
“A
música é o meio mais poderoso do que qualquer outro porque o ritmo e a
harmonia têm sua sede na alma. Ela enriquece esta última, confere-lhe a graça
e ilumina aquele que recebe uma verdadeira educação. ”
Platão
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Por Amauri Nolasco Sanches
Junior
O termo musica veio do grego “musikê” que se traduz como “a
arte das musas”, pois para os gregos a música tinha a ver com tirar melodias
dos instrumentos musicais. Os instrumentos artesanais eram importantes para extrair
sons desses instrumentos como as belas artes do povo e as suas inúmeras culturais.
Essas musas eram as nove filhas de Mnemósine ("Memória") e de Zeus –
que era muito mulherengo – e o templo dessas musas era o Museion e o termo
museu, veio de “musas”. Aliás, o termo museu em várias conotações linguísticas,
até mesmo a indo-europeia, era um local de cultivo de preservação das artes e ciência.
Mas essa analise etimológica não é à toa, nem quer dizer que
um ritmo tem mais ligação divina do que o outro, quem gosta fique à vontade em
gostar, mas se o nome é “rock” tem que ficar no rock. Existem inúmeros festivais
de axé, tem vários festivais que agregam o público gay e existem e existiram
roqueiros gays. Mas roqueiros são para festivais de rock e não festival de
outras coisas, que claro, tem o “dedo” da Rede Globo. Mas será esse tipo de
coisa retira mesmo o preconceito? Será que você colocar pessoas que são discriminadas
não serão mais? Mas não é isso que está em discussão, mas o verdadeiro contexto
que é o festival que está inserido o nome ou a proposta do festival. Se está “rock”
em um “rock do Rio” – que é a tradução – tem que ser rock e um festival de rock
e não tem nada a ver com outros estilos ou preconceito. O problema dentro da “coisa”
toda é cada “macaco no seu galho”.
Dentro da filosofia devemos analisar a liberdade e a vontade
mais de perto, porque quando você está com vontade é quando você se desprende
daquilo que a maioria pensa ou consome. Não sejamos hipócrita, a grande maioria
das pessoas não sabem o que é música e nem o porquê gosta daquele estilo, isso
é falácia e nada tem a ver com gosto ou tem a ver com liberdade. Isso tem a ver
com a indústria cultural (que sim Adorno acerta em algumas análises e não sou
comunista), que paga rádios e paga outras mídias para tocarem incansavelmente. Tem
a verdade com a convivência social que e muito mais fácil quando você gosta o
que a maioria gosta, tem a ver com a rede social (e muitas vezes, não tem nada
a ver com a rede social virtual) onde você está inserido. Quem tem uma convicção
fraca e um conceito cultural fraco, vai aderir ao que a grande maioria produz. Isso
tem a ver com a MPB (que as mídias promovem), isso tem a ver com “modinhas”,
isso tem a ver com a região onde se encontra e muito mais. Por isso eu coloquei
a origem do termo música, pois, isso tem a ver com a espiritualidade do ser
humano enquanto seres conscientes da sua realidade.
Mas há uma diferença “gigantesca” você ouvir um Legião
Urbana entendendo as letras das músicas, do que você cantar sem entender e
repetir a letra sem saber o que aquilo quer dizer. Tanto que, por exemplo, todo
mundo canta e gosta da música “Pais e filhos”, mas poucos sabem que é uma música
contando um contexto de suicídio do protagonista (isso foi dito pelo Renato
Russo na famosa entrevista para a MTV em meados dos anos 90 e já naquela época,
ele reclamava disso), é uma música que fala de consciência daquilo que fizemos
a vida toda. Outro que eu duvido alguém cantar entendendo a letra é o Raul
Seixas – aliás, estou devendo um texto sobre o “seixismo” que rola por aí – porque
as pessoas repetem muitas músicas, ora porque pensam estarem cantando sobre uma
ideologia, ou está cantando sobre algo que acreditam. A música “Maluco Beleza”
é a prova cabal disso, porque pensam que Raul está dizendo uma coisa e não está,
é num outro contexto. Como está na própria música: “Enquanto você/Se esforça
pra ser/Um sujeito normal/E fazer tudo igual” seria uma contradição das outras músicas
que essas mesmas pessoas gostam. Essas mesmas pessoas se esforçam para serem
pessoas “normais” e fazerem tudo “igual” e não é bem assim. E tem muito disso
no Brasil, porque com inúmeras desculpas de serem colonizados por inúmeras culturas
ou terem vivido em inúmeras reencarnações em outras nações, ou porque é um povo
sem convicção, e é um problema educacional brasileiro.
Duvido que se tivéssemos uma certa educação, as pessoas
iriam escutar Marilia Mendonça como a música “Infiel” que mostra um “barraco”
de um homem sendo expulso de dentro de casa por causa de uma traição e dizem,
que a cantora se inspirou no próprio pai. Não só na música você vê isso,
estando eu diante da estátua do Rei Leônidas de Esparta – sim, aquele dos
trezentos – numa exposição num shopping, tantas coisas o pai deveria ensinar
para o filho, não, ele simplesmente disse: “olha o pintinho dele”. Não temos educação
para a arte e vimos isso na exposição do Santander (no qual sou contra todo
tipo de censura), onde se proibiu quem gosta de ver, não se analisou o contexto
das obras e ainda mais, querem colocar o país numa ditadura só porque não concordam
com aquilo que os outros gostam e apoiam. No mesmo modo que não gosto de certas
músicas e ritmos, também acho que devemos respeitar o gosto da maioria. Mas existem
“gostos” e existem “estar acostumado” com aquilo, estar com vontade de ouvir e estar
“acostumado” em ouvir. Mas a questão é outra, é separar as coisas e os
momentos, pois, uma exposição sobre Picasso, pois exemplo, não deve ter obras
de outro pintor.
Existem “interesses” diversos por detrás daquilo que deveria
ser um festival de rock, porque você aumentar os nichos não quer dizer que você
vai despertar o interesse da maioria. Senão
vai ter conjunto de forró e nada terá a ver com rock, sinto muito.
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