segunda-feira, 25 de junho de 2018

Por que que nada muda na inclusão de pessoas com deficiência?






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Amauri Nolasco Sanches Junior (aqui)


Quando nós olhamos o nosso país, temos a impressão que ele é um amontoado de culturas velhas e que não quer ver o futuro. Países lá fora, já perceberam – isso é a coisa mais inteligente que poderiam ter feito – que dois alicerces movem para o progresso: educação, com um ensino bom e não, matérias que acham ser importante; e o bem-estar social, como saúde, emprego e uma casa para morar. Porque, se você tiver uma saúde boa, você trabalha mais e ajudar a crescer a economia. Se tivemos emprego, compramos mais e a “roda” econômica gira e o país tem mais credibilidade dentro da economia global. Se não temos nem casa e nem um saneamento básico – alguns lugares aqui, as pessoas andam com os fossos abertos – temos mais estabilidade dentro das famílias e não temos índices de criminalidade e nem de outras atividades ilícitas. Isso é básico e não precisava ficar aqui falando isso. Mas, os nossos governantes têm prioridades de cunho próprio para se preocuparem.

Por que estou falando isso? Porque sempre temos que escrever isso para lembrar que nós, pessoas com deficiência, não nascemos a parte da sociedade. Nós estamos dentro da sociedade como qualquer ser humano. Nós somos seres humanos. Mas, temos um defeito que a minha noiva alertou, não sabemos o que seguirmos e não tem nada de novo dentro da luta da inclusão das pessoas com deficiência. E isso dentro da política, é muito nocivo e muito preocupante. Porque se você disser que defende a inclusão, todos os movimentos vão defender a inclusão e nós, como movimento efetivo, estamos sempre reivindicando a deputados e senadores, que dizem lutar pela causa. O que há de novo? Não temos e temos uma aversão – não eu, mas, todo o segmento das pessoas com deficiência – a lerem, a escreverem, a planejarem estruturas dos movimentos e reivindicações que estamos a anos tentando conseguir. A questão é que estamos patinando sempre nas mesmas coisas. Sempre achando que eu vou fazer, minhas ideias estão certas, a minha luta é adequada, mas, não há nada que os movimentos não tenham dito antes. Sempre aparece pessoas achando que é inédito lutar pelas pessoas com deficiência e não é, há movimentos aqui, que são movimentos mundiais de 70 anos de luta. Mesmo assim, temos sempre que perguntar: o que há de novo na luta por uma inclusão das pessoas com deficiência efetivamente?

Ora, o novo “barato” da vez, que me chegou por intermédio de alguns colegas, é o Inclusão de Rua. Segundo a boca a boca – como tudo aqui no Brasil – é um movimento que traz as pessoas com deficiência para a rua idealizado por um jornalista social. Primeiro temos que perguntar: qual a finalidade desse movimento? Como me responderam já, uma tomada de consciência. Ora, meu movimento junto com a minha noiva, a Irmandade das Pessoas com Deficiência, fazem exatamente a mesma coisa, saímos para passear e, no entanto, começamos a conscientizar as pessoas no intuito de respeitar a diversidade. A FCD (Fraternidade das Pessoas com deficiência e doentes), fazem o mesmo, passeiam e mostram as pessoas com deficiência para a sociedade. Entre outros movimentos, que fazem a mesma coisa a anos, e que a maioria não quer participar, porque temos um viés político e a maioria, só quer o “oba, oba”. Outra pergunta muito importante é: que jornalista social fez esse movimento? Qual a intenção de ele fazer o movimento e quem ele é? Fica parecendo que as pessoas nos usam – não estou dizendo que é o caso dele, mesmo o porquê, eu nem sei quem é o moço – para melhorar a sua imagem, ou para reforçar a imagem de pessoas que só querem passear e ir em balada (ou coisa parecida).

A questão vai muito além do que sair na rua. Existem pessoas que não saem nem na janela para tomar um sol. Não tem um tratamento médico adequado, existem ainda no Brasil (provavelmente, em outros locais da América Latina), que trancafiam pessoas com deficiência e até, amarram essas pessoas nas camas. Essas instituições foram denunciadas numa reportagem (aqui), que uma ONG internacional (Human Rights Watch), visitaram abrigos que cuidam das pessoas com deficiência física (que não é novidade). Sem nenhuma novidade. Existe isso muito no Nordeste, onde a religiosidade é muito acirrada – não estou falando que não existe em outras localidades – pessoas com deficiência são acorrentadas em suas casas por causa, da vergonha dos pais de terem uma pessoa com deficiência como filho. São crenças. Muitos abrigos – não só para pessoas com deficiência – usam essas crenças para ganharem dinheiro e prestigio como abrigos que cuidam dos “coitados” que não podem se locomoverem. O que fazemos como movimento? Nós não lemos. Nós somente, nos preocupamos com marketing pessoa – que não tem nada de errado – mas, não traz nada de novo na luta das pessoas com deficiência. Somente aquela opinião formada sobre tudo, como diria Raul Seixas. Então, eu prefiro ser uma “metamorfose” ambulante e dizer que sim, mudo de ideia, mas, não saiu do meu foco.

Curiosamente, eu vi dois vídeos bastante interessantes. Um é o chargista, Mauricio Ricardo, que ao falar do ódio virtual estar saindo do mundo virtual e refletir no mundo real, do dia a dia, deu um exemplo do cadeirante. Disse que para o cadeirante subir no elevador (ele disse rampinha), o motorista tem que o ajudar a subir e muitas vezes, as pessoas ficam reclamando e é verdade. Várias vezes, eu e minha companheira, presenciamos, pessoas reclamando de a van descer o cadeirante na rua, porque as calçadas estão irregulares – o tesão do brasileiro de fazer degrau – reclamam, que a van para numa vaga que ela deve sim, parar, porque é a vaga pera pessoas com deficiência. O que me chamou mais atenção foi: um cara que não está engajado na luta das pessoas com deficiência, sabe disso e fala para todo os seus seguidores, o porque os canais que estão engajados não falam? Vou deixar o vídeo (aqui).

O outro vídeo, foi da Mariana Torquato no seu canal “Vai uma mãozinha aí? ”, que respondeu um internauta com deficiência, dizendo que não havia se encontrado. Ela disse que também não tinha se encontrado com sua deficiência, pois, como não tem um dos braços – com má formação congênita – pensava que iria crescer de novo. Com o passar do tempo e com a conversa que ouviu a tia e a mãe dela, sobre vagas em concursos públicos, a ficha caiu e ela (Mariana), ficou muito mal por causa disso e a pouco tempo ela se aceitou. Ora, quantas pessoas com deficiência, não se aceitam e quase se suicidam? Quantas pessoas conseguem cometer o suicídio? Tanto é, que teve aquele filme patético, que cometeram suicídio por causa da sua paraplegia (no filme a culpa da deficiência é do próprio protagonista). Que reforça o que sempre disse: se você não se assumi o que você é, o que você tem, como você se locomove, não adianta você fazer milhares de movimentos que não vai adiantar nada. O vídeo (aqui).

Por fim, não menos importante, é a imagem que fazem das pessoas com deficiência que, reforçam tudo aquilo que eu disse. Não somos nem “anjos” e muito menos, “demônios” e caráter, não é sinônimo de deficiência. Por que estou dizendo isso? Porque existe uma imagem – muito difundida na igreja católica e protestantes – que as pessoas com deficiência são “coitadas” e isso é reforçado com campanhas como o Teleton. Onde as pessoas com deficiência precisam ser assistidas, que as outras pessoas que não tem deficiência, devem tutorear tudo que as pessoas com deficiência fazem. Como fui paciente da entidade, sei muito bem, que a AACD (Associação a Assistência a Crianças Deficientes), além de sub proteger quem fez tratamento lá, não tratou direito (muitas pessoas sofrem dores crônicas e problemas sérios por falta de um tratamento de verdade), não teve nenhum aparelho de verdade, porque sempre deu uma desculpa que não tinha Raio X ou outra coisa. Sempre tratou a mulher com deficiência, como meninas eternas (não tem ginecologista) e também, não deu um tratamento psicológico de verdade. Faziam terrorismo psicológico com os pais, dizendo que seu filho não vai andar, que seu filho desenvolveu o que tinha para desenvolver e ainda, mostra mentiras. Eles não têm trabalho nenhum de inclusão e nunca vão ter, porque ganham com a dependência das pessoas com deficiência, e ganham porque todo mundo paga, ninguém faz nada lá de graça.

A falta de maturidade vem da sub proteção da família e como isso pode refletir dentro da sociedade. Muitas pessoas com deficiência, acabam aceitando o fato de serem bajuladas como “coitados” por pura acomodação, seja familiar, seja institucional. Tem pessoas cadeirantes, que aceitam serem internados, que aceitam serem colocados em quartinhos nos fundos, que aceitam prêmios de consolação. A zona de conforto é gostosa, é confortável, é confortável abraçar causas já prontas. Mas, aí vem de novo a indagação: o que há de novo? Quando você vê que as pessoas não compartilham ou leem notícias que cadeirantes, literalmente, estupraram a amiga por causa de uma opinião dela (não sei em que contexto), podemos ver o quanto ainda temos o nosso estereótipo de “coitados” ou de “santos” que não podem ser mexidos. Deixo a reportagem (aqui). Isso é sim, herança deixada dentro de crenças e dentro da imagem de uma pessoa com deficiência dependente, imatura, que não sabe o que está fazendo. Sabe sim. Muitos cadeirantes engravidam moças e usam as deficiências como escudo para não assumirem, muitos cadeirantes cometem delitos e a cadeira de rodas não é “régua”, para medir caráter.

Fora que os postos de saúde não tratam as pessoas com deficiência direito, sempre jogando a culpa da doença como consequência. Como uma dor de dente tem a ver com a deficiência? Como um posto de saúde não pode tratar uma coisa tão seria de forma tão secundaria? Se pagamos temos entidades como a AACD, se vamos nas redes publica temos médicos que não dão importância para sua dor. Então, como um Inclusão na Rua pode ajudar as pessoas com deficiência trazendo uma nova visão? Porque, insisto, sair, passear, trazer consciência dentro de uma perspectiva nova, não estou vendo. Tudo é bem velho. Acho que usarei uma outra música do Raulzito com o Marcelo Nova, “tem muita estrela para pouca constelação”.

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Livro: Clube das Rodas de Aço: Tratado Sobre o Capacitismo (aqui)

domingo, 17 de junho de 2018

As cadeirantes estupradoras





Amor sob vontade 

Essa semana uma reportagem do “Globoesporte”, que confirma o que sempre disse nos meus textos sobre o segmento das pessoas com deficiência: cadeira de rodas não é parâmetro de caráter. A ética é primordial dentro de qualquer grupo e direito tem muito a ver, com deveres também. O caso aconteceu em fevereiro de 2017 e só esse ano a vítima relatou o acontecido. Que ao meu ver, deve ser apurado do mesmo modo se qualquer pessoa fizesse isso, inclusive, com prisões.

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Como disse, o caso aconteceu em fevereiro de 2017, quando acabou um treno da equipe Gladiadoras/Gaadin - Grupo de Ajuda dos Amigos Deficientes de Indaiatuba – que fica no interior de São Paulo. As jogadoras cadeirantes envolvidas, Lia, Denise, Geisa e Gracielle Silva, usaram um “pênis” de borracha para abusar de uma companheira. Gracielle era coordenadora do time na época e se suicidou no fim de maio. O fato aconteceu assim: jogaram a vítima no chão e usaram o órgão de borracha para abusarem. O vídeo circulou pelo whattsapp e pelas redes sociais. O advogado da Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas (CBBC) disse que o caso está sendo investigado e caso comprove o crime, há uma previsão mais concreta sobre o banimento das abusadoras, que, para mim, se há um vídeo não tem como negar.

As coisas para mim estão mais esclarecidas, não muito, na reportagem do “O Globo”, porque a reportagem do “Globo Esporte” estava completamente, vagabunda e confusa. Por que acontece isso? primeiro, porque as pessoas tem um tabu enorme de falar das pessoas com deficiência, como se fosse um crime. Uma cultura teletoniana (vinda do Teleton), que mistura uma cultura capacitista e uma cultura vitimista, católica cristã medieval. Ora, porque não tratar de igual realidade qualquer crime feito por uma pessoa cadeirante? Qual a diferença? A campanha “nós fodemos”, foi levada ao extremo.


Uma das envolvidas, disse que o “pênis” de borracha era dela e era apenas uma brincadeira. Mostra a incapacidade madura social que a maioria dos cadeirantes levam a vida. A maioria não lê. Não estuda nada e ainda, só pensa em sexo. Claro, que tem explicações psicanalíticas para isso. Vivemos numa sociedade judaico-cristã onde o sexo é um tabu por ser pecado, por ser errado e temos que não amar e sentir Deus, mas, teme-lo como se fosse um monarca no alto de um trono jogando punições. Os que tem razão são os homens, são os reis da casa, são os provedores, e as mulheres, devem ser submetidas a eles. Tudo que saem disso, ou é do demônio ou é de esquerda comunista (como a liberdade fosse errado), e isso, está na sociedade ocidental, a mais de mil anos (contando a conversão romana). Imagina isso para um cadeirante ou outra deficiência? A repreensão social e a margem de um preconceito perante o sexo, são bem maior do que o resto da sociedade. Começamos a sair para o mundo desde os anos 90 e isso é fato. Com isso a repreensão é bem maior e o libido do cadeirante é uma libido inexistente para a sociedade, que por experiência própria, existe sim.

Por outro lado, não quero parecer aqui que estou dando álibis as jogadoras, que acabaram com suas carreiras – uma até se matou- por causa de uma brincadeira idiota. Aliás, esta história de brincadeira é papo furado, porque se batesse na cara da outra cadeirante com o “brinquedo” ou fizessem outra coisa, mas, houve a penetração sem o consentimento e isto é estupro. Se houve estupro, houve crime. Se houve crime deve ser punido e isso, implica várias coisas jurídicas. Além do mais, há uma conduta anarcocapitalistas (libertário), do Princípio da Não Agressão (PNA). Esse princípio diz, que todas as pessoas são proprietárias de seu próprio corpo físico assim como todos os recursos naturais que elas colocam em uso através do seu corpo antes de qualquer um o faça. Isso implica o seu direito de empregar estes mesmos recursos como lhe convém até o ponto que isto afete a integridade física da propriedade do outro ou delimite o controle da propriedade de outro sem seu consentimento. É um princípio ético interessante na qual, eu concordo plenamente. Meu corpo não pode ser violado, porque as condutas naturais no qual tenho pleno direito de me expressar, foram impostas. No caso da vítima, ela foi violada no direito de querer ou não ser penetrada com o “brinquedo”.

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A questão é complexa, mas, vale uma reflexão. Eu venho falando desde a campanha da Kika de Castro de mostrar pessoas com deficiência pelados ou a campanha “Nós fodemos”, que temos que fazer uma coisa mais madura. Claro, temos todo o direito de expressamos nossa sexualidade, mas, a maioria de nós (pessoas com deficiência), e nossos pais, ainda não estão preparados. Sair de uma repressão sem uma devida educação, transforma uma conscientização em bestialidade e começam brincadeiras desse tipo dentro do segmento de pessoas com deficiência. Pessoas com Síndrome de Down, que são estereotipados como incapazes mentalmente, são muito mais maduros e seus pais tem muito mais capacidade de lhe dar com essas coisas, do que um cadeirante que não tem nenhuma deficiência intelectual. Essa “brincadeira” por parte das cadeirantes, mostra o quanto não querem ler e nem pesquisarem nada. 


Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News