Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
A realidade vem do latim “res” que quer dizer coisa, ou do
grego “rei” que quer dizer aquilo que é mudado ou aquilo que passa. Ou seja, a
realidade é aquilo que muda enquanto um conjunto de momentos que fazem um fato,
um momento. Se a realidade é um conjunto de momentos, então, esses momentos
mudam? Sim. Num conto que escrevi que está na plataforma do Wattpad, chamado “O Tempo Controverso”, eu escrevo sobre um cientista que trabalha numa máquina do
tempo e como esse cientista volta ao passado e logo após, volta até o futuro. Daí
chegaremos a uma conclusão que o tempo pode ou não mudar, conforme o predicado
que se quer chegar dentro de um patamar mais na existência do ser. Ora, se o
passado é uma lembrança e o futuro depende do que nós fazemos hoje, então, a
ciência descobriu o que?
Existem alguns problemas dentro da realidade e dentro da eternidade,
porque dentro desta realidade existe o tempo, a gravidade e a eternidade. O
tempo é a sequência de fatos que são momentos. A gravidade é a atração dos
corpos celestes a tudo que existe e a eternidade, são as formas que consistem em
ideias. De uma forma ou outra, sempre as ideias não desaparecem e apenas se transforma.
Numa palestra do filósofo Olavo de Carvalho, ele diz que se percebemos a
estrutura do tempo, vamos perceber a simultaneidade dos momentos. Porque cada
momento é eterno em si, pois, cada momento que se passou não poderá nunca ir
para o nada. Em algum lugar, aquilo existiu, nem que seja por um segundo,
então, nunca mais será um nada. Se estudarmos conjuntos matemáticos, o nada não
existe e só uma incógnita dentro da nossa consciência, ou seja, quando não sabemos.
Podemos dizer: “o universo veio do nada”, porque não sabemos de onde ele veio,
mas não se pode concluir que o universo em sua grandeza, tenha surgido do nada
com inúmeras formas de matéria. Então, porque os antigos insistiam que o
universo criado era uma forma de ilusão? Porque os antigos vão dizer, que tudo
é uma questão de campos vibracionais que podem ou não, coexistir?
Não à toa, que Platão, vai dizer que só aqueles que saberiam
matemática, poderiam entrar na sua Academia. Mas a noção do grego antigo para a
matemática era só geométrica, porque a aritmética só foi encontrada pelos
árabes muitos séculos depois. Mas na matemática a incógnita é uma grandeza ou
quantidade desconhecida, mas que pretende descobrir para resolver um problema. Qual
o problema nesse caso? Um problema é definido como uma questão que necessita de
uma resposta, assim quando surge esse problema, para uns já tem a solução, para
outros não há ou não tem ainda uma resposta. Dentro da filosofia, é qualquer
situação que inclua a possibilidade de uma alternativa. O problema ao ser
solucionado, dentro da filosofia, não deixa de ocorrer o conceito de problematicidade.
Ou seja, é a constatação de que um fenômeno observado não tem sentido único,
pode conter várias alternativas. Na matemática, a noção de problema veio como
uma distinção do teorema. Esta visão diz respeito a algo que parte de uma
observação dentro de algum conhecimento prévio na tentativa de ser conceber
algo que ainda está desconhecido. Já Aristóteles, filósofo grego, observava no
campo da dialética (um método de um diálogo que usa a contraposição ou a
contradição), dado um problema que constaste, o indivíduo buscara a escolha ou
a recusa, e na ordem teorética, a decisão de verdade ou de conhecimento. Ainda,
o problema pertence ao campo da dialética é fundamental, pela esfera do
discurso provável, aonde não há verdade absoluta, onde há ainda a ciência.
O que vou usar é o problema filosófico usando, talvez,
elementos matemáticos. A origem de tudo sempre foi um problema da filosofia,
porque sempre o ser humano, se perguntou de onde veio tudo e de onde viemos.
Hoje, a filosofia – que acho errado – está atrelada dentro da ciência empírica,
que causa, certa limitação quando começamos a questionar a origem e o porquê de
tudo. De um ponto de vista da matemática, usamos o conceito do NADA sempre
equivalente ao de “conjunto vazio = Ø”, que é definido como um conjunto que não
possui elementos, e sim, o Axioma da Especificação ou da Separação. O Ø é um
elemento do conjunto de subconjuntos de um conjunto, por exemplo, dados dois
conjuntos y e z, podemos saber que o Ø (x,y,z) = (x Є y), existe um conjunto w,
tal que x Є w <=> x Є z Λ Ø. Assim, nós garantimos a interceção dos conjuntos, o NADA seria um desses
elementos de tudo, ou do Universo. Este Axioma não encontra na Física uma base
solida para demonstração.
Já na Física, existem conceitos que deveríamos ter em conta:
o vácuo, o vazio e o nada. O vácuo seria um espaço que não existiria nenhuma
matéria, nem solida, nem liquida, nem gasosa, nem o plasma e nem a matéria
escura. Porém, existem indícios de campos elétricos, campos magnéticos, campos
gravitacionais, a luz, as ondas de rádio, as ondas de raio X e outros tipos de
radiação. Ainda o vácuo possui energia e as suas flutuações quânticas podem dar
origem a pares de partículas e antiparticulas, então, não será uma abstração,
porque lá pode existir energia. O vazio é definido como um espaço que não
contém nenhuma matéria, nem campos eletromagnéticos e nem radiação. Mas há o
espaço, onde existe a possibilidade que caber algo dentro desse vazio, ou seja,
mesmo que o vazio não contém nenhuma matéria ou energia, seja ela
eletromagnética ou nuclear, existe uma incógnita de poder ter alguma coisa. Mesmo assim, não podemos saber se dentro do
universo existe o vazio, porque o que sabemos até então, é que o todo o espaço
(que conhecemos), mesmo que não tenha nenhuma matéria, é sempre preenchido por
energia eletromagnética e radioativa. Agora o conceito do NADA dentro da física
refere-se à inexistência de qualquer coisa, seja ela de qualquer natureza. O
NADA não existe nem o próprio conceito do espaço vazio, onde eventualmente,
pudesse caber algo. A lei físicas aplicadas a qualquer existência de algo,
sejam a conservação da energia, o tempo ou o espaço, enquanto lugar com a
possibilidade de localização. Portanto, o NADA seria um não-lugar, não-tempo,
não-energia, isto é, nenhuma coisa pode estar no nada.
Acontece que na filosofia, o Nada é tratado de maneira muito
diversa e não adianta achar um padrão, sempre o NADA não terá uma resposta
consensual. Por exemplo, Kant dizia que o NADA é um pseudoproblema, Bergson que
o NADA não existe, mas é concebido por operações mentais. Já para Sartre, o
NADA tem existência real em oposição ao ser., portanto, na filosofia, como
busca do saber, o NADA não tem uma concepção única e que responda a isso tudo. Ora,
voltamos para a questão do Olavo de Carvalho que em algum lugar, aquilo
existiu, nem que seja por um segundo, então, nunca mais será um nada. A questão
pode ser perguntada assim: aonde “aquilo existiu”? Há um erro nesta mesma
palestra sobre realidade, pois, Husserl e Descartes não falam de mente, falam
em consciência. A mente é aquilo que é, a consciência é aquilo que percebe.
Ora, se não há uma resposta definitiva e todas as coisas
levam a não-existência do NADA. Se o NADA não existe, então, como poderemos
atribuir o aparecimento o universo do NADA? Mais ainda, se todas as coisas
existem em realidade, como temos coisas que fantasiamos que não existem? Se a
eternidade não existe, talvez, devemos nos indagar aonde apareceu tal ideia.
Essa é uma questão de intuição e conhecimento, pois, se tenho uma intuição que
aquilo existe, terei o conhecimento que aquilo existe e já eu dando o nome para
aquilo, eu já estou dando a existência daquilo. Chegamos, mais ou menos, na questão de
Heidegger quando ele pergunta: *por que existe o ser e não o nada? ”, ou
melhor; *por que existe afinal ente e não antes o nada? *. São perguntas
bastante relevantes. Porque a questão do ser é uma questão dês de Parmênides,
que sem dúvida, foi uma grande inspiração para os existencialistas. Pois, para
Parmênides, o ser deve ser único porque se existir algo junto ao ser, só poderia
ser o não-ser e o não-ser não é, não existe. Também o ser que não muda não é o ser, porque
o ser é aquilo que é, e aquilo que é pode a ser dentro das mudanças do tempo,
as mudanças consensuais. Evolui. O ser é
uno, imóvel e não-criado.
Podemos dizer que o ser enquanto um (único), é único enquanto
aquele que tem a consciência. Consciência significa “com conhecimento” enquanto
aquele que conhece a realidade, se conhece a realidade intui tudo aquilo que é,
que pode existir. O existir é, porque na essência, o existir está atrelado ao
pensar e ao perceber. Por isso a realidade tem a ver com a existência e a
existência ao ser, e por que não, a finitude e a eternidade. Mas ainda temos
que responder Heidegger na sua pergunta “por que existe afinal ente e não antes
o nada? ”, porque o ente é aquele que é e o nada é aquilo que não é. Ou seja, o
não-ser é o nada no sentido de não existência enquanto aquilo que não somos, o
ser é o ente é aquilo que somos enquanto essência do ser enquanto é. Parmênides
está falando do ser quando diz que o ser é, porque se A é o ser, e B não é,
então B é não ser, não é. Assim, se argumenta, que todo esse discurso era para
falar do entes e levava a negação do devir, que os antigos não conseguiam
explicar.
Numa forma escolástica – não tão bíblica – o ser é absoluto
e não pode ser aquilo que não é. Porque o ser é tudo que existe, por exemplo,
uma cadeira é, uma mesa é, um tênis é, um mundo é; ou seja, a questão do ser é
universal e única. Se o ser é, o ser só pode ser aquilo que é em sua própria natureza
e existir é parte da realidade do ser. Então, partindo do pressuposto escolástico,
o que o Olavo de Carvalho diz que é a realidade é no sentido do ser como ente
absoluto e quando sabemos que somos absolutos, sentimos a eternidade. Porém,
quando tenta explicar – como disse acima – a filosofia cartesiana, se enrosca
bastante. Primeiro, Descartes enquanto filósofo, era envolvido com a escolástica
e não disse diferente do que essa filosofia, pois se temos uma consciência que
pensa, temos um meio que será o corpo pensante. A velha história do significado
e o significante. Aquilo que significa vou reconhecer como real como objeto
daquilo que reconheço como real, por exemplo, esse texto é real enquanto
processos codificados do meu notebook. O significante é aquilo que significa
como importante dentro da nossa realidade, por exemplo, um gato é um animal irracional
que não tem consciência nenhuma sobre seus atos; mas existem pessoas que dão aos
gatos, sentimentos humanos que tem significado para nós mesmos. O que Descartes
disse é que se eu estou dando o significado estou percebendo toda a realidade,
mesmo que eu não acredite que essa realidade existe, não posso duvidar de mim
mesmo. Por que? Porque sou o ser absoluto que não tenho um significado, eu sou
o significado para mim mesmo e a realidade é fruto da minha própria consciência.
Uma cadeira, por exemplo, esteticamente pode ser bonita para mim, mas pode não ser
bonita para você.
Outro erro nos estudantes de filosofia é tratar o caso de Parmênides
e Heráclito como antagônicos e não vejo assim. Os dois complementam em uma só realidade,
porque o ser é enquanto é, mas ao mesmo tempo, o ser muda enquanto ser
consciente do seu juízo. O próprio Paulo de Tarso relata isso quando diz que
quando era menino tinha linguagem de menino, quando virou homem, tinha
linguagem de homem. Enquanto ser que pensa, tem juízo, logo existe em si mesmo,
ou seja, respondendo à pergunta heideggeriana, o ente existe e não o nada,
porque a consciência (com conhecimento) existe enquanto ser que não pode
conceber o nada, porque a consciência é absoluta. A vontade é o processo casual
do objeto é o significado desse objeto, então, o objeto em si mesmo é o objetivo
daquilo que é e aquilo que é, é aquilo que quero chegar. Talvez, podemos usar a
lógica da linguagem, quando eu digo “uma maçã vermelha” eu sei que aquela maçã
é vermelha; existe o sujeito que tem o significado, aquele que a consciência levou
ao objeto; ao mesmo tempo, existe o predicado que é o significante, o objeto e
suas qualidades. Assim, quando Heidegger faz a pergunta, ele quer saber porque
somos antes de não ser, porque sempre somos e sempre seremos. Mesmo que a nossa
consciência não perceba, que no caso, seria quando nascemos.
Podemos concluir, que a realidade é aquilo que significa
enquanto aquilo que existe, o significado que ela tem e o significante que ela
pode dar nos objetos e no pensar enquanto significado da realidade. O tempo
pode ser energias sutis que ainda ficam no universo, como um eco daquilo que não
existe mais, ou pode ainda existir em uma outra dimensão. As escolhas são o que
temos de melhor, porém, escolhemos sempre o que somos e os valores que temos. É
isso.
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