quinta-feira, 25 de maio de 2017

Allan Kardec era mesmo racista?




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Por Amauri  Nolasco Sanches Junior

Na filosofia, dizemos que quando temos um problema, sempre será uma situação que inclua a possiblidade de uma alternativa. Nunca podemos confundir com a dúvida, que é uma questão do ser, que é o que se acredita e há esse tipo de confusão. Essa dúvida ao ser solucionada, ou ela vira uma crença, ou ela se torna uma descrença. Ou seja, quando respondemos a dúvida em questão, ou começamos a acreditar que aquilo é, ou começamos a acreditar aquilo que não é. Já o problema, ao ter uma solução não deixa de ocorrer, necessariamente, dando origem ao conceito de problematicidade. O problema é a constatação de um fenômeno observado não tem um sentido único, e sim, pode ser confeccionado por várias alternativas.

Existe um problema que tem algumas alternativas, mas como é um texto de um blog que tem o nome Universo Racionalista, vamos deliberar a racionalidade. A racionalidade é um conceito de dupla significação: uma é filosófica e outra cientifica. A racionalidade filosófica, seria a totalidade do saber, em que o pensamento fica inerente a uma cosmovisão do ser; já a racionalidade cientifica possui uma visão restrita, limitada pelos métodos de analises de experimentos (empírico). Immanuel Kant, vai chamar a primeira de razão e a segunda de entendimento. Ou seja, o entendimento cientifico depende da razão filosófica e não o contrário. O problema filosófico é sempre usar a razão (logos), para tirarmos as falsas crenças dentro da nossa simbologia. Nós somos animais simbólicos e tudo para nós pode se tornar um deus ou deuses – mesmo que essas crenças sejam cientificas – ressaltando sempre a visão além da cegueira, tirando de nós a idolatria. O pensamento filosófico é o conhecimento, o pensamento cientifico comprova a veracidade daquilo. Assim, com essa base filosófica e cientifica, podemos desenvolver já um certo racionalismo.

Embora temos um pensamento vigente que a filosofia tem que ter base cientifica, não acho necessário temos essa base cientifica quando a questão é moral ou ética. As crenças em suas essências, são condutas morais e não tem, muitas vezes, nenhuma base cientifica. No caso do espiritismo, há o uso de métodos científicos de comprovação da comunicação daquilo se chama de comunicação com espíritos. O que sabemos são o que as pessoas dizem ver e se comunicar – eu já presenciei algumas vezes – mas os cientistas mais idolatras da ciência (podemos chamar de cientificista), não querem fazer pesquisas mais serias. Aliás, não querem aceitar as pesquisas que são feitas no exterior. Mas o tema é outro aqui, o tema é o suposto racismo do codificador do espiritismo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail que está em algumas obras póstumas do mesmo.

No artigo do blog Universo Racionalismo “A FACE RACISTA DEALLAN KARDEC” o autor Samuel Fernando, começa com alguns erros. Primeiro ele escreveu doutrina espírita, depois disse que era uma seita assim, ficou algo muito ilógico. Seita vem do latim “sactar” que quer dizer seguidor, que é utilizado para designar um grupo numeroso de uma determinada corrente religiosa, filosófica ou política que se destaca da doutrina principal. Sectário é um termo que é usado no indivíduo que segue uma seita, que pode também, ser considerada uma “divisão”, um “partido” ou uma “facção”.  Acontece que tanto doutrina (que é um conjunto de princípios que servem de base a um sistema), quanto seita, estão completamente errados e o certo é codificação. A Codificação Espirita, são códigos morais, códigos de conduta, o que o espiritismo ensina, são códigos morais para sermos seres melhores e evoluídos no sentido moral. Então, não faz sentido colocar uma conduta moral num patamar de um só pensamento. Um outro erro é achar que o espiritismo tem uma teologia que é um erro, pois, teologia vem do grego “theos” que quer dizer “deus” ou “deuses”, junto com “logos” que quer dizer “razão” ou “estudo”.  Teologia seria um “estudo” sobre ou de Deus, coisa que o espiritismo não faz porque Deus é infinitamente, muito mais complexo do que meros estudos humanos. O espiritismo tem a codificação (conjunto de códigos morais), que são os cincos livros de Allan Kardec (pseudônimo sugerido por um espirito amigo). Vamos ao texto propriamente dito.

O autor coloca:  “O que seus seguidores não contam é que a teologia espírita em Kardec é extremamente racista e xenofóbica. ”. Ora, como eu expliquei, não existe uma teologia espirita e sim, uma codificação espirita e depois, há um erro muito grande em colocar numa mesma frase racista e xenofóbica. Racismo é um conjunto de normas que permitem que uma doutrina política (como o nazismo e o neonazismo), possa dar aval que uma certa raça tenha superioridade sobre a outra, mas que apenas, é uma teoria. A xenofobia é uma desconfiança, temor ou antipatia por indivíduos que são estranhos no meio daquele que as ajuízas, ou o indivíduo que vem de fora do pais. Mesmo que alguns sites e algumas pesquisas dizem ter uma certa diferença, há um racismo sim dentro da xenofobia que se expressa em cor, credo e pensamento. Como uma codificação moral pode ser racista ou xenofóbica? Mais ainda: como uma codificação que prega a evolução espiritual (a essência de cada ser), seja denominada, excludente de etnias diferentes? Veja, mesmo seguindo alguns preceitos espiritas, eu também tenho minhas críticas.

Ainda o autor coloca: “Allan Kardec, embasado na frenologia (craniologia), considerada hoje como pseudociência, fundada pelo médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828), segundo o qual as formas anatômicas do crânio humanos teriam relação com o caráter, personalidade, moralidade e com a espiritualidade.”. O autor não diz que fonte usou para saber se Kardec usou ou não essa pseudociência (descartada graça o nazismo, se não fosse isso, ainda hoje era usada), apenas acusou Kardec de ter usado a frenologia como fonte dos seus escritos “racistas”. Ora, se é um blog cientifico e filosófico (no sentido lógico), como o autor não coloca a fonte que tirou essa acusação? Se o autor dissesse que Kardec era racista simplesmente, tudo bem, afinal ele era humano e poderia errar ou escrever bobagens como muitos, mas ter usado a frenologia, não há fontes. Num modo filosófico (logos/ratio), temos que desconfiar da intenção do autor, porque ele não usou o critério cientifico da fonte da informação. Por que ele fez isso? O por que ele não deu só a suas opiniões nos textos de Kardec?

Segundo o livro “O Gênese”, Kardec coloca:

“Segundo o ensino dos Espíritos, é uma dessas grandes imigrações, ou se assim o quisermos, uma dessas colônias de Espíritos, vindos de outra esfera, que deu nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão, a qual por essa razão é denominada raça adâmica. Quando ela aqui chegou, a Terra era povoada desde tempos imemoriais, como a América o era quando para ali foram os europeus.

A raça adâmica, mais adiantada que as que haviam precedido na Terra, é com efeito a mais inteligente; é ela que empurra todas as outras em direção ao progresso. A Gênese no-la mostra, desde seus primórdios, industriosa, apta às artes e às ciências, sem ter passado pela infância intelectual, o que não é próprio das raças primitivas, mas que concorda com a opinião de que ela se compunha de Espíritos que já haviam progredido. Tudo prova que ela não é antiga na Terra, e nada se opõe a que ela não tenha, aqui, senão alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações antropológicas e tenderia, ao contrário, a confirmá-las."

(KARDEC, Allan: Raças Adâmicas, O Gênese fonte: http://www.centroespirita.com.br/literatura/agenese/pagina013_07.asp)


Assim, o espiritismo não está preocupado em um progresso corporal – pois esse progresso é espiritual – mas num progresso moral até alcançar o meio para sermos espíritos melhores. Claro, Kardec está nesse processo e deve ter errado, deve ter apoiado dentro de algumas teorias que eram erradas e ele, como muitos, foi filho do seu tempo. Mas acho eu, que o autor do artigo não leu todo o artigo, lá como começo do artigo sobre a frenologia – que ele não indicou como fonte – Kardec explica a frenologia e coloca algumas considerações importantes:

“”Assim, um homem não é poeta porque tenha o órgão da poesia: ele tem o órgão da poesia porque é poeta, o que é muito diferente. Mas aqui se apresenta uma outra dificuldade, ante a qual forçosamente tropeçam os frenologistas: se for espiritualista, dirá que o poeta tem o órgão da poesia porque é poeta; mas não nos diz por que ele é poeta, porque o é, em vez de seu irmão, embora educado nas mesmas condições; e, assim, em relação a todas as outras aptidões. Só o Espiritismo o explica. ””

Ou:

“”Com efeito, se a alma fosse criada ao mesmo tempo que o corpo, a do sábio do Instituto seria tão nova quanto a do selvagem. Então, por que há na Terra selvagens e membros do Instituto? ””

Essa pergunta a ciência não respondeu, mesmo após cento e vinte anos, mais ou menos. Mas pelo que vimos – está na mesma revista espirita que o autor coloca – Kardec não está dizendo as suas considerações, mas o que a frenologia diz. Continuando, Kardec explica no mesmo parágrafo:

“”Direis que depende do meio em que vivem. Seja. Dizei, então, por que homens nascidos nos meios mais ingratos e mais refratários tornam-se gênios, ao passo que outros, que recebem a Ciência desde a infância, são imbecis? Os fatos não provam à evidência que há homens instintivamente bons ou maus, inteligentes ou estúpidos? ””

E explica:

“”É preciso, pois, que haja na alma um germe. De onde vem ele? Pode dizer-se razoavelmente que Deus os fez de todos os tipos, uns chegando sem esforço e outros nem sequer com um trabalho obstinado? Seria isso justiça e bondade? Evidentemente, não. Uma única solução é possível: a preexistência da alma, sua anterioridade ao nascimento do corpo, o desenvolvimento adquirido conforme o tempo vivido e as várias migrações percorridas. Unindo-se ao corpo, a alma traz, pois, o que adquiriu, suas qualidades boas ou más. Daí as predisposições instintivas, de onde se pode dizer com certeza que aquele que nasceu poeta já cultivou a poesia; que o que nasceu músico cultivou a música; o que nasceu celerado, já foi mais celerado.””

Num modo bastante filosófico, não é novidade que há um pensamento que defende que nossa alma tem um conhecimento inato e outros, não existe nada. Os empiristas e os inatistas brigam por essa hegemonia a séculos sem ao menos uma solução, ou seja, os inatistas são socráticos-platônicos e os empiristas são aristotélicos. Sempre lembrando que deve haver no modo cientifico, métodos de referência e não métodos que só interessam ao autor do artigo.

“”Numa única existência, poderá o selvagem adquirir as qualidades que lhe faltam? Seja qual for a educação que lhe derdes desde o berço, dele fareis um São Vicente de Paulo, um sábio, um orador, um artista? Não; é materialmente impossível. E, no entanto, o selvagem tem uma alma. Qual a sorte dessa alma depois da morte? É punida pelos atos bárbaros que ninguém reprimiu? É colocada em igualdade com o homem de bem? Um não é mais racional que o outro. É, então, condenada a ficar eternamente num estado misto, que nem é felicidade, nem infelicidade? Isto não seria justo, porque se ela não é mais perfeita, não dependeu dela. Só podeis sair deste dilema admitindo a possibilidade de progresso. Ora, como pode a alma progredir, a não ser tendo novas existências?”””

Ou seja, o autor do artigo não coloca a primeira parte, que é esta, só colocando o que vem depois. Acho que já ficou claro que o intuito do artigo é apenas uma forma de difamação. Esse artigo foi só uma introdução.


É isso. 
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