
Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Não é segredo que eu sou libertário, então para mim o maior
culpado de toda essa “baderna” é o ESTADO, pois, para se manter e manter sua
posição de hegemonia, ele rouba e vai coibir seja quem for. Todas essas
gravações e delações não me surpreendem, o que me surpreende é a rapidez que
esse processo vem ganhando corpo, ficando cada vez mais forte. Acho que estamos
entrando num outro ponto da discussão política brasileira, porque isso
transcende a discussão direita e esquerda. A pergunta que fica é: o que fazer
quando o debate não tem saída nenhuma? O que fazer quando a nossa própria
educação está totalmente dentro de um lado do debate, eles dão só um lado da
história.
Eticamente, estamos atrelados dentro de uma resolução de
sempre achar que existe um lado da história e não há, devemos ter critério crítico
e não espalhar notícias sem a fonte confiável. Há isso? Não. As pessoas ainda
ficam em suas “bolhas” e não enxergam o que é obvio numa discussão política, há
grandes interesses para parar a operação lava-jato e são corporações poderosas,
políticos influentes, que sempre querem dar um “jeitinho” para espalhar
notícias falsas. Daí temos que ter em critério duas coisas: as fontes que essas
notícias foram veiculadas (como há muitas fake News por ai dizendo qualquer
bobagem), ser extremamente cético na notícia e de onde ela está. Eu,
particularmente, uso a peneira de Sócrates que para mim é muito útil (a lei
moral nisso está além se é mesmo do filósofo ou não).
A primeira questão dessa peneira é: será que a noticia é
verdade? Etimologicamente, verdade vem do latim “veritas” que quer dizer “real, aquilo que é verdadeiro”, que por
sua vez, vem de “verus” que quer
dizer “real”. Os gregos tinham uma outra concepção de verdade que eles chamavam
de “aletheia” que queria dizer o
não-oculto ou não escondido, portanto, podemos até dizer que a verdade para
Sócrates é aquilo que não era oculto. E o que é oculto neste caso? A intenção
que isso é dito, ou seja, a intenção sempre vem junto com o caráter (ethos) e para os gregos o “ethos” – mais ainda acentuado em
Sócrates – vem sempre com aquilo que é o bem, a intenção honrosa de ter feito
aquilo que lhe é oculto.
A segunda questão da peneira é: será se isso que estão
falando é mesmo uma bondade? Bondade vem do latim “bônus” que quer dizer bom, agradável
e que traz benefício. Para Sócrates a bondade (Agathosune) era a essência
daquilo que era virtuoso, aquilo que era a verdadeira virtude (agathos). Mas
prefiro a definição do filósofo alemão Nietzsche, que a bondade é aquilo que
lhe é útil ou aquilo que é nobre. Segundo o próprio filósofo – que pouca gente
cita – é que bonnus era a elite das legiões romanas e que eram os mais
corajosos e cavalheirescos e aquilo que fazemos com coragem, fazemos diante
daquilo que é bom (agathos), porque na nobreza de espirito está a verdadeira
bondade e virtude.
A terceira questão é:
será que aquilo tem alguma necessidade? Necessidade vem do latim “necessitas”
que quer dizer “compulsão, necessidade por atenção”, que por sua vez vem de
“necesse” e sua tradução é “inevitável, indispensável”. Originalmente, queria
dizer “sem volta”. Era formado por NEC, “não”, mais CEDERE “recuar, ceder”. Para
os gregos – porque Sócrates era grego – a necessidade, a anánké, era uma deusa
e era mãe das moiras (destino), onde era casada com o deus Moros (do destino e
da morte). Tinha também o significado de força restrita que era um tipo de
força que era importante para algum desempenho.
Diante dessa peneira o que temos? A verdade de algum fato, a
bondade (poderíamos colocar como intenção) do sujeito que informou o fato e por
último, qual a necessidade desse fato para a vida da sociedade. A ética, entra
como um filtro em nossas decisões para levar adiante aquilo que me é útil ou
não (daí caímos nas graças de Kant), onde a nossa atitude pode virar uma
atitude universal (onde pode virar uma faca de dois gumes, porquê podemos
vitalizar algo pouco ético); ou podemos filtrar essa informação de modo a ser a
mais verdadeira informação. Além dessa peneira podemos fazer a seguinte
indagação: a quem interessa esse tipo de notícia? A quem podemos presumir essa
confusão de informações? Essas questões devem ser analisadas e fazemos uma crítica.
A quem interessa a esse tipo de notícia, estamos carecas de
saber, porque o foco do juízo (ato, processo ou efeito de julgar), faz de nós reféns
daquilo que acreditamos. Esse é o problema (aquilo que é observado e não temos
uma única visão), nossos valores são aquilo que somos e a nossa moral é aquilo
que devemos ser, então, da onde vem a crença? Kant nos diria que temos três categorias
de razão: a primeira é a ideia psicológica (alma), a segunda e a ideia cosmológica
(do mundo como totalidade) e a terceira é a ideia teológica (Deus). A ideia
aqui mais evidente é a visão cosmológica que temos, pois, tem a ver como vimos
o mundo e julgamos diante dos nossos próprios valores. Assim, segundo uma crítica
mais profunda, vai construir a ética de cada indivíduo. Por exemplo, se uma
pessoa é corrupta é porquê seus valores foram construídos diante da vantagem de
se ter mais para viver melhor, mesmo que esse fim, justifique o meio onde isso foi
conseguido. Ou seja, não interessa se o dinheiro é licito ou não, ele está já convencido
que aquilo é seu por direito (seja lá o que for que está no seu juízo), e vai
fazer de tudo para conseguir esse tal dinheiro ou outras coisas. Isso é fato, só
ver também a visão de um ladrão, ele está convencido que aquilo é dele, então,
ele vai coibir para conseguir aquilo que lhe disseram que é o direito dele ter.
Talvez, por isso mesmo, a publicidade e a mídia seja tão criticada.
Mas uma questão tem que ser levantada: se há um juízo cosmológico
do ser, como somos levados dentro de uma “bolha” ideológica? Então, Kant
colocou aquilo que ele “achava” ser universal e não é, porque o juízo cosmológico
– aquele que enxerga o mundo – é regido pelo que tenho de valores dentro da
minha ética. Daí acontece algo perigosíssimo, isso virar um imperativo categórico,
porque se faço um ato corrupto de enxergar só aquilo que me interessa, então,
eu estou fazendo isso virar uma lei universal. Mas podem me perguntar: “Ah Amauri,
Kant talvez não esteja falando da ética justa e virtuosa só? ”. Daí eu
respondo: se falou, não especificou isso, se não especificou isso, então,
qualquer ato que esteja sendo feito, vira um ato universal graças ao emaranhamento
da filosofia kantiana na nossa cultura. O desastre do imperativo categórico, não
é que ele traz de bem, mas o que ele traz de mal. Às vezes, te enche o saco você
está sossegado no seu Facebook e várias pessoas repetem a mesma coisa, como se não
pudéssemos usar a criatividade para fazer suas próprias indagações. Muito embora
Kant faz uma crítica muito acida quanto a isso na resposta “O QUE É O ILUMINISMO?
”, dizendo que esse tipo de sujeito é um sujeito que está na menoridade (aquele
que tem preguiça de pensar), ele também deu um álibi perfeito para isso ocorresse
fazendo de cada ética uma moral universal.
Mas tem um outro porem nesta história, porque estamos na era
tecnológica (tecné), então, a redes sociais te prendem em bolhas ideológicas para
melhor te vender coisas. Kant, se visse agora o que virou seu imperativo,
poderia perfeitamente, acusar as agências de publicidade e as mídias em geral
(porque não, o sr Zuckerberg e seu Facebook), usar indevidamente seu
imperativo. Mas, um Olivetto pode responder para Kant, que ele mesmo ao colocar
em suas três críticas mais seus livros mais ou menos, conhecidos, fez desse
pensamento uma lei universal. Seria como uma faca, a faca é apenas um objeto de
uso, que pode servir para passar manteiga no pão; porém, a faca também pode ser
uma arma branca e pode perfurar um órgão vital e matar uma pessoa. O imperativo
categórico kantiano serve para atos justos e virtuosos, assim como, para atos ilícitos
e sem a menor moral. Ou seja, o imperativo de Kant se torna amoral (além de uma
só moral), passando como uma arma branca do convencimento.
Temos as peneiras de Sócrates para nos basearmos o que é
aquilo, para quem é aquilo e o porquê é aquilo, e temos o imperativo categórico
de Kant que é um juízo cosmológico que deve ser pensado seu ato, porque seu ato
pode ser universalizado. O que nos falta nesta análise? Uma coisa importante,
que tem a ver com a vontade de cada pessoa, porque na vontade que
potencializamos nossos atos. Aristóteles, trezentos anos antes de cristo, distinguiu
o que era o ato e o que era a potência do ato. Se quero comer um chocolate, o querer
ainda passa pela potência que aquilo vire um ato. Como? Indo em algum lugar e
comprar um chocolate, ou seja, o querer que era uma potência em só imaginar
pela vontade, mas virou um ato de eu ir até um local e comprar o chocolate. Os gregos
tinham potência como “virtu” que veio o termo virtude (conformidade com o bem),
como virtual (potencialização). Aqui está a questão, virtual e virtude pode
existir num mesmo ato, porque a virtude é aquilo que está em conformidade com o
bem e virtual, é uma potencialização daquilo que será ou não um objeto ou
objetivo. A virtude (como substancia), acaba sendo uma virtualização do ato de
se conformar com o bem. Então, tanto o bem, quanto o mal é apenas uma virtualização
das escolhas que serão ou não, feitas.
Para Aristóteles temos uma essência e se temos uma essência essa
essência deveria ser respeitada, como se eu devesse apenas escrever, se meu dom
é esse, deveria ser assim. Embora eu tenha realmente o dom, mas eu escolhi ser
um escritor além de escolher ser um publicitário, um técnico de informática e filósofo.
O gostar é a diferença, o gostar vem de gosto, gosto daquilo que te dará prazer
e alegria (felicidade é algo muito mais profundo), porque a vida se vive pelo
gosto, pela sensação de sentir. Daí chegamos ao martelo de Nietzsche que vai
dizer – como Epicuro tinha dito muito séculos atrás dele – que o real momento
da vida não é pensar muito, não é ficar preocupado com “frutriquinha” que não vai
te trazer nada é viver. Quer fazer algo pela sociedade? Dê o conhecimento
verdadeiro, que aliás, para Nietzsche, não existe verdade absoluta. Ora,
ficamos sem chão nenhum, porque eu não posso repassar o que eu mais gosto,
aquilo que acredito. Acreditar não é critério, acreditar em um mundo comunista
é o mesmo que acreditar em um paraíso católico, por exemplo, mas devemos sempre
ver aquilo que é real e aquilo que é real é aquilo que potencializa nosso ato. Espinosa,
filósofo luso-holandês, disse algo parecido (talvez, Nietzsche tenha dado uma releitura
da filosofia de Espinosa), que a potência vai ganhando corpo até chegar ao cume
que é a felicidade (eudaimonia).
Ora, pegamos um extremo moral dos intervencionistas e o no
outro lado os libertários. Os libertários defendem uma lógica, que somos
animais racionais e deveríamos querer muito mais a liberdade do que a opressão e
a violência. Os intervencionistas querem a opressão e a violência, não em nome
de ima ética, mas em nome da sua vingança. Nietzsche iria dizer que os libertários,
que querem a liberdade, são a potencialização do homem perante a dependência de
um ídolo que é o ESTADO (embora achasse que a anarquia era a irmã mais nova do
socialismo, mas, olha a época dele e vê se ele tinha meio de ter outra opinião).
Os intervencionistas são os niilistas ressentidos que sentem alegria pela
morte, pela coerção, pela violência; tudo que é sentimento não pode ser por imposição,
mas o homem superando o próprio homem (esqueçam o que o nazismo e o fascismo
fez com sua filosofia, ok?). Quando você ataca a esquerda, você é niilista,
quando você ataca a direita você é niilista, porque você tem alma de rebanho e
se leva com qualquer informação. Você precisa de um “mito” para pensar, você precisa
de um motivo externo para se sentir algo ou alguém e não é isso, não se precisa
de nada externo, mas algo interno e a ética começa com o olhar em si mesmo,
fazendo o que deve ser feito.
Tai a reflexão, quem tem olhos enxergue.
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