quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A banalização da deficiência






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Por Amauri Nolasco Sanches Junior


Eu prometi que não ia mais escrever sobre deficiência e ia me dedicar ao meu livro que estou escrevendo de filosofia. Mas duas coisas fizeram eu escrever esse texto: uma é a frase da Laís Souza “"Não quero me adaptar à cadeira de rodas de jeito nenhum. Quero fazer o contrário: sair dela. ” (aqui) e a outra coisa, é a banalização da deficiência. Porque a questão da deficiência, em termos críticos filosóficos – como eu gosto de analisar – é um tema estético normativo social. Você não deve ser feliz se você não andar e ser igual as outras pessoas, você não pode ser um ser humano se você está numa cadeira de rodas e isso que a Laís faz, ela usa e banaliza a deficiência, se fazendo de vítima, se fazendo de “guerreira inclusão” que consegue dar uma mijada. Mijar, uns sozinhos e outros com sonda, conseguem e devem conseguir, porque o sistema digestivo pede quase, mandando que você mije e defeque. Não é mérito, é necessidade. E a imprensa faz um trabalho de “porco”, achando que eu e você não entendemos, que ela consegue controlar a “bexiga urinaria”, que é bem diferente.

Outra coisa, nós sabemos que começa essas conversas é por causa do evento do Teleton, porque é para sensibilizar. A mim não sensibiliza e sou totalmente, contra esse tipo de campanha, porque há muito dinheiro além das doações (a AACD recebe do SUS). Além que ela ganha R$ 4 mil reais por mês, quem fazia o esporte que praticava, não era barato. Não é um esporte que se pratica aqui e as outras pessoas com deficiência, não tem o mesmo direito a esse tipo de tratamento.  Claro, que esses R$ 4 mil reais são responsabilidade do COB, pois, ela estava na responsabilidade do órgão mesmo que não era o treino oficial. Em matéria da deficiência, acho que ela não é exemplo de nada e não tenho a Laís Souza, Herbert Viana, Fernando Fernandes entre outros, como exemplos de nada, só são deficientes que já tinham uma certa pratica e estão continuando o seu caminho.

Eu sou cético a certas coisas, não acredito que o mundo seja o que ele é naturalmente, eu acredito que a cultura e a alienação fazem do ser humano um ser fraco e escravizado entre ideologias e religiões. O que é justo? O que é a verdadeira questão neste caso? Na essência sempre fomos acobertados pelas religiões e pelos governos, seja lá qual forem, para não terem “trabalho” de modificar a cidade por causa das nossas necessidades. Mesmo a ciência ergonômica, com várias pesquisas, dizerem que as escadas dão maiores problemas na coluna vertebral, nossa cultura não deixa as escadas de lado. Não deixam os acentos dos ônibus da frente para os idosos ou pessoas com deficiência, quando um cadeirante quer subir no ônibus as pessoas não dão licença. Quando estamos em lugares como shopping centers, não dão licença, nos atropelam e ainda ficam de “cara feia” quando veem nós namorando. Eu não acredito muito em campanhas, não acredito em “exemplos de superação”, não acredito em resoluções definitivas. A inclusão custa caro, não só as famílias, mas ao ESTADO que tem que acessibilizar tudo e dar meios de nós, saímos de casa. Acontece que ninguém quer disponibilizar o dinheiro, ninguém quer disponibilizar recursos, ninguém quer fazer nada. Só doam para o Teleton, para ficarem com a consciências limpas.

Um exemplo bem simples, é que o prefeito de São Paulo trocou muitos ônibus, mas não teve muito troca nas vans do serviço ATENDE. A maioria das vans estão em mal estado, estão com peças “duvidosas”, a maioria dos motoristas não tem um treinamento adequado, não se tem o respeito necessário. Mas ninguém quer saber disso, isso nunca dará voto, isso não é matéria eleitoral. Nossa sociedade é capacitista, racista, xenofóbica (contraditório demais), que ainda tem a impressão que são “senhores de engenho”, não sabem mandar na própria vida, querem mandar até em general. Querem mandar em Deus e colocam palavras na boca de Jesus.


Sobre a frase que a Laís disse, não que não possa acontecer, mas é melhor sim ela se acostumar com a cadeira de rodas, porque vai ser o meio de locomoção pelo resto da sua vida. Existem coisas irremediáveis e a deficiência é uma delas, que aliás, não atrapalha a vida. A questão é a cultura ocidental que pautou a imagem da perfeição do corpo como sinônimo de felicidade. Costumo dizer o mesmo do que sempre disse, a felicidade não é fácil, é rara, é escassa e deveria ser uma palavra como “Deus” no judaísmo, uma palavra proibida. As pessoas deveriam saber que temos momentos alegres, momentos de prazer e gosto daqueles momentos. Então, se você não se achar uma pessoa “maravilhosa” para você mesmo, se você não se dar valor, não coloque a culpa na deficiência, pois, o problema não é a deficiência, mas você. 


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