sábado, 11 de março de 2017

Inclusão no “Mundo Fantástico de Bob”






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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Quem nunca assistiu o desenho animado “Mundo Fantástico de Bob”? É a história de um menino (no caso, Bob), que enxerga o mundo adulto como se fosse o que ele imagina, sempre com soluções fantásticas de um menino de seus, 5 anos. O desenho mostra como nós, os adultos, vemos as coisas de um outro prisma diferente de um menino de seus 5 anos de idade. Nada tenho contra a imaginação dos meninos e meninas de 5 anos, que as vezes, nos falta em certas situações (no Facebook está cheio de frustrado e gente que não tem a menor imaginação de transcender essa realidade chata de um cotidiano medíocre). Não é isso: é construir mundos que não existem na realidade dentro das “desculpas” e “álibis”, que querem empurrar para cima do segmento das pessoas com deficiência. O “Mito da Qualificação” é um deles.

Você pode pensar que meu modo de ver pode ser diferente do Bob, mas não é muito. Na verdade, quando trabalhamos com idealizações não temos a capacidade de ver a realidade e não a “realidade inventada”. A ideia é simples, a realidade é o que mostra os fatos e os fatos nem sempre, ou não são mesmo, eternos. Se no mundo antigo se matava pessoas com algum tipo de deficiência, hoje, temos os Direitos humanos para garantir a vida e autonomia das pessoas com algum tipo de deficiência. Porque hoje se tem tecnologias melhores, se tem uma maior variedade de tratamentos, uma variedade de resoluções que não deixa isso acontecer (menos nos países que os radicais mulçumanos estão no governo). Mesmo assim, como um cético que sou, isso não passa de mito e os mitos são fabricados para acreditarmos em tudo isso. Pelo menos no Brasil, num modo bem fisiológico, existem pessoas que não tem uma cadeira de rodas, não tem uma muleta, não tem qualquer possibilidade de autonomia de uma vida digna. Vocês acham que as mulheres com deficiência não sofrem abuso sexual, abuso psicológico, abusos não diferentes, dos abusos que sofrem todas as mulheres? Se vocês acham que não, vocês são como todo ser humano, acreditaram nos mitos que se espalham a séculos. Como disse nos outros textos, um mito não é uma mentira, um mito é uma ficção para coagir e fazer acreditar em coisas que não existem de verdade. Na realidade, vamos ser sinceros até consigo mesmo, ainda somos os mesmos caçadores-coletores de antes, nossos genes não tiveram tempo ainda de mudar para uma outra fase. Ou seja, ainda achamos que as pessoas idosas e as pessoas com alguma deficiência, atrapalha a sociedade, a única diferença, é que no viés cristão, todos são iguais. Mas é um mito, apenas.

Numa realidade nua e crua, num modo bem nietzschiano, a vida não tem sentido nenhum e não temos nada de iguais. Eu posso gostar de comer num lugar, minha noiva, pode gostar de comer em outro lugar, porque os gostos são diferentes e essa diferença é marcante dentro da consciência do homo sapiens. Quando digo que somos caçadores-coletores, além do modo de desenvolver os preconceitos e discriminações – o preconceito é uma pré-ideia que se torna um mito e a discriminação é o ato de rejeitar graças a essa ideia do pré-conceito – também tem o fato de criarmos mitos como capitalismo e socialismo, criarmos o mito monárquico (que a milênios vem assombrando o ser humano), porque vivíamos com pouco mais de 150 pessoas por bando. Mais do que isso, só inventando mitos para segurar as vontades da maioria, porque a maioria não convive com mais do que isso. Se o intuito do ser humano, como espécie, é evoluir, então tiveram um erro crasso de serem agricultores e isso é evidente. Mas, já que o erro foi feito, vamos analisar mais a fundo.

O Mito da Qualificação vem junto do Mito da Ciência e do academismo moderno. Nietzsche já no século 19, tinha nos alertado que o ser humano iria deixar de acreditar em forças divinas e iria colocar toda essa esperança de salvação, na ciência. Se na idade média, e depois até o século 18 mais ou menos, nós humanos, acreditávamos na Graça Divina para a redenção da raça humana, a “graça” para a modernidade é a ciência e junto dela, a tecnologia. Mas já faz um tempo, que venho escrevendo, que a tecnologia nos últimos 70 anos, avançou muito mais rápido do que a nossa evolução ética e moral. A tecnologia pode ser usada para aprendizados, dar uma vida mais digna as pessoas com alguma deficiência, mas pode ser uma arma mortal para pessoas que querem fazer maldade. No mesmo modo que construíram o telescópio Hubble, os norte-americanos, construíram duas bombas atômicas e testaram no Japão. Pois, a verdade é, que os yankes pouco estavam ligando para o mundo.

Isso poderia ser uma redenção de sairmos da ignorância e entrarmos na era do conhecimento, a era onde o ser humano poderia se conectar a todos os seres humanos no mundo todo. Isso é um mito, pois nem todo mundo troca informação nenhuma e sim, trazemos o cotidiano cultural para as redes sociais. A ciência pode ter nos dados cadeiras de rodas melhores (outras adaptações diversas também), mas nos obrigou a se adequar a um academismo que nem sempre, temos condições de pagar ou, conforme o cargo, precisão para isso. O academismo, na verdade, foi uma exigência governamental sob pressão dos industriais de se adequar a ideia do conhecimento como base de alguns cargos. Um filósofo, por exemplo, pode muito bem ser um filósofo sem precisar de um diploma, mas o governo (o ESTADO), quer ensinar os mitos que um filósofo deve pensar ser verdade. Daí sai baboseiras imensas que filósofo não pode xingar, que filósofo tem que defender uma posição, que filósofo tem que ser ateu e cético. Mas, bem da verdade, um filósofo é avesso a tudo isso e fico imaginando se Sócrates não iria rir dos filósofos de hoje, medíocres e chatos.

Daí, quando se faz uma lei como a lei de cotas – que faz as empresas darem uma porcentagem de vagas as pessoas com deficiência – se esquecem das mesmas resoluções que tomaram no passado, só trabalha quem tem qualificação profissional.  Acontece que isso a uns 15 anos atrás – quando a lei tinha uns 10 anos – poderia até “colar” como uma desculpa das empresas de não quererem se adaptar para tal, mas hoje, com muitas pessoas com deficiência qualificadas, é difícil querer convencer pessoas que não estudaram segurando seus diplomas. Mas eu estou muito mais preocupado em analisar atos éticos (de caráter), do que morais (de costumes) e digo com bastante vigor, há de analisar a Lei de Cotas num viés de caráter daqueles que não querem contratar e usar o meio governamental, para dar a “desculpa” da “qualificação”. Será mesmo que o problema aí é mesmo a “qualificação”? Alguém já parou para pensar que o problema não é a “qualificação”, mas a nossa própria biologia de ainda rejeitar aquilo que atrapalha o bando? Mas, claro, as revistas e os “exemplos de superação” podem argumentar comigo: “Ah Amauri, existem pessoas conscientizadas que contratam pessoas com deficiência sem mesmo, pedirmos! ”. Tá ok. Senta lá “Claudia” que o tio vai explicar uma coisa de uma maneira bem adulta, ok?

Quem contrata pessoas com deficiência são de duas categorias apenas (mais do que isso, passa a ser idealização):  A primeira categoria é quem tem exemplos de deficiência em casa ou tem algum parente, porque se não for assim, não existe ninguém que convença uma pessoa que uma deficiente pode ser um bom profissional. Outra categoria e por indicação de alguém dentro da empresa, assim, as coisas são o que são sem hipocrisia. O “jeitinho” sempre se virou, até mesmo, quando se trata da lei de cotas. Num viés ético (até mesmo do caráter aristotélico), ou uma lei deve ser cumprida ou ela não existe, porque se um empresário tem um monte de direitos, ele também tem um monte de deveres diante a sociedade de fazer a economia rodar. Esse direito e dever tem muito a ver, com o caráter de cada um, não só do mais necessitado. O empresário não está acima da cidadania, ele é cidadão como todo mundo, se existe leis e tem uma conduta ética dentro dessa lei, deve ser cumprido. Então, não adianta revistas mostrarem um “fantástico mundo” que a mim, não convence e colunistas que faltam com a verdade, pois, quando você sabe da verdade e começa a camuflar por motivos diversos (os anúncios dessas revistas, vem do empresariado), começo a achar que estou sendo enganado.

O que tem de errado nisso? Nada. Um desenvolvimento humano passa pela idealização e o mito, mas quando isso atrapalha enxergar a realidade, isso vira alienação. Como diz a música do conjunto Camisa de Vênus: “Não há mais festas, nem carnaval/acho que fui enganado! ”. 


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