sábado, 24 de setembro de 2016

Carência de ideologia








Por Amauri Nolasco Sanches Junior

O mundo moderno ou pós-moderno, ficou muito mais fácil você achar informação e é muito mais fácil dizer o que se pensa. As coisas ficaram muito mais fáceis de se conseguir graças à internet e as políticas liberais que tanto os “esquerdistas” reclamam de desumanizar o ser humano, sendo que se não fosse essa liberdade e essa facilidade da informação, ele não saberia nem o que poderia ser uma esquerda. Claro, que o sistema liberal – pelo menos aqui no Brasil que tudo é distorcido – tem falhas enormes que sabemos muito bem de onde vieram que muitos liberais e anacocapitalistas denunciaram, os conservadores se apropriaram da política liberal. Então, o liberalismo só ficou na esfera econômica e na esfera do livre mercado, não na ordem moral. Daí que vem a crítica da esquerda, enquanto na ordem econômica somos livres de comprar e até, abrir nossa própria empresa, no campo moral devemos ser iguaizinhos o que era na era medieval, pagamos nossos impostos e devemos nos “prostrar” ao soberano. E não é bem assim.

Infelizmente, os conservadores – que sim fizeram a revolução francesa – não entenderam a política liberal como uma liberdade para uma coisa e não liberdade para outras. Isso vieram dos protestantes, uma ordem moral irrestrita que não pode ser abalada, porem podemos sim enriquecer e ter uma economia que nos favoreça num livre mercado. As igrejas evangélicas deixam isso muito claro, pois, além de pregar que seus fiéis, devem ter uma vida mais digna e até montar seu próprio negócio e ganhar seu dinheiro, porque a riqueza não é pecado. Sabemos muito bem o porquê desse interesse todo pelo bem-estar dos fiéis, porque sem meios de prover seu ganho substancial, não haveria meio de dar o tão falado dizimo e só, nada mais como nada menos. Não estão totalmente errados, porém, como diria Maquiavel, os meios justificam os fins; ou seja, não interessa que você tenha ilusões sobre enriquecimento, você tem o dever moral de melhorar de vida. Só que povo usa roupas descentes, usa carro descente, viaja para todo o lugar, mas mora numa casa de aluguel. Assim, se ensina os meios, mas não ensina os fins.

Nesse paradoxo – ideias contrarias num mesmo pensamento ou frase – se pode ver que há um pensamento único (liberalismo) e se fragmenta em dois (liberdade+conservadorismo), e que também confundem as coisas. Ou se tem liberdade e se pode escolher o seu ponto moral, ou se conserva a base social que sempre tivermos, os dois não pode coexistirem. Não se pode colocar o liberalismo (liberdade de escolha) em uma outra filosofia que conserva a moral vigente. Muitos podem até me chamar de radical, mas tradicional eu só gosto de pizza, o resto gosto de pensar livremente e respeitar a liberdade do outro. Nesse meio todo aparecem as ideologias velhas ou novos heróis que nada são do que as velhas frustrações, as velhas maneiras de se ver o mundo, a carência ideológica é imensa hoje em dia. Então nos apegamos a ideias fáceis, ideias magicas de um ponto não magico de se pensar e de agir. O jovem então procura e acha caras que nem são filósofos e nem são picaretas, são intelectuais engajados dentro do que acham importante e se apegam a esses sujeitos, como se fossem “deuses” ou coisa parecida.

É o que acontece com o Olavo de Carvalho que não é um filósofo (pelo menos, não na etimologia da palavra), é apenas um intelectual engajado naquilo que ele acha importante, mas não é em hipótese nenhuma, um filósofo. Não pela sua religiosidade, pois o possível autor o nome “philosophós” que foi Pitágoras, era um místico religioso. Talvez, quando Pitágoras disse ser um filósofo (eímai philosophós), ele diz que era um amigo da sabedoria e sabia que não era a própria sabedoria e então, não era um sábio enquanto tal. Mas aí que mora a questão, pois, você achar que é nem sempre é uma questão de não ser, até é uma questão do ser enquanto ser. O Olavo de Carvalho ser ou não um ídolo, não é nem culpa dele, mas há uma natureza cultural nossa (por razões históricas), em que sempre estamos buscando uma ideologia ou um ser que nos livre da suposta escravidão que nos encontramos. Mas cadê essa escravidão que não vimos? Somos acorrentados de alguma forma?

Não há nenhuma lógica, querer atribuir a nossa vontade a vontade do outro enquanto tal. Porque a vontade é muito subjetivista, embora, eu achar o Olavo muito mais um intelectual do que um filósofo, muito longe de uma visão subjetivista e está muito mais, na esfera da objetividade das próprias ideias dele de certezas e não de dúvidas. Como ele ser católico, como ele defender a filosofia cristã por completo – no sentido da teologia católica e toda a sua patrística e escolástica – essa anti-humanização em defender princípios completamente, em decorrência de teorias da conspiração e tudo mais. Qual família em sã consciência, iria querer dominar o mundo? A questão vai muito além do que o liberalismo, vai além do conservadorismo, vai mais além de tudo isso, vai até o ser enquanto ser (ontologia).


 Talvez as utopias políticas não tenham muito sucesso, porque sempre os seus idealizadores pensam em um modo social e econômico, mas existe o indivíduo e sua vontade. A questão dos ídolos e a questão da vontade como um fenômeno consciente ontológico é existencialista – sou mais da ordem de Kierkegaard, Nietzsche, Heidegger e até um pouco de Sartre – onde o ser existe para criar uma essência que vai culminar em um ser completo e evoluirá a sua alma. E não serão leis morais, não serão as religiões, não serão as ideologias políticas que farão o homem melhor, mas a dignidade humana de fazer sempre o que se quer, ter a liberdade de escolha em todos os sentidos. Então, temos que antes de tudo, perceber a nossa existência e ter o esclarecimento necessário para termos uma sociedade melhor. Porém, sabemos que o modelo utópico de mundo não deu certo, o humano tem que enxergar além disso tudo. Então, o que fazer? Eis uma das muitas perguntas que nunca serão respondidas. 

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