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Enem 2017 - prova de redação (Foto: G1) |
Por Amauri Nolasco Sanches
Junior
Mesmo alguns colegas, por razões ideológicas ou praticas,
fazerem duras críticas, o tema da redação do ENEM foi interessante. Mesmo o porquê,
a questão da educação para surdos – esse politicamente correto ficar chamando
de pessoa com deficiência auditiva é muito chato – não é debatida e tem muito a
ver, não só os surdos, mas outras deficiências. Na ilustração está: “SOU SURDO
E PÓS-GRADUADO EM MARKETING. E NA SUA EMPRESA, TEM ESPAÇO PARA MIM? ” e embaixo
está escrito: “TRABALHO NÃO TOLERA PRECONCEITO, VALORIZE AS DIFERENÇAS”. É uma
verdade e ninguém enxerga e ainda chama o ENEM de “comunista” por defender as
minorias, trabalhando, para quem dirige as empresas não eticamente. Na verdade,
bem educadamente, devo dizer que a grande maioria nem sabe o que é socialismo e
comunismo.
Voltando ao tema do ENEM, já expliquei milhares de vezes que
dentro da publicidade e do marketing há sim, uma grande gama de preconceito e
desrespeito. Mas, se as pessoas não têm ética nem em coisas simples como as
vagas de pessoas com deficiência – inclusive, uma mãe se machucou muito ao
tirar a filha do carro, vejam aqui – quanto mais, contratarem pessoas com deficiência
nas empresas? A ética tem a ver com o caráter, com o costume de uma sociedade,
se uma pessoa está vendendo um trabalho – sim, senhores de engenho não existem
mais – o empresário ético não está preocupado em seu estado físico e sim, sua
total eficiência. A questão é como lhe dar com a diversidade, porque além do
mais, o investimento pode voltar em dobro. O que é um investimento de adequação
para surdos? Software até mesmo gratuitos, o mínimo de adequação, para de
repente, ter uma eficiência mais eficaz do que uma pessoa que não tem uma deficiência.
Pessoas sem deficiência estão preocupado com a sexta-feira, pessoas sem deficiência
está preocupado em viajar, está preocupado com a saída da sexta-feira à noite e
se encher de cerveja. As pessoas com deficiência podem sim fazer isso, mas de
um jeito muito diferente, sem reclamar e muito mais, com vontade de trabalhar. Daí
é um negócio meio platônico-espinoziano.
Platônico, porque o amor para o filósofo grego, é tudo
aquilo que lhe falta. Para nós, pessoas com alguma deficiência, nos falta
trabalho naquilo que gostamos e estudamos. Afinal, investimos nos estudos comprando
livros, nossos pais levaram a escola, fizeram fichas para o transporte público,
investiram em aparelhos como transplante coclear, cachorro guia, cadeira de
rodas, aprendizado de libras, aprendizado de leitura de lábios, bengalas,
muletas entre outras coisas, como aguentar a má-educação de entidades como a
AACD. Sempre aquilo que nos falta é aquilo que nos traz prazer em fazer, traz
uma oportunidade em mostrar nossa eficiência e vontade. Para sermos felizes,
dizia Baruch Spinoza, que viveu no século dezessete, temos que potencializar a
nossa vontade ao ponto de você fazer aquilo com muita paixão. Juntando aquilo
que falta (oportunidade) e aquilo que lhe traz prazer (vontade, que para mim, é
como ter tesão).
A redação do ENEM é um modo de provocar a discussão que a
uns 30 anos estamos tentando começar ela – que começa com a lei de cotas de
empreses para pessoas com deficiência – porque, a discussão é preciso e está
muito além da ideologia de esquerda e direita. Está além da moral, porque a
moral está relativa dos costumes, mas, essa discussão tem a ver com o próprio costume
e caráter. A questão é a ética das empresas, a ética dos costumes, é modernizar
o Brasil que só tem teias de aranha, e essas aranhas, são o preconceito. Parabéns
MEC.
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