segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Democracia burocrática



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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Nós, os brasileiros, não sabemos ser democráticos e isso é bem claro em alguns aspectos. Primeiro, adoramos um ESTADO que nos prejudica de todas as maneiras e temos horror a privatizações, sempre argumentando que estamos dando nosso patrimônio ao capital estrangeiro. Para começar, o capital estrangeiro, principalmente o capital norte-americano, não precisa de privatizações para ganhar dinheiro à custa de povos estrangeiros e isso é bem claro, para quem tem uma visão muito mais ampla de política do que a das mídias manipuladoras. Sempre acreditávamos, pelo menos eu, que o capital estrangeiro ganhava com privatizações e com empresas privadas e essa é a ingenuidade, pois com a estatização se tem a burocratização que aumenta ainda mais a corrupção. Aliás, a corrupção é “fruto” direto da burocratização tão enraizada ainda na nossa cultura luso-brasileira (Portugal vive situações semelhantes à nossa). Depois, esse amor todo pelo ESTADO e a ilusão de democracia, é como ter um escorpião de estimação e mesmo ele te picando, sempre vai  tê-lo sempre perto de você.  Claro, que a democracia é o melhor regime que temos, mesmo o porquê, eu como escritor não seria “idiota” para querer uma ditadura: mas, acho que em alguns aspectos a democracia é injusta e não visa o bem-estar da maioria, e sim, sempre vai visar aqueles que conseguem manipular melhor. Mas, sem dúvida, é o melhor regime que a humanidade tem hoje.

Todo esse problema tem raízes muito fortes com o nosso “coronelismo” com o qual fomos sempre educados e não me venha achar que você respeita a democracia que não, não respeita não. O brasileiro (eu não tenho isso de verdade, portanto, eu me excluo “fora dessa”), gosta muito de ser bajulado, porque por natureza, nós seres humanos, gostamos de pessoas que concordam conosco. Eu já fui muito assim e sei muito bem como que é, sempre o que pensamos está certo, sempre o que acreditamos está certo, sempre o que lemos está certo e o pior, o Deus que oramos sempre é o verdadeiro. O resto é coisa do “demônio” ou coisa do tipo. Toda essa baderna não é culpa das escolhas eleitorais dos cidadãos é sempre culpa de algo externo, a culpa de alguns não darem certo é sempre do outro e não a nossa culpa. Quem mesmo compra a carta de motorista do filho? Quem dá caixinha para ser o mais “visado” da rua e agradar? Quem suja a rua com sofás, pneus, peças de carro velhas e etc e colabora com as enchentes? Claro, que os “esclarecidos” vão dizer que são os “demônios” que rodam em volta e induz eles a jogar esse lixo ou a votar nesses políticos, mas quem vota ou quem suja é cada um de nós com nossas próprias escolhas. Eu não posso ter ou dar a minha opinião, pois, passo sempre no lado do “inimigo” e não vendo livros, não vendo as minhas coisas e o que é pior, algumas empresas espionam os perfis das redes sociais para ver qual a sua opinião e qual é a sua conduta religiosa, sua conduta ideológica e a sua deficiência, se você tiver uma, sua escolha sexual e se você tende a ser um “subversivo”. Como podemos ser democráticos desse jeito?

Uma vez eu fui expulso de um grupo só porque disse que o pessoal gostava de ver homens de shortinho correndo atrás de uma bola depois que um sujeito disse que não poderia participar de um debate no grupo por causa do jogo. Ora, quem em sã consciência perderia dizer que perderia um debate importante por causa de um “jogo medieval infantil”? O futebol (latinizaram o Football), para quem não sabe, era um jogo que adultos não jogavam e sim, crianças da Era Medieval. Até há uma briga entre a China e a Inglaterra quem inventou o jogo primeiro, mas sem dúvida nenhuma, é um jogo infantil e isso prova como somos infantis e queremos sempre algo lúdico para torcer, algo lúdico para ter como um “herói”. Sempre quando pensamos em herói, pensamos em um semideus, um alguém que vive salvando todo mundo. Algo que não existe. Mas voltamos ao caso do grupo. O grande estopim para eu ser expulso do grupo foi o sujeito me mandar ver novela, algo que mostra a infantilidade e a bipolaridade de nossos brasileiros adultos, eu só respondi (foi um crime gravíssimo), que não vejo TV e fui expulso. Fui tomar explicações com a dona do grupo e ela me chamou de arrogante. Podemos até fazer um exercício filosófico para saber o porquê eu, na minha sinceridade, fui chamado de arrogante e que não era bem-vindo ao grupo.

Primeiro, eu cometi o crime de não gostar do que a grande maioria gosta e isso é fato, o nosso povo não tolera que não concorda com eles. Pode até saber que aquela informação é mentirosa, pode até saber que aquele time está ganhando porque o juiz roubou ou até, que o carro mais veloz da F1 é o favorito para ganhar; mas por acomodação, a maioria da humanidade “fecha seus olhos” para admitir que são feitos de idiotas. Não idiotas no sentido moderno para criar um estereotipo entre o normal e o anormal, para de repente, os deficientes mentais (que mesmo com toda as informações possíveis, ainda são chamados de idiotas). Não é isso que quero dizer, quero dizer o idiota do mundo clássico grego que se fechava para si e não queria participar da sua polis, era o idiotike que era antônimo de politikon, ou seja, se você não era um politikon (cidadão preocupado com a polis), você era um idiotike (um cara que não quer saber da polis). Pessoas fechadas se tornam alvo fáceis de políticos e gente inteligentinha, que gosta de manipular as pessoas em sua volta. O idiota clássico sempre me passa a imagem da “loira burra” que não enxerga ou finge não enxergar a realidade.

Segundo, nós sabemos que todo mundo no brasil que diz com segurança e bastante certeza o que pensa, fica com a imagem de arrogante e metido. Porque somos uma cultura construída pela igreja católica que gosta da imagem do “humilde” que se humilha e faz voto de pobreza, simplesmente, para entrar no reino dos céus. Somos um país católico e fim de conversa e não me venha me dizer que a comunidade evangélica está crescendo, que até os protestantes daqui tem um ar de católico que faz voto de pobreza dizendo ser uma provação de Deus. Então, todas as pessoas seguras e que fazem bastante sucesso são os “metidos” e arrogantes da história, porque Jesus disse que era mais fácil um camelo entrar num buraco da agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Mas a explicação é outra e muito mais profunda do que uma simples promessa de pobreza (talvez, eu escreva um texto sobre isso um dia). Até mesmo, o espiritismo, tem um ar católico e canonizar pessoas importantes (mesmo sabendo que são espíritos em evolução moral) ou fazer rituais, que não é o objetivo. Isso mostra que sim, o Brasil é um país católico, temos aversão ao sucesso, temos aversão a tudo que o outro conquista e é culturalmente, aceitável. Uma prova claríssima é a cultura protestante norte-americana, eles não têm aversão ao sucesso, a américa latina, tem. Portanto, eu sou arrogante em dizer que quem está seguro da sua sexualidade não brigaria por causa dos “homens de shortinho” e sou metido por não vê tv. Onde já se viu uma pessoa não vê tv nesse mundo? Onde já se viu você não gosta do football? Isso mostra perfeitamente, que burocratizamos a amizade.

Ser democrático é ser ético consigo mesmo e ter segurança daquilo que você quer para você, pois se você este seguro do que você é, não vai encrenca com a opinião do outro. Se sou contra o a esquerda socialista (existe milhares de tipo de esquerda), não vou encrencar com quem é a favor porque eu sei do que acredito. Não vou ter uma discussão medíocre e fica chamando a pessoa de “mortadela” ou “petralha”, mesmo o porquê, isso mostra muita o grau de imaturidade que se tornou a discussão política. Só a nível de exemplo, vi dias desses uma postagem que mostrava o que parecia um fragrante do filosofo Mario Sergio Cortella numa convenção do PT. Ora, ele nunca escondeu que era de esquerda e sempre disse que foi sim filiado ao PT e outra, pode ser cruel o que vou dizer aqui, mas não vou deixar de ler seus livros por causa disso, mesmo não gostando do PT. As discussão política, não pode virar torcida organizada de football, mesmo o porquê, saiu do ramo político, todo mundo lá é amigo e “cumpanheiro”. Eles sim “democratizam” ate mesmo a “roubalheira” e lá funciona a democracia, o povo mesmo, não é democrático e não sabe pensar por si mesmo.


Burocratizamos a amizade, burocratizamos os relacionamentos, monarquizamos a paternidade, burocratizamos o casamento, burocratizamos a aceitação. Se pensarmos profundamente, até as redes sociais são burocratizadas, são reduto do fascismo popular que assola o país ainda como se fosse bonito e certo. É cristão rejeitar o outro por uma deficiência física ou uma escolha sexual? É uma atitude ética ficar expondo crianças doentes, pessoas necessitadas, montagens descaradas em nome de uma vaidade disfarçada? Acho que na essência, a filosofa Marcia Tiburi tem razão (tanto relutei, mas é bem a verdade), somos sim, um povo fascista. 




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