
Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Muitas pessoas têm estranhado as várias reportagens dentro
da mídia sobre o tema da grande “avalanche” de comentários racistas e de
qualquer tipo de preconceito. De onde isso veio? Pouco antes de morrer, o
escritor e filósofo Umberto Eco disse, que a internet deu voz aos idiotas.
Pensamos. O que quis dizer o filósofo italiano sobre isso? O termo “idiota” tem
seu significado hoje, de uma pessoa tola, que falta uma certa inteligência,
ignorante e estupido. Porém, quando olhamos a etimologia - um estudo da origem,
ou história evolutiva das palavras – vimos que o termo idiota, veio do termo grego
helênico “idios” que quer dizer “privados”.
O termo passou a ser “idiotes” que significava “pessoa
comum”, aquelas pessoas que não exerciam nenhum cargo público dentro das polis.
Talvez, Eco, tenha percebido que há muitas pessoas comuns que são ignorantes em
vários sentidos, porque não se pode saber tudo em todo o tempo. Porém, na
maioria das vezes, a questão é por não querer pesquisar sobre o assunto ou não
querer abrir mão das suas convicções. O “idiota” é sempre o egoísta que pensa está
com a verdade a todo custo, sem se importar com os sentimentos dos outros, sem
se importar com nada que está a sua volta.
Nesse ínterim das “verdades” que se acredita, existe o
conceito, que pode ser pré-estabelecido ou pós-estabelecido, dependendo de que
valores se referem a educação que recebeu. O termo conceito quer dizer, uma
compreensão do que uma pessoa tem de uma palavra, concepção ou ideia de algo ou
de alguém. Um pré-conceito seria, qualquer opinião ou qualquer sentimento que
foi concebido sem nenhum exame crítico sobre aquilo que se vê. Por não ter esse
exame critico, ele passa a ser um sentimento hostil, assumido de consequências
de generalização apressada de uma questão pessoal ou que, pode ter sido,
imposta pelo meio onde vive. Ou seja, poderá ser uma pessoa intolerante.
O que dizer do caso da “socialite” que agrediu duas crianças
com termos pejorativos preconceituosos? Ou sobre a frase racista do jornalista
Willian Waack proferiu em bastidores por causa de uma buzina? Não só aqui
existem manifestações de pré-conceito, em 2015, o biólogo e escritor britânico,
Richard Dawkins, disse que seria imoral uma mãe ter um filho com Síndrome de
Down. Como se disse acima, o pré-conceito, seria uma generalização apressada de
uma falta de senso crítico, que muitas vezes, é imposta pelo ambiente de onde
se vive, mesmo que se tenha um auto grau de conhecimento ou estudo.
A empatia e a apatia, tem a ver muito com isso. Porque a
empatia, vai muito além de ser simpático – em algum lugar, várias pessoas podem
dizer que ser simpático é ser polido – ser empático é se colocar no lugar do
outro, é um exercício de automutilação do seu ponto egocêntrico. As questões
podem ser postas na seguinte forma: se eu tivesse um filho adotivo negro? Se eu
tiver um filho ou um parente com deficiência? Se eu tivesse sido alguma dessas
minorias? Se eu tivesse alguém do meu convivo homossexual? O “leque” se abre ao
infinito e sabe-se muito bem, que ser empático é ir além de tudo e todos, mesmo
quando, a indignação reina nas opiniões.
A apatia é a indiferença do outro como pessoa. Uma pessoa
apática é uma pessoa que pode sofrer de um histórico de pré-conceito, um trauma
muito grande, um sofrimento que a levou a rejeitar seu lado humano. Sua origem vem do grego “Ápatheia” que quer
dizer “ausência de dor ou sofrimento”, ou seja, uma pessoa apática pode ser uma
pessoa que sente forte ausência de sentir alguma dor sentimental. A apatia pode ser por indiferença de crença,
ideologia política, convicções de gênero, normatividade do corpo, ou até mesmo,
por convicção da verdade. Talvez, são impostas do mesmo modo, que são impostas
a falta do senso crítico no caso do pré-conceito.
Claro, que se pode dizer, que a ética seria algo subjetivo
dentro da ótica do livre-arbítrio, ou seja, a ética não é uma norma que se pode
medir o que é bem e o que seria mau. Condutas como está, que visam a empatia, são
condutas aceitas e ditas como éticas, mas a ética em si mesmo, como algo
universal, não existe. Seria ético matar aquele que matou um ser amado? Uns
diriam que seria justo, outros, no entanto, diriam que seria um novo crime e
que sem provas, seria algo como “fazer justiça com as próprias mãos”. O que se faria nesse caso? Como ficaria a
satisfação de justiça dada a quem perde alguém que ama? A ética, se torna,
claramente, uma coisa completamente, subjetiva, pois, tem viés empático ou
apático.
Porém, no caso do pré-conceito que vivenciamos e vimos em
todas as esferas sociais e em todas as redes sociais, é a verdade subjetiva que
reina em absoluto. Na esfera do mundo não virtual, o preconceito é a não
aceitação daquilo como real, aquilo que pode acontecer em seu meio, em sua
convivência. No entanto, há dentro da psicanalise de Freud, uma explicação
plausível: o medo de assumir aquilo que está enrustido dentro de você mesmo. Ou
medo, que aquilo aconteça dentro da esfera normativa da sua vida, afinal, uma
deficiência pode ocorrer ao longo da sua vida. Um filho ou uma filha, pode
casar com uma pessoa de outra etnia ou cor de pele, ou até mesmo, mudar de
gênero e se assumi homossexual. A questão é o medo, o medo faz das nossas
atitudes, atitudes irracionais de ódio e o ódio cega.
O pós-conceito é muito pior, pois, mostra escancaradamente,
a questão da rejeição de um padrão normativo dentro de um padrão de beleza ou
um padrão de convívio. O convívio requer a empatia, porém, em tempos que tudo
se transforma em uma padronização das normas estabelecidas – sempre se volta ao
que era antigamente – a empatia se torna a apatia a tudo que vem de igualdade.
O pós-conceito é a certeza que não existe pré-conceito, a certeza que não
existe desigualdade, que não existe exclusão. A realidade se transforma em uma certeza,
uma verdade que pode ser definida como “sombras”. Meras “sombras” de seres
acorrentados em uma caverna, como diria Platão. A caverna da pós-verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário