terça-feira, 23 de maio de 2017

Instagram – terra dos ressentidos


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Por Amauri Nolasco Sanches Junior
“É preciso ter ainda o caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante. Eu vos digo, tendes ainda o caos dentro de vós” – Nietzsche, Assim Falou Zaratustra, p. 18
 Quando eu postei a foto da minha cadeira de rodas no Instagram eu não me surpreendi quantas curtidas a foto teve, não por ser a cadeira de uma pessoa com deficiência, mas uma cadeira de rodas leva um estereótipo muito poderoso nestes casos. Qual estereótipo? Que a cadeira de rodas é um instrumento para pessoas doentes, pessoas saudáveis não podem estar numa cadeira, pela lógica do senso comum. Um estereótipo é uma generalização de uma imagem graças a uma primeira imagem se gerou a esse conceito, como a cadeira de rodas, na questão de ser um instrumento somente para pessoas doentes. Mas pessoas que quebram a perna, pessoas que tem deficiência, pessoas que estão temporariamente, imobilizadas – no sentido de usar a cadeira de rodas temporariamente – usam também a cadeira de rodas. Eu não sou um doente no sentido do senso comum, eu tenho uma estabilidade de equilíbrio que faz com que eu não fico de pé sozinho e sim, segurando. Existem colegas de muletas que andam de cadeira de rodas em grandes distancias por não aguentarem grandes caminhadas, ou eventos – como na Copa aconteceu várias denúncias de pessoas que levantavam, por causa do estereótipo das pessoas cadeirantes serem apenas paraplégicas – de grandes caminhadas, como o REATECH.

Acho que Nietzsche iria olhar o Instagram e dizer que a maioria são niilistas que ficam mentindo para si mesmo, mas na verdade, não estão acreditando no que realmente postam. Então, postam um mundo que não existe e acham que assim, vão ter uma imagem de pessoas felizes que estão ali somente por achar que aquela felicidade deve ser compartilhada. Mas a questão é: eu quero saber? Eu quero ter esse conhecimento que a pessoa está no Guarujá tomando champanhe em um iate? Acontece que a minha cadeira de rodas é a aceitação da vida como ela deve ser, é o sim ao devir da vida como o impulso da vida enquanto a aceitação daquilo que ela é. Graças a ela eu me locomovo, eu vivo a vida sentindo a textura fisiológica dela ao andar no chão. Nietzsche iria dizer que a cadeira de rodas é o impulso daquilo que eu chamo viver, é o sim daquilo que é a fisiologia da vida enquanto, aceitação da minha trágica verdade. Afinal, a deficiência é uma trágica realidade do senso comum, que Nietzsche iria dizer – com o martelo e seu super bigode – é a caída do abismo rindo e dançando, porque rimos dessa grande tragédia do porvir.

Na verdade, a minha ideia é sempre mostrar as coisas que as pessoas rejeitam ou aquilo que eu gosto, porque afinal, o Instagram é meu. Eu sou um grande nietzschiano no sentido de avaliar o quanto a nossa sociedade é ressentida, o quanto as coisas devem ser “politicamente corretas” para caberem em um mundinho que não existe. Para a imagem das tragédias gregas, a felicidade só era alcançada diante de grandes sofrimentos, tanto é, que Nietzsche vai resgatar isso em seu romantismo na frase que coloquei acima na introdução do texto. O que quer dizer? Que toda a dificuldade diante da vida, sempre tem um ponto que se você não superar ou você fica na situação ou você vai além daquilo. Afinal, não há o caos antes de ter uma estrela brilhante? Não há o caos naqueles bem-sucedidos? A deficiência é um caos superável, um caos que podemos superar no sentido de não se preocuparmos muito com ela. É um abismo que sempre cairmos dançando, uma tragédia que se você não aceitar você não vive, não é o que o senso comum sabe de deficiência.

Mas qual seria uma visão de felicidade? Felicidade, na sua essência, é um estado (sentido) de superação e serenidade; porque você aceitara uma condição e não vai culpar o outro. Acontece que esse estado de felicidade é muito raro e nem todo mundo consegue esse tipo de estado, porque temos um momento alegre e não feliz. Ter felicidade é estar satisfeito, uma consciência plenamente satisfeita, contentamento ou bem-estar. Mas quem realmente sente isso só com objetos? Veja, não estou dizendo que as pessoas não devem ter nada, mas tudo é um conjunto dentro do ser e do ter, porque assim, se tem um equilíbrio. Satisfazendo aquilo que se tem sem achar que aquilo está bom, mas não que aquilo é pouco, aquilo é o bastante naquele momento. O equilíbrio é respeitar você mesmo, respeitar o que você é de verdade. Existe pessoas que julgam, acham que são justas e respeitam a vida. Todos não estão na felicidade, estão em um momento alegria, porque ser alegre, ou seja, ter prazer. Enquanto a felicidade é um estado de satisfação com uma consciência plena dessa satisfação, sempre em contentamento bem-estar.


Minha cadeira de rodas não é feia, é impossível nesse mundinho perfeito e maravilhosos. 


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