Lutero em Worms, interrogado pelo Dr. Eck. |
Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
No versículo do Velho Testamento, mais preciso em Jeremias 17:5,
que diz assim: "Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem,
faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!". Que
todos dizem que se trata em confiar no outro ser humano, que todos os seres
humanos são falhos e não somos dignos de confiança e só a Deus isso é pura
falta de interpretação. Como o Senhor pode querer que um homem esteja
desconfiando de outro homem, se somos todos a sua imagem e semelhança e somos
todos irmãos? Como Deus todo poderoso, pode chamar um homem de maldito? Ou,
simplesmente, era uma linguagem na época que esse versículo foi escrito, ou não
era muito o Deus todo poderoso que precisa chamar sua própria criação de maldita
para impor sua autoridade. E também, como uma grande falha no nosso país na
educação escolar, há um erro enorme de interpretação de texto.
A pergunta poderia ser assim: por que interpretaram como
confiar num outro homem? Porque não entenderam uma coisa importante, que no
texto está “o homem que confia no homem” e não está escrito “o homem que confia
no OUTRO homem”, porque esse “homem” não é outro ser e sim, o íntimo do próprio
homem. O homem que tem o orgulho muito grande e acha que pode tudo e isso, faz
dele algo soberbo, sem contar que o orgulho sendo egoísta, é um pecado. O
profeta Jeremias está se referindo dentro do orgulho exagerado que faz do ser
humano um ser que se afasta de Deus, dos valores espirituais verdadeiros e não,
nunca poderia ter dito, que o homem deveria desconfiar de outro ser humano. Afinal,
religião veio ou não veio do verbo “religare” que tem o significado de religar?
Se tem o propósito de religar, por que se deve plantar a discórdia dos seres humanos?
A religião cristã como um todo, tem milhares de falhas
teológicas que dariam um livro inteiro e não é pouco. Primeiro, se o
cristianismo é um judaísmo reformado, por que se tem ainda o Velho Testamento? Porque
sabemos que o Velho Testamento é o livro sagrado do judaísmo de onde, como a
maioria sabe, Jesus nasceu e se criou e passou a vida. Por outro lado, o
judaísmo rejeitou a doutrina de Jesus como uma doutrina do “messias”
verdadeiro, que até hoje, existem o que afirmam que Jesus era mesmo o “messias”
e os judeus que afirmam que ele (Jesus) não é o “messias”. O cristianismo
católico é cheio de filosofias antigas como o platonismo, o aristotelismo e
outras que foram trazidas por Santo Agostinho (ponho “santo” por razões
históricas). Que por razões de cunho doutrinaria, o protestantismo segue alguns
preceitos de Santo Agostinho, até porque, Martin Lutero (um dos mais
importantes expoentes da reforma) era monge agostiniano e “devorava” as obras
de um dos importantes “pais” da igreja cristã.
Segundo a teologia cristã, Jesus veio e morreu na cruz para
eliminar os pecados do mundo, afinal, ele era o “cordeiro de Deus” que veio
tirar o pecado do mundo. Se o profeta Jeremias disse “maldito o homem que
confia no homem”, Jesus disse “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e
então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão. ”, em
uma linguagem interpretativa, as duas falas estão ligadas ao orgulho que afasta
do divino. Por que afasta do divino? Acho eu que a dúvida do ser humano que
veio com o cristianismo – principalmente com o cristianismo reformado – tem sempre
aquilo de achar todo mundo pecador e eles (a igreja), não fazem nada, não dizem
nada e são quase “santos”. O orgulho também é achar que a sua religião é melhor
do que a dos outros, é orgulho também é achar ser dono da verdade, é orgulho
achar que a sua etnia é melhor do que as outras (como os judeus se achavam o
povo escolhido). Poderíamos até ir longe e dizer que o moralismo é um tipo de
orgulho, que tudo que é nu é pornografia, que Sodoma e Gomorra foram destruídas
por Deus (como se Deus brincasse com playmobill), por causa de pecados
previstos em uma só religião e Jesus veio e mostrou um outro aspecto, mas mesmo
assim, se continuou acreditando no judaísmo. Claro, que é um direito o judaísmo
ter sua doutrina, mas é nosso direito seguir com a doutrina do mestre Jesus, só.
Tirando os versículos mais usados – por razões obvias dentro do protestantismo brasileiro
– o Velho Testamento só vale como apoio moral e não um complemento do que Jesus
disse, pois, afinal, Jesus ensinou que aquela interpretação estava errada.
Acho que devemos sim ser céticos as pessoas, pois, como diz
aquele ditado “quem vê cara, não vê coração”. Mas eu sou igual Descartes,
filosofo francês do século dezesseis, que se você tem que duvidar então, a dúvida
tem que ser com tudo, pois, tudo foi criado pelo ser humano. Temos que duvidar do
pastor, temos que duvidar do padre, temos que duvidar dos membros da igreja,
temos que duvidar até das doutrinas judaicas-cristãs. Afinal, eles não foram construídos
pela mão humana? Quem garante que foi por intermédio de Deus? Como Deus todo
poderoso, todo amor, todo o bem, pode destruir cidades, pode destruir seres
humanos, até matar, como se fosse um assassino? Isso até fere sua própria lei
de “não matarás”, fere o princípio criador amoroso, criador que sempre quis o
bem da humanidade. Isso, pelo menos para mim, é ilógico e desumano e faz um
Deus perverso, sádico e por isso, um Deus que quer imperar e não criar. Não é
muito diferente dos deuses gregos, dos deuses germânicos, deuses eslavos e por
ai vai, pois, sempre que alguém mexia com o povo protegido, eram destruídos pelos
deuses. Não é isso que lemos na Ilíada? Tróia foi destruída por causa do rapto
de Helena e com apoio de alguns deuses? Acho que o nome “deus” já erra, porque não
podemos achar que um ser onipotente, onisciente e onipresente tenha um gênero e
seja masculino. Mesmo o porquê, ele disse na sarça em chamas “sou o que sou”,
ou seja, ele não tem definição humana.
Acho que Spinoza – o filosofo luso excomungado do século dezessete
– chegou mais ou menos, numa definição aproximada, que tudo é o ser divino. É ainda
pobre, porque um ser que fez, não pode ser a criação daquilo que foi criado por
ele. Eu não posso ser esse texto, pode ser que tem meus pensamentos com símbolos
(letras) que expressam o que quero dizer, mas ainda assim, não é eu. Já o “ser”
é um ego (eu em latim) e não pode definir um ente que está fora da realidade
que estamos, não pode ser definido num modo humano, assim, podemos dizer, que
esse ente é de uma definição que nem mesmo os avatares conseguiram definir. Não
há como definir aquilo que não há definição, o ser humano é um ser limitado em sua
própria linguagem, dessa linguagem só podemos definir aquilo que inventamos
termos e definimos regras para esses termos, portanto, não podemos ter a pretensão
em definir aquilo que ainda, não tem definição. Então, se não podemos nem
definir esse ser divino, como podemos interpretar as doutrinas de religar o ser
humano a esse ser criador? Será que essa interpretação é a certa?
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