
O canal Hipócritas do YouTube, tem ideias muito boas e até
concordo com alguns posicionamentos do canal, mas o ultimo vídeo, usando o
filme Matrix não concordo. Porque não acho que a verdadeira realidade está com
a direita (dita conservadora), e muito menos, num documentário revisionista que
fomenta alguns dos preconceitos que o mundo tenta sempre eliminar. Para “sair
da Matrix” não importa o lado, importa o posicionamento de onde você se
encontra na Matrix e a ideia de uma realidade que não é realidade, vimos dentro
da filosofia platônica. Na verdade, quando assistimos o primeiro filme da
trilogia, podemos dizer, que se trata além da Alegoria da Caverna, tem também
quase todo livro A Republica de Platão.
Com a figura do seu mestre Sócrates – mais seus amigos e até
seu irmão – Platão expõem em forma de diálogo com o que ele pensava sobre a
justiça. Para isso, ele começa a idealizar uma “politéia” ou Estado, que
fizesse jus ao que seria uma justiça imparcial e sem pesar para nenhum lado. Então,
ele expõe a ideia de seres humanos presos em uma caverna porque o ser humano se
fecha em “bolhas conceituais”, que só enxergam aquilo que permitem enxergar. Para o filósofo, não só existem uma realidade
além daquilo que estamos vendo, mas, são poucos que quebram a corrente das
amarras sociais e se aventuram a pensar além da sua realidade. Portanto, a
realidade não é algo concreto e não pode ser algo de absoluto, porque acabamos
vendo meras ilusões. A noção que temos de justiça, de política, de religião ou
do que valorizamos como realidade única – até mesmo valores tradicionais que
não são contestados e nem posto numa peneira para saber se faz mesmo o bem –
são apenas meras sombras de uma vida ilusória e pobre.
Quando vimos o filme nós observamos que a ideia do programa
neuro-implantado não é uma realidade só de um lado, mas de todos os lados. O
próprio Platão faz uma dura crítica à política e a condenação do seu mestre,
que evidentemente, teve conotações políticas. No próprio filme, podemos
observar um menino monge budista que está tentado controlar a natureza da
realidade de uma colher e diz para Neo, que, na verdade, a realidade a colher
não existe. Ou seja, a natureza das coisas pode ser mudada conforme a maneira
que olhamos para elas (física quântica?). O próprio Buda dizia que a realidade
que estamos acostumados a verdade, não existe e tudo não passa de mera ilusão
(maya) e tudo depende da maneira que você enxerga o mundo. Por isso, seu maior
ensinamento, é largarmos o nosso ego e ver além dessa realidade. Que pode gerar
uma certa confusão aí. O ego freudiano, é a construção de uma personalidade e é
o que o indivíduo é e controla tanto o id como o superego. O que Buda disse do ego – de alguma maneira,
Jesus disse quando nos ensinou a dar a outra face – é o nosso falso eu que são
mascaras sociais dentro de uma especifica cultura. Nada é permanente, tudo é
transitório. De alguma maneira, Heráclito, Platão e entre outros, vão dizer a
mesma coisa, que a realidade não pode ser permanente e não pode considerada
absoluta.
Feita algumas considerações do filme – uma análise mais
profunda daria um livro todo só o primeiro filme – podemos ver que “sair da
Matrix” (realidade construída do falso ego), não basta pensar diferente, existe
uma desconstrução de tudo que você construiu como conceito e como verdade
absoluta. Essa verdade absoluta está inserida também, a moral que tanto a
direita prega e quanto os “conservadores” gostam. Por que o documentário Brasil
Paralelo é conservador? Tudo que pressupõe mudança, não importando ser
filosofia vinda do marxismo ou não, é um movimento de esquerda. Se é revisionista,
é de esquerda. E também, em nenhum momento desse documentário podemos dizer,
existe algo de diferente com que várias teorias dizem ao longo dos meus anos de
internet. O documentário não diz que muitos dos progressos que o Brasil tinha
como importante, não foram feitos – principalmente, no reinado de Dom Pedro II –
por causa de intrigas religiosas. Como um documentário revisionista que visa
defender a monarquia pode nos tirar da Matrix? Como um filósofo que defende uma
religião pode nos tirar de uma Matrix?
Eu não vejo a imagem do poder da Matrix como só da política.
Para “sair” da Matrix, temos que ter em mente, que temos nos transcender daquilo
que temos como verdade. Matriz são as vísceras na qual são desenvolvidos os
fetos e o embrião entre os mamíferos, ou seja, o útero. Toda a matriz e onde
alguma coisa é gerada, seja animais mamíferos, seja empresas, que é onde tudo
pode ser criado. Para “sair da Matrix”, temos que nascer, perceber uma outra
realidade dentro de um mundo além da matriz, nosso lugar confortável. No próprio
filme, mostra esse lugar confortável para não se saber, que a sua energia está
sendo utilizada para alimentar as maquinas. Platão coloca isso dentro de uma
caverna, onde sombras são criadas por aqueles que administram essa caverna. O filósofo
francês Michel Foucault usou essa imagem, muito provável, e elaborou a teoria
do discurso que se comprova com a redes sociais. Criamos matrizes conceituais para
defender aquilo que acreditamos, aquilo que nos é simpático graças a crenças que
alimentam nossos valores.
A pílula azul e a pílula vermelha não querem dizer algo ideológico,
isso vai bem mais além do que uma suposta ideia de “marxismo cultural” e até
mesmo, um “olavismo cultural” (que vem do filósofo Olavo de Carvalho). A pílula
azul representa a liberdade, o nascer para o mundo real no qual existe fora da
Matrix. Já a pílula vermelha, quer dizer a ditadura, a imposição e o
consentimento do mundo da Matrix. O mundo de Matrix, é o mundo simbólico do
conceito prisioneiro de uma só questão. A direita é conservadora por natureza
(que não se pode mudar essas instituições), então, há uma questão importante: se
essas instituições estão corrompidas, as morais distorcidas e a ideia
espiritual é deturbada para um bem somente daquele que detém o poder, pode ser
conservada? Se sim, acho, que se deve analisar qual a questão que queremos
conservar no Brasil, se uma direita que não deu certo (até houve duas
ditaduras), ou uma esquerda que não deu certo no mundo inteiro e existe mais
uma questão. Esse conservadorismo que eu expus, é o conservadorismo político,
que não tem nada a ver com o conservadorismo moral. Aliás, conservar tudo que
está aí, também transforma numa forma cultural, em empobrecimento da cultura o
funk.
Vamos começar com a família (vamos tentar ter o caminho fora
da Matrix). A família não é uma instituição e sim, uma escolha afetiva de
construir vínculos um ao outro e isso tem a ver com uma questão até espiritual.
Isso não quer dizer que existe perfeição, quando uma das partes se sente
enganada, se sente deslocada e até rejeitada pelo outro – vários seres humanos que
praticam a traição como forma de ter um status quo social – existe o divórcio. Não
acho incompatibilidade de gênio é um bom argumento, pois, existe o período do
namoro para ver isso. Também existem família homossexuais e heterossexuais, que
muita gente confunde com casal. Famílias são uma coisa, casais são outra coisa.
Quando começamos a colocar as questões em dúvida (entramos em Descartes e no
duvido), podemos dizer que estamos saindo da Matrix. Quando o indivíduo começa a
se colocar como um ser existente e as outras coisas podem ser duvidadas, então,
sim, você está saindo do mundo da Matrix.
Sair da Matrix é muito mais do que uma pauta revisionista,
mas, defender uma pauta onde tudo e todos devem realmente ser questionados.
Amauri Nolasco Sanches
Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de
informática e escritor freelance no jornal Blasting News
Assistam o video:
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