
Meu colega Miranda resolveu me desbloquear e me presenteou
com a leitura de mais um texto dele “Libertário não morre” onde ele argumenta
que quem defende o capitalismo, na verdade, defende aquele que oprime o ser
humano. Vamos lá a refutação.
Já no primeiro parágrafo ele escreve: “o termo “Libertário”
parece ter adquirido nos últimos tempos uma conotação bem distinta.”. Não, não
houve uma conotação distinta, talvez houve uma distorção dentro do que seria
ser um libertário em sua essência. Se o Miranda ou outro olhar no Michaelis
online vai ver a seguinte resposta: “Que, ou o que é partidário da liberdade.
”, ou seja, ser um libertário é ser um partidário daquilo que é a liberdade,
mesmo que essa liberdade seja vender ou oferecer bens e serviços dentro do mercado
econômico. o que acontece que temos que definir o que seria liberdade de fato e
se essa liberdade realmente existe, pois, mesmo o porquê – como disse Sartre –
somos presos em nossas escolhas e vou mais longe do existencialismo, somos
presos em ideais que não são nossos, somos presos em um ESTADO que não garante
a nós o bem estar que promete, mesmo que este ESTADO, seja governada pela
esquerda (a princípio a esquerda defende uma humanização). Mas eu concordo com
Deleuze que não existe governo de esquerda, porque a esquerda não pode apenas
idealizar um programa, e sim, usar a percepção para realizar um programa
analisando o contorno do problema. Por exemplo, se fez o bolsa-família para dar
a cada família ter o que comprar com o dinheiro, mas tem que analisar o todo do
problema (que a própria esquerda lá fora analisa e o próprio Marx, analisou a
fundo. Prova cabal que a esquerda brasileira não leu Marx), que é melhorar a
qualidade de vida das pessoas da região. Estrutural, melhorar o saneamento
básico, melhorar a saúde, melhorar a economia da região, melhorar tudo em sua
volta.
Assim, na essência, não só existe repressão não só com o
capitalismo (que se torna “selvagem” por causa do ESTADO), mas a burocracia
estatal que inibe o melhoramento da sociedade como um todo. A título de
exemplo, vamos pegar um exemplo de um deficiente que precisa de uma cadeira de
rodas (pois estou ultimamente, com esse dilema), que não pode ficar sem cadeira
de rodas porque precisa se movimentar e andar com ela. Por que elas são tão
caras? Primeiro existem impostos, imposto do material, imposto da usinagem,
imposto dos parafusos, imposto dos componentes de plástico, imposto da
montagem, imposto da solda, imposto da tinta da pintura e até, imposto do
transporte. Existem direitos trabalhistas, existem o pagamento do empregado que
usina e monta os componentes, existe o transporte da fábrica a loja e existe o
imposto em cima da venda. O capitalismo é o culpado ou o ESTADO que sempre
quando dá canetada, transforma tudo em desordem?
Mas adiante o Miranda escreve: “Eu sempre me defini como
libertário. Porém sempre soube que ser libertário não se reduzia a acreditar
que vivemos desde já sob uma condição em que nossas escolhas individuais sejam
autônomas e livres para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e
livre. Sempre soube que para ser libertário era imprescindível que eu fosse
também de esquerda, pois que as estruturas sociais a que somos submetidos e
coercitivamente obedecemos referem-se à manutenção de privilégios de classes
que usurpa as condições reais do exercício de uma liberdade mais ampla. ”
Então, nos EUA o libertarianismo (que Rothbard chamou de
anarcocapitalismo), é de esquerda porque se acredita em ser uma mudança social
dentro do que é. Ou seja, para eles a esquerda não é só socialista/comunista –
como na Europa também – mas também, tudo aquilo que prevê mudanças daquilo que
aí está que a grosso modo, dês da Revolução Francesa, a esquerda tem como
ideal. Existe os libertários que seguem o que realmente é, uma liberdade
irrestrita do mercado e a liberdade como um bem econômico e social (que
concorda com o Miranda em uma liberdade mais ampla) e ser contra qualquer
violência (existe o Pacto de Não Agressão o PNA). E existe o libertário
“birrinha” ou se preferir, “modinha”, que não entendeu o contexto, não entendeu
a base do libertarianismo na essência e defende coisas que até eu tenho
vergonha alheira. Não se atentaram na
questão que Rothbard disse no seu artigo “Direita e Esquerda” que os
conservadores usurparam o liberalismo para melhor “vender” uma liberdade que
não existe, uma liberdade que só visam seus próprios lucros e não o bem-estar
social (palavras do autor).
Miranda escreve mais adiante: “De uns tempos para cá o termo
“libertário” parece estar se vinculando a uma ideologia que chama a si mesma de
Libertarianismo. Essa ideologia parte de alguns pressupostos básicos que se
confirmam reciprocamente”.
Não chama a si mesmo de libertaianismo, talvez pelas minhas
pesquisas, é uma tradução do termo em inglês “libertarianism” que a grosso modo
visa sim a liberdade plena. Mas como toda ideologia, daí concordo com
Nietzsche, carrega algo daquilo que ele chamava de uma negação do mundo como
ele é e começamos a inventar coisas que não existe.
“1 — O pensamento de esquerda é um pensamento estatista
que retira, via Estado, as liberdades individuais e premia a incompetência oferecendo
assistencialismo que atrasa o progresso; ”
Não, o Miranda não entendeu. Claro, que dentro do
libertarianismo há uma leva de conservadores perdidos que pensam que só porque
não vai existir o ESTADO os seus estabelecimentos haverão de dar mais lucros,
mas isso só são as pessoas que na essência não entenderam o que é ser
libertário. O que se acredita que a esquerda quer um mundo individual que o
ESTADO igualara todos os seres humanos, acabando com a individualidade de cada
ser humano. Que o ESTADO controlara tudo, que o ESTADO vai regular tudo e que o
ESTADO é o grande regulador social que acabara com a guerra de classes. Mas
será que o problema está nas diversas classes sociais e não será que essas
classes são produto não do capital, nas do próprio ESTADO? O capitalismo só vai
vender e oferecer mais bens e produtos quando há procura, pois, bens e produtos
precisamos no nosso dia a dia. Até o Miranda precisa de um computador bom para
escrever suas ideias, interagir dentro das redes sociais, ou seja, quanto mais
oferta mais demandas para vender e um melhor preço. O grande problema é o
ESTADO e sua regularização com tudo, pois, isso tem que vir com a
conscientização social e não, na canetada.
“2 — O progresso só é
possível a partir da
liberdade empreendedora que distribui riqueza gerando emprego, conforto e
crescimento econômico;
”
Sim, não entendo o que isso tem de tão “opressor”, que que é
o básico de uma economia prospera. O sistema liberal não é o “monstro” que
pintam a esquerda trotskista, o que há é uma distorção do liberalismo clássico
que dá margem a esse tipo de aberrações conceituais. Liberalismo não é sinônimo de
conservadorismo, mas é sinônimo de liberdade da pessoa fazer o que quiser e o
que desejar para seu próprio sustento e os seus, não tendo de pagar impostos,
não tendo de pagar para sindicato e não tendo que dar aquilo que por si já é um
direito natural.
“4 — Política e economia são coisas distintas e não fazem parte da mesma
estrutura. A economia deve ser livre e a política deve existir apenas para garantir essa liberdade,
portanto o Estado deve ser o mínimo possível para garantir que as pessoas
livres possam negociar e se relacionar entre si sem nenhum tipo de coerção,
privilégios ou dificuldades. ”
Política, na sua definição moderna (porque política vem do
grego politikon que eram cidadão livres que cuidavam das polis), é a arte ou o
ato de governar a nação ou as províncias dessa nação (que aqui no Brasil
chamamos de Estado). Para se governar tem que saber ver não só o ponto, mas o
problema como um todo e esse todo tem muito a ver com a economia e toda a
infraestrutura que precisa essa nação (os básicos são: educação, saúde,
melhoramento de vida, infraestruturas como estradas, hidroelétricas, moradia,
esgoto e etc). O Miranda e alguns libertários confundem o libertarianismo com o
liberalismo e até, indo um pouco mais longe, o neoliberalismo. Isso que está no
ponto é um neoliberalismo que defende o ESTADO mínimo, ou seja, o ESTADO só
haveria o executivo para governar e ajustar as leis, portanto, não havendo
nenhuma empresa (alguns defendem só o banco central, mas a grande maioria,
privatizar tudo). O libertarianismo não defende que a política é distinta da
economia – porque só um “Zezinho” pode defender que a política é distinta da
economia – mas a extinção no ESTADO (a política institucionalizada) para ter
uma autonomia melhor dentro da economia que não difere do anarquismo (por isso,
Rothbard vai chamar de anarcocapitalismo). A grosso modo, tudo que for
econômico vai passar a ser livre, vai haver mais concorrência, vai haver melhor
preço e você vai poder escolher melhor onde quer trabalhar. Na essência, tanto
no anarquismo como no libertarianismo, os jures são realmente populares que não
prendem ou mata – dependendo do crime, claro – mas pode isolar ou banir o
infrator da comunidade. Como disse, salário não é renda, não haverá impostos e
nada repreensivo.
O próximo parágrafo vou dividir em dois:
“1 - Não cabe na cabeça dos libertários atuais,
anarcocapitalistas ou congêneres, que as estruturas sociais a que nos
submetemos já estão a serviço de um sistema cuja lógica privilegia e direciona
a liberdade de uns enquanto coage e determina a realidade opressiva de outros.
”
Cabe sim e é a razão
dos libertários existirem, porque é a base da contestação de um libertário e um
anarquista. Acontece que existem e sempre vai existir, aqueles que vão colocar
conceitos pessoais dentro da ideologia em si mesmo e não vai seguir a regra. Eu
particularmente, não acho a virtude do egoísmo, como muitos adoram apoiar que é
uma teoria da Ayan Rand, tão libertário assim. Mas ter a liberdade de escolha e
ter o direito natural de propriedade do seu próprio corpo, ter a propriedade da
sua casa, ter a propriedade dos seus bens e ter o pleno direito a defesa (que é
negado dentro do ESTADO), pois, preservara o bem primordial, seu corpo.
“2 - Não fazem a menor ideia do quanto o sistema retira toda
razão de fins, todo pensamento sobre o que queremos no futuro e nos transforma
em seres isolados que tem no outro apenas um meio para sua prosperidade
pessoal; subsumidos pela razão de meios, instrumental, calculante. ”
Então, o sistema não retira nada, mas o que está por trás do
sistema que é o ESTADO. Por que isso? Imagine uma ilha onde os governantes
gostaram de ser governantes e não querem mais sair do poder, esses governantes
começam a criar ideologias para separar o povo, religiões, começam a dizer para
os agricultores e outros produtores, que se querem produzir mais e contratar
trabalhadores, vão ter que pagar tributos. Esses tributos são para garantir a
segurança, mas os produtores dizem para quê. Os governantes criam maneiras de
dizer que sem aquilo a pessoa não vive, que ele deve fazer de tudo para ter
aquilo e quem não pode, começa a roubar, começa a criar narcótico para colocar
prazer onde não tem prazer e os produtores não querem ser roubados, querem que
sua família sejam protegidas e os governantes criam a polícia, criam defesa da
ilha, pois, a outra ilha pode atacar aquela ilha e os mesmos governantes jogam
ameaças na outra ilha e dizem que foi lá que veio, que justifica o exército.
Agora imagine a mesma ilha sem esses governantes, cada um
escolhe onde quer atuar, não há nada que impeça que o indivíduo abra seu
próprio negócio, não há nada que impeça que o indivíduo escolha se quer uma
família ou quer apenas um companheiro (no caso dos homossexuais). Não há nada
que impeça até de você acreditar em Deus ou não, de ter guerras, porque a
guerra pararia a produção e são muito caras e essa é a essência, se todos
cuidarem da sua parte, não haverá nada a se preocupar e nem roubar, não haverá
nada a não trabalhar para o indivíduo. Essa é a visão verdadeira do anarquismo
e o anarcocapitalismo, quem prega o egoísmo me parece que não entende muito de
antipatia e simpatia e iria perder muito num sistema desses.
“A Liberdade, por definição, é algo que não se pode conceber
pela metade ou em partes. Ou ela é plena ou não é Liberdade. Se em alguma
situação alguém é mais livre que outro, então ali, naquela situação, não há
liberdade. Parece ser algo simples, mas não é. Os neo-libertários parecem
acreditar que a busca de liberdade é algo pessoal, individual, mesmo que sua
conquista signifique submeter o outro para ser exercida. Há um contrassenso
nisso, sem dúvida. Mas quando esse contrassenso é coletivizado como anda
acontecendo, cria-se uma situação esquizofrênica na sociedade. É o que estamos
assistindo. ”
Nisso eu concordo com o Miranda e é uma das minhas
divergências dentro do que se chama libertarianismo de hoje, pois, muito me
agrada a teoria de Murray Rothbard que o libertarianismo na verdade é um
anarcocapitalismo. Ou somos libertados por completo e não temos amarras nem
mesmo conservadoras, ou se respeita o PNA (Pacto de Não Agressão), ou não tem
libertarianismo e é historinha para boi dormir. Porque liberdade ou é inteira
ou não é, se é pela metade então não é liberdade. Mas por outro lado, o mesmo Rothbard, disse
que o libertarianismo é uma teoria política e não moral, pois, foram feitas a
partir do alicerce econômico e por economistas e arrisco dizer que o conjunto
moral poderia ser feito com alicerces existencialistas da linha de Nietzsche e
a educação transformaria homens em não mais ressentidos ou niilistas. Por outro
lado, claro que é uma questão de evolução social que não cabe nos dias de hoje,
pois, o homem é a medida das coisas que constrói até a partir das ideologias
que o escraviza e o prende.
E para terminar só uma adentro, as pessoas de esquerda
adoram coisas que igualam, mas só enxergam também num sistema econômico e não no
sistema moral. As pessoas são iguais? Sendo a humanidade anarquista não seriamos
muito mais igualitários? Um ponto para a reflexão.
Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo.