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Imagem feita pela agência África para a revista Vogue |
O que é o belo? O belo é aquilo que ao olhar, nos dará
sempre prazer e tem a ver com os seus valores. Sempre quando nos deparamos com
valores, temos que entender – esse entendimento tem a ver com a ordem ética da
estética – que vai sempre nos remeter ao juízo. Juízo é um julgamento que
fazemos pelos elementos da alma, ou seja, quando trazemos valores além de
adquirir um valor moral, também vai construir o juízo. Nesse caso, o juízo
estético – aquele que nos faz julgar o que é feio ou bonito – fara uma ligação
muito única entre o sujeito e o predicado. Ou seja, se eu digo que tal quadro é
bonito, eu como um agente da ação, vou ter certeza que achei o quadro bonito
porque meu valor é que fara o julgamento do que é ou não bonito. Mas há um
outro porém, nesse porém que mora a questão, os juízos são feitos com valores e
muitos desses valores são valores dentro de uma total cultura. A grosso modo,
podemos salientar que todo valor hoje, é um valor graças a uma cultura
pré-fabricada pela beleza da mídia, da imagem da mídia e várias vezes, a
hipocrisia mediática.
Mas caímos dentro dos juízos sintéticos e analíticos para
entendermos o caso. Um juízo analítico é o juízo que não precisa acrescentar
nada, ou seja, o predicado de A não é B, porque a natureza de A é A. Como
podemos dizer: “Todo gelo é solido”, pois, a natureza do sujeito (gelo) é o
predicado (solido). O juízo sintético é tudo aquilo que o predicado vai trazer
uma característica ao sujeito, ou seja, sempre vamos trazer ao nosso juízo
algum acréscimo, aquilo que a natureza não é. O A pertence a B porque sua
natureza é C. Como podemos dizer: “Todo corpo é pesado”, porque o sujeito
(corpo) depende do acréscimo do predicado (pesado) para caracterizar sua
demonstração. Pelo simples fato de o “pesado” depender do fato gravidade para
ser ou não “pesado”. A grosso modo, tudo aquilo que é da natureza do sujeito,
que podemos dizer não precisar da experiência (a priori), é uma visão analítica
da coisa em si (usando o mestre Kant), e aquilo que precisa da experiência (a posteriori)
é a visão sintética da coisa em si.
Então, quando perguntamos “o que é o belo? ”, temos que
analisar – criticamente – o que seria o belo dentro da característica de cada
sujeito. Olhar a foto da Cleo Pires amputada e do Paulo Vilhena amputado, nos é
aberração porque algo caracteriza como uma experiência de natureza sintética.
Porque a natureza dos dois atores, não são de serem amputados e sim, uma
montagem para mostrar uma imagem virtualizada, ou seja, tem uma potencialidade
de acontecer. Sabendo que o braço não é da atriz – sendo da tenista de mesa
Bruna Alexandre – que nos remete a uma visão rejeitada, uma visão que o belo se
caracteriza com o feio, o rejeitado, o submundo da imagem ideal. Ou seja, a
descaracterização da imagem da pessoa e nos remete a apenas olhar a deficiência
em si mesmo. Como pessoas com deficiência que somos – amputados, cadeirantes,
muletante e etc – nos sentimos destruídos como pessoas, destruíram nossa
própria identidade criando uma imagem sintética do sujeito enquanto pessoa na
essência.
Daí entramos dentro da estética. A estética vem do grego aisthésis que quer dizer “percepção”, “sensação”
e “sensibilidade” que diz muito sobre belo. Voltamos a pergunta inicial: o que
é o belo? O belo é o que percebemos como juízo de valor (lembramos que juízo é
sempre um pensamento de julgamento daquilo que é um conceito), ou seja, tudo
aquilo que julgamos um valor importante, ou conceito moral que nos dará prazer.
O que seria o prazer? Segundo os epicuristas, o prazer é o último fim do ser
humano. Mas o prazer nesse caso – da foto especificamente – não houve prazer
porque não houve uma imagem analítica, não houve uma leitura dentro dos padrões
da deficiência. Assim, a estética passa de prazer ao desprazer, do belo a aberração,
por um fator único, o pensamento sintético predomina na foto. Criaram um arquétipo
que foi construído entre o perfeito e aquilo que não é perfeito (dentro do
senso comum), a imagem que precisa de um famoso para repercutir e esse arquétipo
é a persona que começou lá traz com
as novelas (que mostravam deficientes belos e perfeitos). Toda persona é uma máscara que usamos como
uma personalidade construída das inúmeras ideias éticas e morais que
aprendemos. E quando nos deparamos com essa imagem, o arquétipo está mais que
claro, há uma imposição da visão estética mediática dentro do protótipo social,
ponto, o resto é conversa fiada.
Será que não houve uma tentativa de demonstrar uma imagem
idealizada? Será que não é a mesma imagem que os donos de empresas e das próprias
agências de publicidade, usam como exigências para contratar pessoas com deficiência?
A ideia do juízo de valor que não aceita um amputado verdadeiro, mas a imagem “fake”
de atores conhecidos, nos mostra muito como o poder construiu um discurso para excluir
a nós dentro da sociedade. Sem dúvida há um fetiche (não como uma coisa erótica,
mas uma imagem ao culto e sagrado), dentro da imagem que constrói um conceito
do belo aceito, o belo da perfeição, o belo como imagem e conceito platônico da
objetividade daquilo que é belo. A grosso modo, a publicidade ainda trabalha
com arquétipos (imagens) antigos que não cabem mais dentro do conceito de hoje,
a publicidade não tem renovação a muito tempo, achando que só homem bebe cerveja,
achando que só uma classe social usa determinado produto. Qual a novidade? Nenhuma.
Há e sempre haverá uma imagem errônea da deficiência.
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