
Pior do que a pergunta: “você namoraria uma pessoa com deficiência?
” é as pessoas não acreditarem no amor, porque sofreram várias coisas na sua
tenra infância, ou, seus relacionamentos não foram como o seu ideário, se
formou. O problema da sociedade pós-moderna foi a imagem hollywoodiana do amor,
com jantares, com velas, com flores e um ar de família Doriana (de margarina), pois
não é. Muito menos nas camadas muito mais pobres da nossa sociedade
contemporânea. A geração Nutella, cresceu achando que seu mundo poderia ser um
mundo lindo, um mundo mais ou menos, como o “Fantástico Mundo de Booby”. Depois
que o Merthiolate parou de arder, a coisa começou a declinar para a geração de pessoas
que não podem ficar frustradas.
A título de exemplo, vamos imaginar uma pessoa que tem uma
família muito pouco estruturada, um pai que não sabe cuidar de si mesmo, tem um
monte de traumas e transferi esses traumas para seus filhos. Essa pessoa vive
na pobreza, é discriminada por alguma coisa que carrega na sua natureza (como
etnia, deficiência e etc), sua aparecia é estranhada pela maioria, ainda
frequenta uma religião que acha que por seguir Jesus, fara a cura de sua
aparência. Agora imagine que essa pessoa conhece uma pessoa no qual se
apaixona, ela foi criada numa religião que não pode assistir TV, não pode
brincar de certas brincadeiras, ainda, não foi curada da sua aparência, porque
essa mesma religião, diz que ela tem pouca fé. Essa paixão não chega nela, ou
na melhor das hipóteses, chega para tirar uma onda da cara dela (o bullyng é
uma cultura brasileira desde o império português), mas não chega, não falou por
causa da sua cor, da sua deficiência ou por outros motivos e a coisa passa
batido. Você já foi trucidado por uma religião que diz que você não se curou
por causa da sua pouca fé, você já foi trucidado moralmente por um pai que
desconta os seus traumas nos filhos, você acha que mundo é uma “merda” e quer
que ele se exploda, ainda, sua paixão não se declara para você. Tá ok. Esse é
um ótimo motivo para não acreditar no amor.
Agora imagina você conhecer uma pessoa, essa pessoa fica com
você e com outras pessoas ao mesmo tempo, como seu próprio pai fez com a sua
mãe, ele simplesmente, acha que você é mais uma pessoa do seu cardápio (sim,
existem pessoas assim). Você fica quatro ou cinco anos com essa pessoa, você
acha que o mundo é assim, as pessoas brincam com os sentimentos das outras. Daí
você conhece um carinha legal, que dará amor, dará carinho e tem boa índole,
uma boa cabeça e sabe muitas coisas. Mas ele não arranja um emprego (para o
mundo pós-moderno, esse tipo de sujeito é um “merda” total e é um pecador), não
consegue empregos freelances, não compram os seus livros e não acham que ele
tem uma opinião boa. Mas, ele está pouco se fodendo. Ele sabe que não sabe e os
outros que pensam saber não sabem, mas, a pessoa já modelou toda a sua
frustração nele e ainda deixa muito claro que não acredita no amor. Daí tudo
que você passou é culpa dele. Mesmo ele não tendo mais ninguém, e essa pessoa
imagina que ele tem outras pessoas. Mesmo ele tendo se dedicado quase a sua
vida a você, ainda projeta o que aconteceu na sua vida a essa pessoa.
Num mundo pós-moderno, que projeta toda a dimensão do amor a
algo limpinho, perfeito com pessoas bonitas, com pessoas perfeitas que nem
sequer, tem uma celulite ou dentes amarelos, isso é muito mais comum. Você não
sabe amar verdadeiramente e viver esse amor com todo seu esplendor e seu
sossego, você projeta o ideário que viu em algum filme. Isso acontece porque
não sabemos – pela educação que tivemos – a separar o mito daquilo que a vida é
realmente, porque fazemos de nós, seres em um sonho a parte. Não. Existem as
transas. Existem pessoas que são sem-vergonha. Existem pessoas sinceras. Existem
pessoas que são religiosas. Existem pessoas ateias e acreditem, existem pessoas
que dão a sua vida a ciência. Existem pessoas que fazem do seu mundo, uma
verdade absoluta e as verdades não são absolutas. Sua religião, por exemplo, é
mais uma interpretação de um livro sagrado dentro do que se acredita ser o
Eterno. Sua ideologia política, só é mais uma interpretação a milhares de
interpretações politicas ideológicas, que existem no mundo. São interpretações,
são verdades que podem mudar. Não é uma verdade absoluta.
Não podemos tomar banho na mesma água, não podemos ter os
mesmos conceitos toda a vida, não podemos amar como você imaginou. Porque não
somos o que você quer, somos o que desejamos ser e isso não vai mudar. Nem se
você disser que não acredita no amor. E isso nada tem a ver com a deficiência ou
a cor de pele, até mesmo, sua opção sexual. Isso tem a ver com que você faz com
seus conceitos. Se você desacredita por causa dos outros, você é moldado graças
aos outros, se você é moldado pelos outros, você não tem personalidade. Deixar de
acreditar no amor. Deixar de acreditar em qualquer coisa, porque as pessoas te
fizeram mal, sinto muito, as coisas são confusas dentro de você. Conhecer a você
mesmo é a resposta.
Amauri Nolasco Sanches
Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de
informática e escritor freelance no jornal Blasting News
Nenhum comentário:
Postar um comentário