segunda-feira, 20 de junho de 2016

CRITICA AO FILME: COMO EU ERA ANTE DE VOCÊ (sem spoller)









Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritos e filósofo
(amauri.njunior@gmail.com)

Quando escrevi o texto Cuidadora:Louisa Clark analisando o livro, eu disse do modo pratico que realmente é um modo (se não, o único), de educar os jovens para a inclusão de pessoas com deficiência. Primeiro que como publicitário eu gostei muito da fotografia do filme, os enquadramentos das câmeras ficaram perfeitas (a única coisa é que mexia muito que dá um certo desconforto), mas a imagem estava muito bonita.  Depois, os atores colaboraram muito com a história e fizeram realmente a diferença, sendo assim, o filme ficou muito bom mesmo.

Segundo, devemos olhar o filme no mesmo modo que olhamos o livro: a Lou é uma moça que tinha um grande potencial e o Will era um cara ativo e foi “parado” pela deficiência repentina. A questão é muito mais uma leitura rasa da história, pois, a história tem a ver como olhamos a realidade onde vivemos e se olhamos realmente essa realidade. A Louisa era apenas uma garçonete sem se preocupar com o futuro, sem nada de importante em querer seguir e sem nada a querer ser. Mostrando como as pessoas, às vezes, são vazias dentro daquilo que não querem ser e são por um simples fato de serem obrigadas. Isso não quer dizer a sociedade ou o governo, quer dizer você, no âmbito de querer ser conduzido a ser um nada, coisa que Sartre nos mostrou majestosamente. O homem é condenado a ser livre pelo simples fato dele não querer ser livre, ou seja, o homem sempre fica procurando coisas para ficar presos. Não é isso que se mostra na história? Louisa fica presa na condição que escolheu ou não, Will fica preso na condição que tinha e tem pena de si mesmo, como se o mundo tivesse culpa da “cagada” que ele mesmo fez.

O que importa aqui é analisar como um todo, porque as pessoas dizem que foi lindo, mas o que deveria ser lindo ou feio? O que é lindo e o que é feio? Feio é tudo aquilo que a sociedade não aceita como certo (que tem uma certa conotação estética), como por exemplo, se a Louisa fizesse o Will se apaixonar e fosse embora para sempre. Um outro exemplo de ser feio é a história da Branca de Nove que a madrasta bela, imponente, se transforma em uma velha e fraca para seduzir a princesa Branca De Neve, ou até mesmo, os anões não terem o poder de acordar a própria e sim, um príncipe encantado. Claro, se fomos muito mais longe na questão da Branca de Neve, é as fazes femininas que são analisadas ali como formas bem claras do psicológico mesmo. Mesmo assim, um anão Dunga, por exemplo, não poderia despertar a princesa porque não é aceitável, não é uma forma de vender (num modo estético primitivo), uma imagem de um homem ideal e que todas as mulheres vão encontrar um. Aliás, na essência do problema, os contos de fadas são um platonismo infanto-juvenil para vender uma fantasia dentro de histórias que foram construídas para educar. A desgraça do mundo foi: primeiro aceitar todas as reconstruções desses contos pelo estúdio Wall Disney, depois foi querer impor uma imagem de um mundo que não existe, histórias que não existem, o feio é o mundo e temos que aceitar isso.  Em algum lugar da galáxia existem seres diferentes (e porque não iguais os aliens do 8º passageiro), no nosso mundo não há perfeição, existem criaturas não aceitas, existem humanos não aceitos e existem situações não aceitas. Os filmes de terror são uma situação não aceita.
 
Tudo que é lindo é aceito e todos acham ser verdadeiro e harmonioso. Às vezes, nem sempre aquilo que é considerado aceito é verdadeiro, tudo aquilo que não é aceito é errado. É feio dizer a verdade para as pessoas, porque as pessoas não aceitam muito bem aquilo que é mesmo, aquilo que pensam dela verdadeiramente. Daí a coisa fica mais ou menos, um paradoxo, pois, dizer a verdade é uma forma de má educação, porem mentir é pecado e feio. Há conceitos que não podemos definir e por isso mesmo, achar o filme lindo sem definir o que é lindo, o que foi lindo, que aliás, foi apenas momentos. O amor a verdade se despedaça quando nos deparamos com o belo, o belo nos remetem a mundos patéticos que nos expõem as vezes, ao ridículo extremo. Ver uma mulher bonita e achar que ela te achou bonito, às vezes, ela na verdade, te achou o cara mais babaca do mundo por fazer a “palhaçada” de buzinar.  A verdade é que você não vai casar com uma pessoa perfeita, não vai ser bom porque existe um outro mundo que te colocara no lado de Deus, a verdade está em nós como se a essência humana tivesse motivo de existir por causa da verdade. Na verdade, é que não existe destino, não existe caminho escrito, nós mesmo construirmos nossa própria realidade porque somos livres e ser livres é se convencer que essas escolhas de transformam ou em um fracassado ou em um “fodão”. Isso que Loisa não entendeu, ela quis ser a fracassada porque os outros eram importantes, ser a “boazinha” que cuida de todo mundo, ser sempre aquelazinha que é a exporia de todo mundo. Há uma vanglorização do egoísmo que Will mostrou e que todos chamam de ganancia, brios de mostrar que temos a capacidade.

Mas há um porem muito importante, se Will ensinou para Louisa que ela tinha muito mais capacidade de fazer a diferença para ela, foi incapaz de ver que era capaz de ser ele com algumas limitações. Will é um cara que Nietzsche diria ser um niilista, porque negou aquilo que ele realmente era, para ainda querer fazer um personagem que ele mesmo construiu. O mundo nos ensina que devemos ter uma namorada ou namorado gostosos, ser bem-sucedidos e sempre ficar rodeados de gente, encher a cara de bebidas caras e ser um nômade que viaja sempre. Nossa sociedade moderna mata Deus para colocar ideais muito mais incapazes de sustentar a razão humana, do que um bando de primatas brincarem de serem deuses. Aquela moto fez Will ver que ele não era um “deus”, que não era um ser que podia tudo, era apenas mais um entre muitos que sofrem com a verdade jogada bem na sua cara. É um humano, um primata racional que inventa tecnologias e hora explora por causa dessa tecnologia, hora muitas vidas com ela, hora até mata. Há amor, mas há incapacidade de viver esse amor, ele não pode vestir a imagem que ele mesmo criou. Só que o mundo não ensina que muito poucos seguiram os padrões patéticos da sociedade, se esses padrões não serem aceitos você sempre será um fracassado. A meritocracia, pelo menos num modo que é exposto, é pior que uma metafisica religiosa.

Will é um negador da vida, porque é muito fácil viver plenamente dentro dos padrões da sociedade, padrões estéticos, padrões que existiram dentro da humanidade e se aflorou no século vinte. Mas é difícil viver plenamente limitados, sem ser o personagem que a sociedade nos impõem. Will é um niilista nietzschiano que nega a vida, nega a oportunidade de saber o que é verdadeiramente a vida. Mais uma história que coloca a pessoa com deficiência sofredora, incapaz, mais uma história capacitista, limitada, mostrando ao mundo que nós não temos nenhuma chance num mundo incapaz de entender que somos seres humanos. Will é um filho do seu tempo, um tempo moderno que não encontrou nada, apenas destruiu.


Um bom filme para refletir, mas não para incluir. Inclusão é mais do que isso. 

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