
Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
“O sábio que tudo sabe
é aquele que sabe que nada sabe”
(Platão)
Vendo uma aula do professor Sidney Silveira – que existem várias
críticas “ferozes” do Olavo de Carvalho – onde ele explica duma forma bem
simplificada, as teorias do filósofo clássico Platão. Todo mundo sabe que
Platão gostava da religião órfica e parte das teorias platônicas são de origem
órficas, então, não há razão nenhum e não vejo o porquê, alunos de filosofia
darem risada de Platão. Para mim é uma grande prova da empáfia (uma vaidade sem
propósito nenhum) em achar que você entendeu alguma coisa e você não entendeu
nada, não leu nada, não sabe nada e deveriam estar em constante aprendizado. Filosofia
é a busca da sabedoria e como disse o mestre de Platão, Sócrates, que “Só sei
que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que
acham que sabem alguma coisa.”.
Etimologicamente, filosofia veio de dois termos em grego, um
é “philia” que era o amor amizade, ser amigo. Outro termo era “sophia” que se
traduz até os dias de hoje como sabedoria, ou seja, a “Philosophia” (como
escrevia Heidegger), é a busca da sabedoria através da amizade com essa
sabedoria. Talvez, foi isso que o filósofo grego Pitágoras, cunhou o termo
“philosophós” quando um governante o chamou de sábio, ele disse que era apenas
“um amigo da sabedoria”. Exato! Pitágoras poderia muito bem, gostar do termo ou
se auto afirmar dentro da influência que tinha como um sábio de Samos. Mas não
fez. Longe disso, se mostrou como apenas um “amigo da sabedoria” que o a
acompanha, mas, que ainda não o a conheceu por completo. Se o termo é grego,
seu significado ficou universal, quando se descobriu que muitas culturas
almejavam chegar a sabedoria. Cientistas antropológicos e historiadores podem
ter estudado muitos aspectos culturais – com apoio de outras áreas cientificas,
como a psicologia e a fisiologia – e talvez, nós filósofos devemos sim ler suas
conclusões, mas não podem saber o porquê o ser humano (homo sapiens) está procurando a sabedoria. Aliás, defendo que os
filósofos sejam estudiosos nexislistas (que ligam os nexos ou as conexões),
porque existem muitos filósofos que estão se prendendo em ideologias e
religiões que não deixam fluir as diversas ideias em outras culturas.
As coisas poderiam ser outras se não achássemos que uma só
religião poderia salvar nossa alma, assim como, uma ideologia pode salvar a
humanidade da injustiça. Mas, na verdade, sempre generalizamos e achamos
“engraçado” tudo aquilo que não entendemos ou tudo aquilo que achamos como
menor. Como você pode achar que Platão é um filósofo menor? Como você pode
abrir um livro de Kant (filósofo prussiano do século dezoito), por exemplo, um
Crítica da Razão Pura, e achar que você descorda de alguma coisa? Refutar,
todos podemos refutar, mas temos antes de tudo, entender com detalhes tudo
aquilo que o autor escreveu. Garanto que nem 10% dos alunos que estavam ali
naquela aula, sabia sequer o que era metempsicose para acha engraçado tudo
aquilo, e mais uma vez, tudo aquilo que não entendemos, rimos. E se rimos de
tudo é um sinal de desespero, como diz o cantor Frejat em uma das suas músicas,
porque ficamos com medo daquilo que não entendemos. Sócrates, pegou uma frase
no Oraculo de Delfos, disse para conhecemos a si mesmo e descobri o que nós
temos de mais importante. Um filósofo deveria saber que o Mundo das Ideias não
é uma coisa intangível (fantasia), mas algo que vem primeiro do objeto e a
ideia em essência, se torna algo tangível (objeto).
A “PhiloSophia” só existe graças a três princípios: aquilo que
era (origem), aquilo que é (existência) e aquilo que será (caminho ético). Aquilo
que era é uma resposta à pergunta: de onde viemos? Ora, Tales de Mileto, nos disse que foi na
agua, que por termos corpos húmidos, temos que ter originado na agua. Diferente
de vários mitos que dizem que somos obras dos deuses ou de um só “deus”. Só
abrindo um parêntese, o politeísmo (crença em vários deuses), não descartava
uma Divindade mais poderosa que tudo criou, mas que essa mesma divindade era
inacessível e tinha que ter intermediários que em alguns casos, não deixamos de
acreditar. Continuando. A origem tem que ser lógica dentro da filosofia, como Tales
fez ao olhar os corpos e ao olhar os corpos, concluiu que vinha de uma
substancia húmida que na lógica é a agua. Ou a noção de Tales seja uma noção de
mistificar a agua como uma substancia de origem universal – que mesmo os
cientifistas descordam de mim, faz todo o sentido de tudo que foi descoberto na
área biológica – pondo ela, como uma substancia divina como um instrumento para
uma causa e que, haveria de ter um efeito. Ou Tales se via diante de
aparecimentos de insetos na agua e pensou realmente que a vida surgia lá.
Hoje em dia, sabemos que as espécies evoluíram de outras
espécies e que evoluiu de células que tem origem nos ácidos que surgiram com os
elementos e fica, mais ou menos, fácil “concluir uma hipótese”. Acontece que a
hipótese é uma suposição daquilo que observamos, como supor (tendo uma
hipótese), de um comportamento de determinadas pessoas porque sabemos que
pessoas tem reações a alguns comportamentos. Ora, a comprovação que todas as
espécies vivas do mundo (Terra), ter evoluído de um punhado de células não
resolve o problema e não descarta a geração espontânea, tem mais essa. Por que?
Simples. Ter células evoluindo para seres mais complexos – do simples ao
complexo – não nos esclarece se os seres tiveram geração espontânea (vários
fatores colaboraram com isso), ou uma inteligência superior implantou aqui. Extraterrestres
fizeram isso? Cientistas de outras dimensões? Cientistas espirituais? Seres
divinos? Mesmo chegando a uma das respostas a pergunta, vai ser hipóteses,
porque não vamos conseguir chegar a nenhuma conclusão. Só se chegarmos a uma
conclusão razoável, encontrando uma capsula onde vieram a células, ou encontrar
algo que colabore com isso. Algum tempo atrás, encontraram esferas de aço –
dizem que é de um metal raro na Terra – que são ocas e que se desconhece a
origem. Quando abriram, encontraram um pó estranho, mas quando foram ver, eram os
mesmos ácidos que constituíram as células orgânicas. Mesmo que algum blog
desmascarar (que só vai ser uma hipótese, porque não sabemos a verdade), é uma
hipótese plausível. Outra hipótese é que Marte também teve vida e em algum
momento, um impacto fez que alguns pedaços viessem para a Terra a ponto de eclodirem
aqui. Cometas também tem vírus e bactérias congeladas em seus corpos, como se
concluiu, pesquisas. Existem trilhões de hipóteses que podem ser e podem não
ser.
Quando pensamos “aquilo que era”, pensamos naquilo que
originou algo e com o passar do tempo, não tem a mesma forma. O Universo se
originou de um ponto, mas ele não é mais um ponto, vários pontos originaram
vários universos, mas nenhum deles, é um ponto. A modificação não é a resposta
de não existência de um ser inteligente, mas a resposta de um ser inteligente
que molda como se fosse um escultor. Talvez, Espinosa esteja certo (que
Einstein adota também essa visão), que o que chamamos de “Deus”, esteja em tudo
que vimos e percebemos. O motor perpetuo aristotélico que comenda tudo pelo
pensamento – que a igreja romana adota – onde todas as coisas são perfeitas. A
ideia de perfeição vem dos gregos, mas voltarei depois nisto. O que quero dizer
é que não se pode concluir como verdade o que é uma hipótese, apenas. Então,
não podemos concluir se Platão estava ou não certo, se existe mesmo alma ou não,
se reencarnamos ou não em animais ou em outros humanos. A questão é se a
ciência como detectora do conhecimento (aliás, o termo ciência vem do latim scientia que quer
dizer “conhecimento” ou “saber”), não está sendo um meio de entravar o ser
humano ao conhecimento verdadeiro, ao conhecimento da sua própria natureza. Ninguém
tem a “verdade” e nem as “verdades” são absolutas ao ponto de não mudarem.
Se nós não chegamos a responder “aquilo que era” (nossa
origem), como poderemos responder “aquilo que é” (a realidade)? Será que
estamos na realidade ou isso tudo não passa de uma ilusão? Se botarmos na
questão ética (caráter), podemos dizer diante de várias teorias e pesquisas
cientificas, que não passamos de coletores e caçadores pensando ser modernos.
Assim, todas as culturas que criamos nos últimos 10 mil anos, são apenas
ilusões de um bando de homo sapiens
que fizeram acreditar ter evoluído. Nós não evoluímos. Nós não cuidamos dos
entes idosos (raras exceções por causa de uma certa educação), continuamos a
rejeitar pessoas com deficiência pelo medo de doenças (ué, a ciência não
fabricou vacinas?), se continua a achar que a guerra é a melhor solução, a
dominação do mais fraco, a dominação e a discriminação da mulher. Então, todas as
ideologias (que chamo e vários cientistas também, de religião humanista), não
resolveram porque não passam de ilusão. O comunismo é uma ilusão, o liberalismo
é uma ilusão, o nazismo foi uma ilusão, o fascismo foi uma ilusão e o
nacionalismo é uma ilusão. No final das contas, não sabemos nem quem somos.
Se não posso nem responder quem eu mesmo sou, porque eu devo
rir de Platão? Se não respondi uma questão primordial dentro da “PhiloSophia” que
é “aquilo que era”, porque eu devo fazer “escarnio” do orfismo? Ainda mais
longe vamos quando perguntamos: Quem nós somos? Ora, se Tales de Mileto (o
primeiro a questionar a ordem mítica grega), disse que os seres vivos vieram da
agua (incluindo nós), Sócrates vai propor duas questões primordiais dentro da
questão “aquilo que é”. Primeiro, que uma vida sem ser examinada, não vale a
pena ser vivida e é uma questão, ética. Por que examinar a vida? Por que devo
questionar a minha conduta num mundo que acho ser cruel e que me faz sofrer? Daí
entra a outra questão socrática que coloquei lá trás, conhecer a você mesmo,
conhecer seus limites e sua própria natureza. Se examino a minha vida, então,
eu posso vir a me conhecer? Pode ser que ao me conhecer, eu descubro que a
realidade não existe, que me enganaram ao longo da minha vida. Porque não sou a
cadeira de rodas cara que tenho, não sou as marcas de roupa que eu uso, o tênis
que eu calço, eu sou um ser que gosto de ser eu mesmo. Minha personalidade vai
sendo construída a partir das questões que vou respondendo e assim, vou construindo
minha própria realidade. Não interessa se a maioria está usando uma Ottobock
(falando de cadeira de rodas), eu estou satisfeito com a minha Ortobrás 1996
que a minha noiva me deu, não interessa que a maioria usa a Nike, eu estou
satisfeito com meu tênis simples. Porque a publicidade não faz e nem nunca fez
a minha cabeça, porque as pessoas são muito facilmente manipuladas. Não me
interessa que a maioria gosta de Funk Carioca ou pagode, eu gosto de rock
metal.
Conhecer a si mesmo sempre foi a saída para fazer com que o
homem veja a realidade, como no Mito da Caverna de Platão, que o homem
acorrentado se solta e vai ver a luz. Então me vem uma outra questão: será que
tudo que tenho e tudo que gosto, também não é uma ilusão? No budismo (doutrina
de Sindarta Gautama que se torno Buda que quer dizer, “o iluminado”), se ensina
que todos os sofrimentos vêm do nosso próprio EGO e devemos deixar esse EGO que
é a fonte do desejo. Para Buda, esse EGO que quer uma Ottobock na verdade, é um
falso EGO. Na verdade, o termo EGO é latim, assim, o termo em português é EU. Esse
EU é o EU falso, pois o problema não é ter uma Ottobock, é achar que a sua vida
depende da Ottobock para viver, deixar você mais bonito, mais aceito, menos
discriminado. Tudo isso é uma ilusão, tanto a Ottobock, como tudo que falaram
que ela iria trazer, porque ela é só um instrumento de locomoção. É uma
tecnologia, nada mais do que isso. Nós somos pessoas com alguma deficiência,
mas ainda assim, pessoas que estamos inseridas com a espécie homo sapiens. Enquanto eu não olhar a
minha deficiência e perceber que sou parte do universo, não posso responder à
questão “aquilo que é” e não posso seguir e não posso rir de Platão.
A questão só será respondida quando respondemos “aquilo que
era” – os existencialistas tentaram responder, mas falharam – não podemos
responder “aquilo que é”, não podemos encontrar o meio termo entre a nossa
origem e o que somos. Mas se descobrimos quem somos, não vamos descobrir onde
viemos? Não foi isso que Sócrates disse para conhecer a si mesmo e Jesus disse
para encontrarmos a verdade? Podemos dizer que conhecer a verdade é conhecer a
si mesmo, conhecer quem somos e nunca se apegar ao que não somos. Não somos
etiquetas, não somos rótulos, não somos nada além do que primatas que inventam
tecnologia. Existe a alma? A alma diferencia o homem dos ouros primatas? Pode
ser que a existência proceda a essência, mas a essência garante que a percepção
da existência aconteça. Pode ser que eu renasça em um animal se eu fizer algo
mal, por que não? Algumas religiões animistas acreditam nisso – como algumas derivações
do budismo, o hinduísmo, a religião antiga egípcia, a religião órfica entre
outras – que podemos ser lobos, podemos ser crocodilos, podemos até renascer em
uma vaca ou num boi e ser comido. Por que não? Quem garante? Afinal, não
encontraram resposta nenhuma do “aquilo que era”, a ciência não respondeu e não
fez feliz, até agora, 7 bilhões de pessoas como prometido. Ainda vejo vultos e
não uso nenhuma droga ou sou esquizofrênico, mas sempre acham graça e me
refutam com uma risada, mesmo que a ciência não tenha encontrado nada. Sócrates
ouvia uma voz, nem por isso era tido como louco (o caso dele foi político), Jesus
falou com Moisés e Elias e sua mensagem ética foi dada sem que ninguém o veja
como louco ou esquizofrênico.
Se ainda não respondemos “aquilo que era” e ainda não
encontramos “aquilo que é”, podemos ou não, responder “aquilo que será”. Por
que podemos responder? Dentro da filosofia, o porvir já foi muito discutido,
mas o filósofo que começou foi Heráclito. Para Heráclito, o ser não se molha
com a mesma agua duas vezes ou não pisa na agua de um mesmo rio duas vezes
seguidas. Simplesmente, porque a água não é mais a mesma e, nós, mudamos nossa percepção
sobre o porquê você deve atravessar o rio duas vezes. Outra coisa, não menos
importante é: tudo que fazemos no presente vai refletir no futuro, tudo que eu
faço hoje eu vou fazer refletir lá na frente. Isso não é um pensamento
metafisico, é um ato que pode haver consequências depois. Se eu corro muito com
minha cadeira motorizada, uma hora ou outra, vou causar um acidente ou comigo
ou com outras pessoas. Claro que existem pessoas que acreditam – que também não
passa de uma crença – que o fato de eu causar um acidente houve outras causas a
não ser eu correr com a cadeira motorizada.
Tanto no budismo, quanto ao espiritismo kardecista – que é
uma ala do cristianismo que segue a moral de Jesus, mas não enxerga ele como
Deus – nos diz que há causa e há o efeito, se eu faço algo hoje, amanhã vou ter
as consequências desse ato. Atravessar o rio é um ato, pisar na água duas
vezes, é a consequência e se essa água não é a mesma, é a mudança. Mas podemos
refutar Heráclito – respeitando, lógico, a importância dele na “philosophia” –
dizendo que a água de todo mundo é a mesma, que o que chove é a mesma água que
eu pisei um dia. Talvez, ele (Heráclito) tivesse querido dizer, que o fluxo
temporal é constante e não pode ser quebrado, tanto é, que o fragmento mais
famoso dele seja “tudo flui” (panta Rey) ou seja, tudo está em constante mudança.
É o que o budismo diz e de alguma maneira, o espiritismo também diz, que tudo
que você sente no presente irá fazer em ato, vai acontecer lá para frente. Mas o
que isso tem a ver com Heráclito? Tudo flui
porque o tempo não existe, ele depende da ação humana dos fatos ocorridos,
porque os fatos podem mudar. As coisas boas ou as coisas más, dentro dos
valores que contem a cultura étnica, são ações humanas e então, não depende de
nenhuma força metafisica ou força extra-humana (no caso extraterrestre), que
faz determinada coisa acontecer. Se pensarmos bem, tanto teístas (que acreditam
em Deus) e os ateístas (que não acreditam em Deus), estão errados. A fome, a
guerra, as catástrofes, não são atos de um Deus ou atos do acaso, são consequências
puramente, humanas.
Por isso que o budismo vai ser classificado como uma religião
ateísta, porque para eles não interessa se existe ou não Deus, mas existe uma
energia que faz o ser humano viver e se ele focar no presente, não haverá motivo
nenhum de se preocupar com o futuro e nem o passado. O passado passou e é só uma
lembrança (não dá para mudar mais), o futuro não aconteceu e acontecerá graças ao
que fazemos hoje e então, se preocupamos com o presente. De alguma maneira, Jesus
disse isso também quando diz: “(...)não vos preocupeis com o dia de amanhã,
pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia
traz em si mesmo”, ou seja, cada mal que fazemos é nós que fazemos. Por que se
preocupar com o futuro se o futuro depende do nosso presente?
Se ainda não respondemos o passado (origem), presente
(agora) e o futuro (amanhã), como podemos responder as outras questões? Como existem
pessoas que podem rir de Platão? Como podemos rir de uma teoria se nem podemos
refutar ela? Esse, meus amigos, é o academismo brasileiro.
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