domingo, 29 de maio de 2016

A essência dos libertários







Meu colega Miranda resolveu me desbloquear e me presenteou com a leitura de mais um texto dele “Libertário não morre” onde ele argumenta que quem defende o capitalismo, na verdade, defende aquele que oprime o ser humano. Vamos lá a refutação.

Já no primeiro parágrafo ele escreve: “o termo “Libertário” parece ter adquirido nos últimos tempos uma conotação bem distinta.”. Não, não houve uma conotação distinta, talvez houve uma distorção dentro do que seria ser um libertário em sua essência. Se o Miranda ou outro olhar no Michaelis online vai ver a seguinte resposta: “Que, ou o que é partidário da liberdade. ”, ou seja, ser um libertário é ser um partidário daquilo que é a liberdade, mesmo que essa liberdade seja vender ou oferecer bens e serviços dentro do mercado econômico. o que acontece que temos que definir o que seria liberdade de fato e se essa liberdade realmente existe, pois, mesmo o porquê – como disse Sartre – somos presos em nossas escolhas e vou mais longe do existencialismo, somos presos em ideais que não são nossos, somos presos em um ESTADO que não garante a nós o bem estar que promete, mesmo que este ESTADO, seja governada pela esquerda (a princípio a esquerda defende uma humanização). Mas eu concordo com Deleuze que não existe governo de esquerda, porque a esquerda não pode apenas idealizar um programa, e sim, usar a percepção para realizar um programa analisando o contorno do problema. Por exemplo, se fez o bolsa-família para dar a cada família ter o que comprar com o dinheiro, mas tem que analisar o todo do problema (que a própria esquerda lá fora analisa e o próprio Marx, analisou a fundo. Prova cabal que a esquerda brasileira não leu Marx), que é melhorar a qualidade de vida das pessoas da região. Estrutural, melhorar o saneamento básico, melhorar a saúde, melhorar a economia da região, melhorar tudo em sua volta.

Assim, na essência, não só existe repressão não só com o capitalismo (que se torna “selvagem” por causa do ESTADO), mas a burocracia estatal que inibe o melhoramento da sociedade como um todo. A título de exemplo, vamos pegar um exemplo de um deficiente que precisa de uma cadeira de rodas (pois estou ultimamente, com esse dilema), que não pode ficar sem cadeira de rodas porque precisa se movimentar e andar com ela. Por que elas são tão caras? Primeiro existem impostos, imposto do material, imposto da usinagem, imposto dos parafusos, imposto dos componentes de plástico, imposto da montagem, imposto da solda, imposto da tinta da pintura e até, imposto do transporte. Existem direitos trabalhistas, existem o pagamento do empregado que usina e monta os componentes, existe o transporte da fábrica a loja e existe o imposto em cima da venda. O capitalismo é o culpado ou o ESTADO que sempre quando dá canetada, transforma tudo em desordem?

Mas adiante o Miranda escreve: “Eu sempre me defini como libertário. Porém sempre soube que ser libertário não se reduzia a acreditar que vivemos desde já sob uma condição em que nossas escolhas individuais sejam autônomas e livres para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e livre. Sempre soube que para ser libertário era imprescindível que eu fosse também de esquerda, pois que as estruturas sociais a que somos submetidos e coercitivamente obedecemos referem-se à manutenção de privilégios de classes que usurpa as condições reais do exercício de uma liberdade mais ampla. ”

Então, nos EUA o libertarianismo (que Rothbard chamou de anarcocapitalismo), é de esquerda porque se acredita em ser uma mudança social dentro do que é. Ou seja, para eles a esquerda não é só socialista/comunista – como na Europa também – mas também, tudo aquilo que prevê mudanças daquilo que aí está que a grosso modo, dês da Revolução Francesa, a esquerda tem como ideal. Existe os libertários que seguem o que realmente é, uma liberdade irrestrita do mercado e a liberdade como um bem econômico e social (que concorda com o Miranda em uma liberdade mais ampla) e ser contra qualquer violência (existe o Pacto de Não Agressão o PNA). E existe o libertário “birrinha” ou se preferir, “modinha”, que não entendeu o contexto, não entendeu a base do libertarianismo na essência e defende coisas que até eu tenho vergonha alheira.  Não se atentaram na questão que Rothbard disse no seu artigo “Direita e Esquerda” que os conservadores usurparam o liberalismo para melhor “vender” uma liberdade que não existe, uma liberdade que só visam seus próprios lucros e não o bem-estar social (palavras do autor).

Miranda escreve mais adiante: “De uns tempos para cá o termo “libertário” parece estar se vinculando a uma ideologia que chama a si mesma de Libertarianismo. Essa ideologia parte de alguns pressupostos básicos que se confirmam reciprocamente”.

Não chama a si mesmo de libertaianismo, talvez pelas minhas pesquisas, é uma tradução do termo em inglês “libertarianism” que a grosso modo visa sim a liberdade plena. Mas como toda ideologia, daí concordo com Nietzsche, carrega algo daquilo que ele chamava de uma negação do mundo como ele é e começamos a inventar coisas que não existe.

“1O pensamento de esquerda é um pensamento estatista que retira, via Estado, as liberdades individuais e premia a incompetência oferecendo assistencialismo que atrasa o progresso; ”

Não, o Miranda não entendeu. Claro, que dentro do libertarianismo há uma leva de conservadores perdidos que pensam que só porque não vai existir o ESTADO os seus estabelecimentos haverão de dar mais lucros, mas isso só são as pessoas que na essência não entenderam o que é ser libertário. O que se acredita que a esquerda quer um mundo individual que o ESTADO igualara todos os seres humanos, acabando com a individualidade de cada ser humano. Que o ESTADO controlara tudo, que o ESTADO vai regular tudo e que o ESTADO é o grande regulador social que acabara com a guerra de classes. Mas será que o problema está nas diversas classes sociais e não será que essas classes são produto não do capital, nas do próprio ESTADO? O capitalismo só vai vender e oferecer mais bens e produtos quando há procura, pois, bens e produtos precisamos no nosso dia a dia. Até o Miranda precisa de um computador bom para escrever suas ideias, interagir dentro das redes sociais, ou seja, quanto mais oferta mais demandas para vender e um melhor preço. O grande problema é o ESTADO e sua regularização com tudo, pois, isso tem que vir com a conscientização social e não, na canetada.

“2O progresso só é possível a partir da liberdade empreendedora que distribui riqueza gerando emprego, conforto e crescimento econômico; ”

Sim, não entendo o que isso tem de tão “opressor”, que que é o básico de uma economia prospera. O sistema liberal não é o “monstro” que pintam a esquerda trotskista, o que há é uma distorção do liberalismo clássico que dá margem a esse tipo de aberrações conceituais.  Liberalismo não é sinônimo de conservadorismo, mas é sinônimo de liberdade da pessoa fazer o que quiser e o que desejar para seu próprio sustento e os seus, não tendo de pagar impostos, não tendo de pagar para sindicato e não tendo que dar aquilo que por si já é um direito natural.

 “4Política e economia são coisas distintas e não fazem parte da mesma estrutura. A economia deve ser livre e a política deve existir apenas para garantir essa liberdade, portanto o Estado deve ser o mínimo possível para garantir que as pessoas livres possam negociar e se relacionar entre si sem nenhum tipo de coerção, privilégios ou dificuldades. ”

Política, na sua definição moderna (porque política vem do grego politikon que eram cidadão livres que cuidavam das polis), é a arte ou o ato de governar a nação ou as províncias dessa nação (que aqui no Brasil chamamos de Estado). Para se governar tem que saber ver não só o ponto, mas o problema como um todo e esse todo tem muito a ver com a economia e toda a infraestrutura que precisa essa nação (os básicos são: educação, saúde, melhoramento de vida, infraestruturas como estradas, hidroelétricas, moradia, esgoto e etc). O Miranda e alguns libertários confundem o libertarianismo com o liberalismo e até, indo um pouco mais longe, o neoliberalismo. Isso que está no ponto é um neoliberalismo que defende o ESTADO mínimo, ou seja, o ESTADO só haveria o executivo para governar e ajustar as leis, portanto, não havendo nenhuma empresa (alguns defendem só o banco central, mas a grande maioria, privatizar tudo). O libertarianismo não defende que a política é distinta da economia – porque só um “Zezinho” pode defender que a política é distinta da economia – mas a extinção no ESTADO (a política institucionalizada) para ter uma autonomia melhor dentro da economia que não difere do anarquismo (por isso, Rothbard vai chamar de anarcocapitalismo). A grosso modo, tudo que for econômico vai passar a ser livre, vai haver mais concorrência, vai haver melhor preço e você vai poder escolher melhor onde quer trabalhar. Na essência, tanto no anarquismo como no libertarianismo, os jures são realmente populares que não prendem ou mata – dependendo do crime, claro – mas pode isolar ou banir o infrator da comunidade. Como disse, salário não é renda, não haverá impostos e nada repreensivo.

O próximo parágrafo vou dividir em dois:

“1 - Não cabe na cabeça dos libertários atuais, anarcocapitalistas ou congêneres, que as estruturas sociais a que nos submetemos já estão a serviço de um sistema cuja lógica privilegia e direciona a liberdade de uns enquanto coage e determina a realidade opressiva de outros. ”

 Cabe sim e é a razão dos libertários existirem, porque é a base da contestação de um libertário e um anarquista. Acontece que existem e sempre vai existir, aqueles que vão colocar conceitos pessoais dentro da ideologia em si mesmo e não vai seguir a regra. Eu particularmente, não acho a virtude do egoísmo, como muitos adoram apoiar que é uma teoria da Ayan Rand, tão libertário assim. Mas ter a liberdade de escolha e ter o direito natural de propriedade do seu próprio corpo, ter a propriedade da sua casa, ter a propriedade dos seus bens e ter o pleno direito a defesa (que é negado dentro do ESTADO), pois, preservara o bem primordial, seu corpo.

“2 - Não fazem a menor ideia do quanto o sistema retira toda razão de fins, todo pensamento sobre o que queremos no futuro e nos transforma em seres isolados que tem no outro apenas um meio para sua prosperidade pessoal; subsumidos pela razão de meios, instrumental, calculante. ”

Então, o sistema não retira nada, mas o que está por trás do sistema que é o ESTADO. Por que isso? Imagine uma ilha onde os governantes gostaram de ser governantes e não querem mais sair do poder, esses governantes começam a criar ideologias para separar o povo, religiões, começam a dizer para os agricultores e outros produtores, que se querem produzir mais e contratar trabalhadores, vão ter que pagar tributos. Esses tributos são para garantir a segurança, mas os produtores dizem para quê. Os governantes criam maneiras de dizer que sem aquilo a pessoa não vive, que ele deve fazer de tudo para ter aquilo e quem não pode, começa a roubar, começa a criar narcótico para colocar prazer onde não tem prazer e os produtores não querem ser roubados, querem que sua família sejam protegidas e os governantes criam a polícia, criam defesa da ilha, pois, a outra ilha pode atacar aquela ilha e os mesmos governantes jogam ameaças na outra ilha e dizem que foi lá que veio, que justifica o exército.

Agora imagine a mesma ilha sem esses governantes, cada um escolhe onde quer atuar, não há nada que impeça que o indivíduo abra seu próprio negócio, não há nada que impeça que o indivíduo escolha se quer uma família ou quer apenas um companheiro (no caso dos homossexuais). Não há nada que impeça até de você acreditar em Deus ou não, de ter guerras, porque a guerra pararia a produção e são muito caras e essa é a essência, se todos cuidarem da sua parte, não haverá nada a se preocupar e nem roubar, não haverá nada a não trabalhar para o indivíduo. Essa é a visão verdadeira do anarquismo e o anarcocapitalismo, quem prega o egoísmo me parece que não entende muito de antipatia e simpatia e iria perder muito num sistema desses.

“A Liberdade, por definição, é algo que não se pode conceber pela metade ou em partes. Ou ela é plena ou não é Liberdade. Se em alguma situação alguém é mais livre que outro, então ali, naquela situação, não há liberdade. Parece ser algo simples, mas não é. Os neo-libertários parecem acreditar que a busca de liberdade é algo pessoal, individual, mesmo que sua conquista signifique submeter o outro para ser exercida. Há um contrassenso nisso, sem dúvida. Mas quando esse contrassenso é coletivizado como anda acontecendo, cria-se uma situação esquizofrênica na sociedade. É o que estamos assistindo. ”

Nisso eu concordo com o Miranda e é uma das minhas divergências dentro do que se chama libertarianismo de hoje, pois, muito me agrada a teoria de Murray Rothbard que o libertarianismo na verdade é um anarcocapitalismo. Ou somos libertados por completo e não temos amarras nem mesmo conservadoras, ou se respeita o PNA (Pacto de Não Agressão), ou não tem libertarianismo e é historinha para boi dormir. Porque liberdade ou é inteira ou não é, se é pela metade então não é liberdade.  Mas por outro lado, o mesmo Rothbard, disse que o libertarianismo é uma teoria política e não moral, pois, foram feitas a partir do alicerce econômico e por economistas e arrisco dizer que o conjunto moral poderia ser feito com alicerces existencialistas da linha de Nietzsche e a educação transformaria homens em não mais ressentidos ou niilistas. Por outro lado, claro que é uma questão de evolução social que não cabe nos dias de hoje, pois, o homem é a medida das coisas que constrói até a partir das ideologias que o escraviza e o prende.

E para terminar só uma adentro, as pessoas de esquerda adoram coisas que igualam, mas só enxergam também num sistema econômico e não no sistema moral. As pessoas são iguais? Sendo a humanidade anarquista não seriamos muito mais igualitários? Um ponto para a reflexão.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo. 

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