Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
“O homem é um animal político. ”
Aristóteles
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O que pensamos quando lemos
essa pequena frase? Quando o filósofo grego Aristóteles (que viveu entre 384
antes de Cristo – e morreu em 322 antes de Cristo), disse essa frase, ele não
tinha em mente a mesma ideia de “politica” que temos agora, portanto, a política
para o grego antigo era uma política voltada a alguns e esses alguns, em sua
maioria, eram homens que eram privilegiados. O que o filósofo quis dizer? Ele
quis expressar em sua frase (que ficou famosa após o ressurgimento das chamadas
democracias), que o homem como ser gregário, se torna um ser socializante e ele
ser um ser socializante, ele se torna um ser que expressa as suas preocupações.
O ser político – vem do grego ‘politikos’ que designava em cidadãos que poderiam
e deveriam cuidar da Polis que eram cidades-estados que eram comunidades
organizadas – é um ser que vê a sociedade e se preocupa com a cidade
(organização social) e o rumo que essa cidade está tomando.
O cidadão (politikos) é
aquele que realiza atos que podem ajudar a colaborar com que melhore cada vez
mais, a sociedade organizada de onde mora e o território que está. Daí podemos
dizer que usamos a política – vem do grego ‘ta politika’ que deriva de um outro
termo grego ‘polis’, era usada para se referir ais assuntos relacionados a cidade-estado
(polis) e a vida em coletividade – como meio de reivindicar nossos ‘direitos’ de
cidadãos se somos de fato, seres conscientes da realidade. Só que os gregos
antigos tinham como cidadãos os homens e livres. Excluíam as mulheres, escravos e estrangeiros.
Mudou muita coisa? Muito pouco. Os antigos gregos matavam as pessoas com
deficiência ainda crianças, pois, o infanticídio era uma pratica muito comum
quando não se tinha perfeição, quando havia muito mais mulheres do que homens e
mais, morriam muitas crianças porque naquela época não tinha vacina. Hoje temos
vacinas, hoje já há uma aceitação maior pelas mulheres e no mais, há tratamento
para as pessoas com deficiência.
Claro, que nós, pessoas com deficiência,
não somos mortos como fomos mortos na Grécia Antiga – na verdade, paramos de
ser mortos e aprisionados a partir dos anos 80 diante da grande pressão de
algumas manifestações e graças a Convenção da ONU, que não vale muita coisa,
mas deu para dar um certo ar de respeito e dignidade – não somos jogados em
abismos, não somos largados em florestas para animais nos comerem e nem, como
acontecia muitas vezes, adotados para pedimos emolas. A questão é que somos
seres humanos e merecemos respeito e como pessoa que merece respeito, somos
obrigados a fazer da nossa essência social (politikos), e reivindicar o que é certo e o que é certo é
temos saúde (ubs), temos transporte (essencial para cadeirantes e pessoas com
mobilidade reduzida), educação (escolas e universidades adaptadas) e trabalho
(uma Lei de Cotas que funcione em todas as camadas sociais, sem empecilho burocrático
como acontece no setor público e o discriminatório como acontece no setor privado).
Além que estamos numa sociedade que tem duas camadas muito fortes, uma camada
religiosa e uma camada ideológica que por inúmeros motivos, atrapalha a discussão
do que é realmente necessário, ou que realmente é um desperdício de energia.
Digo “desperdício de energia”
no sentido que estamos em discussões irrelevantes que não vão levar em lugar
nenhum e esse “lugar nenhum” se refere também, ao nosso segmento. Por exemplo,
muitas pessoas são contra uma criação de um partido que a diretoria e a presidência
é de pessoa com deficiência (aqui). Mas, não discutem nenhuma coisa relevante
diante da política das pessoas com deficiência, só alegam que um partido desses,
não é uma maneira de inclusão e sim, é um motivo de criar “guetos”. Outros são contra
o transporte porta-a-porta, alegando que se existir esse tipo de transporte, o
poder público não adaptará o transporte convencional; já outros, dizem que são contra
porque não conhecem pessoas, não socializam. Uma pequena e rápida análise
dizemos que é uma tremenda bobagem, não corresponde com a verdade, porém, tem o
direito de pensarem assim. E quando digo “pessoa com deficiência”, digo todas as
deficiências.
Esclarecendo esses pontos
vamos ao que me motivou a escrever esse texto. A cidade de São Paulo, tem
aproximadamente, 2,8 milhões de pessoas com deficiência na cidade, sendo que,
nem tudo para nós, não corresponde em uma adaptação adequada. Não existe aqui,
nenhum plano de implantação de um desenho universal, nem existe uma implantação
verdadeira de UBSs que tratam adequadamente as pessoas com deficiência,
principalmente, nas periferias da cidade. No caso da UBS da Jardim Elba, que
fica localizado no Jardim São Roberto, Sapopemba na Zona Leste de São Paulo, não
há remédios e nem médicos com atendimento adequado e nem sabem fazer
encaminhamento de pedido de cadeira de rodas ou outros aparelhos. Esse é um
exemplo, um outro exemplo, são comprimidos para pressão alta na UBS da Vila
Nova Iorque que fica na Vila Nova Iorque, na Zona Leste de São Paulo que “quebram”,
pois, há uma “qualidade” duvidosa. Fora que não existe estacionamentos nas
mesmas, que são destinadas as pessoas com deficiência como manda a lei. Se existe
a “lei”, o poder público que faz e aplica essa mesma lei, deveria dar o exemplo
e isso vai além de ideologias políticas ou “religiões” partidárias.
Na questão de transporte, os ônibus
adaptados estão bem melhores, mas não é seguida ao que se refere ao serviço de
vans ATENDE que a maioria dos carros não são adequados para a “rodagem”. Segundo
o site da SPTrans do serviço ATENDE está:
“Atende foi criado por meio do decreto nº 36.071 de 09
de maio de 1996 e atualmente é regido pela Lei Municipal nº 16.337, de 30 de
dezembro de 2015. É uma modalidade de transporte porta a porta, gratuito aos
seus usuários, com regulamento próprio, oferecido pela Prefeitura do Município
de São Paulo, gerenciado pela São Paulo Transporte S.A. e operado pelas
empresas de transporte coletivo do município de São Paulo e cooperativa de
táxis acessíveis. Destina-se às pessoas com autismo, surdocegueira ou
deficiência física com alto grau de severidade e dependência, no horário das 7h
às 20h, de segunda-feira a domingo, excetuando-se os feriados. ”
(aqui)
Ainda no mesmo texto está:
“Além do atendimento porta a porta a clientes
cadastrados, o Atende oferece atendimentos nos fins de semana, denominados de
"eventos aos fins de semana". Neste tipo de serviço, os pedidos de
transporte são feitos diretamente pelas instituições que trabalham com pessoas
com deficiência (com, no mínimo, dez dias de antecedência). As instituições
precisam efetuar cadastro prévio na SPTrans. ”
Logo depois o texto diz que “O
Atende tem veículos devidamente adaptados e roda cerca de um milhão de
quilômetros/mês. ”, ao chegamos a um paradoxo (um paradoxo é o oposto do que alguém
pensa ser verdadeiro ou contrário a uma opinião admitida como valida), pois,
existem vans que estão a dez anos de uso, então, se elas rodam milhares de quilômetros,
ou o número de vans não é suficiente para a demanda de usuários (que é de práxis
do serviço dês de 1996 quando surgiu), ou os caminhos são poucos estudados
pelos técnicos. Vans que ficam na zona leste, por exemplo, não podem ir para a
zona sul, no mesmo modo que vans da zona sul não poderiam ir para a zona leste,
não é questão de achar certo e errado, é uma questão de logística. A demanda
tem que ser analisada a partir dos números dos usuários considerados, se na
zona leste, por exemplo, existe mais usuário em potencial essa demanda tem que
ser suprida com mais vans na zona leste. Porém, se as vans forem deslocadas de
uma zona a outra, mais quilômetros rodados elas vão conter e o desgastes do
equipamento vai desgastar mais rápido. Qualquer pessoa com o mínimo de estudo
sabe disso, porque a questão é clara, se roda muitos quilômetros, é porque a
demanda é muito grande e muito extensa.
Ao se refere ao serviço “"eventos
aos fins de semana”, esses dez dias no mínimo do pedido, é para mim um exagero.
Por que? Segundo a gerente de “eventos”, Fabiana Cristina Issaho, existem vários
procedimentos que estre eles, montagem de rotas. Ora, existem instituições que
colocam chefes de carros (que são pessoas que ensinam o caminho) e existem instituições
que mandam todos os endereços e a rota deve ser analisada pelos “técnicos” do
serviço. Por que não se separa as instituições que não tem esse “chefe” de
carros e as que tem esse “chefe”? As que tem teriam um prazo menor e as que não
tem, teriam um prazo maior dentro do pedido. Porque acaba atrapalhando a
analise até das condições da van para a rodagem, colocando em risco o condutor
(motorista) e o usuário.
Além que a ficha ser mandada
em um e-mail pode gerar confusão, pois o e-mail pode não ser confiável e haver
falhas. No dia 6 de novembro, mandei a ficha para o serviço – sou coordenador
da Irmandade da Pessoa com Deficiência – as 19 horas e no dia 14 de setembro, a
gerente de eventos, disse que não recebeu a ficha do dia 17 de setembro (que
ficamos sem nosso evento), o e-mail deveria ter travado o envio e deve ter
destravado quando entrei no e-mail do movimento. Isso mostra que o sistema não é
isento de falhas e essas falhas podem ser prejudiciais, assim, se faz necessário
ter um sistema muito mais moderno online.
Se dizemos que a saúde é
falha e o transporte é falho, dentro de uma “sociabilização” das pessoas com deficiência
(não gosto de inclusão que dá a ideia de exclusão, que não é verdade, porque
nascemos dentro da sociedade), não é diferente na área da educação. Como relatei
em vários textos (aqui), existem crianças que são deixadas nos corredores das
escolas sem fazer nada, crianças que são discriminadas, crianças que são desligadas
e algumas, em centros de reabilitação famosos, são desligadas por causa das “verdades”
ditas pelos pais. Mas não há um treinamento verdadeiro dos professores e dos profissionais,
tanto no ensino regular, quanto no ensino técnico, e nem equipamentos
adequados. Porém, vamos ser justos, muitas pessoas com deficiência não querem
nada com nada, não querem escolher nem as “roupas de baixo” que vão vestir. Mas
aquelas que querem, deveriam encontrar com as adaptações adequadas.
No curso universitário tem um
pequeno “problema”, elas são muito caras por pouco conteúdo que ensinam –
colocando na grade dos cursos matérias irrelevantes, como estatística em um
curso de publicidade – e não colocam o que seria a competência delas ensinar,
como o teorema cartesiano, o a formula de Baskara entre outras coisas, porém,
para quem consegue fazer a universidade existem muitas barreiras. O preconceito
acadêmico é muito mais letal, porque inclui o preconceito velado dentro das crenças
e dentro do que a pessoa aparenta, quem nega, é um mentiroso e merece meu total
desprezo. Fora que elas (universidades) dão bolsa de estudos para quem pode
fazer marketing do seu estabelecimento.
Não existe nenhuma empresa
que “contratou” pessoas que tem deficiência não leve (porque elas só contratam
pessoas que tem deficiência leve), que tenha um curso universitário. Por que
disso? A maioria dos nossos “gestores” (um termo “moderninho” para empresários),
ou não tem curso universitário da área, ou nas universidades não são ensinadas
coisas bem básicas. Primeiro, o ser
humano não é uma “máquina” que se a pessoa tiver deficiência, necessariamente,
ela tem que ganhar menos por isso. Nem sempre a eficiência de uma pessoa é
avaliada pelo que ela aparenta e sim, daquilo que se pode fazer (mas eu
escreverei um prognostico muito mais detalhado, quem quiser ler sobre, fiz um
texto (aqui)).
Isso, que analisamos
criticamente, são situações vividas numa cidade de milhões de cidadãos, agora,
imagine numa cidade do interior de qualquer Estado. O diagnóstico é muito pior.
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