sábado, 3 de dezembro de 2016

Mitos e Heróis

Resultado de imagem para heroi distopico




Por Amauri Nolasco Sanches Junior

O termo mito vem do grego antigo “MYTHÓS” que quer dizer “discurso”. Podemos afirmar, que mito é um discurso que os gregos antigos tinham, para narrar as grandes batalhas ou a origem de um deus ou algum rei corajoso importante. Aliás, se tem que tomar muito cuidado quando tomamos mito ou mitologia como uma mera fantasia, pois, um mito nem sempre eram inventados e sim, tinham um certo proposito de divinizar esse rei ou guerreiro. Também a função do mito na Grécia antiga, era narrar os feitos desses reis e guerreiros transformando em heróis para os mais novos, achassem bonito em seguir aquele mito. Hoje se tem muito a gíria “mitou”, mas poucas pessoas sabem que as pessoas que são chamadas assim são pessoas que tem a narrativa para transformar um ser humano em um herói que não é. Como se diz hoje muitos pensadores, o ser humano espera um “messias” para salvar o mundo, mas todos nós somos seres humanos.

Na história humana sempre se criou “messias” para levar a massa aonde queriam levar, como Homero narrava uma guerra que matou milhares de pessoas, durou 10 anos de cerco grego a Tróia, foram traiçoeiros em colocar soldados dentro de um cavalo de madeira; destruíram a cidade inteira, mataram, pilharam, e sabe se lá mais o quê. Só por que um príncipe raptou uma mulher espartana que fugiu? Estranho não? Há milhares de lendas e mitos que fazem uma “romanização” da história, pois, a verdade pode soar muito cruel aos olhos de quem quer convencer. Pois, quem iria contestar uma guerra de 10 anos por causa de uma única mulher? Hoje sabemos que muito provavelmente, houve causas muito mais comerciais e gananciosas do que um romance de uma rainha espartana.

Não precisamos ir muito longe para afirmar em mitos, houve milhares dentro das guerras mundiais que estouraram no século vinte. Hoje sabemos que o nazismo foi fruto da eugenia norte-americana, do antissemitismo europeu que povoava no século dezenove e foi uma ótima desculpa para um pintor frustrado levar multidões a aceitarem as suas ideias. Que as indústrias norte-americanas ganharam muito dinheiro com as guerras, as empresas americanas (isso Fidel Castro não estava mentindo), colonizou Cuba para comprar terras muito mais barato e além disso, a liberdade deles não são tão liberto assim. Essa imagem heroica que os americanos sustentaram após a guerra e através da guerra fria (onde o filme Rambo é sua maior crítica), é uma mitologia moderna de cultuar heróis para nos sentimos esperançosos com este mundo onde tudo (usando o termo do sociólogo Sigmund Bauman) ficou liquido e as pessoas não se apegam mais em valores que no mundo antigo, eram considerados coisas nobres. Isso me fez lembrar de um episódio do seriado Família Dinossauro que todo determinado dia as pessoas uivavam em uma montanha, até que foi questionado isso, pararam e quando pararam a cidade começa a ter conflitos e há um caos. Saber o porquê daquilo é importante, mas mudar aquilo repentinamente, causa uma desnorteamento que pode causar sim um caos desnecessário e eu sou conservador em alguns aspectos.

Sempre que há um mito há um herói e no mundo antigo, um herói era sempre um filho dos deuses e esse filho, salva porque ele tem um superpoder. O Superman é um herói porque é um ser que tem um superpoder, mesmo ele não ser filho de um deus (nas mitologias ufológicas seres elevados são como deuses), mas é uma narrativa de um ser que salva o mundo dos perigos e é “amigo” da justiça. Para entender esses personagens do século vinte (que não eram diferentes da antiguidade), temos que entender um único pensamento do filosofo e filólogo alemão Nietzsche, quando no seu livro Gaia Ciência diz que “Deus está morto” e que a própria humanidade o matou. O que ele quis dizer? Nietzsche quis dizer que a humanidade ou quem detém o discurso do poder, como diria Foucault, mataram o discurso metafisico que criava uma certa medida de medo, para criar uma divinização da ciência como algo que poderia criar uma humanidade melhor. Isso veio em parte do iluminismo e concretizou no positivismo, mas houve uma outra ruptura que criou uma quebra dos valores (pelo menos nobres), que não existe sentimentos, não existem respeito, o que existe é o EU que na psicanalise de Freud, diz que isso causa a neurose. O que é uma pessoa neurótica? Uma pessoa neurótica é sempre achar que é perseguida, que algo especifico é ligado a ela e vai acontecer exatamente, quando ela chegar com ela e tem que ser ela. Tudo é em torno de si mesmo.

A quebra de Deus e o homem (Deus enquanto religião mesmo), de uma certa forma, desumanizou o ser humano a só pensar numa melhora instrumental (tecnológica) e não uma melhora moral, como se só importa o que ele tem e não o que ele é. O que ele tem constrói todo um estereotipo daquilo que deveríamos seguir e não o que somos, o que fazemos e o que temos como caráter (ética). Nietzsche estava decretando o homem assassino de valores verdadeiros, valores que a muito foram esquecidos para dar lugar ao seu próprio ser como um niilista racional que era apenas uma máscara. Na verdade, Nietzsche nunca deixou verdadeiramente o cristianismo como ordem moral, mas deixou como algo religioso que muitas vezes, as pessoas se apegam como um algo que vai ainda acontecer. Afinal, para o filosofo, o importante é o agora.

Então, quando você vê um herói como o Superman, sempre lembre que precisamos agora ver o herói como algo concreto e muito romantizado para gostar dele. Embora hoje, a juventude já goste de personagens que são iguais a nós, que tem sentimentos iguais a nós, que tem um viés de realidade e que a ética seja igual o que somos. As indústrias de entretenimento, tiveram que mudar seus heróis para agradar uma juventude que não mais acredita na utopia (conto fantástico que pode acontecer), mas na distopia de um mundo onde elas vivem e sentem que estão confortáveis lendo. Um Superman ético e moral que fez tanto sucesso até a década de 80 assim, mudou para um ser questionador e até mesmo, uma arma mortal para os terráqueos mandado para destruir a Terra.

Estamos vivendo uma ruptura de utopias enraizadas como verdades absolutas e vendo que todos nós somos humanos, somos pessoas que erramos e estamos ainda descobrindo o motivo disso tudo. Assim, toda a minha reflexão é o que eu refleti quando ouvi um comentário de uns dos radialistas da Jovem Pan dizer que é muito perigosa essa mania popular de transformar pessoas que estão ali para a função que foram designadas, em heróis e semideuses da verdade. O juiz Sergio Moro, está fazendo um trabalho excelente, mas ele como todo o Ministério Público é um servidor público e um ser humano. Porque vamos dar brechas ao populismo de direita (embora eu não ache que no Brasil temos partidos de direita), que foi uma excelente arma para o nazismo e o fascismo tomarem o poder assim como o populismo de esquerda deu brecha para os soviéticos. Claro, sempre lembrando que não existe só esquerda socialista e comunista, existe esquerdas de outras ordens.


Portanto, só por isso, eu não acredito que há heróis, que há seres acima do bem e do mal, acima de qualquer coisa. Estamos num processo muito sério de evolução, a evolução não pode ser apenas a evolução tecnológica, mas uma evolução moral. Somos falhos e se o ser humano não entender que precisamos encontrar a nós mesmos antes de encontrar ao outro, não de afirmar personagens sociais, não vamos entender o que Jesus disse que a verdade nos libertará. Que verdade libertará o homem de ilusões? Libertará de heróis e assumir suas próprias escolhas? Quando amaremos sem esperar do outro algo? Quando veremos defeitos e qualidades? Não acho que o ser humano pode fazer isso hoje, mas a quebra de mitos é uma grande promessa de sermos mais humanos e pouco confiantes em pessoas que usam a massa. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário