Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Quando eu era mais jovem, minha mãe sempre dizia para mim se
virar sozinho porque um dia ela iria morrer, de fato, ela morreu. Tive
realmente de se virar sozinho, ainda pior, tive que amadurecer com meus
próprios erros sem se apegar a conceitos “adolescentes” que eu tinha. A vida
não se resume em ter uma cadeira bonitinha, transar ou ter “vontade” e sim,
estar preparado para uma vida e isso não se restringe em fazer um vídeo bem
elaborado. Não quero rir. Não quero ver vidas intimas. Não quero saber qual
melhor forma de cadeira de rodas. Não quero viajar. Quero, definitivamente, ter
uma vida com trabalho, uma casa minha, uma família minha e poder manter essa
família. Mas me parece que houve o inverso, pois, somos “bombardeados” de
informações que não mais o ser humano trata o outro como ser humano. Ele é
apenas uma “coisa”.
A maioria que conseguem uma vida instável são pessoas paraplégicas
e isso eu não tenho dúvida nenhuma, conseguem meios de trabalhar, conseguem
meios de dirigir, conseguem meios até de conquistar um ou uma companheira (o)
sem nenhuma deficiência. Isso mostra que não se aceitam e buscam uma
compensação quanto a vida “vazia” que vivem, são na sua maioria, os ressentidos
do segmento das pessoas com deficiência. Não tenho a menor dúvida quanto a
isso, a minha dúvida recai dentro do que eles divulgam como uma vida feliz.
Será mesmo que eles (os paraplégicos) são felizes? Essa dúvida recaiu dentro
dos meus pensamentos, quando eu assistir um vídeo de perguntas e respostas no
YouTube de uma moça com deficiência paraplégica e seu marido “bombadão” e uma
amiga.
Uma pessoa ressentida é uma pessoa que não aceita a vida
como ela é de fato, tem muitos pensamentos metafísicos diante da sua própria
vida. Nós sabemos o que fez isso, foi o pensamento
romântico, colocando uma vida idealizada acima da vida real e as escolhas que
devemos escolher diante dos inúmeros fatos que seguem nessa mesma vida. Uma
vida idealizada em um eterno episódio da “Malhação” não é uma vida, porque a
série “Malhação” não é uma vida real de discriminações, descasos, cadeiras de
rodas velhas e quebradas. Com esses vídeos que aparecem esses cadeirantes com
todas essas cadeiras lindas, todas essas casas bem arrumadas, todas essas
produções, me soa muito falsa e coisas que me parecem muitos falsos me enjoam
fácil. A grosso modo, eu sempre acho que a discriminação sempre parte daquele
que é discriminado, porque o fato da moça cadeirante ter um marido “bombadão”
sem deficiência, já é uma discriminação com o próprio segmento. Muitos vão
dizer que é sim um modo de inclusão, mas para mim, como um crítico feroz a esse
tipo de atitude, uma pessoa que vive numa balada, não entra em nenhum movimento
de pessoas com deficiência, ainda, só quer transar com não deficiência – como
ter um cuidador – já está discriminando a sua própria deficiência.
Nem esse é o problema, porque acho de verdade que as pessoas
devem fazer o que querem, o problema eles ensinarem que a questão do segmento
das pessoas com deficiência, a questão da inclusão, se resumem só no fato de
transar, falar besteiras no Facebook e achar que o mundo é uma eterna viagem a
Disney. Outra coisa, não acho que eu deva aprender nada com os paraplégicos,
mas eu acho que eles deveriam aprender mais com quem nasceu com a deficiência.
Deveriam ajudar os movimentos de luta (não instituições e ONGs que não ajudam
em nada a questão), e não achar que são a “última Coca-Cola do deserto”. Não,
não são. São pessoas que “ficaram” deficientes cadeirantes, muito depois de
qualquer um que tentam achar que podem ensinar.
Como pessoas que não aceitam a própria deficiência, como
pessoas acham que a vida se resume em gozar ou não, em baladas, podem ensinar
alguma coisa para alguém? Como pessoas que promovem que mulheres com
deficiência ou homens, saiam nus em fotos (atiçando a fantasia de pessoas pervertidas
e malvadas), podem lutar contra o assédio de mulheres com deficiência? Não
estou preocupado com a moral, porque não me preocupo com o costume e sim o
caráter, porque eu me preocupo muito mais com a ética. Se passamos uma imagem
que não é a nossa, para mim pelo menos, soa como algo não ético e se não é
ético, então, é algo sem caráter. Meus pais deram uma educação que não
deveríamos ser “machões” – no caso meu e do meu irmão – mas, pelo menos, temos
caráter de nunca mostrarmos o que não somos. Se eu escrevo uma coisa, eu vivo e
penso aquilo, eu não quero puxar o saco de ninguém e muito menos, mostrar algo
a alguém, para obter “vantagem”. Aliás, meu pai tem horror a essa palavra, o
“álibi” para qualquer corrupção. Pessoas sempre sorriem quando veem que podem
obter “vantagem” de alguma coisa, alguém, ou em certas situações.
Por que devo acreditar que essas pessoas têm boa intenção? Como
devo acreditar que realmente, o “bombadão” ficou com a mocinha da cadeira de
rodas por causa do status de “bonzinho”? Existem mil e uma situações que podem
ser, mas nenhuma, é tão óbvia quanto essa.
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