
Quando nós escolhemos ser escritores, ou filósofos, temos
que ter uma certa liberdade para expressar as nossas ideias. Senão, as coisas
não andam em qualquer texto, quanto mais, quando damos alguma notícia em sites
especializados. A algum tempo venho escrevendo notícia para um site
norte-americano e que tem um viés de popularização da noticia, trocando em
miúdos, você escreve o que você leu na sua visão e no terceiro pessoa. O
interessante, é que, nós não podemos expressar nenhuma das nossas opiniões
sobre o que noticiamos. Acho que é valido, porque o site fica visado por aquela
visão, mas, acho também, que o site começa a ter certos vícios que no nosso
país contem. Fico lendo as outras notícias e fico achando que estou lendo sites
de fofoca, ou blogs de notícia – muitas pessoas pensam até que o site na
verdade é um blog – ou até mesmo, textão do Facebook que algumas pessoas gostam
de postar.
Nada de errado ter regras, uma empresa te dará as ferramentas
e você dará a força de trabalho. Assim é a base capitalista. O problema é quem
avalia e “corrigi” os textos, que ao que parece, temos que desenhar. A última notícia
recusada, eu noticiava a questão da desembargadora que agrediu gratuitamente, a
professora com Síndrome de Down, Débora Seabra. O avaliador (que tem o nome
junto ao meu de corretor mais quem corrigi sou eu), disse que o texto estava
confuso e que não daria nem para corrigir os erros de português. Ok. Eu li e
reli e não achei em nenhum momento um texto confuso, já que, não fiz um texto
noticiando o caso, eu trouxe dentro do texto algo para dar o comentário, que
nem posso escrever adjetivos. A muito tempo que venho sentindo que vários
desses avaliadores nem corrigem, nem leem, porque se lessem, não estariam
dizendo que eu estava escrevendo confusamente. Quando eu encontro esse tipo de
frase ou parágrafos, eu corrijo. Claro, algumas coisas me escapam e vou
encontrar lá na terceira leitura.
A questão que fica, além da questão gramatical, é a da liberdade.
Liberdade é algo primordial para o ser humano exercer a sua vontade, e essa
vontade, é o que faz exercer dentro de uma única escolha possível. Mas como
exercer essa escolha? Tudo que dissermos é uma escolha. Tudo que escrevemos é
uma escolha. Nem tudo que dizemos, podemos falar. Às vezes, ofendem, outras
vezes, podem representar uma linha de raciocínio que podem tirar as pessoas da
ilusão. Quando dissolvem as ilusões, dissolvem as “sombras” que se pensou ser
verdade. Mas o que é a verdade? O que é a realidade e o que é a ilusão? Não
sabemos. Mas podemos questionar tudo que nos é imposto, tudo que a nossa
cultura nos impõem e não é questionado. Descartes, filósofo francês do século
XVI, dizia que nos resta a dúvida e a nossa única certeza é a nossa própria
existência. O “penso, logo existo”. Quando olhamos esse texto, podemos duvidar da
sua existência, porém, não podemos duvidar de quem está lendo que sou eu. Mas,
como saber que esse texto é uma ilusão? O que sentimos além de pensar?
Sentir e pensar é a consciência. A consciência é o sentir
entre você e o objeto – o fenômeno da existência – enquanto, o objetivo e o
subjetivo entre você e a realidade. Ou seja, quando você não consegue ler um
texto, você está envolto em símbolos de conceitos e realidades que constroem
nossos valores. Crenças. Essas crenças e valores, vão moldar a realidade e tudo
que vimos e lemos. Não tem jeito. Somos animais que criamos símbolos e assim, somos
animais simbólicos. Por que? Talvez, dentro da evolução, criamos nomes e termos
para simbolizar a realidade, ou seja, quando dizemos “aquela pedra”, o termo
“pedra” só é um nome para designar um acumulo de minerais que endurecem e se
transformam, em objetos. Pedra não é um nome natural. E outra coisa, em outras
línguas tem outros nomes, como em inglês “stone”, em francês “pierre”, em
alemão “Stein” e por aí vai. Na verdade, pedra veio do grego “pétra” e daí veio
para o latim como “petra” que é a entidade natural, rígida do reino mineral. Na
essência, tudo não passa de um símbolo, não tem uma conotação essencial
universal. Podemos chamar pedra aqui e em outro lugar do universo, pode chamar
outro termo.
Imagine se não tivéssemos nenhuma linguagem – que já estão
em pesquisa, que algumas espécies, tem sim linguagens rudes – haveria o ser
humano ter promovido esse progresso todo? Como tecnólogo – além de filósofo e
publicitário – a tecnologia como está, só chegou a esse ponto, graças a
invenção de uma linguagem própria. Portanto, quando falamos de linguagem,
estamos falando não só de letras, mas o fenômeno de darmos sempre, uma certa
simbologia aquilo que queremos dizer. Se você não tem a mesma visão, você não
vai entender. Aí entra um dos melhores argumentos de toda a filosofia, na minha
visão: não há fatos eternos e tão pouco, verdades absolutas. O filósofo
prussiano, Nietzsche, entre outras coisas, acertou nessa, quando elaborou essa
frase e ele se baseou lá no filósofo pré-socrático, Heráclito. A base da
filosofia heraclitiana, é que tudo vai fluir e quando tudo flui, não entramos
na mesma água duas vezes num mesmo rio.
Tanto Heráclito, quanto Nietzsche, vão dizer que o tempo
muda com as circunstancias vão sendo escolhidas – no caso de Heráclito, não
tinha essa ideia de tempo e que tudo pode mudar, mas, não temos escolhas. O que
o filósofo argumenta, é que o tempo muda conforme o pressuposto dos fatos – e
os fatos não podem mudar o ser, o ser é único e exige uma personalidade.
Segundo Nietzsche, somos únicos em sentir e não em só, pensar. O que seria a
liberdade? O “instinto” da vida. Duas coisas que Nietzsche dizia era o amor fati
(amor ao destino), também, o Eterno Retorno. O Amor Fati, era aceitar o fato
como ele é realmente, não no sentido de aceitação, mas no sentido de não chorar
por aquilo que não pode ser mudado. Você pode evoluir e ser acima daquilo e
esquecemos tudo que aconteceu. Para Nietzsche, não existe o amanhã, mas o hoje
é a vida sendo vivida na sua plenitude. O Eterno Retorno é imaginar que há muitas
criações em tempos eternizados. Se houve vários começos da humanidade? Isso não
é novidade dentro da filosofia. Se, realmente, a humanidade como conhecemos,
tivemos vários começos?
Mas, o que isto tem a ver com a liberdade? O princípio da
Liberdade de Expressão é a linguagem, sem ela, não haveria um progresso da
humanidade e muito menos, esse texto. A filosofia como o começo racional das
mitologias – a filosofia vai tratar de outras maneiras os símbolos dentro dos
mitos – começou graças a linguagem como símbolo mor da comunicação. Mas, eu não
concordo com o iluminismo que a mitologia é uma parte da religião, pois, a
mitologia é muito mais do que a religião, ela não religa a nada. A simbologia
dos deuses antigos tinha a ver com a natureza do ser humano e do planeta, não tinha
nada fora do planeta e era, de certa forma, um meio de indagar sim a nossa
origem. De onde viemos? Da Terra? Era uma visão bastante rudimentar, mas, era
uma visão ancestral bastante compreensível. A filosofia deu o rumo a vários estudos
dentro dos símbolos, dentro das mitologias, dentro da natureza de um modo
geral. A linguagem como modo de expressar desses estudos, são bem-vindos como
modo de ver a essência da realidade. Entramos no “conhecer a ti mesmo” socrático,
porque conhecendo a si mesmo, a realidade se mostra sozinha.
Se sei da minha capacidade da escrita eu não vou errar,
porque sei da minha responsabilidade. Se estou confuso diante do texto e não me
faço entender, o problema é da lógica e estarei prejudicando a mim e ao veículo
que está meu texto. Minha liberdade tem certa restrição de respeito ao outro. Você
só percebe isso deixando o falso ego e aquilo que chamamos de orgulho de
aparecer, de admitir seus erros. A liberdade tem que ser plena no meio jornalístico,
e, não tem o que discutir.
Amauri Nolasco Sanches
Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de
informática e escritor freelance no jornal Blasting News