
Por Amauri Nolasco Sanches Junior
Eu prometi que não ia mais escrever sobre deficiência e ia
me dedicar ao meu livro que estou escrevendo de filosofia. Mas duas coisas
fizeram eu escrever esse texto: uma é a frase da Laís Souza “"Não quero me
adaptar à cadeira de rodas de jeito nenhum. Quero fazer o contrário: sair dela.
” (aqui) e a outra coisa, é a banalização da deficiência. Porque a questão da deficiência,
em termos críticos filosóficos – como eu gosto de analisar – é um tema estético
normativo social. Você não deve ser feliz se você não andar e ser igual as
outras pessoas, você não pode ser um ser humano se você está numa cadeira de
rodas e isso que a Laís faz, ela usa e banaliza a deficiência, se fazendo de vítima,
se fazendo de “guerreira inclusão” que consegue dar uma mijada. Mijar, uns
sozinhos e outros com sonda, conseguem e devem conseguir, porque o sistema
digestivo pede quase, mandando que você mije e defeque. Não é mérito, é
necessidade. E a imprensa faz um trabalho de “porco”, achando que eu e você não
entendemos, que ela consegue controlar a “bexiga urinaria”, que é bem
diferente.
Outra coisa, nós sabemos que começa essas conversas é por
causa do evento do Teleton, porque é para sensibilizar. A mim não sensibiliza e
sou totalmente, contra esse tipo de campanha, porque há muito dinheiro além das
doações (a AACD recebe do SUS). Além que ela ganha R$ 4 mil reais por mês, quem
fazia o esporte que praticava, não era barato. Não é um esporte que se pratica
aqui e as outras pessoas com deficiência, não tem o mesmo direito a esse tipo
de tratamento. Claro, que esses R$ 4 mil
reais são responsabilidade do COB, pois, ela estava na responsabilidade do órgão
mesmo que não era o treino oficial. Em matéria da deficiência, acho que ela não
é exemplo de nada e não tenho a Laís Souza, Herbert Viana, Fernando Fernandes entre
outros, como exemplos de nada, só são deficientes que já tinham uma certa
pratica e estão continuando o seu caminho.
Eu sou cético a certas coisas, não acredito que o mundo seja
o que ele é naturalmente, eu acredito que a cultura e a alienação fazem do ser
humano um ser fraco e escravizado entre ideologias e religiões. O que é justo? O
que é a verdadeira questão neste caso? Na essência sempre fomos acobertados pelas
religiões e pelos governos, seja lá qual forem, para não terem “trabalho” de
modificar a cidade por causa das nossas necessidades. Mesmo a ciência ergonômica,
com várias pesquisas, dizerem que as escadas dão maiores problemas na coluna vertebral,
nossa cultura não deixa as escadas de lado. Não deixam os acentos dos ônibus da
frente para os idosos ou pessoas com deficiência, quando um cadeirante quer
subir no ônibus as pessoas não dão licença. Quando estamos em lugares como
shopping centers, não dão licença, nos atropelam e ainda ficam de “cara feia”
quando veem nós namorando. Eu não acredito muito em campanhas, não acredito em “exemplos
de superação”, não acredito em resoluções definitivas. A inclusão custa caro, não
só as famílias, mas ao ESTADO que tem que acessibilizar tudo e dar meios de
nós, saímos de casa. Acontece que ninguém quer disponibilizar o dinheiro, ninguém
quer disponibilizar recursos, ninguém quer fazer nada. Só doam para o Teleton,
para ficarem com a consciências limpas.
Um exemplo bem simples, é que o prefeito de São Paulo trocou
muitos ônibus, mas não teve muito troca nas vans do serviço ATENDE. A maioria
das vans estão em mal estado, estão com peças “duvidosas”, a maioria dos
motoristas não tem um treinamento adequado, não se tem o respeito necessário. Mas
ninguém quer saber disso, isso nunca dará voto, isso não é matéria eleitoral. Nossa
sociedade é capacitista, racista, xenofóbica (contraditório demais), que ainda
tem a impressão que são “senhores de engenho”, não sabem mandar na própria vida,
querem mandar até em general. Querem mandar em Deus e colocam palavras na boca
de Jesus.
Sobre a frase que a Laís disse, não que não possa acontecer,
mas é melhor sim ela se acostumar com a cadeira de rodas, porque vai ser o meio
de locomoção pelo resto da sua vida. Existem coisas irremediáveis e a deficiência
é uma delas, que aliás, não atrapalha a vida. A questão é a cultura ocidental
que pautou a imagem da perfeição do corpo como sinônimo de felicidade. Costumo dizer
o mesmo do que sempre disse, a felicidade não é fácil, é rara, é escassa e
deveria ser uma palavra como “Deus” no judaísmo, uma palavra proibida. As pessoas
deveriam saber que temos momentos alegres, momentos de prazer e gosto daqueles
momentos. Então, se você não se achar uma pessoa “maravilhosa” para você mesmo,
se você não se dar valor, não coloque a culpa na deficiência, pois, o problema não
é a deficiência, mas você.
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