segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Rock in Rio: onde foi que esconderam o rock?



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“A música é o meio mais poderoso do que qualquer outro porque o ritmo e a harmonia têm sua sede na alma. Ela enriquece esta última, confere-lhe a graça e ilumina aquele que recebe uma verdadeira educação. ”
Platão


Por Amauri Nolasco Sanches Junior

O termo musica veio do grego “musikê” que se traduz como “a arte das musas”, pois para os gregos a música tinha a ver com tirar melodias dos instrumentos musicais. Os instrumentos artesanais eram importantes para extrair sons desses instrumentos como as belas artes do povo e as suas inúmeras culturais. Essas musas eram as nove filhas de Mnemósine ("Memória") e de Zeus – que era muito mulherengo – e o templo dessas musas era o Museion e o termo museu, veio de “musas”. Aliás, o termo museu em várias conotações linguísticas, até mesmo a indo-europeia, era um local de cultivo de preservação das artes e ciência.

Mas essa analise etimológica não é à toa, nem quer dizer que um ritmo tem mais ligação divina do que o outro, quem gosta fique à vontade em gostar, mas se o nome é “rock” tem que ficar no rock. Existem inúmeros festivais de axé, tem vários festivais que agregam o público gay e existem e existiram roqueiros gays. Mas roqueiros são para festivais de rock e não festival de outras coisas, que claro, tem o “dedo” da Rede Globo. Mas será esse tipo de coisa retira mesmo o preconceito? Será que você colocar pessoas que são discriminadas não serão mais? Mas não é isso que está em discussão, mas o verdadeiro contexto que é o festival que está inserido o nome ou a proposta do festival. Se está “rock” em um “rock do Rio” – que é a tradução – tem que ser rock e um festival de rock e não tem nada a ver com outros estilos ou preconceito. O problema dentro da “coisa” toda é cada “macaco no seu galho”.

Dentro da filosofia devemos analisar a liberdade e a vontade mais de perto, porque quando você está com vontade é quando você se desprende daquilo que a maioria pensa ou consome. Não sejamos hipócrita, a grande maioria das pessoas não sabem o que é música e nem o porquê gosta daquele estilo, isso é falácia e nada tem a ver com gosto ou tem a ver com liberdade. Isso tem a ver com a indústria cultural (que sim Adorno acerta em algumas análises e não sou comunista), que paga rádios e paga outras mídias para tocarem incansavelmente. Tem a verdade com a convivência social que e muito mais fácil quando você gosta o que a maioria gosta, tem a ver com a rede social (e muitas vezes, não tem nada a ver com a rede social virtual) onde você está inserido. Quem tem uma convicção fraca e um conceito cultural fraco, vai aderir ao que a grande maioria produz. Isso tem a ver com a MPB (que as mídias promovem), isso tem a ver com “modinhas”, isso tem a ver com a região onde se encontra e muito mais. Por isso eu coloquei a origem do termo música, pois, isso tem a ver com a espiritualidade do ser humano enquanto seres conscientes da sua realidade.

Mas há uma diferença “gigantesca” você ouvir um Legião Urbana entendendo as letras das músicas, do que você cantar sem entender e repetir a letra sem saber o que aquilo quer dizer. Tanto que, por exemplo, todo mundo canta e gosta da música “Pais e filhos”, mas poucos sabem que é uma música contando um contexto de suicídio do protagonista (isso foi dito pelo Renato Russo na famosa entrevista para a MTV em meados dos anos 90 e já naquela época, ele reclamava disso), é uma música que fala de consciência daquilo que fizemos a vida toda. Outro que eu duvido alguém cantar entendendo a letra é o Raul Seixas – aliás, estou devendo um texto sobre o “seixismo” que rola por aí – porque as pessoas repetem muitas músicas, ora porque pensam estarem cantando sobre uma ideologia, ou está cantando sobre algo que acreditam. A música “Maluco Beleza” é a prova cabal disso, porque pensam que Raul está dizendo uma coisa e não está, é num outro contexto. Como está na própria música: “Enquanto você/Se esforça pra ser/Um sujeito normal/E fazer tudo igual” seria uma contradição das outras músicas que essas mesmas pessoas gostam. Essas mesmas pessoas se esforçam para serem pessoas “normais” e fazerem tudo “igual” e não é bem assim. E tem muito disso no Brasil, porque com inúmeras desculpas de serem colonizados por inúmeras culturas ou terem vivido em inúmeras reencarnações em outras nações, ou porque é um povo sem convicção, e é um problema educacional brasileiro.

Duvido que se tivéssemos uma certa educação, as pessoas iriam escutar Marilia Mendonça como a música “Infiel” que mostra um “barraco” de um homem sendo expulso de dentro de casa por causa de uma traição e dizem, que a cantora se inspirou no próprio pai. Não só na música você vê isso, estando eu diante da estátua do Rei Leônidas de Esparta – sim, aquele dos trezentos – numa exposição num shopping, tantas coisas o pai deveria ensinar para o filho, não, ele simplesmente disse: “olha o pintinho dele”. Não temos educação para a arte e vimos isso na exposição do Santander (no qual sou contra todo tipo de censura), onde se proibiu quem gosta de ver, não se analisou o contexto das obras e ainda mais, querem colocar o país numa ditadura só porque não concordam com aquilo que os outros gostam e apoiam. No mesmo modo que não gosto de certas músicas e ritmos, também acho que devemos respeitar o gosto da maioria. Mas existem “gostos” e existem “estar acostumado” com aquilo, estar com vontade de ouvir e estar “acostumado” em ouvir. Mas a questão é outra, é separar as coisas e os momentos, pois, uma exposição sobre Picasso, pois exemplo, não deve ter obras de outro pintor.


Existem “interesses” diversos por detrás daquilo que deveria ser um festival de rock, porque você aumentar os nichos não quer dizer que você vai despertar o interesse da maioria.  Senão vai ter conjunto de forró e nada terá a ver com rock, sinto muito. 

Defesa de Palocci disse que Lula é um 'dissimulado' (aqui)


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

São Paulo: cadeirante mostra calçada destruída “pessoas podem cair”



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Por Amauri Nolasco Sanches Junior


Muitas vezes eu escrevi sobre a urbanização aqui nesse blog e muitos outros que estão pela internet, que por muitos anos eu me deparei. Segundo a Lei de Inclusão, as pessoas com deficiência cadeirante tem o direito de ir e vir e isso inclui, ter vias públicas dentro de uma organização urbana onde se encontramos.  A realidade não é a mesma coisa das leis escritas, porque as leis escritas tendem a idealizar uma conduta que não está sendo respeitada e esse respeito pode ser sanado com o cumprimento dessa lei, que por muito tempo, vem sendo desrespeitada e colocada como apenas um papel em cima de um gabinete qualquer.

Ontem ao abrir o blog no meu colega de partido – ele é presidente do PAIS (aqui) – Lee Cadeirante (aqui), vi a nossa colega de luta Lucianna Trindade, subir a Alameda Santos (na região da Avenida Paulista), mostrando a realidade das calçadas em um vídeo que “bombou” nas redes sociais do pessoal do segmento das pessoas com deficiência. Estudei nos anos 80 – de 1983 a 1990 – na Avenida Paulista num colégio conhecido e tombado pelo patrimônio histórico, Rodrigues Alves – nesse tempo houve uma unidade da AACD (aqui) nesse colégio – onde já naquele tempo as condições da região eram “deploráveis”. Hoje, acredito eu que não trafego tanto na região, a coisa esteja melhor, mas no vídeo da Lucianna mostra que nem tanto.

Ali onde o vídeo acontece há uma obra chamada de ‘Santos Augusta’, que é feita pela construtora ReudBrasil, que danificou toda a calçada da Alameda Santos. No vídeo, a cadeirante sobe toda a Alameda e mostra varias danificações e irregularidades dentro da via que é pública e não da “construtora”. Primeiro, Lucianna mostra o portão de entrada e saída de caminhões que buscam materiais, simplesmente, na calçada e além disso, a fita de isolamento está a via impossibilitando o trafego de cadeirantes.

O vídeo ficou bom só num pequeno fato, mostrar a nossa visão das vias públicas que não estão adequadas na sombra da lei, diante da grandeza da cidade de São Paulo – uma das maiores cidades da América Latina – que muitas vezes, contraria a lei. Só com alguns minutos de vídeos, se pode ver um olhar diante de uma dificuldade que TODOS cadeirantes passam, que enfrenta todos os dias. Existem normas federais que garantem nosso próprio direito de trafegar nas calçadas, e também, contraria normas da PNMU, que prioriza a circulação de pedestres, principalmente, em vias como calçadas. Coisa que o vídeo da Lucianna, é mostrado que nem a própria lei é respeitada (normas simples).

No vídeo, podemos ver as caixas de esgoto fazendo “montinhos” obrigando a muitos pedestres a trafegarem em uma única pessoa, quanto menos, uma pessoa cadeirante passar ali. Tanto que Lucianna tem que andar na rua, dividindo o espaço com os carros, porque a calçada não tem a menor condição de transitar, além disso tudo, há uma arvora numa caixa errada e de maneira errada foi plantada no meio da calçada.

A realidade do vídeo é a realidade de qualquer um que seja cadeirante (com cadeira de rodas manual ou motorizada), que muitas empesas não cumprem a lei e também, muitos moradores fazem a calçadas como querem e não é bem assim. Há uma norma a seguir com suas medidas e como deve ser, porque há também muitas pessoas com mobilidade reduzida, que precisam de uma calçada descente. Gestantes, mães ou pais com carrinho de bebê, idosos que podem cair e até mesmo, pessoas com deficiência visual que pode transitar por ali e até cair e se ferir gravemente.


Quem conhece meu blog sabe que como sou nietzschiano, sou um quebrador de ídolos com minha britadeira, mas eu sei muito bem que também reconhecer as pessoas que tem coragem e sabem aquilo que fazem e a Lucianna Trindade teve um ato de coragem. Podemos dizer que o ato da moça é um ato digno de um guerreiro “espartano” que luta pelo que acredita e o que há de errado. Mostrando arvores em locais errados, rampas que não podem ser usadas e nem calçadas que possamos usar. 


(aqui)

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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Política e deficiência




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior


“O homem é um animal político. ”
Aristóteles


O que pensamos quando lemos essa pequena frase? Quando o filósofo grego Aristóteles (que viveu entre 384 antes de Cristo – e morreu em 322 antes de Cristo), disse essa frase, ele não tinha em mente a mesma ideia de “politica” que temos agora, portanto, a política para o grego antigo era uma política voltada a alguns e esses alguns, em sua maioria, eram homens que eram privilegiados. O que o filósofo quis dizer? Ele quis expressar em sua frase (que ficou famosa após o ressurgimento das chamadas democracias), que o homem como ser gregário, se torna um ser socializante e ele ser um ser socializante, ele se torna um ser que expressa as suas preocupações. O ser político – vem do grego ‘politikos’ que designava em cidadãos que poderiam e deveriam cuidar da Polis que eram cidades-estados que eram comunidades organizadas – é um ser que vê a sociedade e se preocupa com a cidade (organização social) e o rumo que essa cidade está tomando.

O cidadão (politikos) é aquele que realiza atos que podem ajudar a colaborar com que melhore cada vez mais, a sociedade organizada de onde mora e o território que está. Daí podemos dizer que usamos a política – vem do grego ‘ta politika’ que deriva de um outro termo grego ‘polis’, era usada para se referir ais assuntos relacionados a cidade-estado (polis) e a vida em coletividade – como meio de reivindicar nossos ‘direitos’ de cidadãos se somos de fato, seres conscientes da realidade. Só que os gregos antigos tinham como cidadãos os homens e livres.  Excluíam as mulheres, escravos e estrangeiros. Mudou muita coisa? Muito pouco. Os antigos gregos matavam as pessoas com deficiência ainda crianças, pois, o infanticídio era uma pratica muito comum quando não se tinha perfeição, quando havia muito mais mulheres do que homens e mais, morriam muitas crianças porque naquela época não tinha vacina. Hoje temos vacinas, hoje já há uma aceitação maior pelas mulheres e no mais, há tratamento para as pessoas com deficiência.

Claro, que nós, pessoas com deficiência, não somos mortos como fomos mortos na Grécia Antiga – na verdade, paramos de ser mortos e aprisionados a partir dos anos 80 diante da grande pressão de algumas manifestações e graças a Convenção da ONU, que não vale muita coisa, mas deu para dar um certo ar de respeito e dignidade – não somos jogados em abismos, não somos largados em florestas para animais nos comerem e nem, como acontecia muitas vezes, adotados para pedimos emolas. A questão é que somos seres humanos e merecemos respeito e como pessoa que merece respeito, somos obrigados a fazer da nossa essência social (politikos),  e reivindicar o que é certo e o que é certo é temos saúde (ubs), temos transporte (essencial para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida), educação (escolas e universidades adaptadas) e trabalho (uma Lei de Cotas que funcione em todas as camadas sociais, sem empecilho burocrático como acontece no setor público e o discriminatório como acontece no setor privado). Além que estamos numa sociedade que tem duas camadas muito fortes, uma camada religiosa e uma camada ideológica que por inúmeros motivos, atrapalha a discussão do que é realmente necessário, ou que realmente é um desperdício de energia.

Digo “desperdício de energia” no sentido que estamos em discussões irrelevantes que não vão levar em lugar nenhum e esse “lugar nenhum” se refere também, ao nosso segmento. Por exemplo, muitas pessoas são contra uma criação de um partido que a diretoria e a presidência é de pessoa com deficiência (aqui). Mas, não discutem nenhuma coisa relevante diante da política das pessoas com deficiência, só alegam que um partido desses, não é uma maneira de inclusão e sim, é um motivo de criar “guetos”. Outros são contra o transporte porta-a-porta, alegando que se existir esse tipo de transporte, o poder público não adaptará o transporte convencional; já outros, dizem que são contra porque não conhecem pessoas, não socializam. Uma pequena e rápida análise dizemos que é uma tremenda bobagem, não corresponde com a verdade, porém, tem o direito de pensarem assim. E quando digo “pessoa com deficiência”, digo todas as deficiências.

Esclarecendo esses pontos vamos ao que me motivou a escrever esse texto. A cidade de São Paulo, tem aproximadamente, 2,8 milhões de pessoas com deficiência na cidade, sendo que, nem tudo para nós, não corresponde em uma adaptação adequada. Não existe aqui, nenhum plano de implantação de um desenho universal, nem existe uma implantação verdadeira de UBSs que tratam adequadamente as pessoas com deficiência, principalmente, nas periferias da cidade. No caso da UBS da Jardim Elba, que fica localizado no Jardim São Roberto, Sapopemba na Zona Leste de São Paulo, não há remédios e nem médicos com atendimento adequado e nem sabem fazer encaminhamento de pedido de cadeira de rodas ou outros aparelhos. Esse é um exemplo, um outro exemplo, são comprimidos para pressão alta na UBS da Vila Nova Iorque que fica na Vila Nova Iorque, na Zona Leste de São Paulo que “quebram”, pois, há uma “qualidade” duvidosa. Fora que não existe estacionamentos nas mesmas, que são destinadas as pessoas com deficiência como manda a lei. Se existe a “lei”, o poder público que faz e aplica essa mesma lei, deveria dar o exemplo e isso vai além de ideologias políticas ou “religiões” partidárias.

Na questão de transporte, os ônibus adaptados estão bem melhores, mas não é seguida ao que se refere ao serviço de vans ATENDE que a maioria dos carros não são adequados para a “rodagem”. Segundo o site da SPTrans do serviço ATENDE está:

“Atende foi criado por meio do decreto nº 36.071 de 09 de maio de 1996 e atualmente é regido pela Lei Municipal nº 16.337, de 30 de dezembro de 2015. É uma modalidade de transporte porta a porta, gratuito aos seus usuários, com regulamento próprio, oferecido pela Prefeitura do Município de São Paulo, gerenciado pela São Paulo Transporte S.A. e operado pelas empresas de transporte coletivo do município de São Paulo e cooperativa de táxis acessíveis. Destina-se às pessoas com autismo, surdocegueira ou deficiência física com alto grau de severidade e dependência, no horário das 7h às 20h, de segunda-feira a domingo, excetuando-se os feriados. ”
(aqui)

Ainda no mesmo texto está:

“Além do atendimento porta a porta a clientes cadastrados, o Atende oferece atendimentos nos fins de semana, denominados de "eventos aos fins de semana". Neste tipo de serviço, os pedidos de transporte são feitos diretamente pelas instituições que trabalham com pessoas com deficiência (com, no mínimo, dez dias de antecedência). As instituições precisam efetuar cadastro prévio na SPTrans. ”


Logo depois o texto diz que “O Atende tem veículos devidamente adaptados e roda cerca de um milhão de quilômetros/mês. ”, ao chegamos a um paradoxo (um paradoxo é o oposto do que alguém pensa ser verdadeiro ou contrário a uma opinião admitida como valida), pois, existem vans que estão a dez anos de uso, então, se elas rodam milhares de quilômetros, ou o número de vans não é suficiente para a demanda de usuários (que é de práxis do serviço dês de 1996 quando surgiu), ou os caminhos são poucos estudados pelos técnicos. Vans que ficam na zona leste, por exemplo, não podem ir para a zona sul, no mesmo modo que vans da zona sul não poderiam ir para a zona leste, não é questão de achar certo e errado, é uma questão de logística. A demanda tem que ser analisada a partir dos números dos usuários considerados, se na zona leste, por exemplo, existe mais usuário em potencial essa demanda tem que ser suprida com mais vans na zona leste. Porém, se as vans forem deslocadas de uma zona a outra, mais quilômetros rodados elas vão conter e o desgastes do equipamento vai desgastar mais rápido. Qualquer pessoa com o mínimo de estudo sabe disso, porque a questão é clara, se roda muitos quilômetros, é porque a demanda é muito grande e muito extensa.

Ao se refere ao serviço “"eventos aos fins de semana”, esses dez dias no mínimo do pedido, é para mim um exagero. Por que? Segundo a gerente de “eventos”, Fabiana Cristina Issaho, existem vários procedimentos que estre eles, montagem de rotas. Ora, existem instituições que colocam chefes de carros (que são pessoas que ensinam o caminho) e existem instituições que mandam todos os endereços e a rota deve ser analisada pelos “técnicos” do serviço. Por que não se separa as instituições que não tem esse “chefe” de carros e as que tem esse “chefe”? As que tem teriam um prazo menor e as que não tem, teriam um prazo maior dentro do pedido. Porque acaba atrapalhando a analise até das condições da van para a rodagem, colocando em risco o condutor (motorista) e o usuário.

Além que a ficha ser mandada em um e-mail pode gerar confusão, pois o e-mail pode não ser confiável e haver falhas. No dia 6 de novembro, mandei a ficha para o serviço – sou coordenador da Irmandade da Pessoa com Deficiência – as 19 horas e no dia 14 de setembro, a gerente de eventos, disse que não recebeu a ficha do dia 17 de setembro (que ficamos sem nosso evento), o e-mail deveria ter travado o envio e deve ter destravado quando entrei no e-mail do movimento. Isso mostra que o sistema não é isento de falhas e essas falhas podem ser prejudiciais, assim, se faz necessário ter um sistema muito mais moderno online.

Se dizemos que a saúde é falha e o transporte é falho, dentro de uma “sociabilização” das pessoas com deficiência (não gosto de inclusão que dá a ideia de exclusão, que não é verdade, porque nascemos dentro da sociedade), não é diferente na área da educação. Como relatei em vários textos (aqui), existem crianças que são deixadas nos corredores das escolas sem fazer nada, crianças que são discriminadas, crianças que são desligadas e algumas, em centros de reabilitação famosos, são desligadas por causa das “verdades” ditas pelos pais. Mas não há um treinamento verdadeiro dos professores e dos profissionais, tanto no ensino regular, quanto no ensino técnico, e nem equipamentos adequados. Porém, vamos ser justos, muitas pessoas com deficiência não querem nada com nada, não querem escolher nem as “roupas de baixo” que vão vestir. Mas aquelas que querem, deveriam encontrar com as adaptações adequadas.

No curso universitário tem um pequeno “problema”, elas são muito caras por pouco conteúdo que ensinam – colocando na grade dos cursos matérias irrelevantes, como estatística em um curso de publicidade – e não colocam o que seria a competência delas ensinar, como o teorema cartesiano, o a formula de Baskara entre outras coisas, porém, para quem consegue fazer a universidade existem muitas barreiras. O preconceito acadêmico é muito mais letal, porque inclui o preconceito velado dentro das crenças e dentro do que a pessoa aparenta, quem nega, é um mentiroso e merece meu total desprezo. Fora que elas (universidades) dão bolsa de estudos para quem pode fazer marketing do seu estabelecimento.

Não existe nenhuma empresa que “contratou” pessoas que tem deficiência não leve (porque elas só contratam pessoas que tem deficiência leve), que tenha um curso universitário. Por que disso? A maioria dos nossos “gestores” (um termo “moderninho” para empresários), ou não tem curso universitário da área, ou nas universidades não são ensinadas coisas bem básicas.  Primeiro, o ser humano não é uma “máquina” que se a pessoa tiver deficiência, necessariamente, ela tem que ganhar menos por isso. Nem sempre a eficiência de uma pessoa é avaliada pelo que ela aparenta e sim, daquilo que se pode fazer (mas eu escreverei um prognostico muito mais detalhado, quem quiser ler sobre, fiz um texto (aqui)).


Isso, que analisamos criticamente, são situações vividas numa cidade de milhões de cidadãos, agora, imagine numa cidade do interior de qualquer Estado. O diagnóstico é muito pior. 

Cadeirante cai do elevador do ônibus em Guarulhos (aqui)

Os brasileiros votariam em um candidato cadeirante para presidente (aqui)

Colégio argentino religioso expulsa criança com autismo (aqui)

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O silêncio dos autistas



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“Não rir, nem lamentar-se, nem odiar mas compreender. ”
Baruch Espinoza

Eu vendo uma notícia no site do jornal espanhol, El País Brasil, fiquei pensando como o ser humano ainda tem a visão da deficiência dentro de um molde que não cabe mais no século XXI. Segundo a notícia, um colégio religioso chamado San Antonio de Padua, na Argentina num município chamado Merlo, que fica perto de Buenos Aires, teriam expulsado o menino que é autista, com síndrome de Asperger da turma da classe da quinta série. A questão é muito complexa, porque a família do garoto diz que o colégio flexibilizou a estada do menino lá, por pressões das outras mães, as outras mães dizem que o garoto é um menino bastante agressivo e machucou uma das crianças gravemente. A conferencia espanhola de Asperger, que faz um trabalho de inclusão nos colégios argentinos, disse que teria alertado o perigo de se aceitar esse tipo de pressão. Segundo a conferência, a Convenção da ONU dos direitos das pessoas com eficiência diz:


 “1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes assegurarão o sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes objetivos:
a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e autoestima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana;
b) O máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos talentos e da criatividade das pessoas com deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais;
c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre.
(aqui)

O problema vai muito além do “showbiz” da mídia sul-americana, a questão tem meio que a ver com que Spinoza disse na sua frase, que não devemos  rir e nem mesmo odiar, e sim, devemos entender. Uns dos maiores alimentos do “preconceito” e a “discriminação” é a ignorância, pois, o medo é uma fonte bem pomposa para o preconceito. Segundo o Google, o preconceito é qualquer opinião ou qualquer sentimento sem nenhum exame crítico. Também, que uma atitude preconceituosa é uma atitude hostil, assumindo em consequência de uma certa generalização apressada de uma certa experiência pessoal ou imposta pelo ambiente ou, a conhecida, intolerância. Então, que se dane o motivo que o menino tenha jogado o objeto no coleguinha, o coleguinha é um oprimido que levou uma “objetada” na cabeça, por não fazer nada. Só que conhecemos crianças e um dia, fomos crianças, e sabemos que um provoca o outro mesmo. E também sabemos, que o autista, quando há uma hostilidade pode reagir assim para se defender. Portanto, não é justificável e é sim, uma atitude preconceituosa.

Outra coisa é o que se trata essa síndrome, que ao que parece, tem um nível de autismo muito mais brando. Pessoas com a síndrome enxergam o mundo de forma completamente, diferente. Não é uma doença que pode ser curada e não pode ser diferenciado, porque, muitas pessoas sentem que é um traço único nas suas vidas e na sua personalidade. E o mais importante, pessoas com a Síndrome de Asperger são inteligentes, podem ser na média ou acima da média. Essas pessoas não têm nenhuma dificuldade de aprendizado, que muitos autistas, podem ter ao decorrer da vida. Eles têm muito menos problemas com a fala, mas, porém, ainda podem ter certas dificuldades no processo de entendimento e na linguagem.

Diante desse esclarecimento todo, podemos examinar a questão muito mais minuciosamente (detalhado).  A mãe do menino, diz que sentiu satisfeita com a solução da questão, colocando o menino em muitas classes para ele não se sentir sozinho. O erro é que estão dando um “prêmio” de consolo ao seu filho, mesmo o porquê, o menino não é pessoa com deficiência mental, e na explicação da síndrome, está que o menino pode sim ser muito mais inteligente do que as outras crianças. Isso só tem um nome e se chama DISCRIMINAÇÃO.  Porque estão tratando o garoto como se fosse de uma deficiência, mas não é dessa deficiência e pior, esse menino vai crescer e se sentir a pior pessoa do mundo. Como disse no começo, o medo faz as pessoas discriminarem tirando aquilo que está ou é, diferente daquilo que estamos acostumados com a realidade. A grosso modo, quando algo difere com a realidade vigente é descoberto, se exclui todas as partes que o ser humano não se acostumou. As deficiências não são realidades comuns, como outras realidades que diferem da realidade vigente. O que aconteceria se extraterrestres tentassem contato? Será que o povo ficaria sossegado, ou ficariam em pânico?

Pessoas com autismo são pessoas que merecem respeito e dignidade.

Colégio argentino religioso expulsa criança com autismo(aqui)

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

“Olavismo Cultural”= o heavy metal emburrece?




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Para mim, o problema dos filósofos contemporâneos, é que muitas coisas sobre os inúmeros pensamentos antigos, devem mudar para caber em seus conceitos. Como expliquei no texto anterior sobre a sentença do ejaculador do ônibus (aqui), conceito é uma representação abstrata (que podemos definir como subjetivo), de uma realidade ou da realidade. Sendo assim, não podemos, por exemplo, definir um pensamento a partir da nossa realidade, mas da realidade do pensamento da época e o porque daquele pensamento. A grosso modo, você não pode analisar Epicuro, por exemplo, a partir de métodos e morais contemporâneas a partir até mesmo, de uma moral cristianizada. É o caso do filósofo Olavo de Carvalho que analisa pensamentos da antiguidade como se fossem, pensamentos contemporâneos e aí que está o erro. As morais são conceitos e conceitos são verdades (no sentido de realidade), mas que verdades não são absolutas e podem sofrer mudança. Se o ser humano acreditou que o sol e todos os planetas giravam em torno da Terra, que era uma verdade na época, hoje se sabe que a Terra gira em torno do sol.

Só que o Olavo de Carvalho estuda tudo e sabe tudo, pois, ele estuda também, muitas outras coisas e uma delas é o heavy metal que em 2014, mais ou menos, disse emburrecer a juventude. Ora, se ele se atentar nas letras do Led Zeppelin – que ele diz ser os inventores do heavy metal sendo que há pesquisas que mostram que foi a banda Steppenwolf – ou do Black Sabbath, são letras voltadas ao que na época poderíamos chamar de contracultura – até mesmo Ozzy tem uma bíblia do século 16 na entrada da casa dele. A coisa beira a teoria conspiratória de um louco que fugiu de um hospício, ou um cara que só está pensando na sua própria fé, sendo que, achar que a música pode emburrecer uma pessoa, não há base nenhuma dentro de qualquer pesquisa. Nas palavras do notório filósofo:

A maior prova de que o heavy metal tem algum potencial emburrecedor são as analogias deslocadas e absurdas que, à menor provocação, seus cultores disparam em defesa dele, como se tocar nesse ponto ativasse algum núcleo psicótico escondido em seus cérebros.

Primeiro que não há nenhuma defesa do heavy metal, sendo uma música de contracultura, ela também questiona o cristianismo como cultura vigente. Como acontece nos países nórdicos, onde bandas cultuam a volta da cultura pagã viking – seu maior representante é a banda Bathory – o heavy metal sai da subjetividade popular ou religiosa (senso comum), para se emprenhar em uma outra visão. Na maioria dos casos, não estão questionando Deus ou sua existência, mas a subjetividade religiosa e cultural da maioria. Mas claro, que alguns fanáticos – como os olavettes – vão dizer absurdos ou atacar a pessoa e não questionar a ideia, como acredito que não é culpa do próprio estilo musical.

Uma reportagem de 2007 na BBC-Brasil, diz que fizeram uma pesquisa – feita na Universidade de Warwick, na Grã-Bretanha – coordenada pelos pesquisadores, Stuart Cadwallader e Jim Campbell, que são Academia Nacional para Jovens Talentosos e Superdotados da universidade britânica. Eles pesquisaram em torno de 1.057 pessoas entre 11 a 18 anos para realizar a pesquisa, que responderam algumas perguntas que eram sobre família, sobre comportamento na escola, em horas de lazer e até a preferência de como fazer as tarefas. E também, claro, responderam perguntas sobre sua preferência musical. O estilo mais popular é o rock seguido bem de perto, pelo pop. Porém, mais um terço dos entrevistados citou o heavy metal como gênero preferido. Esses estilos musicais também foram associados a características de personalidade dos jovens, os que diziam gostar de heavy metal, teriam uma autoestima mais baixa do que os outros. O que intrigaram os pesquisadores com essa relação, então, entrevistaram dezenove estudantes superdotados sobre a opinião deles acerca do heavy metal. 

Embora os estudantes não acreditam ser “metaleiros”, eles analisaram alguns aspectos do estilo musical. Dizem que o heavy metal pode ser usado um instrumento de catarse (Libertação de sentimentos reprimidos: libertação, purificação, purgação, purga, limpeza, depuração, expiação, ab-reação), usando as músicas normalmente, altas e agressivas para liberar suas frustrações e irritações. Embora há fãs que tenham a opinião que o estilo deve ser ouvido a todas as horas, muitos disseram (os estudantes superdotados), esse estilo por estar de mal humor. Segundo Cadwallader, talvez as pressões de serem superdotados associadas com o talento dessa característica deles, possa temporariamente, ser esquecidas a partir da música. (aqui)

O que parece? Pessoas inteligentes escutam o estilo – mesmo que não seja um estilo preferível – porque é um estilo que tira a tensão de ser o que se é. Toda a agressividade é focada dentro da música como como um alento. Sem contar que se você fizer uma simples pesquisa no Google, se vai constar que os rockeiros são mais inteligentes. Isso que o filósofo Olavo de Carvalho disse não faz sentido nenhum e nem é sério, pois em uma das suas palestras chegou a dizer que o Bolero de Ravel seria como uma “masturbação”, não há embasamento nenhum nisso. Em um outro trecho ele diz:

Em todos nós existe algo de metaleiro pelo simples fato de que vivemos numa época em que ninguém escapa de participar, de algum modo, do sentimento apocalíptico que está no ar.


Não acho que há nada de metaleiro na filosofia do Olavo, mesmo o porquê, toda a sua filosofia beira a loucura conspiratória. Nem acho que tem um “sentimento apocalíptico no ar” – sendo que o significado de apocalipse é uma obra obscura, escatológica e aterrorizante – e sim, estamos rompendo algumas coisas que não cabem mais nesse momento. A questão é muito mais complexa do que achar que o estilo de música que emburrece o ser humano, sendo que um estilo de música é um conjunto entre a melodia e a letra. Por outro lado, há sempre aquilo que achamos que nosso gosto é superior, nosso ritmo é o que melhor mostra o que tem de melhor e no bem. E no caso do filósofo, tem a parte da fé e das suas próprias crenças. 

Juiz Sérgio Moro escolheu o caminho do bem


sábado, 2 de setembro de 2017

Assédio jurídico



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“Entendo que a conduta pela qual o indiciado foi preso melhor se amolda à contravenção penal do artigo 61, Lei das Contravenções Penais [importunação ofensiva ao pudor], do que ao crime de estupro (artigo 213, Código Penal). ” elaborado pelo juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto

Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Antropologicamente, somos animais culturais por pertencemos a espécie primata e como primatas – pesquisas mostram que macacos como chimpanzés, nossos primos de espécie, são uma espécie que tem uma certa cultura e ensina isso para sua prole – somos uma espécie que construímos uma cultura e essa cultura é passada para a prole o mesmo que acontece com algumas espécies de macacos. Mas existe uma diferença, somos uma espécie que sabemos (por isso “homo sapiens”, ou seja, “homem sábio), porque a nossa natureza é a busca do saber, como dizia o filósofo grego, Aristóteles. Aliás, em sua obra “Metafisica”, ele dará maior ênfase dentro da antropologia, pois a metafisica (meta to phisys) é um estudo do ser enquanto ser que seria, a filosofia última. Ora, se somos uma espécie que cria varias culturas, se somos uma espécie que cria instituições para passarmos essa cultura para a outra geração, ao mesmo tempo, somos uma espécie consciente da cultura que criamos e delas tiramos leis sociais. Essas leis sociais são para serem seguidas, pois, como espécie social, não podemos ter vários conflitos.

Mas quando criamos cultura, criamos uma espécie de moral (costumes) para montar a ética (caráter) de cada sujeito e esse sujeito, começa a agir conforme os costumes e conforme o caráter que é ensinado. Ai que está, podemos até fazer uma reflexão mais profunda, se somos primatas e dentro da espécie existem culturas passadas em geração em geração, as leis morais estão acima das leis éticas que moldam nosso caráter. A grosso modo, podemos pegar um exemplo que a maioria das mães ensinam os filhos, que não podem pegar nada de algum lugar e levar embora sem a permissão do dono. Isso seria uma lei moral, por se tratar de uma conduta social, que vai moldar na educação (que muitos pais jogam a responsabilidade na escola), o caráter da criança. Agora, quando esse “caráter” (ética) não foi ensinado direito na educação, ele vai roubar de um pequeno chocolate, até mesmo, um tênis e até ameaçando a vida daquele que o sujeito está roubando. Quando estamos falando de um homem “sem caráter”, estamos dizendo que ele não recebeu a educação ética dentro da sua casa e no caso de tratar pessoas – principalmente, mulheres – como objetos, são coisas que não entram dentro de uma moral, mesmo que essa moral vê o homem como dominante, tratar uma mulher como uma “coisa” é ou deveria ser errado.

Dentro da cultura vigente, há uma espécie de comunicação, essa comunicação pode ser de fala, como essa comunicação pode ser escrita. Primeiro, você tem que aprender como se conduzir para ser um ente social civilizado (não submisso), mas ao mesmo tempo, há regras dentro de uma conduta moral que não podem ser esquecidas, como mostra o filósofo Kant em uma bonita passagem no seu “Crítica da Razão Pura”: “Duas coisas me enchem o ânimo de admiração e respeito: o céu estrelado acima de mim e a lei moral que está em mim.”. Ou seja, para Kant, há uma “lei moral” dentro do ser humano que conduz a fazer sempre o que é certo, sem agredir ninguém ou ofender, porque uma sabedoria muito antiga sempre diz, que o meu direito termina quando a do outro começa. Claro, que dentro disso tudo ainda tem as escolhas que o ser humano pode fazer, pois, se os outros primatas fazem ou se submetem sem questionar, o ser humano como uma espécie consciente, pode questionar algumas coisas. Mas seguir é diferente do se submeter, a questão democrática pede também que haja uma regra de consenso social.

O que vimos no dia 29, terça-feira, é uma espécie de conduta não moral (imoral) que foge à regra da maioria das pessoas e reacende a velha questão do “machismo cultural” que temos no Brasil. Tratar a questão com tamanha “banalidade”, é perpetuar a ideia que a mulher foi feita só para dar prazer ao homem, que a mulher deve se submissa e aceitar que elas sejam traídas, judiadas, maltratadas e no mais, sejam constrangidas dentro de um transporte público. Sendo que no caso, o homem se “masturbou” na mulher como um ato de pura imoralidade, constrangendo sim a mulher a uma violência, porque ela se sentiu invadida. Um corpo de uma pessoa (persona), é um corpo particular, não é de todo mundo e, portanto, você escolhe como se portar diante desse fato inusitado. Ainda mais uma mulher e ainda mais num ato sexual que não é aprovado pela maioria, que se fez dentro de um ônibus ou ainda, existem nos transportes públicos em muitos lugares. Mas em países onde a ignorância é sempre uma regra por tratar a educação escolar como em último lugar, sempre vai haver esse tipo de violência. Aí entra em uma outra máxima do pensamento kantiano: “Age somente, segundo uma máxima tal, que possas querer ao mesmo tempo que se torne lei universal. ”. Uma interpretação jurídica entra nessa máxima, porque se trata de não uma interpretação a rigor da lei, mas uma interpretação reiterada dentro do “machismo cultural”.

Claro, existe uma liberdade irrestrita em interpretar qualquer coisa, mas a partir do momento que não se entende que o termo “constrangimento” só tem uma só interpretação, então, estamos mal de juristas. Como pode juristas dizerem que constrangimento num código penal seria diferente em falar em uma conversa qualquer? Segundo o Google o termo constranger é “transitivo direto” e quer dizer “tolher a liberdade a.”, ainda, o termo “tolher” quer dizer “impedimento”, sendo assim, você constranger uma pessoa é impedir a liberdade de reagir ou ficar com vergonha. Quando há um constrangimento, há uma “violência física ou moral exercida contra alguém; coação”, portanto, você ter o mesmo ato do sujeito que fez isso, é um ato de “coagir” a vítima num ato de violência, tanto física, como moral, que é sim, um crime (transgressão imputável da lei penal por dolo ou culpa, ação ou omissão; delito), e deveria sim, ser punido.

O que acontece é que interpretações são conceitos, que poderíamos definir como aquilo que a mente concebe ou entende uma ideia ou noção, representação geral e abstrata de uma realidade, também, conceitos são significados. O que acontece é que, o conceito é uma frase (juízo) que diz e o que a coisa é ou como funciona, enquanto o-que-é é a expressão de um predicado comum a todas as coisas da mesma espécie. Afinal, o ser humano é um ser que raciocina e a racionalidade, é o predicado comum a todos os seres humanos. Numa linguagem mais iluminista e kantiana, o conceito é um juízo sintético (relativo a ou que envolve síntese) a priori. Só a título de curiosidade, síntese é “método, processo ou operação que consiste em reunir elementos diferentes, concretos ou abstratos, e fundi-los num todo coerente”. E o “a priori” é o “afirmado ou estabelecido sem verificação; pressuposto” e é o “relativo a ou que resulta de raciocínio cujas definições foram dadas inicialmente”.


Então, como criamos os futuros “homens” desse pais? Homens são feitos de instintos ou de racionalidade? Ainda muito mais do que isso: conceitos podem ou não serem construídos a partir da educação? Dentro de qualquer coisa, vale uma única interpretação e é aquela que o modo semântico coloca como símbolo de cada termo, fora isso, é pura interpretação conceitual.