
Por Amauri Nolasco Sanches Junior
Muitas pessoas podem achar que Nietzsche não teria nada a
ver com a questão venezuelana, mas tem muito a ver, porque tem a ver com a questão
do “ubermesch”. Alguns traduzem “ubermesch” como super-homem, outros traduzem
como além do homem, a questão que o termo alemão não tem tradução plausível. Eu
gosto do “além do homem”, porque a ideia de “super-homem” é uma ideia de
superioridade, que ao me ver, não tem muito conexão com a filosofia nietzschiana.
A questão do “ubermesch” é uma questão muito além do que mera superioridade,
tem a ver com a questão de transcender questões que escraviza o homem em
conceito completamente, que não fazem diferença em sua vida. Na verdade, Nietzsche
era um epicurista, pois, a questão da morte para Epicuro era um caso
interessante. Epicuro dizia: “Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é
nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é
justamente a privação das sensações”. Ou seja, a morte para o filósofo grego,
era só a privações das sensações que temos em vida e a vida sessa com a morte. Então,
por que temos que ter medo de algo inevitável?
Aqui a questão é muito além do
que a morte, é depender de um tutor que te diga para onde ir e a ideia de
igualdade dos ressentidos. Eu, particularmente, gosto muito mais da ideia dos
ressentidos do que a ideia do “ubermesch”, pois, quando falamos de ditadores
como Nicolas Maduro, falamos de ressentidos, falamos de política socialista. Não
se iluda, as políticas socialistas são ambidestras, não existe só de esquerda,
existe de direita também quando atinge um certo interesse da “casta” rica. Hitler
tinha ideias socialistas – entendam que socialismo vai muito além do que
marxismo – poderia ser de esquerda, mas a direita alemã, também apoiou a ideia
eugenista nazifascista por atender seus interesses. Não teve nada a ver de
esquerda ou direita, teve a ver com interesses. Aqui tem a ver com a visão que Nietzsche tem
do socialismo que é bem interessante e é uma visão do século 19. O filósofo diz:
"O
socialismo é o fantasioso irmão mais jovem do quase decrépito despotismo, do
qual quer herdar; suas aspirações, são, portanto, no sentido mais profundo,
reacionárias. Pois ele deseja uma plenitude de poder estatal como só a teve
alguma vez o despotismo, e até mesmo supera todo o passado por aspirar ao
aniquilamento formal do indivíduo: o qual lhe aparece como um injustificado
luxo da natureza e deve ser transformado e melhorado por ele em um órgão da
comunidade adequado a seus fins.”
Há alguma coisa semelhante do governo venezuelano? Há alguma
coisa semelhante aos governos ditatoriais? Claro que há, porque todos têm seu
fim para justificar seu meio de se posicionar com a massa, manobrar o
pensamento como se esse pensamento fosse uma só voz. O PT tentou aqui, mas existem
oligarquias que não iriam perder a “boquinha” e tiveram os olhos maiores do que
a cara – porque participaram também no esquema de corrupção – e derrubaram o
esquema que por sua vez, não se tornou uma Venezuela. Porém, para mim, pelo
menos, não acho que o governo venezuelano tem a ver com algum bolivarianismo e
sim, tem a ver com o chavismo. Simon Bolivar só foi usado como ícone de um
insano que tinha uma agenda de criar uma nação socialista, uma nação que
tivesse o mesmo molde que teve uma Cuba. O governo cubano foi uma ditadura, foi
o exemplo mais do que claro, que a imposição é pior do que a posição e a educação,
porque acabou na pobreza, acabou da igualdade dos fracos e ninguém pode negar
isso. Não se pode chamar o socialismo da Venezuela de socialismo bolivariano,
mesmo o porquê, Bolívar era burguês e como um bom burguês queria o seu país
livre para melhor comercializar e assim, a economia andar melhor. Essa ideia do
olavismo – olha a filosofia brasileira, que podemos chamar de “filofarofa” – tem
sua base em um ressentimento da igreja que claro, era partidária da Espanha. Mas
voltamos a Nietzsche.
A questão nietzschiana é uma questão levada a ter uma essência complemente, além daquilo que deram como o medo. Qual é a superação do ser humano diante da vida? O termo “ubermesch” pode responder, porque o prefixo alemão “uber” quer dizer “além, adiante” e não pode ser confundido com “super”. O “mesch” em alemão é o termo neutro e pode se referir a “ser humano”, porque somente “mann” quer dizer “homem” e então, não pode ser confundido como “super-homem”. No livro “Assim falou Zaratrustra” está assim: "O ser humano é uma corda, uma corda estendida entre os animais e o além-do-humano, uma corda sobre um abismo.". Qual é o abismo que Nietzsche quer dizer? O abismo que está em não querer estar diante daquilo que não está de acordo com as suas crenças, porque o socialismo, para ele, não é diferente do que a religião, porque é um idealismo e todo idealismo é uma forma de conceber uma igualdade que não existe. Olha o que ele diz:
Mas mesmo essa herança não bastaria para seus fins, ele
precisa de mais servil submissão de todos os cidadãos ao Estado incondicionado
como nunca existiu algo igual; e como nem sequer pode contar mais com a antiga
piedade religiosa para com o Estado, mas antes, sem querer, tem de trabalhar
constantemente por sua eliminação – a saber, porque trabalha pela eliminação de
todos os Estados vigentes -, só pode ter esperança de existência, aqui e ali,
por tempos curtos, através do extremo terrorismo.
Tempos muitos curtos através de um extremo terrorismo, através
de uma relação entre eliminar a essência humanitária de sermos uma sociedade,
visando não o enriquecimento cultural que pode libertar, mas somente o
material, o ter e não o ser. Nietzsche diz que o “abismo” é toda a dificuldade
que o ser humano pode ter na vida, uma vida que não aceita o devir, porque é
uma vida automática. Tanto Hugo Chávez, como Nicolas Maduro, existem, porque as pessoas
gostam de ser tuteladas por pura acomodação. Chávez foi eleito porque as
pessoas quiseram um “pai” e não um presidente, na mesmo
forma, o Lula foi eleito aqui. A tutela sempre é feita pelos ressentidos.
Um ressentido é um niilista, pois, o niilista, para Nietzsche,
renega a vida como ela é. Ele nega o devir enquanto o mundo, porque não aceita
que a ideia dele de justiça é uma ideia inexistente. Um ressentido é um
intolerante que “espuma” ódio por tudo que acha que não tem a ver com suas
normas, com sua justiça. Mas, que justiça e que norma? No caso do socialistas,
as normas e a justiça, é a igualdade entre os homens sendo que só se muda uma
cultura educando. A negação do mundo e suas diferenças – que tem a ver com a
fraqueza e não com igualdade, mesmo o porquê, nada na natureza é igual – são um
caso de ressentimento daquilo que não é e o que deveria ter sido. Quando Maduro fica colocando os Estados
Unidos como uma nação inimiga – não estou colocando “santidade” – está colocando
um sentimento de ressentimento claro que a Venezuela nunca foi uma nação forte
e prospera. Por outro lado, vê o total aniquilamento da filosofia socialista,
que a muito tempo, deveria ser colocada na prateleira como as outras.
Só uma correção: übermensch.
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