
Amauri Nolasco Sanches
Junior (aqui)
Quando nós olhamos o nosso país, temos a impressão que ele é
um amontoado de culturas velhas e que não quer ver o futuro. Países lá fora, já
perceberam – isso é a coisa mais inteligente que poderiam ter feito – que dois
alicerces movem para o progresso: educação, com um ensino bom e não, matérias que
acham ser importante; e o bem-estar social, como saúde, emprego e uma casa para
morar. Porque, se você tiver uma saúde boa, você trabalha mais e ajudar a
crescer a economia. Se tivemos emprego, compramos mais e a “roda” econômica
gira e o país tem mais credibilidade dentro da economia global. Se não
temos nem casa e nem um saneamento básico – alguns lugares aqui, as pessoas
andam com os fossos abertos – temos mais estabilidade dentro das famílias e não
temos índices de criminalidade e nem de outras atividades ilícitas. Isso é
básico e não precisava ficar aqui falando isso. Mas, os nossos governantes têm
prioridades de cunho próprio para se preocuparem.
Por que estou falando isso? Porque sempre temos que escrever
isso para lembrar que nós, pessoas com deficiência, não nascemos a parte da
sociedade. Nós estamos dentro da sociedade como qualquer ser humano. Nós somos seres
humanos. Mas, temos um defeito que a minha noiva alertou, não sabemos o que
seguirmos e não tem nada de novo dentro da luta da inclusão das pessoas com
deficiência. E isso dentro da política, é muito nocivo e muito preocupante.
Porque se você disser que defende a inclusão, todos os movimentos vão defender
a inclusão e nós, como movimento efetivo, estamos sempre reivindicando a
deputados e senadores, que dizem lutar pela causa. O que há de novo? Não temos
e temos uma aversão – não eu, mas, todo o segmento das pessoas com deficiência
– a lerem, a escreverem, a planejarem estruturas dos movimentos e
reivindicações que estamos a anos tentando conseguir. A questão é que estamos
patinando sempre nas mesmas coisas. Sempre achando que eu vou fazer, minhas
ideias estão certas, a minha luta é adequada, mas, não há nada que os
movimentos não tenham dito antes. Sempre aparece pessoas achando que é inédito
lutar pelas pessoas com deficiência e não é, há movimentos aqui, que são
movimentos mundiais de 70 anos de luta. Mesmo assim, temos sempre que
perguntar: o que há de novo na luta por uma inclusão das pessoas com
deficiência efetivamente?
Ora, o novo “barato” da vez, que me chegou por intermédio de
alguns colegas, é o Inclusão de Rua. Segundo a boca a boca – como tudo aqui no
Brasil – é um movimento que traz as pessoas com deficiência para a rua
idealizado por um jornalista social. Primeiro temos que perguntar: qual a
finalidade desse movimento? Como me responderam já, uma tomada de consciência.
Ora, meu movimento junto com a minha noiva, a Irmandade das Pessoas com
Deficiência, fazem exatamente a mesma coisa, saímos para passear e, no entanto,
começamos a conscientizar as pessoas no intuito de respeitar a diversidade. A
FCD (Fraternidade das Pessoas com deficiência e doentes), fazem o mesmo,
passeiam e mostram as pessoas com deficiência para a sociedade. Entre outros
movimentos, que fazem a mesma coisa a anos, e que a maioria não quer
participar, porque temos um viés político e a maioria, só quer o “oba, oba”. Outra
pergunta muito importante é: que jornalista social fez esse movimento? Qual a
intenção de ele fazer o movimento e quem ele é? Fica parecendo que as pessoas
nos usam – não estou dizendo que é o caso dele, mesmo o porquê, eu nem sei quem
é o moço – para melhorar a sua imagem, ou para reforçar a imagem de pessoas que
só querem passear e ir em balada (ou coisa parecida).
A questão vai muito além do que sair na rua. Existem pessoas
que não saem nem na janela para tomar um sol. Não tem um tratamento médico
adequado, existem ainda no Brasil (provavelmente, em outros locais da América
Latina), que trancafiam pessoas com deficiência e até, amarram essas pessoas
nas camas. Essas instituições foram denunciadas numa reportagem (aqui), que uma
ONG internacional (Human Rights Watch), visitaram abrigos que cuidam das
pessoas com deficiência física (que não é novidade). Sem nenhuma novidade.
Existe isso muito no Nordeste, onde a religiosidade é muito acirrada – não
estou falando que não existe em outras localidades – pessoas com deficiência
são acorrentadas em suas casas por causa, da vergonha dos pais de terem uma
pessoa com deficiência como filho. São crenças. Muitos abrigos – não só para
pessoas com deficiência – usam essas crenças para ganharem dinheiro e prestigio
como abrigos que cuidam dos “coitados” que não podem se locomoverem. O que
fazemos como movimento? Nós não lemos. Nós somente, nos preocupamos com
marketing pessoa – que não tem nada de errado – mas, não traz nada de novo na
luta das pessoas com deficiência. Somente aquela opinião formada sobre tudo,
como diria Raul Seixas. Então, eu prefiro ser uma “metamorfose” ambulante e
dizer que sim, mudo de ideia, mas, não saiu do meu foco.
Curiosamente, eu vi dois vídeos bastante interessantes. Um é
o chargista, Mauricio Ricardo, que ao falar do ódio virtual estar saindo do
mundo virtual e refletir no mundo real, do dia a dia, deu um exemplo do
cadeirante. Disse que para o cadeirante subir no elevador (ele disse rampinha),
o motorista tem que o ajudar a subir e muitas vezes, as pessoas ficam
reclamando e é verdade. Várias vezes, eu e minha companheira, presenciamos,
pessoas reclamando de a van descer o cadeirante na rua, porque as calçadas
estão irregulares – o tesão do brasileiro de fazer degrau – reclamam, que a van
para numa vaga que ela deve sim, parar, porque é a vaga pera pessoas com
deficiência. O que me chamou mais atenção foi: um cara que não está engajado na
luta das pessoas com deficiência, sabe disso e fala para todo os seus
seguidores, o porque os canais que estão engajados não falam? Vou deixar o
vídeo (aqui).
O outro vídeo, foi da Mariana Torquato no seu canal “Vai uma
mãozinha aí? ”, que respondeu um internauta com deficiência, dizendo que não
havia se encontrado. Ela disse que também não tinha se encontrado com sua
deficiência, pois, como não tem um dos braços – com má formação congênita –
pensava que iria crescer de novo. Com o passar do tempo e com a conversa que
ouviu a tia e a mãe dela, sobre vagas em concursos públicos, a ficha caiu e ela
(Mariana), ficou muito mal por causa disso e a pouco tempo ela se aceitou. Ora,
quantas pessoas com deficiência, não se aceitam e quase se suicidam? Quantas
pessoas conseguem cometer o suicídio? Tanto é, que teve aquele filme patético,
que cometeram suicídio por causa da sua paraplegia (no filme a culpa da
deficiência é do próprio protagonista). Que reforça o que sempre disse: se você
não se assumi o que você é, o que você tem, como você se locomove, não adianta
você fazer milhares de movimentos que não vai adiantar nada. O vídeo (aqui).
Por fim, não menos importante, é a imagem que fazem das
pessoas com deficiência que, reforçam tudo aquilo que eu disse. Não somos nem
“anjos” e muito menos, “demônios” e caráter, não é sinônimo de deficiência. Por
que estou dizendo isso? Porque existe uma imagem – muito difundida na igreja
católica e protestantes – que as pessoas com deficiência são “coitadas” e isso
é reforçado com campanhas como o Teleton. Onde as pessoas com deficiência
precisam ser assistidas, que as outras pessoas que não tem deficiência, devem tutorear
tudo que as pessoas com deficiência fazem. Como fui paciente da entidade, sei muito
bem, que a AACD (Associação a Assistência a Crianças Deficientes), além de sub
proteger quem fez tratamento lá, não tratou direito (muitas pessoas sofrem
dores crônicas e problemas sérios por falta de um tratamento de verdade), não
teve nenhum aparelho de verdade, porque sempre deu uma desculpa que não tinha
Raio X ou outra coisa. Sempre tratou a mulher com deficiência, como meninas
eternas (não tem ginecologista) e também, não deu um tratamento psicológico de
verdade. Faziam terrorismo psicológico com os pais, dizendo que seu filho não
vai andar, que seu filho desenvolveu o que tinha para desenvolver e ainda,
mostra mentiras. Eles não têm trabalho nenhum de inclusão e nunca vão ter,
porque ganham com a dependência das pessoas com deficiência, e ganham porque
todo mundo paga, ninguém faz nada lá de graça.
A falta de maturidade vem da sub proteção da família e como
isso pode refletir dentro da sociedade. Muitas pessoas com deficiência, acabam aceitando
o fato de serem bajuladas como “coitados” por pura acomodação, seja familiar,
seja institucional. Tem pessoas cadeirantes, que aceitam serem internados, que
aceitam serem colocados em quartinhos nos fundos, que aceitam prêmios de
consolação. A zona de conforto é gostosa, é confortável, é confortável abraçar
causas já prontas. Mas, aí vem de novo a indagação: o que há de novo? Quando
você vê que as pessoas não compartilham ou leem notícias que cadeirantes,
literalmente, estupraram a amiga por causa de uma opinião dela (não sei em que
contexto), podemos ver o quanto ainda temos o nosso estereótipo de “coitados”
ou de “santos” que não podem ser mexidos. Deixo a reportagem (aqui). Isso é
sim, herança deixada dentro de crenças e dentro da imagem de uma pessoa com
deficiência dependente, imatura, que não sabe o que está fazendo. Sabe sim.
Muitos cadeirantes engravidam moças e usam as deficiências como escudo para não
assumirem, muitos cadeirantes cometem delitos e a cadeira de rodas não é “régua”,
para medir caráter.
Fora que os postos de saúde não tratam as pessoas com
deficiência direito, sempre jogando a culpa da doença como consequência. Como
uma dor de dente tem a ver com a deficiência? Como um posto de saúde não pode
tratar uma coisa tão seria de forma tão secundaria? Se pagamos temos entidades
como a AACD, se vamos nas redes publica temos médicos que não dão importância
para sua dor. Então, como um Inclusão na Rua pode ajudar as pessoas com
deficiência trazendo uma nova visão? Porque, insisto, sair, passear, trazer consciência
dentro de uma perspectiva nova, não estou vendo. Tudo é bem velho. Acho que
usarei uma outra música do Raulzito com o Marcelo Nova, “tem muita estrela para pouca constelação”.
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