segunda-feira, 12 de junho de 2017

Filia e Eros – amor sem hipocrisia.




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Por muito tempo eu venho pensado sobre o amor entre dois indivíduos e cheguei a uma conclusão, o amor é muito mais complexo do que a nossa linguagem pode explicar. Para explicar o amor precisaríamos de uma metalinguagem, uma linguagem muito além do que temos, porque o amor não é só sexo e também não é só amizade, o amor é as duas coisas em uma só. Mas é muito mais do que isso, só que não temos termos para abarcar isso. Então, podemos explicar o amor em linguagem simples e dizendo que amor é a vida, é o tesão do outro enquanto ser que atrai, mas ao mesmo tempo, o amor é a amizade enquanto ser que convive. Se você só tem tesão, não só é uma coisa animalesca, como é uma coisa que não vai completar o amor. Se você só ter a amizade, então, o amor fica meio sem sentido e os dois são apenas amigos. Os gregos tinham três tipos de amor: FILIA é o amor amizade, EROS é o amor sexual e o AGAPÉ que é o amor desinteressado que o cristianismo colocou como caridade.

No caso do meu texto aqui, acho que AGAPÉ é um amor muito sublime só amado por espíritos muito superiores e que não tem egoísmo. Então, como simples mortais em encontro de uma consciência plena, vamos usar FILIA e EROS como referência nesse debate (sempre acho que dentro da filosofia, temos sempre debates). Se o amor é o tesão e a amizade enquanto uno, então, por que as pessoas não têm paciência, às vezes, com o outro? Por que existem pessoas que exigem do outro o que ele não é? Ora, isso é o que chamamos de amor idealizado, o amor que busca aquilo que não é a essência do outro, mas apenas a idealização do outro enquanto a fantasia que você faz dentro da sua mente graças a inúmeros fatores que você fez essa imagem. A imagem egoísta sempre é a imagem de uma pessoa que não ama, ela quer o ideal e mais cômodo para ela, o mais cômodo é o mais sensato apenas para a pessoa. A essas pessoas eu tenho uma coisa a dizer: o universo nem está aí com vocês, você para o universo não é nada e apenas faz o que você tem que aceitar, você não é a “bolacha mais gostosa do pacote” diante da vida. Não haverá o ser perfeito a ninguém, isso é jogo de publicidade e a publicidade usa aquilo que desejamos e o amor não é só aquilo que desejamos, mas aquilo que desejamos e queremos por vontade.

Por que esteticamente, temos amor  por quem não é perfeito? Porque sempre nos ligamos aquilo que nos atrai e não aquilo que idealizamos, por exemplo, você pode ter a mais linda namorada do mundo, a melhor esposa, toda gostosa, ter um esposo todo bombadão e tal; você só está tendo o EROS que é o tesão, só com o tesão você terminara rápido o relacionamento, porque não há conversa. No mesmo modo, um relacionamento só com a FILIA é um relacionamento que não terá o momento a dois dentro do afeto, só terá o instinto reprodutivo. O que diferencia do homem dos outros animais? A consciência. O raciocínio animal é instintivo, o cachorro quando a cadela está no cio, obedece ao caminho de feromônios para a copula. Acho errado achar que o amor tem um feromônio, porque o ser humano evoluiu graças a consciência, graças ao conhecimento da sua própria realidade. Além de outros fatores metafísicos como a alma e o espirito, que nos animais habita bruta e ignorante, mas no homem, essa mesma alma tem a consciência necessária para se perceber e perceber toda a realidade.  O sentimento e a racionalidade são a verdadeira essência do homem, porque a racionalidade e o sentimento são a consciência, porque com a racionalidade eu penso para ter certeza que eu existo, o meu cogito vai dar significado a minha existência. Sem a racionalidade, não somos e se EU SOU é graças ao cogito que é o EGO verdadeiro. Os sentimentos são aquilo que significa como significante, porque se com a racionalidade EU SOU, com o sentimento dou o significado ao outro como SER que é. Trocando em miúdos, o sentimento são símbolos inconscientes daquilo que a alma fara simbolicamente, como significado. Ou seja, o EGO é a priori do inconsciente, porque o significado sempre terá que ter o significante. O significado é aquilo que significa, o EU SOU, o significante é aquilo que seria para nós o EU ESTOU.


Ora, o que atrai é o simbolismo do tesão do instinto, a racionalidade humana, na maioria, é instintiva. A racionalidade é aquilo que EU SOU, o EGO que tem que ser saciado com o prazer de se sentir o gozo daquilo que só se satisfará por mim mesmo. O EU ESTOU, é aquilo que reconhecera o outro como o simbolismo daquilo que o ser, o ser é absoluto, logo, o gostar é se sentir atraído e ver o outro como um ser que te completa. O intuito é aquilo que atrai, o sentimento é aquilo que expande e dar significado aquilo que atrai. Se amo minha noiva, por exemplo, é aquilo que atrai e aquilo que sinto, porque o que atrai é o significado, aquilo que sinto é o significante. Não é à toa, que o filósofo Pascal disse que o coração tem razões que a própria razão desconhece, porque o coração é o que sentimos e que nos é significante. Há um erro enorme em colocar à vontade na razão, porque a vontade é o sentir que podemos e não podemos estar, o objetivo que nos leva ao objeto ou ao ser que nos é importante. O amor é o fogo (logos) que arde (mudança) sem ser ver (sentir), como diria Camões.  Na verdade, o poema de Camões no leva a tudo isso que falamos – mesmo que esse poema seria para uma dama meretriz (para sermos educadinhos) – porque fala da razão e ao mesmo tempo, fala do sentir e trazer o amor sempre ao nosso próprio favor. 




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