
Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Dias desses eu estava lendo um artigo de um site que se
chamava: “MÚSICA BRASILEIRA ESTÁ CADA VEZ MAIS POBRE E BANAL; DE QUEM É A CULPA?”, e me perguntei de quem realmente é a culpa. O autor da pesquisa disse que
esse fenômeno já começa nos anos 60 com a jovem guarda onde havia letras
simples e também, a massificação do rap nos anos 80 que despontou a coisa de
vez. Acho que houve um erro substancial nesse estudo muito importante, porque
ao mesmo tempo que houve uma banalização das letras musicais nos anos 60 e nos
anos 80 (daí foi indo até os anos 90 em diante), também houve um decaimento
dentro da educação e não é muito difícil de ver isso. A título de exemplo, num
curso de administração técnico aqui em São Paulo, a apostila (paga com o
recurso público e os alunos tem que pagar de novo), não é atualizado dês de
2010 e que quer dizer que estão pouco se linchando com a educação do país. Quando
se entra em crise e falta dinheiro em algum setor, sempre se tira da educação,
portanto, quando achamos que essas músicas simplórias são cultura, alguma coisa
temos de errado.
Claro que quando não há educação e quando não há um
vocabulário amplo, não dá mesmo para ter letras muito mais elaboradas e não
dará em nenhum momento, ouvi uma música histórica dos moldes de um Iron Maiden.
Nem precisamos ir muito longe – nas terras inglesas para sermos mais exatos –
quando a gente vê pessoas cantando músicas de Raul Seixas sem entender a sua
profundidade ou até mesmo, a Pitty e o Legião Urbana. O Faustão e o Gugu
Liberato, somente coloca músicas que o povo quer ouvir e sabe cantar, por exatamente,
essa simplificação cultural que criou músicas e livros da cultura de massa.
Isso não é um fenômeno só das periferias, mas um fenômeno da cultura como um
todo. Só ver pessoas muito bem de vida, mas que ouve e participa de uma cultura
empobrecida e banalizada sertaneja ou fanqueira. Daí entramos em Nietzsche
quando ele diz:
“PERCORRESTES O CAMINHO QUE MEDEIA DO VERME AO HOMEM, E AINDA EM VÓS RESTA MUITO DO VERME. Noutro tempo fostes macacos, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os macacos."
Quem conhece o mito de Medeia sabe que ela era uma princesa
que largou tudo por causa de Jasão e ao ver seu amado querer casar com outra
princesa, se sente traída e mata o próprio filho levando através dos ares com a
carruagem do deus Hélio. Medeia é o caso que Nietzsche vai mostrar o que é ser
ressentido, porque a traição – o que ela pensava, porque Jasão falou a ela – é
um dos sintomas do ressentimento. Somos uma cultura ressentida, somos um povo
que aceitamos rápido a ideia que quem é bem-sucedido nada fará para os menos.
Assim, Nietzsche diz que o homem de Medeia ao verme, ainda sim, seria um verme.
Um animal rastejante que ficaria no chão entre as sujeiras, os estercos, as
lamas. Quando nos deparamos com pessoas que se rastejam entre a traição e o
amor, poderíamos de chama-las de vermes, de seres que se conformam com a mediocridade
das suas vidas vazias e pobres dentro de sentimentos abaixo de um sentimento
nobre. A nobreza aqui não é uma situação de status, mas a nobreza espiritual
enquanto ser que se encontra ao mundo seu lugar. Péssima expressão: “não sou
ninguém na fila do pão”, expressa muito bem a cultura dos fracassados.
Mas porque uma cultura dos fracassados? Imaginamos antigamente,
o Brasil sendo uma colônia e o colonizador pouco se importasse com a colônia e
pouco se importava com que acontecia aqui. Nossa cultura é massificadora e
socializada, porque quem colonizou junto com os bandeirantes foram os jesuítas.
Sem educação. Sem nenhum recurso tecnológico muito complexo e assim, sempre se
teve que adaptar e arranjar jeito em se viver aqui. Os bandeirantes ficaram os
coronéis e os jesuítas ficaram aqueles que amansavam o “povo”. Sempre foi
assim, a religião não é uma religação do homem a sua origem metafisica, mas é
uma pacificadora popular que amansa os mais pobres para os poderosos (vulgo coronéis
de Brasília), sempre dominarem. A música nada mais é do que o mesmo patamar da religião,
pois, ela com suas letras de pessoas fracassadas, pessoas que nada são, que não
tem nada (nem quem se ama), ensina a criança dês de cedo que ela é nada. Aí
criamos uma cultura dos fracassados ressentidos, dos que dependem do governo,
dependem da religião, dependem do ESTADO para ter e para sobreviverem. Felizes seriemos
se a corrupção e o descaso fossem de um partido só, é generalizado, é cultural
e essa cultura começa quando uma mãe com uma criança cadeirante não consegue
entrar no ônibus por causa que o povo não quer dar licença. Isso não é um tipo
de corrupção? Isso não é um comportamento ressentido?
Nietzsche diria que todo tipo de fuga metafisica é uma
maneira de se esconder dentro de uma vida que nunca vai existir, em contrapartida,
não há nenhum sentimento nobre. Daí chegamos a parte do “macaco” nietzschiano onde
sabemos que são nossos primos de espécie, pois, somos hominídeos que viemos do
mesmo tronco dos símios. Os chipanzés são os mais próximos de nós geneticamente,
muito mais os bonobos, são na maioria das vezes, animais imitadores. Não nos
parece um pouco lógico? Por que algo é popular? Sempre quando vimos uma coisa
sendo popularizada e queremos ser populares, podemos não gostar, mas temos uma
atitude de imitação para ser aceito. Isso, muito provavelmente, mexe com a
parte primitiva do nosso cérebro que se chama a parte reptiliana. A trágica história
reptiliana não acaba só na imitação, ela também acomete na parte do instinto
sexual animal, na violência desmedida, na parte da emoção destrutiva animal. Portanto,
o ressentido gosta de tudo aquilo que lhe faz apenas um símio qualquer, um
pedaço de carne movido entre duas pernas que faz o que todo mundo faz, ouve o
que todo mundo ouve, assiste o que todo mundo assiste. Então, chegamos no funk
carioca onde há ostentação, há sexualidade símia, há a pior calamidade
sentimental e do espirito de rebanho que já se houve dentro da história
evolutiva humana. Se isso é uma cultura, estamos degenerando a raça humana em
uma coisa, um animal que se reproduz e sobrevive no meio do caos do mundo. Aliás,
o caos e a lama que o pai o colocou e ele gostou dessa lama.
A complexidade não é ter letras difíceis, mas uma noção utilizada
dentro da filosofia e em áreas como a epistemologia (filósofos como Anthony Wilden
e Edgar Morin), na linguística, pedagogia, matemática, química e muito outras. O
pensamento complexo, não é o quanto há complexidade em uma nota musical, mas o
quando faz de ligação nessas propostas de pensamento. Dizer que Anitta com sua “paradinha”
é mais complexo do que Legião Urbana é de se estranhar, ou não, porque também
sabemos a tendenciosidade de uma cantora de sucesso. Quem sabe programação –
como eu por ser técnico de informática – sabe que software são programados a
dizer e a fazer o que o programador codificou dentro das linhas algorítmicas. Se
escrevo esse texto, por exemplo, esse software foi programado para escrever esse
texto e mostrar as letras e as especificações que devem conter o texto. Então,
softwares não são muito confiáveis para mostrar complexidade em músicas. E outra
coisa, uma música sintética (artificial), nunca é mais complexa do que uma música
com três acordes, porque são músicas programadas. Portanto, a única complexidade
que eu ponho nesse estudo é o porquê o autor enalteceu Anitta, enalteceu Chico Buarque
e colocou bandas e cantores que contestam o poder e fazem o povo contestar lá para
baixo? Estranho, não? Não é uma evolução musical, a música sempre teve o mesmo
papel em todos esses anos de sociedade e quem sabe, começou lá na pré-história.
O paradoxo é o porquê o rock sempre tem papel importante na contestação
e aqui, não passa de radicalidade, obra do demônio, onde a pobreza sempre vai
aumentar por falta de uma educação. Eleger alguém que viveu na mesma margem, não
é garantia de reconhecimento, porque o poder corrompe e ilude, as pessoas têm
que pensar por si mesmas e o sertanejo e o funk, não são uma ferramenta para
isso. Então, pensar sempre vai ser logo existir.
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