domingo, 17 de abril de 2016

Somos normais ou não?








Uma amiga postou indignada dizendo que a mãe dela tinha postado uma reportagem que fazia jus a pergunta clássica dentro até, do nosso segmento de pessoas com deficiência que é: “Namorar pessoas com deficiência é normal? “, que uma ONG vai e pega e faz uma campanha mequetrefe com casais mostrando que se casaram mesmo um dos tenha deficiência (não, não há erro, é “um dos” mesmo). Ora, eu estive hoje de manhã pensando o que iria escrever e estava lendo Aristóteles, mais precisamente, Metafisica, e me ocorreu uma questão pertinente nisso tudo. Diante da pergunta você poderia fazer uma outra pergunta: “Um cavalo pode copula com uma égua? ”. Você pode responder: “Sim, pode porque a égua é a fêmea do cavalo”, pois bem, se a égua é a fêmea do cavalo e pode copular com o cavalo porque são da mesma espécie (só a título de exemplo, porque implica com muito mais coisa), por que cargas d´agua, uma pessoa não pode namorar uma pessoa com deficiência que é uma pessoa também? Pessoa é um indivíduo da raça humana que faz parte da espécie hominídeos que é, segundo pesquisas, um tronco evolutivo dos símios que se originaram os primatas. Então, conclusões biológicas a parte, se somos pessoas que temos as mesmas características de um hominídeo e só temos uma limitação física e em alguns casos, sensorial, somos humanos e como humanos podemos nos relacionar com humanos, não temos filhos de outra espécie (mesmo alguns tratarem cachorro e gato como filho), não temos genes diferentes do demais (mesmo as síndromes, não fazem desses outro ser com genes diferente).

Continuando no exemplo biológico, como fizeram com animais nas pesquisas sobre homossexualidade, experimenta colocar um cachorrinho em uma cadeira de rodas (projetada para cachorrinho), e uma fêmea no cio para ver o que acontece. Mesmo que não há um ato sexual, mesmo que não há meios da copula, o instinto estará lá e como um instinto é modo de ser, ele é com ou não deficiência. O humano ainda tem um atributo a mais que é a consciência, sabe que as pessoas são iguais, as pessoas são únicas, que as pessoas são na essência da mesma espécie e semelhança. Uma pessoa com deficiência não pode ser vista diferente, mesmo que dizem que é um instinto de preservação, mas como disse, temos a consciência e construirmos meios para adaptação, do melhoramento da vida de pessoas com limitação e essa limitação, hoje, não pode ser vista como algo que limita sua vida. Quando se faz a pergunta: “namorar uma pessoa com deficiência é normal? “, é uma coisa estranha, porque esse “normal” acaba sendo uma aberração dentro de um contexto que até podemos fazer a pergunta: “o que é normal? “. Tudo que é “normal” tem, por natureza, ser uma norma, uma atitude regular dentro um contexto e nem sempre esse contexto deveria ter normalidades, pois estamos nos deparando com sentimentos, com emoções, com o gosto de estar ao lado de alguém.
 
Esse discurso de normalidade vem sendo mostrado e denunciado dentro da linha filosófica de Foucault que não via, dentro da normalidade, algo até normal. Não ser normal uma pessoa ter um afeto por outra só por causa de uma cadeira de rodas ou outro aparelho? Como assim que isso não faz uma normalidade? Ser normal é namorar pessoas que estão contra lei, mas não é normal namorar uma pessoa com deficiência? Tem certos debates dentro do segmento de PCDs que devemos repensar, porque vamos patinar, vamos usar termos errados, vamos fazer julgamentos desnecessários e não vamos chegar em lugar nenhum. Qual a diferença entre pessoa com deficiência e deficiente? Qual a diferença de um aluno com uma cadeira de rodas ou de muletas? Por que ter interprete de libras se podemos desenvolver técnicas para as pessoas surdas escreverem e se comunicarem assim? Por que não se debate se a lei de cotas abrange mais ou menos usuários de cadeira de rodas? Porque eu já li em revistas especializadas que uma pessoa surda disse que há muita oferta para usuários de cadeira de rodas, que não é verdade, pois há muito mais oferta para pessoas que andam, do que pessoas que usam cadeira de rodas. Mas não, querem esse debate raso e pobre de namoro, de erotização da inclusão, das praias acessíveis, dos parques acessíveis sendo que, não temos como chegar, não temos como pagar, não temos como ter uma saúde verdadeira nem para fazer um erotismo com o companheiro. Para começar não temos direito nem, só para dar uma apimentada, ver nossa história de luta, porque o governo não quer abrir o Museu da Inclusão de final de semana. Como então, eu tenho o direito de ter vida, se a vida que a maioria tem é essa? Faz igual os Espartanos e tudo fica tranquilo.
 
Para bom entendedor, meia palavra basta!


Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo. 

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