terça-feira, 4 de julho de 2017

A complexidade de Anitta e a música dos ressentidos




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Dias desses eu estava lendo um artigo de um site que se chamava: “MÚSICA BRASILEIRA ESTÁ CADA VEZ MAIS POBRE E BANAL; DE QUEM É A CULPA?”, e me perguntei de quem realmente é a culpa. O autor da pesquisa disse que esse fenômeno já começa nos anos 60 com a jovem guarda onde havia letras simples e também, a massificação do rap nos anos 80 que despontou a coisa de vez. Acho que houve um erro substancial nesse estudo muito importante, porque ao mesmo tempo que houve uma banalização das letras musicais nos anos 60 e nos anos 80 (daí foi indo até os anos 90 em diante), também houve um decaimento dentro da educação e não é muito difícil de ver isso. A título de exemplo, num curso de administração técnico aqui em São Paulo, a apostila (paga com o recurso público e os alunos tem que pagar de novo), não é atualizado dês de 2010 e que quer dizer que estão pouco se linchando com a educação do país. Quando se entra em crise e falta dinheiro em algum setor, sempre se tira da educação, portanto, quando achamos que essas músicas simplórias são cultura, alguma coisa temos de errado.

Claro que quando não há educação e quando não há um vocabulário amplo, não dá mesmo para ter letras muito mais elaboradas e não dará em nenhum momento, ouvi uma música histórica dos moldes de um Iron Maiden. Nem precisamos ir muito longe – nas terras inglesas para sermos mais exatos – quando a gente vê pessoas cantando músicas de Raul Seixas sem entender a sua profundidade ou até mesmo, a Pitty e o Legião Urbana. O Faustão e o Gugu Liberato, somente coloca músicas que o povo quer ouvir e sabe cantar, por exatamente, essa simplificação cultural que criou músicas e livros da cultura de massa. Isso não é um fenômeno só das periferias, mas um fenômeno da cultura como um todo. Só ver pessoas muito bem de vida, mas que ouve e participa de uma cultura empobrecida e banalizada sertaneja ou fanqueira. Daí entramos em Nietzsche quando ele diz:

“PERCORRESTES O CAMINHO QUE MEDEIA DO VERME AO HOMEM, E AINDA EM VÓS RESTA MUITO DO VERME. Noutro tempo fostes macacos, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos os macacos."

Quem conhece o mito de Medeia sabe que ela era uma princesa que largou tudo por causa de Jasão e ao ver seu amado querer casar com outra princesa, se sente traída e mata o próprio filho levando através dos ares com a carruagem do deus Hélio. Medeia é o caso que Nietzsche vai mostrar o que é ser ressentido, porque a traição – o que ela pensava, porque Jasão falou a ela – é um dos sintomas do ressentimento. Somos uma cultura ressentida, somos um povo que aceitamos rápido a ideia que quem é bem-sucedido nada fará para os menos. Assim, Nietzsche diz que o homem de Medeia ao verme, ainda sim, seria um verme. Um animal rastejante que ficaria no chão entre as sujeiras, os estercos, as lamas. Quando nos deparamos com pessoas que se rastejam entre a traição e o amor, poderíamos de chama-las de vermes, de seres que se conformam com a mediocridade das suas vidas vazias e pobres dentro de sentimentos abaixo de um sentimento nobre. A nobreza aqui não é uma situação de status, mas a nobreza espiritual enquanto ser que se encontra ao mundo seu lugar. Péssima expressão: “não sou ninguém na fila do pão”, expressa muito bem a cultura dos fracassados.

Mas porque uma cultura dos fracassados? Imaginamos antigamente, o Brasil sendo uma colônia e o colonizador pouco se importasse com a colônia e pouco se importava com que acontecia aqui. Nossa cultura é massificadora e socializada, porque quem colonizou junto com os bandeirantes foram os jesuítas. Sem educação. Sem nenhum recurso tecnológico muito complexo e assim, sempre se teve que adaptar e arranjar jeito em se viver aqui. Os bandeirantes ficaram os coronéis e os jesuítas ficaram aqueles que amansavam o “povo”. Sempre foi assim, a religião não é uma religação do homem a sua origem metafisica, mas é uma pacificadora popular que amansa os mais pobres para os poderosos (vulgo coronéis de Brasília), sempre dominarem. A música nada mais é do que o mesmo patamar da religião, pois, ela com suas letras de pessoas fracassadas, pessoas que nada são, que não tem nada (nem quem se ama), ensina a criança dês de cedo que ela é nada. Aí criamos uma cultura dos fracassados ressentidos, dos que dependem do governo, dependem da religião, dependem do ESTADO para ter e para sobreviverem. Felizes seriemos se a corrupção e o descaso fossem de um partido só, é generalizado, é cultural e essa cultura começa quando uma mãe com uma criança cadeirante não consegue entrar no ônibus por causa que o povo não quer dar licença. Isso não é um tipo de corrupção? Isso não é um comportamento ressentido?

Nietzsche diria que todo tipo de fuga metafisica é uma maneira de se esconder dentro de uma vida que nunca vai existir, em contrapartida, não há nenhum sentimento nobre. Daí chegamos a parte do “macaco” nietzschiano onde sabemos que são nossos primos de espécie, pois, somos hominídeos que viemos do mesmo tronco dos símios. Os chipanzés são os mais próximos de nós geneticamente, muito mais os bonobos, são na maioria das vezes, animais imitadores. Não nos parece um pouco lógico? Por que algo é popular? Sempre quando vimos uma coisa sendo popularizada e queremos ser populares, podemos não gostar, mas temos uma atitude de imitação para ser aceito. Isso, muito provavelmente, mexe com a parte primitiva do nosso cérebro que se chama a parte reptiliana. A trágica história reptiliana não acaba só na imitação, ela também acomete na parte do instinto sexual animal, na violência desmedida, na parte da emoção destrutiva animal. Portanto, o ressentido gosta de tudo aquilo que lhe faz apenas um símio qualquer, um pedaço de carne movido entre duas pernas que faz o que todo mundo faz, ouve o que todo mundo ouve, assiste o que todo mundo assiste. Então, chegamos no funk carioca onde há ostentação, há sexualidade símia, há a pior calamidade sentimental e do espirito de rebanho que já se houve dentro da história evolutiva humana. Se isso é uma cultura, estamos degenerando a raça humana em uma coisa, um animal que se reproduz e sobrevive no meio do caos do mundo. Aliás, o caos e a lama que o pai o colocou e ele gostou dessa lama. 

A complexidade não é ter letras difíceis, mas uma noção utilizada dentro da filosofia e em áreas como a epistemologia (filósofos como Anthony Wilden e Edgar Morin), na linguística, pedagogia, matemática, química e muito outras. O pensamento complexo, não é o quanto há complexidade em uma nota musical, mas o quando faz de ligação nessas propostas de pensamento. Dizer que Anitta com sua “paradinha” é mais complexo do que Legião Urbana é de se estranhar, ou não, porque também sabemos a tendenciosidade de uma cantora de sucesso. Quem sabe programação – como eu por ser técnico de informática – sabe que software são programados a dizer e a fazer o que o programador codificou dentro das linhas algorítmicas. Se escrevo esse texto, por exemplo, esse software foi programado para escrever esse texto e mostrar as letras e as especificações que devem conter o texto. Então, softwares não são muito confiáveis para mostrar complexidade em músicas. E outra coisa, uma música sintética (artificial), nunca é mais complexa do que uma música com três acordes, porque são músicas programadas. Portanto, a única complexidade que eu ponho nesse estudo é o porquê o autor enalteceu Anitta, enalteceu Chico Buarque e colocou bandas e cantores que contestam o poder e fazem o povo contestar lá para baixo? Estranho, não? Não é uma evolução musical, a música sempre teve o mesmo papel em todos esses anos de sociedade e quem sabe, começou lá na pré-história.


O paradoxo é o porquê o rock sempre tem papel importante na contestação e aqui, não passa de radicalidade, obra do demônio, onde a pobreza sempre vai aumentar por falta de uma educação. Eleger alguém que viveu na mesma margem, não é garantia de reconhecimento, porque o poder corrompe e ilude, as pessoas têm que pensar por si mesmas e o sertanejo e o funk, não são uma ferramenta para isso. Então, pensar sempre vai ser logo existir. 



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