
Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Para mim, o problema dos filósofos contemporâneos, é que
muitas coisas sobre os inúmeros pensamentos antigos, devem mudar para caber em
seus conceitos. Como expliquei no texto anterior sobre a sentença do ejaculador
do ônibus (aqui), conceito é uma representação abstrata (que podemos definir
como subjetivo), de uma realidade ou da realidade. Sendo assim, não podemos,
por exemplo, definir um pensamento a partir da nossa realidade, mas da
realidade do pensamento da época e o porque daquele pensamento. A grosso modo,
você não pode analisar Epicuro, por exemplo, a partir de métodos e morais
contemporâneas a partir até mesmo, de uma moral cristianizada. É o caso do
filósofo Olavo de Carvalho que analisa pensamentos da antiguidade como se
fossem, pensamentos contemporâneos e aí que está o erro. As morais são
conceitos e conceitos são verdades (no sentido de realidade), mas que verdades
não são absolutas e podem sofrer mudança. Se o ser humano acreditou que o sol e
todos os planetas giravam em torno da Terra, que era uma verdade na época, hoje
se sabe que a Terra gira em torno do sol.
Só que o Olavo de Carvalho estuda tudo e sabe tudo, pois,
ele estuda também, muitas outras coisas e uma delas é o heavy metal que em
2014, mais ou menos, disse emburrecer a juventude. Ora, se ele se atentar nas
letras do Led Zeppelin – que ele diz ser os inventores do heavy metal sendo que
há pesquisas que mostram que foi a banda Steppenwolf – ou do Black Sabbath, são
letras voltadas ao que na época poderíamos chamar de contracultura – até mesmo
Ozzy tem uma bíblia do século 16 na entrada da casa dele. A coisa beira a
teoria conspiratória de um louco que fugiu de um hospício, ou um cara que só está
pensando na sua própria fé, sendo que, achar que a música pode emburrecer uma
pessoa, não há base nenhuma dentro de qualquer pesquisa. Nas palavras do
notório filósofo:
A maior prova de que o
heavy metal tem algum potencial emburrecedor são as analogias deslocadas e
absurdas que, à menor provocação, seus cultores disparam em defesa dele, como
se tocar nesse ponto ativasse algum núcleo psicótico escondido em seus
cérebros.
Primeiro que não há nenhuma defesa do heavy metal, sendo uma
música de contracultura, ela também questiona o cristianismo como cultura
vigente. Como acontece nos países nórdicos, onde bandas cultuam a volta da
cultura pagã viking – seu maior representante é a banda Bathory – o heavy metal
sai da subjetividade popular ou religiosa (senso comum), para se emprenhar em uma
outra visão. Na maioria dos casos, não estão questionando Deus ou sua
existência, mas a subjetividade religiosa e cultural da maioria. Mas claro, que
alguns fanáticos – como os olavettes – vão dizer absurdos ou atacar a pessoa e
não questionar a ideia, como acredito que não é culpa do próprio estilo
musical.
Uma reportagem de 2007 na BBC-Brasil, diz que fizeram uma
pesquisa – feita na Universidade de Warwick, na Grã-Bretanha – coordenada pelos
pesquisadores, Stuart Cadwallader e Jim Campbell, que são Academia Nacional
para Jovens Talentosos e Superdotados da universidade britânica. Eles
pesquisaram em torno de 1.057 pessoas entre 11 a 18 anos para realizar a
pesquisa, que responderam algumas perguntas que eram sobre família, sobre
comportamento na escola, em horas de lazer e até a preferência de como fazer as
tarefas. E também, claro, responderam perguntas sobre sua preferência musical. O
estilo mais popular é o rock seguido bem de perto, pelo pop. Porém, mais um
terço dos entrevistados citou o heavy metal como gênero preferido. Esses
estilos musicais também foram associados a características de personalidade dos
jovens, os que diziam gostar de heavy metal, teriam uma autoestima mais baixa
do que os outros. O que intrigaram os pesquisadores com essa relação, então, entrevistaram
dezenove estudantes superdotados sobre a opinião deles acerca do heavy
metal.
Embora os estudantes não acreditam ser “metaleiros”, eles
analisaram alguns aspectos do estilo musical. Dizem que o heavy metal pode ser usado
um instrumento de catarse (Libertação de sentimentos reprimidos: libertação,
purificação, purgação, purga, limpeza, depuração, expiação, ab-reação), usando
as músicas normalmente, altas e agressivas para liberar suas frustrações e
irritações. Embora há fãs que tenham a opinião que o estilo deve ser ouvido a
todas as horas, muitos disseram (os estudantes superdotados), esse estilo por
estar de mal humor. Segundo Cadwallader, talvez as pressões de serem
superdotados associadas com o talento dessa característica deles, possa
temporariamente, ser esquecidas a partir da música. (aqui)
O que parece? Pessoas inteligentes escutam o estilo – mesmo
que não seja um estilo preferível – porque é um estilo que tira a tensão de ser
o que se é. Toda a agressividade é focada dentro da música como como um alento.
Sem contar que se você fizer uma simples pesquisa no Google, se vai constar que
os rockeiros são mais inteligentes. Isso que o filósofo Olavo de Carvalho disse
não faz sentido nenhum e nem é sério, pois em uma das suas palestras chegou a
dizer que o Bolero de Ravel seria como uma “masturbação”, não há embasamento
nenhum nisso. Em um outro trecho ele diz:
Em todos nós existe algo de metaleiro
pelo simples fato de que vivemos numa época em que ninguém escapa de
participar, de algum modo, do sentimento apocalíptico que está no ar.
Não acho que há nada de metaleiro na filosofia do Olavo,
mesmo o porquê, toda a sua filosofia beira a loucura conspiratória. Nem acho
que tem um “sentimento apocalíptico no ar” – sendo que o significado de
apocalipse é uma obra obscura, escatológica e aterrorizante – e sim, estamos
rompendo algumas coisas que não cabem mais nesse momento. A questão é muito
mais complexa do que achar que o estilo de música que emburrece o ser humano,
sendo que um estilo de música é um conjunto entre a melodia e a letra. Por outro
lado, há sempre aquilo que achamos que nosso gosto é superior, nosso ritmo é o
que melhor mostra o que tem de melhor e no bem. E no caso do filósofo, tem a
parte da fé e das suas próprias crenças.
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