segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Coordenador filosofo






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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Estou lendo a coleção “A História da Filosofia Ocidental” de Bertrand Russell que ganhei da minha noiva, que estou gostando muito (embora eu não concorde em algumas visões de Russell, pois, para ser filosofo devemos manter o equilíbrio). Mas acho que ele não entendeu Platão, porque quando se analise autores antigos, primeiro temos que os analisar de uma perspectiva da época; depois, temos que analisar como era o pensamento da época e Platão, não deve ser lido com a racionalidade que temos hoje. Tem que ir muito além daquilo que chamamos de meio racional, ou seja, nem muito na ciência e nem muito na religião. Não sou partidário que um filosofo deve saber tudo de ciência, deve saber o bastante ou aquilo que ele quer questionar.

Vamos ao filosofo Platão. Muita coisa eu não concordo com ele, como uma cidade ideal era aquela com escravos, eliminação dos imperfeitos – que claro – são reflexos de um pensamento que se tinha na época. Mas eu sou simpático a regra de se ter um governante filosofo (não essa baboseira de diploma, que as universidades não ensinam nada), que saberiam de tudo e punham a ética acima de qualquer coisa. Acho também, que a ideia de ter um governante filosofo, geraria um efeito de termos em outros setores coordenadores e gerentes filósofos que cuidariam da máquina administrativa sempre perguntando o “porquê” de se fazer assim, ou se fazer assado. Sempre achei, por exemplo, que um coordenador devesse ter conhecimentos que gerassem uma melhor administração do movimento no qual estão à frente. Sem ditadura, mas que sabia o que estavam fazendo. Como, por exemplo, um coordenador de um movimento que luta pelos direitos dos deficientes, não saber das leis que regem ao nosso favor? Como se pode ter um coordenador que não saiba das deficiências inúmeras, que não saiba das suas limitações até mesmo, corporais de cada indivíduo?

Na verdade, todo indivíduo que saiba lhe dar com as outras deficiências, começa a ter um pensamento mais humanista. Ser humanista, pelo menos para mim, não é só mudar a terminológica como “pessoa com deficiência”, “pessoa com cadeira”, “pessoa com qualquer coisa”, deve saber que dentro do seu movimento, existem pessoas que precisam muito mais de conselhos do que de terminologias. Daí entra a minha teoria platônica do “Coordenador Filosofo”, porque ele é o cara que vai ter coragem de questionar as leis e questionar até mesmo, algumas posturas de alguns centros de reabilitação. Quem não tem o conhecimento, não tem os argumentos necessários para fazer tal questionamento, não pode saber como aquelas pessoas devem dar ao paciente, a conduta ética de um médico. A questão é muito mais profunda e deve ser mais refletida.

Claro que muitas pessoas vão dizer: “Ah, Amauri! Mas isso é preconceito, pois todo mundo tem o direito de ser eleito democraticamente um coordenador”. Posso responde que sim, todo mundo tem o direito de ser coordenador, mas tem o dever de saber o que estar se coordenando para não prejudicar o trabalho. Não estamos lhe dando com animais, não estamos lhe dando com objetos, estamos lhe dando com seres humanos que merecem respeito. Não basta repetir o que as outras pessoas lhe falam – daí entra a parte que muitas vezes, o deficiente é bunda mole, porque se sente o “fodão” e na verdade, é um “zé ninguém” no movimento – tem que saber do que as pessoas estão te falando, pesquisar, estudar, praticar e saber que um dia, aquilo que você leu deve te ajudar dentro do movimento e a sua coordenação.

Mas, quando você olha e vê que o Museu da Inclusão não abrir de final de semana, quando você vê que as praias devem ser prioridade nas adaptações ao invés de escolas, você imagina o grau de conhecimento dos coordenadores de movimento. Quando centros de reabilitação não trata direito, quando você vê o gerente do transporte importante fazer o que quer, quando o conselho municipal encobre várias coisas, daí você vê que os coordenadores estão perdidos.  O que fazer? O que devemos fazer? Estudar e pesquisar.

Um exemplo muito conhecido que vou dar é o evento Teleton. Não basta olhar o evento na perspectiva emocional – é isso que a entidade em questão mais quer – mas olhar numa perspectiva racional também dentro das leis da comunidade que ele é feito. Vamos analisar. Primeiro, quem tem o conhecimento, pode questionar que a entidade é particular e não pode manipular nada público. Estamos numa res publica, ou seja, estamos regidos por uma “coisa pública” e tudo que está nesta é pública e não só e não pode ser usado apenas a instituições particulares. Um coordenador que tem o conhecimento pode perguntar: por que neste dia o transporte de vans adaptadas municipais, não funcionam? Pois a lei de transporte está bem clara que o transporte é para todos, mas a entidade alega que se o transporte é para todos, então, ela fazendo parte da sociedade tem o direito de ter esse tipo de transporte para o evento. Ora, daí temos dois problemas, o primeiro é que realmente eles não estão errados o quanto isso, segundo é que como temos um número reduzido de vans o problema se agrava cada dia mais. Outra questão é a propaganda infantil. Ora, dependendo da quantia doada, você ganha uma boneca ou um boneco, então, você “apela” para as crianças que não tem discernimento. O coordenador que tem o conhecimento, sabe muito bem, que propagandas que apelam para as crianças são ilegais. Claro que você pode dizer: “mas é uma causa nobre que ajuda as pessoas com deficiência”, posso responder, quer não, não tem nada de nobre e não tem nada de ajudar as pessoas com deficiência.

O coordenador que tem o conhecimento tem a certeza que existem leis que asseguram que crianças deficientes não podem ser expostas e ainda mais, quando estas crianças não podem responder por elas. Exposição de incapaz também é crime, dizer ao contrário é má-fé, mesmo com o responsável assinando um papel. Qual circunstancias esses responsáveis assinaram esses papeis? O que disseram a esses responsáveis para assinar esses papeis? Quem tem o conhecimento sabe que há coerções, que há descaso da entidade, que há desprezo diante das leis que asseguram isso tudo. Mas qual coordenador de movimento – ONG é outra história – que indaga tudo isso com embasamento e sabedoria? Quem tem coragem de indaga com força essas imoralidades? Fora que eles não tiram “chapa”, não fazem tratamento completo, não tratam os pacientes menos com poder aquisitivo com educação e respeito, não entrega os aparelhos no prazo certo e quando entrega, entrega errado. Fora que o SUS sustenta essa entidade com milhões e quando suspende, porque eles não honram com a parte do acordo, a imprensa começa a dizer que o SUS está errado. Mas qual coordenador tem a coragem de indagar isso?

Outra pergunta que um coordenador filosofo (aquele que é amigo da sabedoria), poderia perguntar o “porquê” das secretarias que dizem, nunca vi isso, defender nossos direitos. Por que tem esse tipo de secretaria sem poder nenhum? Por que eu tenho que delegar representantes dentro de um conselho que não tem iniciativa nenhuma? Daqui uns 500 anos, vão ter estudos sérios, com toda certeza, para estudar esse amor que temos pela democracia. Não resta dúvida que é o melhor regime que temos no momento, mas se fomos ir na lógica sem esse amor parcial, é um regime meio desigual e injusto. Porque você acaba delegando pessoas para gerir um conselho, que na maioria dos casos, nem sabem porque estão lá e o que é pior, ainda é iludido ideologicamente. E não estou dizendo só o conselho municipal daqui de São Paulo, estou dizendo o CONADE, estou dizendo outras alas que deveriam realmente, ao invés de inventar refúgio linguístico para nomenclaturas, deveriam assegurar que as leis sejam cumpridas a risca. Um coordenador filosofo sabe isso, mas aqueles que não sabem, não tem armas para indagar nada e nem ninguém.



Mas como podemos ter esse conhecimento? Lendo. Quem não gosta de ler e não gosta de pesquisar, não pode administrar nada, pois, administrar é assegurar o caminho certo para o trabalho ter mais êxito. Todos podem ser eleitos, mas poucos podem manter a dignidade de serem curiosos e saberem que para ser um humano, tem que ser um pesquisador e sempre evoluir. 




Confiram o livro Clube das Rodas de Aço: Tratado sobre o Capacitismo lá no Clube de Autores (aqui


4 comentários:

  1. Gostei! Sempre achei um candidato a cargo de chefe de Estado deveria passar por um exame psicotécnico e de conhecimentos gerais, deveria em suma, ter um QI acima do normal. Apenas uma ressalva: substituir as expressões "lhe dar" "lhe dando" por "lidar" e "lidando".

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    1. Muito Obrigado Basilino, vou prestar mais atenção na escrita. Abraço

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  2. Não esqueço Bertrand Russel criticando Platão dizendo que para ele a ideia de sofá é mais importante que o próprio sofá.

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