Umas das coisas que sempre leio em grupos de pessoas com
deficiência desde o Orkut, é que “cadeirante basta eu”. Como conheço bastante vários
casais de cadeirantes e tenho uma experiência de namorar uma cadeirante – que
amo muito – resolvi fazer uma reflexão muito importante. Para começar, sim,
você dizer que “cadeirante basta eu” é uma frase de extremo preconceito. Todo
pré-conceito, é uma análise sem o critério dos fatos decorridos dentro dos
fatos que são, pois, você não vê no seu convívio casais cadeirantes, não quer
dizer que não existam e não quer dizer que eles têm ou não dificuldades. Um
namoro ou casamento, não é uma união de conveniência e sim, uma união afetiva e
de escolha. Temos casais de todo tipo e de todas as conotações dentro do
segmento – até mesmo relacionamentos homossexuais – que seguem esse critério e
o que eu observo, que muitos não se aceitam.
Duas coisas podem constar que as pessoas não se aceitam é
elas dizerem “cadeirante basta eu” e a famosa pergunta, “você namoraria uma
pessoa com deficiência? ”. Um cadeirante dizer que um cadeirante no
relacionamento já basta, mostra que o cara quer status quo ou uma espécie de
enfermeira. Como disse, um relacionamento não é uma iniciativa de conveniência
e sim, uma iniciativa de afetividade de escolha de ficar ou não ao lado de uma
pessoa. Não é só uma iniciativa de uma só pessoa, mas de duas pessoas que se
amam. Portanto, não acho que as pessoas tenham que se limitar em ficar achando
que um relacionamento só é feito de sexo, ou só de sentimento, mas, deve haver
um equilíbrio (já escrevi sobre a campanha “eu também fodo”).
Não acho que isso tenha a ver com o gênero, apesar que um
homem andante tem muito mais chance de casar com uma cadeirante do que ao
contrário. Por que? Porque vivemos num país bastante machista (podem os
machinhos alfas me xingar que estou pouco ligando), onde o homem ainda tem que pagar,
o homem tem que bancar e o homem tem que ser o “macho” do relacionamento. A
mulher, quando é educada dessa forma, se acha insegura em ter um marido
cadeirante que não poderia garantir uma vida, relativamente, normal entre um
casal andante. E como vivemos num país ignorante no sentido de ter uma escola
de verdade, ou de serem “analfabetos funcionais”, há ainda muita discriminação
quanto ao homem cadeirante. Ao apresentar a família sempre recai a mulher a
questão: “o que ele pode te oferecer? ”. “Como ele vai trabalhar e te dar o que
você precisa? ”. Isso deixa bastante pressão as pessoas que tomam a decisão de
ter um relacionamento como esse. Daí, em milhares de casos, a pessoa prefere
não ter esse tipo de pressão e escolhe uma pessoa mais fácil de ser aceita.
Por outro lado, existem pessoas corajosas que aceitam tudo
por um amor verdadeiro e casam com um cadeirante e muitas vezes, dão muito
certo. Sei de cadeirantes que se casam e vivem muito bem. Sei de casais com
síndrome de down. Os casais que tenho conhecimento vai aos milhares. Que
tiveram coragem o bastante para superar muitas dificuldades e muitos
preconceitos sociais. O que acontece é que essa coragem não é seguida e não é
uma visão geral, afinal, qual a “vantagem” de enfrentar essa empreitada
sozinho? Uma das características do nosso povo é não gostar de ser rejeitado,
das pessoas olharem com cara feia para ele, porque somos um povo que carrega
uma cultura. Por isso mesmo, psicólogos podem comprovar, que o “politicamente
correto” pegou por aqui, porque todo mundo não gosta de ser rejeitado e a
rejeição dói.
Ora, acontece que no mesmo modo que uma andante ou uma
andante, rejeita um cadeirante por ser cadeirante por causa dessas pressões dói,
o mesmo podemos dizer, que a frase “cadeirante já basta eu” pode doer para
outra pessoa. Pode ser que uma cadeirante esteja afim de um relacionamento e é
rejeitada por ser cadeirante, no mesmo modo, pode ser o inverso. Eu sei que vão
dizer “ninguém é obrigado” e, claro, ninguém é obrigado de nada. Mas eu tenho
comigo uma coisa que sempre minha mãe dizia: “não faça com os outros o que não gostaria
que os outros fizessem com você”, acho eu, uma regra de ouro.
Amauri Nolasco Sanches
Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de
informática e escritor freelance no jornal Blasting News
Nenhum comentário:
Postar um comentário