Aristóteles – que viveu trezentos anos antes de Cristo – dizia
que cada ser tinha uma essência que ele chamou de substancia e essa substancia,
dependia de um fato decisivo dentro de cada ser humano. Ora, se o homem é
branco, não era a essência do homem ser branco e sim, um acidente, ou seja, a essência
do homem é ser virtuoso, mas a essência do homem não é ser branco. Hoje, com
todo o avanço da ciência (episteme) e todo aparato filosófico que se produziu
diante do tema, nos fez enxergar que o ser é o ser enquanto estiver na sua
individualidade enquanto único no universo. Isso é uma questão de linguagem e
psicologia que nos diz que somos indivíduos que somos únicos, mas isso não quer
dizer que não temos uma natureza sócio coletiva humana.
Quando tomamos uma decisão coletiva não é uma decisão que
acabara com nossa individualidade e sim, preservar o que somos para
fortalecimento de uma moral mais solida. A natureza de um cavalo, por exemplo, não
é ser branco e sim, ser forte, trotar bem, mas não ser branco que é uma característica
adjetiva de dar uma qualidade. Ser branco nesse caso não é uma natureza
essencial do cavalo, mas um acidente (uma característica herdada entre milhões possíveis),
que levou o cavalo ter a cor branca como poderia ser marrom de repente. De repente,
até poderíamos dizer “o cavalo branco de Napoleão” seja uma figura singular,
mas é singular graças ao Napoleão e não ao seu cavalo que se chamava Bucéfalo
(em homenagem a Alexandre, o grande), que dará a característica única, de ser Bucéfalo
e não outro cavalo. Eu ser Amauri Nolasco Sanches Junior é uma característica minha
e fará com que as pessoas saibam quem eu sou e que características aparento,
pois só o nome me faz um ser humano único e que se chama Amauri Nolasco Sanches
Junior e não outro “Amauri”. O Nolasco Sanches Junior, fara ter uma característica
além do que mero codinome, pois o codinome dará uma identidade coletiva e não única.
O que vimos dentro do segmento é algo preocupante, quando o indivíduo deixa de
ser individuo por causa da “modinha” de caracterizar um sobrenome, para colocar
um adjetivo e aí que o bicho pega, pois, nossa sociedade está começando a
colocar adjetivos dentro de substantivos e isso é perigoso. Seria o mesmo que
eu colocar no meu perfil do Facebook “Amauri deficiente” ou “Amauri Cadeirante”
caracterizando uma mistura naquilo que era única e característica em meu nome. O
que é a caracterização do ser que largou de ser para caracterizar um coletivo
que as vezes, muitas vezes, não é como indivíduo que pensa, que tem sua essência.
A grosso modo, deixamos de ser um ente que pensa, sente,
gosta de tal música, gosta da Mariazinha e tem sua opinião, para pertencer ao
senso comum que draga o ser individual para ser um ser comum. O nosso nome é um
substantivo próprio, singular e como sendo próprio, se tiramos ele e pusermos
um adjetivo, vamos ser apenas algo comum que todo mundo é como uma “massa”. O termo
“cadeirante” (inventado para simplificar o usuário de cadeira de rodas), é um
termo ainda pior, é um termo demonstrativo e que é errado, porque acaba sendo
um termo coloca uma condição em uma pessoa que não é usuária de cadeira de
rodas, ela estar usando uma cadeira de rodas. A natureza do indivíduo não e ser
“cadeirante”, mas ele estará usando uma cadeira de rodas que é preciso para
locomover. O carro não está no motorista, o trator não está no operador, um
computador não estará num programador, uma cadeira não é uma pessoa que usa. Eu
não sou o texto, pois o texto se deu corpo graças as minhas ideias e assim vai
o pensamento. Se disserem “Fulano Cadeirante”, “Mariazinha Ceguinha”, “Juquinha
Bengala”, estamos acabando com nossa identidade e assumindo uma identidade
muito mais universal que muito de repente, não cabe muito no contexto da base
dessa discussão.
Parece que deram uma identidade dentro da deficiência que eu
fico abismado, como pessoas ficam dizendo assim: “Me adiciona que eu sou
deficiente”. Ora, primeiro que enchem tanto o meu saco por causa dessa
terminologia que esquecem de usa-la, porque se não posso escrever “deficiente”
e sim “pessoa com deficiência”, muito menos tenho que colocar “Amauri
cadeirante”. Mais do que isso, nós devemos adicionar o cara só porque ele é uma
pessoa com deficiência, que para mim, pouco me importa e pouco faço destaque. O
conhecido “e daí? ”, que deveríamos usar mais e não acreditar nessas balelas
sem fim.
Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo
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