ao ser humano, mas o senhor repreende para exatamente, demostrar a sua fraqueza diante da dependência. Para Hegel, a igualdade seria a quebra dessa dependência e hoje vimos muito isso, dependência do Facebook, dependência religiosa, dependência ideológica e por aí vai.

Mas ainda não respondemos o que seria o “sentido da igualdade”, porque tudo aquilo que tem um sentido, expressa esse sentido dentro de uma ótica do seu valor. Ele emana além da realidade e traz a solução dentro da essência do termo “igualdade”. Ora, tudo que traz “igualdade” traz padronização e tudo que traz padronização traz o que Hegel trouxe com sua dialética do senhor e do escravo, a dependência do senhor em ter o escravo, assim, igualizando os escravos para melhor caber na sua dependência e na sua acomodação. Marx inverteu isso, disse que para o proletariado ter liberdade, ele deve igualiza a sociedade para todos caberem dentro dessa padronização. Quem é o senhor do escravo para Marx? O ESTADO. O ESTADO depende do proletariado e agora faz toda uma gama de coisas para controlar esse proletariado, fazendo controle burocráticos, fazendo policias especializadas de controle, fazendo uma lei de coerção, fazendo toda uma gama de coisas para assegurar toda a dependência. Seria como se todo mundo devesse comer macarrão, porque todos têm o direito de comer macarrão, nada de nhoque, porque o nhoque   quer dizer desigualdade e a desigualdade faz com que haja uma guerra de classe.

Um outro problema muito mais embrenhado nessa “igualdade” é a ideia do fetichismo que podemos dar as pessoas ou objetos. Um fetiche de algo é a admiração exagerada que damos a esse algo, ou seja, se compro determinada coisa (objeto) eu não compro porque eu quero, eu compro porque eu tenho um fetiche sobre aquilo. Ora, ai que está o erro de Marx e dos marxistas, em confundir desejo com vontade e isso vai em encontro do Ser. Eu não como uma macarronada, por exemplo, porque eu tenho um fetiche sobre a macarronada – se tenho uma admiração forte pela macarronada eu tenho uma psicopatia grave, aliás – eu como a macarronada, porque eu gosto do gosto do molho e da consistência do macarrão. Aquilo que gostamos está dentro da vontade, porque a vontade está além do desejo, ela tem a ver com a natureza da consciência que aquilo vai te deixar um pouco mais satisfeito. A satisfação tem a ver com o justo, o que eu gosto ou que eu não gosto, a única razão de eu escolher algo, é a análise do que eu tenho vontade e o que desejo. Eu vou no banheiro porque eu tenho vontade, não porque eu desejo.

Mas ainda não respondemos o “problema da igualdade” que só poderia ser respondido com o universal, aquilo que é intangível (aquilo que pensamos ser real) e o tangível (aquilo que podemos ver e tocar). A igualdade é algo intangível porque todos os seres humanos não são iguais, porque temos o ser que existe enquanto SOU – podemos reparar que Descartes, no seu “penso logo existo”, decreta que todo ser humano que percebe que existe comprova a sua existência – ou seja, enquanto eu sou com minha existência eu percebo que não sou o outro. O problema é quando me colocam em pé de igualdade do outro enquanto individuo único, assim, eu sou um e o outro é o outro. Se tenho vontade é um decreto de mim mesmo, então, a vontade é tangível, existe enquanto algo que busco com meu querer. Mas, o desejo é algo intangível que não pode ser tocado, porque não é real, não é algo concreto. Mas você pode me perguntar: Amauri, um tênis é algo que se pode tocar e podemos desejar ele? Posso responder que sim, o tênis em si mesmo, é concreto e, portanto, tangível. Só que eu posso querer da melhor marca e não de uma marca simples, o que vai determinar meu desejo e da vontade, é a marca, a marca vai ser o fator intangível. Mas isso não é fetiche? Pode ser que sim. O desejo faz todo um mundo fantasioso para querer o melhor tênis para, pensarmos, que ficaremos felizes. Mas ainda sim, eu posso querer um Adidas do que um “chineizinho”, porque eu trabalhei para ter o Adidas, o desejo sempre é aquilo que eu posso e quero escolher. Tenho desejo tudo aquilo que não tenho a necessidade ou apenas é um desejo naquele momento, mas mesmo assim, se trabalhei ou tenho uma grande soma por causas familiares, ainda sim, eu tenho o direito de ter.

Agora, a vontade é algo mais tangível, porque mexe muito mais com que necessitamos. Se tenho vontade de comer é porque tenho uma vontade de saciar a minha fome, alimentar meu corpo que necessita de vitaminas para continuar funcionando e esses alimentos, tem que ser essenciais. Há vontade de comer arroz, feijão ou carne, porque isso é a vontade de nutrir necessita para dar nutrientes ao meu sangue. Claro, que podemos até argumentar que nem todo mundo pode comprar um arroz e feijão, porém, não é igualando aquele que pode que o problema vai ser resolvido, igualando só vai aumentar o problema. E na essência da consciência de cada um, cada ente (usando o termo de Heidegger), tem sua vontade particular de saciar sua fome e comprar aquilo o quanto quiser, porque cada ente é um unipolar. Na verdade, se pensarmos antropologicamente, foi um erro virarmos agricultores e gerarmos o ESTADO, porque na verdade não somos feitos – porque ainda somos coletores-caçadores – para se fixar. Marx ficou tão alucinado de colocar a dialética no socialismo, que não prestou atenção a Darwin e ver que a desigualdade é algo evolutivo. Nós não evoluímos moralmente, evoluímos tecnologicamente.


Tecnologicamente dará para manter uma pessoa com deficiência, por exemplo, mas moralmente, sempre se acha que elas estão atrapalhando o bando. A questão não é o proletariado e o capitalista, o socialista o capitalista, o religioso ou o ateu, a questão é o ser na questão moral entre a vontade e o desejo, entre fazer e não fazer. Você não pode mudar o SER porque ele é o que ele é, você pode mudar na educação (mostrar a realidade), você pode mudar no exemplo, mas você não pode coibir um desejo ou uma vontade. Você pode mostrar que a criança não pode ter tudo que quiser – mesmo o porquê, a vida mostrara por si mesmo – você pode mostrar que o amigo de cadeira de rodas não é um amigo do outro mundo, ser diferente não é sinônimo de estranho. As experiências socialistas mostraram que igualar desejos e vontades de todos, não é a solução, uma hora, aquilo “explode”. A igualdade enquanto seres sociais comunitários que desejam igual, que sentem igual, que fazem tudo igual, é apenas uma metafisica, algo, completamente intangível. 



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