terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Campanha do Capacitismo 2016: por que ela acabou?












Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Outro dia estava lendo um texto de um colega – que aliás muito interessante – que falava que ele começou a pesquisar sobre o alcoolismo entre as pessoas com deficiência. O que ele encontro? Nada. Nenhum estudo sobre esse assunto em questão, porque não interessa ou porque estamos muito atrelados ainda em assunto de cunho linguístico. A mídia é um caso à parte nesta questão – porque tem ainda a ver com a nossa cultura que sempre procura o ruim, o péssimo, aquilo que é catastrófico para dizer que aquilo é verdade – porque se não for pessoas chorando (como se a deficiência fosse a morte), se não for deficiente no esporte (a sublimação da deficiência), ou se não for o Teleton (a mídia bajula na cara dura mesmo), não aparece e não tem jeito. A questão tem duas vertentes, uma é o capacitismo e a outra, o medicalismo.

A vertente capacitista nos diz que não somos capazes nem de ficar bêbados, porque quem cuida de nós (daí tem um elo muito forte com a medicalização) não deixa isso acontecer ou que somos infantilizados o bastante para sermos bêbados.  Na vertente medicalista, nós somos dependentes e a responsabilidade dos nossos atos é de inteira responsabilidade das pessoas que estão conosco, não moramos sozinho, não temos vontades, não temos atitudes, ou seja, somos estatuas. Mas que estatuas podem falar, podem sentir ou podem ter desejos inúmeros? Acho que essa ideia iluminista que a ciência iria resolver todos os problemas da humanidade, de uma forma bem crítica, nunca aconteceu e não irá acontecer pelo simples motivo de sempre acharmos que algo externo vai resolver nossos problemas. A medicalização nunca vai curar deficiência nenhuma, o que pode acontecer com o avanço tecnológico é amenizar a deficiência, que é algo muito diferente de curar. Por isso é errado dizer “portador de deficiência”, pois, aquele que porta deixa de portar.

Por isso eu acho que se deva aceitar seu estado, deva viver na melhor maneira possível as deficiências e parar em acreditar em curas milagrosas, mas acreditar numa adaptação adequada da cidade onde vive. Como disse o filosofo alemão Nietzsche: “torna-te quem tu és”, ou seja, se você é deficiente assume como deficiente, se você é diferente que a sociedade padronizou (como se fossemos objetos e não seres pensantes), seja aquilo que é e ponto. Também acho que devemos sim discuti, pois há no meio inclusivo que discussão é briga, por isso mesmo os grupos morrem, porque todo mundo fica com medinho de ir contra ou ofender. Discussão não é briga, discussão é um meio termo dialético de se entender a sua ou a ideia do outro, mais ou menos, a tese (a nossa ideia) e a antítese (a ideia do outro).

Se tenho uma ideia que existem deficientes dependentes químicos – perdi dois amigos assim – então eu tenho uma tese, resta perguntar: cadê a antítese que não existe deficientes dependentes químicos? Não existe antítese. Porque a antítese não pode ser provada e se não pode ser provada, não pode ser discutida e vai para “debaixo do tapete”. Não há discussão nenhuma, não há nenhum argumento a respeito e as universidades não tocam no assunto, simples assim. Universidades não pesquisam as deficiências num lado mais das humanas, porque não há um interesse desse tipo de coisa.

Eu acho que ainda existe médicos muito prisioneiros do senso comum, e o que é pior, as universidades não mudam isso, porque não é interessante. O mundo corporativo é um mundo cheio de interesses, interesses de industriais conservadores que querem essa “gente” longe de suas “imaculadas” empresas, interesses de entidades que se sustentam com a nossa deficiência. Por outro lado, os esquerdistas (os radicais da esquerda e não TODA a esquerda), colocam na cabeça de alguns, que não pensam por si só, que somos excluídos da sociedade e devemos ser incluídos. Ai sempre me pergunto: essa gente acha que nossas mães foram no meio do mato nos parir? Sim, porque um ser humano excluído é um ser humano fora da sociedade e não é isso que vejo, somos muito bem inseridos socialmente, mas o problema é outro. O problema é que as pessoas são levadas a realidades que costumam lhe ensinar dês da infância – que chamo de síndrome de Neo, onde se vive numa realidade virtual igual a Matrix – onde só existe festas, só existem praias, só existem perfumes e roupas limpinhas e gente bonita. A geração de mimados que não podem ser contrariados, não podem ver gente feia, não podem ver gente suja, não podem sentir fedor, não podem ser privados de nada. A mídia não mostra deficientes babando, deficientes que moram nas ruas, deficientes que moram na favela e são drogados ou bêbados.

Só resta perguntar antes de terminar meu texto: por que a campanha do capacitismo acabou? Por que somos tão covardes? 

O Livro O Caminho no Wattpad: (aqui)

O livro O Clube das Rodas de Aço (aqui)

O Livro O Caminho físico (aqui)

O Livro Liberdade e Deficiência (aqui)

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