Por Amauri Nolasco Sanches
Junior
Quando você estuda Hegel (1770-1831)
– filosofo e teólogo alemão (que a título de curiosidade, era pastor e
professor de filosofia) – você lê que a estética era e é uma matéria muito mais
relacionada a arte. Porém, Hegel sempre dizia que a arte era muito mais
superior a natureza, pelo simples fato de temos o espirito muito mais superior
do que a natureza que faz as coisas tão adaptavelmente. Uma Monalisa, por
exemplo, na visão de Hegel era muito mais perfeita do que a modelo que serviu
de inspiração e então, na visão do filosofo, uma pintura é muito mais superior
do que a foto em si. Claro, que hoje existem milhares de subterfugio tecnológicos
para melhorar as fotos, assim, deixando como obras de arte.
A questão é muito mais delicada
do que pensamos, pois na hora de conviver com as pessoas, nós não convivemos
com obras de arte e isso passa no crivo da ética. Ética e estética são a parte
mais significativa quando pensamos num modo social e porque não, do preconceito
e do conceito definido como tal. Ética vem do grego “ethos” que não tem ao
certo um significado especifico, mas por ter a ver com o lugar aonde se vive, se
especificou como caráter. Estética vem do grego “aisthésis” que significa percepção,
sensação ou sensibilidade, e não à toa, tem a ver com a arte em si mesmo. Arte,
queiram ou não, faz parte da construção cultural de um povo e isso tem a ver
com a ética de uma estética cultural. Daí entra a anatomia corporal como ponto estético
de aceitação ou não aceitação de um conceito definido ou não, por exemplo, a séculos
atrás, mulheres gordinhas eram mais aceitas do que mulheres magras, hoje, o padrão
social – pelo menos na moda – as magras são aceitas e o que deve ser seguido. Embora acho que as mulheres
mais cheinhas fazem muito mais sucesso, porém, também acho que o gosto estético
é completamente subjetivo como algo individual até, como conceito de
objetividade. Algo como fenomenológico entre você é o objeto e a consciência existencial
desse objeto, se ele te agrada como algo aceitável, ou se ele é algo que não é aceitável.
Vamos agora ir muito mais fundo. Vamos
fazer uma análise moral da coisa e deixar um pouca mais clara o que é que
aceitamos ou não, como conclusão estética corporal. Moral vem do latim (língua que
vem dos romanos, mas se origina todas as línguas que vem de Lácio, região central
itálica), “mos” ou no plural, “morales” que quer dizer “relativo ao costume”. Por
isso acho que quando se diz “moral e bons costumes” estão dizendo um pleonasmo,
porque a moral já é um costume cultural dentro da sociedade e que esse costume
é tradicional por si mesmo. Moral tem a ver com que aceitamos e o que colocamos
como norma para a sociedade e ética, é o que se pode ou não fazer dentro dessa
mesma sociedade como ação da sociedade em si. Moral tem a ver com o objeto e a ética
tem a ver com a estética normativa do mesmo objeto, ou seja, o preconceito não é
de ordem moral e sim, o preconceito é de ordem ética porque tem a ver com caráter
de cada um. Ora, o caráter é a construção de tudo aquilo que achamos ser a
realidade dentro dos estereótipos (símbolos), que ao longo de várias razões da
vida e situações que passamos, construirmos uma realidade moldada dentro de um
conceito.
Quando a sociedade nos chama de “coitados”
ou que acham que não temos capacidade de fazer muitas coisas, isso não é uma
moral dentro do objeto, mas a ética enquanto fenômeno da consciência que constrói
o que devemos e o que não devemos aceitar. Mas a moral não está isenta disso não,
pois, existe a incapacidade logica de analise que mesmo que possamos ser
diferentes, somos seres humanos. Vimos isso dês da antiguidade quando por meio
de mitologias (explicações sobre a vida e os fenômenos), deuses nascidos com
defeitos eram rejeitados pelos deuses ou até mesmo em filmes e novelas,
espalhando inverdades e espalhando símbolos normativos que só interessam a
alguns que não aceitam ou não querem aceitar, mudanças sociais.
Quando se existe uma análise
profissional de todas as áreas, existe uma norma que é seguida para se saber se
a pessoa é apta (qualificada é um termo errado), a preencher o cargo oferecido
que vai das condições psicológicas até as condições de graduação de cargos
importantes. Ora, dados psicológicos não podem ser analisados, por exemplo,
dentro do Facebook, pois, corre o risco de errar em muitas coisas e outra, na
maior parte dos casos de inclusão de trabalhadores com deficiência, os maiores
erros são do RH que são completamente, despreparados até mesmo numa análise de seleção
curricular. Por que se deveria, numa análise moral e ética, um currículo ser
analisado junto com um laudo médico da deficiência da pessoa? Em minha peregrinação
por um emprego, eu sempre disse e mostrei minha deficiência e nunca escondi, e
que me custou muitos cargos que eu poderia omitir algumas informações. Na parte
moral e ética, estamos muito longe de analisar o que é certo e não o que é
conveniente, pois, a conveniência é um mal cultural brasileiro.
Eticamente isso é errado, pois o
profissional com deficiência tem que ser analisado pelo seu currículo e não pela
sua deficiência. Mesmo que insistam que esse não é o motivo de se pedir o laudo
médico, e sim, por causa de fraudes dentro da lei de cotas. Ora, quem poderia
interessar em achar que poderia enganar pessoas só para entrar no mérito da
lei? Como diz no latim: “cui bono?”, ou seja, quem ganha? Estamos muito longe,
eticamente claro, em tirar certos vícios capacististas dentro da nossa
sociedade e um deles, o mais importante como pessoas e como seres humanos,
potenciais criadores de famílias (por que não?) e ótimo profissionais, é a
normativa estética dentro de uma análise estereotipa. Por que? Porque a século se
criou uma imagem normativa – que Foucault disse que está no discurso, é algo “discutível”
– daquilo que a sociedade diz que deve fazer, e o que a sociedade não deve
fazer. A aceitação ou não aceitação de pessoas com deficiência, está além daquilo
que se chama de estética (como perfeito e imperfeito), está na ordem ética como
norma que define a aparecia do objeto (aquilo que se analisa como símbolo do
que se vê) com reações de cunho de um pré-conceito daquilo que lhe parece. A título
de exemplo, uma vez fui numa entrevista e num determinado momento, a moça do RH
me perguntou se eu conhecia o Excel e eu disse que conhecia e tinha uma certa
familiaridade com o programa. Depois de alguns dias o e-mail veio e eu fui
dispensado por não saber Excel, portanto, há sim uma padronização do que se
pode entrar nas empresas e o que não pode entrar e infelizmente, isso também de
forma estética.
Na parte ética, logico que houve
certo descaso dentro do que disse ou não disse, caracterizando, que eu fui
dispensado por ser cadeirante e por ser inexperiente. Por outro lado, há uma política
de não aceitação do fato de haver uma certa cota para pessoas com deficiência e
algumas empresas ainda insistem em só colocar pessoas para não pagarem a multa.
Sim, é eticamente, errado isso. Eticamente deveriam ter mais atenção a pessoa
humana e não a eficiência, deveriam, já que reclamam tanto da falta de ética dos
nossos governantes, dar o mínimo de exemplo de ética dentro de uma sociedade. Daí
voltamos a Hegel quando ele diz que as obras de arte são muito mais perfeitas
do que as geometrias da natureza (que de certa forma, pode ser discutidas como não
é bem assim), e que de alguma forma, o espirito humano é de um poder muito mais
poderoso do que a natureza. De certa forma podemos afirmar que ele quis dizer
que como filhos de Deus – lembramos que Hegel também é teólogo – podemos também
ter o dom da criação e que toda criação humana é perfeita. Daí há dentro disto
um idealismo muito grande, pois, não há obra de arte perfeita e não há dentro
de toda a realidade, uma perfeição ao ponto de se dizer que a estética daquilo
seja harmoniosa no sentido único.
Portanto, não há motivo algum em
acreditar que uma pessoa com deficiência não pode ocupar algum cargo só por
causa da sua deficiência, porque todos não são perfeitos. Como disse Hegel,
perfeito só as obras de arte e muitas vezes, nem isso, pois, ninguém pode ver
aquilo que não quer ver.
Quem quiser estudar mais sobre
isso, na minha visão, eu tenho um livro no Clube de Autores chamado: Clube das Rodas de Aço: Tratado sobre Capacitismo
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