segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Teologia da Discórdia





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Lutero em Worms, interrogado pelo Dr. Eck.




Por Amauri Nolasco Sanches Junior

No versículo do Velho Testamento, mais preciso em Jeremias 17:5, que diz assim: "Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!". Que todos dizem que se trata em confiar no outro ser humano, que todos os seres humanos são falhos e não somos dignos de confiança e só a Deus isso é pura falta de interpretação. Como o Senhor pode querer que um homem esteja desconfiando de outro homem, se somos todos a sua imagem e semelhança e somos todos irmãos? Como Deus todo poderoso, pode chamar um homem de maldito? Ou, simplesmente, era uma linguagem na época que esse versículo foi escrito, ou não era muito o Deus todo poderoso que precisa chamar sua própria criação de maldita para impor sua autoridade. E também, como uma grande falha no nosso país na educação escolar, há um erro enorme de interpretação de texto.

A pergunta poderia ser assim: por que interpretaram como confiar num outro homem? Porque não entenderam uma coisa importante, que no texto está “o homem que confia no homem” e não está escrito “o homem que confia no OUTRO homem”, porque esse “homem” não é outro ser e sim, o íntimo do próprio homem. O homem que tem o orgulho muito grande e acha que pode tudo e isso, faz dele algo soberbo, sem contar que o orgulho sendo egoísta, é um pecado. O profeta Jeremias está se referindo dentro do orgulho exagerado que faz do ser humano um ser que se afasta de Deus, dos valores espirituais verdadeiros e não, nunca poderia ter dito, que o homem deveria desconfiar de outro ser humano. Afinal, religião veio ou não veio do verbo “religare” que tem o significado de religar? Se tem o propósito de religar, por que se deve plantar a discórdia dos seres humanos?

A religião cristã como um todo, tem milhares de falhas teológicas que dariam um livro inteiro e não é pouco. Primeiro, se o cristianismo é um judaísmo reformado, por que se tem ainda o Velho Testamento? Porque sabemos que o Velho Testamento é o livro sagrado do judaísmo de onde, como a maioria sabe, Jesus nasceu e se criou e passou a vida. Por outro lado, o judaísmo rejeitou a doutrina de Jesus como uma doutrina do “messias” verdadeiro, que até hoje, existem o que afirmam que Jesus era mesmo o “messias” e os judeus que afirmam que ele (Jesus) não é o “messias”. O cristianismo católico é cheio de filosofias antigas como o platonismo, o aristotelismo e outras que foram trazidas por Santo Agostinho (ponho “santo” por razões históricas). Que por razões de cunho doutrinaria, o protestantismo segue alguns preceitos de Santo Agostinho, até porque, Martin Lutero (um dos mais importantes expoentes da reforma) era monge agostiniano e “devorava” as obras de um dos importantes “pais” da igreja cristã.

Segundo a teologia cristã, Jesus veio e morreu na cruz para eliminar os pecados do mundo, afinal, ele era o “cordeiro de Deus” que veio tirar o pecado do mundo. Se o profeta Jeremias disse “maldito o homem que confia no homem”, Jesus disse “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão. ”, em uma linguagem interpretativa, as duas falas estão ligadas ao orgulho que afasta do divino. Por que afasta do divino? Acho eu que a dúvida do ser humano que veio com o cristianismo – principalmente com o cristianismo reformado – tem sempre aquilo de achar todo mundo pecador e eles (a igreja), não fazem nada, não dizem nada e são quase “santos”. O orgulho também é achar que a sua religião é melhor do que a dos outros, é orgulho também é achar ser dono da verdade, é orgulho achar que a sua etnia é melhor do que as outras (como os judeus se achavam o povo escolhido). Poderíamos até ir longe e dizer que o moralismo é um tipo de orgulho, que tudo que é nu é pornografia, que Sodoma e Gomorra foram destruídas por Deus (como se Deus brincasse com playmobill), por causa de pecados previstos em uma só religião e Jesus veio e mostrou um outro aspecto, mas mesmo assim, se continuou acreditando no judaísmo. Claro, que é um direito o judaísmo ter sua doutrina, mas é nosso direito seguir com a doutrina do mestre Jesus, só. Tirando os versículos mais usados – por razões obvias dentro do protestantismo brasileiro – o Velho Testamento só vale como apoio moral e não um complemento do que Jesus disse, pois, afinal, Jesus ensinou que aquela interpretação estava errada.

Acho que devemos sim ser céticos as pessoas, pois, como diz aquele ditado “quem vê cara, não vê coração”. Mas eu sou igual Descartes, filosofo francês do século dezesseis, que se você tem que duvidar então, a dúvida tem que ser com tudo, pois, tudo foi criado pelo ser humano. Temos que duvidar do pastor, temos que duvidar do padre, temos que duvidar dos membros da igreja, temos que duvidar até das doutrinas judaicas-cristãs. Afinal, eles não foram construídos pela mão humana? Quem garante que foi por intermédio de Deus? Como Deus todo poderoso, todo amor, todo o bem, pode destruir cidades, pode destruir seres humanos, até matar, como se fosse um assassino? Isso até fere sua própria lei de “não matarás”, fere o princípio criador amoroso, criador que sempre quis o bem da humanidade. Isso, pelo menos para mim, é ilógico e desumano e faz um Deus perverso, sádico e por isso, um Deus que quer imperar e não criar. Não é muito diferente dos deuses gregos, dos deuses germânicos, deuses eslavos e por ai vai, pois, sempre que alguém mexia com o povo protegido, eram destruídos pelos deuses. Não é isso que lemos na Ilíada? Tróia foi destruída por causa do rapto de Helena e com apoio de alguns deuses? Acho que o nome “deus” já erra, porque não podemos achar que um ser onipotente, onisciente e onipresente tenha um gênero e seja masculino. Mesmo o porquê, ele disse na sarça em chamas “sou o que sou”, ou seja, ele não tem definição humana.


Acho que Spinoza – o filosofo luso excomungado do século dezessete – chegou mais ou menos, numa definição aproximada, que tudo é o ser divino. É ainda pobre, porque um ser que fez, não pode ser a criação daquilo que foi criado por ele. Eu não posso ser esse texto, pode ser que tem meus pensamentos com símbolos (letras) que expressam o que quero dizer, mas ainda assim, não é eu. Já o “ser” é um ego (eu em latim) e não pode definir um ente que está fora da realidade que estamos, não pode ser definido num modo humano, assim, podemos dizer, que esse ente é de uma definição que nem mesmo os avatares conseguiram definir. Não há como definir aquilo que não há definição, o ser humano é um ser limitado em sua própria linguagem, dessa linguagem só podemos definir aquilo que inventamos termos e definimos regras para esses termos, portanto, não podemos ter a pretensão em definir aquilo que ainda, não tem definição. Então, se não podemos nem definir esse ser divino, como podemos interpretar as doutrinas de religar o ser humano a esse ser criador? Será que essa interpretação é a certa? 




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