Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Quando dissermos que há um paradoxo – que vem do grego parádoxon, ou seja, pará (oposto) com doxa (ideia)
– queremos dizer que há ali um “contrario as ideias” ou “contrario as
expectativas” que aquilo seja verdade. Já ética, vem do grego ethos que quer dizer “caráter”,
“costume” ou “modo de ser”, na verdade, o “costume” ou “modo de ser” já está
incluído no caráter e nele vamos nos focar nesse texto. Por que? Se há um
contrário a uma ideia, presumimos, que aquela ideia não é tão valida e até
podemos perguntar. Há realmente no Brasil um caráter tão solido que você precisa
seguir o outro até no roubo? Um chimpanzé talvez, um orangotango (muito próximo
do homem) talvez, mas o ser humano poderá escolher o caminho que deverá seguir
suas próprias vontades. Uma vontade é um desejo aquilo que se quer, se queremos
um copo de refrigerante é a consciência da existência do refrigerante e há um
desejo de se tomar um refrigerante, é gostoso. Mas quando estamos com sede tomamos
água, pois, o organismo está pedindo sais minerais que há na água. Então, o
refrigerante é um desejo, água é uma necessidade. Um arroz com feijão é uma necessidade
que alimenta, um lanche do MacDonald é um desejo que só é gostoso. Mas por que
preferirmos o lanche ou o refrigerante? Porque imitamos o outro, obedecemos uma
imagem que o lanche ou o refrigerante, porque nos iludimos que ali era uma
necessidade.
Essa necessidade é a natureza em nós pedindo aquilo que nos
é importante, o desejo é o fenômeno que nossa consciência produz (mente=objeto),
que vai querer aquele objeto enquanto algo gostoso, algo que vai ter gosto e o
gosto é artificial. Mas podemos ter desejos? O poder ter desejo é poder sentir
um certo prazer naquilo, mas quando você não sente mais prazer naquilo, perde
toda e qualquer graça e não fica mais gostoso. Nisso eu concordo com Epicuro,
pois, quando há um certo exagero e esse exagero, vira sofrimento. Se você beber
demais vai virar cirrose, se comer muito churrasco vira problemas no coração e
se você ficar muito ocioso, isso vai acarretar vários problemas. Também tem um
outro lado de uma moeda, quando você enche um carro com aquilo que não é seu, o
que você sente? Prazer ou sofrimento? Bom, quando nós pesquisamos a origem da
palavra sofrimento, nós chegamos a raiz da palavra paciente e patologia e por
sua vez, a palavra paixão. Dês da Grécia antiga, a paixão (pathos), era algo
que fazia o ser humano sofrer e assim, todo exagero que poderíamos fazer era um
pathos para os filósofos. Se você olha
uma tevê que não é sua, que você pegou em uma loja porque você viu todo mundo
pegando e achou que poderia pegar também, você sentira prazer ou sofrimento
imaginando o desespero do lojista que trabalhou para montar aquela loja? Podemos
melhorar o exemplo: e se você olhar a cerveja que você está tomando que você pegou
de um acidente na estrada onde o motorista estava esmagado entre as ferragens e
só se preocupou em pegar um engradado? Claro, que a ética tem fatores
subjetivos, valores que são ensinados dês da infância e esses valores variam
muito. Porém, temos a livre escolha de seguir ou não, esses valores.
Daí temos um paradoxo da ética, porque presumimos que a ética
é um nível de caráter medido com a capacidade de socialização do ser humano. Se
ele pega um engradado de cerveja de um caminhão e o motorista está todo
machucado poderíamos achar isso ético? Acontece que quando coisificamos o ser
humano perdemos a capacidade de enxergar um indivíduo que está sofrendo, porque
perdemos a capacidade de nos colocar no lugar dele. Se eu tivesse no lugar do
motorista, eu gostaria que o outro chamasse o Resgate. Se eu tivesse no lugar
do lojista, eu gostaria que alguém me defendesse e por aí vai. A ética é a
capacidade de sentir no outro o que você pode sentir também, porque o termo
grego ethos tem a ver com caráter e caráter
é tudo aquilo que nós somos. Nada, absolutamente nada, justifica um roubo,
pois, um roubo é aquilo que você pega sem o outro permitir. Daí temos várias conotações
sobre propriedade, mas a propriedade na nossa sociedade é importante, queiram
ou não, você pegar algo ainda caracteriza um roubo. Quer mais antiético do que
um estupro? Uma agressão a mulher por negar uma propriedade dela, seu próprio corpo,
seu bem único natural. Não interessa que roupa ela esteja. Não interessa onde
ela esteja e com quem esteja, sempre um estupro é um roubo a dignidade da
mulher como ser humano. O paradoxo nesta questão, passa a uma conotação de
contra ideia (antítese), passa a uma ideia contraria a aquilo que não deveria
ser. O estuprador, como todo maníaco (psicótico), é na verdade um egoísta em
potencial por achar que o prazer é só dele, o outro é mero objeto para se
chegar ao seu prazer. Um roubo não é muito diferente, um roubo característica pegar
aquilo que não é teu e aquilo que não é teu só vai dar prazer a você. O maníaco
olha aquele que mata como um objeto a se chegar aquilo que ele quer, aquilo que
ele pensa esconder, aquilo que ele não quer que descubram.
Com a ética (caráter) assim, a nossa sociedade passa por um
momento de crise profunda e toda crise, provem uma mudança. As mudanças fazem
com que as pessoas saem da sua zona de conforto, saindo dessa zona de conforto,
elas não sabem o que fazer. Perdem coisas para saírem dessa liberdade, a coisificação
humana passa a ser uma capacidade de ver milhões de androides, milhões de seres
que estão só atrapalhando de eu ser feliz. No mesmo caso da anarquia que eu
escrevi no outro texto, as pessoas confundem isso como hedonismo, mas o hedonista
não é isso. A ideia do hedonismo do grego clássico não é a mesma ideia que
temos hoje, porque o prazer do grego clássico era um prazer não só físico, mas também
afetivo de um toque diferente. Você tomar um vinho, você sentia prazer por
gostar verdadeiramente do vinho na essência do gostar e não na ideia (como
imagem) do gostar. As relações homossexuais não tinham penetração, o prazer
estava no toque, na sutileza de um sorriso. Então, quando falamos em hedonismo,
temos que tomar cuidado de chamar o sujeito em “viciado em prazer”, pois, mesmo
o porquê, viciados em prazer são muito mais doentes (pathos), do que hedonistas.
Pessoas assim são produto de uma cultura que ensina que um
cara que não pega aquilo, é um trouxa, porque acha que deve levar vantagem em
tudo. Ensina que a mulher sorriu e o homem tem que dar em cima (mesmo casado), ensina
que a mulher não quer ele tem o direito de estupra-la. Ensina que as pessoas não
prestam, mas aprontou a vida inteira para achar que os outros não prestam. Ensina
que devemos sempre querer que os políticos sejam éticos, mas quando se tira a polícia,
vai lá e rouba a loja. Sempre lembrando, que ética é caráter e caráter é tudo
aquilo que somos, pois, se somos aquilo que sempre lutamos para mudar, será que
terá essa mudança? Claro que não. As mudanças só acontecem quando somos aquilo
que queremos que mude, o que Kant disse em seu Imperativo Categórico (como um
bom protestante, pegou do ensinamento do mestre Jesus), faça com que tudo que
faça seja uma lei universal. Mas, se um simples retorno proibido, por exemplo,
o cara retorno porque o outro está fazendo, será que ele não vai roubar porque
o outro está roubando? Ou não vai estuprar porque os outros estão estuprando? Ou
não vai beber cerveja, ir na balada, ir comer, só porque o outro faz? O mais
triste é que as igrejas crescem não porque a fé aumentou, mas só porque o outro
vai e prometem só ganhos materiais. Você vai ganhar um emprego. Você vai ganhar
um carro. Você sempre ganhara uma coisa. E assim, vocês acham que ele não vai fazer
o mesmo que muitos políticos fizeram se até barganhar com Deus, tentam fazer?
Se o divino é usado, se a pobreza é usada, se até a cor e a condição
física é usada, o que dirá usar o próprio caráter para tirar algumas coisas
disso. Muito triste a Era do Paradoxo da Ética.
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