quarta-feira, 21 de março de 2018

Por que não casal de cadeirantes?







Umas das coisas que sempre leio em grupos de pessoas com deficiência desde o Orkut, é que “cadeirante basta eu”. Como conheço bastante vários casais de cadeirantes e tenho uma experiência de namorar uma cadeirante – que amo muito – resolvi fazer uma reflexão muito importante. Para começar, sim, você dizer que “cadeirante basta eu” é uma frase de extremo preconceito. Todo pré-conceito, é uma análise sem o critério dos fatos decorridos dentro dos fatos que são, pois, você não vê no seu convívio casais cadeirantes, não quer dizer que não existam e não quer dizer que eles têm ou não dificuldades. Um namoro ou casamento, não é uma união de conveniência e sim, uma união afetiva e de escolha. Temos casais de todo tipo e de todas as conotações dentro do segmento – até mesmo relacionamentos homossexuais – que seguem esse critério e o que eu observo, que muitos não se aceitam.

Duas coisas podem constar que as pessoas não se aceitam é elas dizerem “cadeirante basta eu” e a famosa pergunta, “você namoraria uma pessoa com deficiência? ”. Um cadeirante dizer que um cadeirante no relacionamento já basta, mostra que o cara quer status quo ou uma espécie de enfermeira. Como disse, um relacionamento não é uma iniciativa de conveniência e sim, uma iniciativa de afetividade de escolha de ficar ou não ao lado de uma pessoa. Não é só uma iniciativa de uma só pessoa, mas de duas pessoas que se amam. Portanto, não acho que as pessoas tenham que se limitar em ficar achando que um relacionamento só é feito de sexo, ou só de sentimento, mas, deve haver um equilíbrio (já escrevi sobre a campanha “eu também fodo”).

Não acho que isso tenha a ver com o gênero, apesar que um homem andante tem muito mais chance de casar com uma cadeirante do que ao contrário. Por que? Porque vivemos num país bastante machista (podem os machinhos alfas me xingar que estou pouco ligando), onde o homem ainda tem que pagar, o homem tem que bancar e o homem tem que ser o “macho” do relacionamento. A mulher, quando é educada dessa forma, se acha insegura em ter um marido cadeirante que não poderia garantir uma vida, relativamente, normal entre um casal andante. E como vivemos num país ignorante no sentido de ter uma escola de verdade, ou de serem “analfabetos funcionais”, há ainda muita discriminação quanto ao homem cadeirante. Ao apresentar a família sempre recai a mulher a questão: “o que ele pode te oferecer? ”. “Como ele vai trabalhar e te dar o que você precisa? ”. Isso deixa bastante pressão as pessoas que tomam a decisão de ter um relacionamento como esse. Daí, em milhares de casos, a pessoa prefere não ter esse tipo de pressão e escolhe uma pessoa mais fácil de ser aceita.

Por outro lado, existem pessoas corajosas que aceitam tudo por um amor verdadeiro e casam com um cadeirante e muitas vezes, dão muito certo. Sei de cadeirantes que se casam e vivem muito bem. Sei de casais com síndrome de down. Os casais que tenho conhecimento vai aos milhares. Que tiveram coragem o bastante para superar muitas dificuldades e muitos preconceitos sociais. O que acontece é que essa coragem não é seguida e não é uma visão geral, afinal, qual a “vantagem” de enfrentar essa empreitada sozinho? Uma das características do nosso povo é não gostar de ser rejeitado, das pessoas olharem com cara feia para ele, porque somos um povo que carrega uma cultura. Por isso mesmo, psicólogos podem comprovar, que o “politicamente correto” pegou por aqui, porque todo mundo não gosta de ser rejeitado e a rejeição dói.

Ora, acontece que no mesmo modo que uma andante ou uma andante, rejeita um cadeirante por ser cadeirante por causa dessas pressões dói, o mesmo podemos dizer, que a frase “cadeirante já basta eu” pode doer para outra pessoa. Pode ser que uma cadeirante esteja afim de um relacionamento e é rejeitada por ser cadeirante, no mesmo modo, pode ser o inverso. Eu sei que vão dizer “ninguém é obrigado” e, claro, ninguém é obrigado de nada. Mas eu tenho comigo uma coisa que sempre minha mãe dizia: “não faça com os outros o que não gostaria que os outros fizessem com você”, acho eu, uma regra de ouro.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

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