quinta-feira, 28 de abril de 2016

Como ser um idiota no Facebook









Primeiro lugar, para entender alguma coisa temos que saber o que os termos significam e de onde ele se originou.  Etimologicamente o termo idiota veio do termo grego clássico idios que quer dizer “pessoal, privado”, idiotes que era “individuo privado” que era uma pessoa que tinha uma vida comum, pois, enquanto o cidadão (politikon) se ocupava da vida pública, o indivíduo comum (idiotes), que eram pessoas que chamamos hoje de “ignorantes”, que eram, a maioria. Talvez, nesse sentido que Lenin (o líder da revolução russa), disse que existem idiotas uteis, porque existem sempre pessoas que tem um nível mental muito baixo que não pode distinguir o que querem que ela faça. Mas não é uma deficiência mental, mas uma deficiência educacional do nosso povo achar que não se precisa estudar para ser algo, mas o estudo não é para ser algo na vida, e sim, alguém que tenha opinião e não seja um “idiota útil” nas mãos dos querem deter o poder. Quanto mais ignorante você for, mais a favor do ESTADO você será e sempre vai achar que a sociedade é uma necessidade, pois, já se sabe que muitos que ali estão, estão por vender essa imagem de um poder “sacro santo” que a religião reforça essa imagem.

Ora, o que podemos ver no Facebook é os idiotas uteis atacando coisas completamente, sem motivo de serem atacados. Como na cuspida do ator que não poderia acontecer, mas que o outro provocou. A cuspida do deputado, mas o outro provocou e seu filho também cuspiu. Poderíamos perguntar: quem é o outro para determinar o que o outro é? Quem é o outro para julgar o outro pelo o que ele acredita e sente? Quem somos nós para determinar o outro os valores no qual acreditar? A visão de um idiota é sempre uma visão que ele se coloca em um dos lados que sempre, no final da história, o que julgou certo fará nós sempre se arrepender. Por que? Uma das melhores coisas da vida é ter alguma opinião sobre as coisas, mas ter opinião não é o bastante, tem que estudar para colaborar com essa opinião. Todos julgam governos comunistas, mas ninguém estudou ou sabem o que é governo comunista. Todos julgam o outro a ser fascista, mas a grande maioria nem sabem o que é fascismo, nazismo ou socialismo. Porque querem as coisas fáceis, querem que as pessoas digam e ele não terá o trabalho de pesquisar num Google ou ler um livro bom de história. Não adianta apoiar, tem que saber, tem que sempre pesquisar, senão, vai passar vergonha alheia.

Uns dos grandes problemas do nosso país é que somos milhões de papagaios repetindo o que as outras pessoas disseram, ninguém em sua maioria, gosta de pesquisar a fundo. Ser idiota também é uma questão de se fechar dentro de uma só ideologia, numa só religião e nem sempre, vamos olhar a religião num modo mais essencial ou até mesmo, a ideologia. Não há motivo nenhum em acreditar que um sujeito que é a favor do regime militar é um liberal, porque se confunde liberalismo com conservadorismo, mas o sujeito é casado pela terceira vez, então, nem conservador é. Essas coisas só podem ser analisadas graças a noção histórica que verificamos com livros de história, neutros, que podem mostrar uma imagem daquilo que realmente foi. Ideologias políticas não podem ser confundidas com idealismo político, pois, aquilo que se faz na pratica não é o que se coloca em um projeto. Por exemplo, a filosofia de Marx é um exemplo clássico, porque mesmo que os seus apoiadores dizerem que nunca foi realmente, posta em pratica, sua base foi colocada no regime soviético da URSS e na Alemanha nazista, que era, para se ter igualdade teria que se matar 1% da população. O liberalismo de Locke foi apropriado pelos burgueses e sofreu uma grande mutação, onde não importava a liberdade do homem ser o que é, mas a liberdade do homem em ter a liberdade para ter o que quiser e perder a essência em ser o que se é. A liberdade é uma utopia enquanto pensamento político, pois a democracia nos remete a aceitar o que a maioria decide, a ditadura acaba sendo pior, pois, se aceita uma decisão de um só. A pergunta deveria ser: eu sou livre sendo um idiota ou um cidadão? Um idiota é sempre um ser medíocre, um cidadão é um ser que enxerga sempre o que a maioria precisa, então, se falarmos em igualdade estamos falando em liberdade, mas não é a liberdade de fazer o que quiser, pois o “quiser” pode conter elementos de um mundo que acredita que uma Ferrari é mais importante do que um beijo de uma pessoa amada.

Se irmos muito mais a fundo e na essência da questão, o cristianismo não deveria ser considerado conservador, pois, Jesus rompeu e questionou muitas coisas dentro do judaísmo e por isso, foi crucificado. A questão vai além disso: por que temos livros do judaísmo dentro do livro sagrado do cristianismo? Por que temos que adorar dois deuses se um é um deus intolerante e o outro passivo? O intolerante permite Moises matar trezentos hebreus – naquele tempo não se chamavam judeus – por causa do bezerro de ouro, já desobedecendo o primeiro mandamento, não matarás. Por outro lado, o passivo deixa Jesus ser crucificado e humilhado diante ao poderio do templo, dentro do poderio do império romano, pois, ali naquele momento, era a Glorificação dele diante de mortes inúmeras dentro do evangelho. Prefiro acreditar que o Eterno não interfere dentro das leis universais, porque como uma inteligência que constrói algo, não respeita as leis que fazem esse algo funcionarem? Se tudo se conservasse como está não haveria mudanças necessárias para a evolução, não haveríamos de ter saído das cavernas, ainda num modo ético, estaríamos matando crianças com deficiência, mataríamos os mais velhos por causa das doenças que atrapalhariam a família, faríamos sacrifícios a Deus ou aos deuses. O conservadorismo não se sustenta na ideologia política, não se sustenta na física, não se sustenta em qualquer área que você colocar, muito menos, no cristianismo. Não era Jesus que gostava de festas e numa delas, transformou agua em vinho? Não era Jesus que era cercado por mulheres e nomeou Maria de Magdala, como sua discípula? Não foi Jesus que disse que não éramos para não se preocupar com o dia do amanhã, porque o dia de amanhã responderá por ele mesmo? Isso não era uma postura de mudança de comportamento ou não? Dar a Cesar o que é de Cesar, a Deus o que é de Deus, não é um convite ao desapego? Dizer que o cristianismo é conservador é uma ofensa até mesmo a imagem de Jesus que nos ensinou tantas coisas para mudarmos, mas ainda em essência, dependemos de patifes para nos guiar até Deus.

Se não se sabe o que acredita, não sabe o que segue, e muito menos, o que sente, como se pode se julgar o que o outro pode ser? Cada ser humano, pelo menos na resolução dos direitos humanos universal, tem o direito de ser o que é e não ser julgado por isso. Mas também quando partimos para a agressão sempre o outro está certo, porque o nosso povo esquece que o outro provocou, o outro xingou, o outro agrediu de forma gratuita e sem a menor educação. Para nosso povo o outro que agrediu primeiro é sempre a vítima porque sempre há um motivo ideológico para isso, ou motivos religiosos, motivos de cunho pessoal ou exclusivista, não no coletivo. Seria bom olharmos ao todo, mas infelizmente, é ainda uma utopia e cada vez, sejamos mais idiotas.


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo 

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